DIFERENTES NÍVEIS DO ALL-G RichTM SOBRE O CONSUMO E DESEMPENHO DE CORDEIROS

Gilberto de Lima Macedo Junior1, Luciano Fernandes Sousa2, João Pedro Dias Almeida3, Érica Beatriz Schultz4, Karla Alves Oliveira5, Carolina Moreira Araújo6, Maria Pereira de Araújo7, Thauane Ariel Valadares de Jesus8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Viçosa
5 - Universidade Federal de Uberlândia
6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito de diferentes níveis de ácido docosahexaenóico (DHA, produto comercial ALL-G RichTM) no concentrado sobre o consumo e desempenho de cordeiros. O experimento foi realizado no setor de caprinos e ovinos na fazenda experimental Capim Branco em Uberlândia – MG. Foram utilizados 24 cordeiros (12 machos e 12 fêmeas) mestiços (Dorper x Santa Inês), mantidos confinados por quarenta dias recebendo dieta com relação volumoso concentrado de 18:82% com níveis de 0%, 3%, 6% e 9% no concentrado de ácido docosahexaenóico (DHA, produto comercial ALL-G RichTM). Foram avaliados o consumo de matéria seca coletivo e a seleção das partículas da ração pelos animais com auxílio da PennState® (descritivos), medidas biométricas (altura do anterior, altura do posterior, circunferência torácica, circunferência do barril, comprimento corporal, largura de peito e circunferência escrotal), escore de condição corporal, peso vivo e ganho médio diário. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado (DIC) com arranjo fatorial. Foi observado que os animais que receberam maior teor lipídico na dieta consumiram menor quantidade de matéria seca e selecionaram maiores partículas do alimento em detrimento das menores. As medidas biométricas e escore de condição corporal não foram afetados pelos diferentes níveis de lipídeos. O peso vivo e o ganho de peso diminuíram com o incremento lipídico acima de 3% no concentrado. Assim, recomenda-se que a utilização máxima seja de até 3% no concentrando para cordeiros em confinamento consumindo dietas de alto grão.

Palavras-chave: Ácido docosahexaenóico. Gorduras insaturadas. Nutrição. Ovis aries. Ruminantes.

DIFFERENT LEVELS OF ALL-G RichTM ON CONSUMPTION AND PERFORMANCE OF LAMBS

ABSTRACT - The goal of this paper was to evaluate the effect of different levels of docosahexaenoic acid (DHA, commercial product: ALL-G RichTM) in the concentrate on consumption and performance of lambs. The experiment was carried out at the Capim Branco experimental farm in Uberlandia - MG. It was used 24 feedlot crossbred Dorper/Santa Ines lambs (12 males and 12 females) during forty days receiving diet with concentrated roughage ratio of 18: 82 with 0%, 3%, 6% and 9% of docosahexaenoic acid in the concentrate (DHA, commercial product: ALL-G RichTM). It was evaluated the dry matter intake of the group and the selection of feed particles with the aid of PennState® (descriptive), biometric measurements (anterior height, posterior height, chest circumference, barrel circumference, body length, chest width and scrotal circumference), body condition score, body weight and average daily gain. The design was completely randomized (CRD) with factorial arrangement. It was observed that animals receiving higher lipid content in the diet consumed smaller quantities of dry matter and selected larger feed particles to the detriment of smaller particles. The biometric measurements and body condition score were not affected by different lipid levels. The body weight and weight gain decreased with increasing lipid levels above 3% in the concentrate. Therefore, it is recommended that the maximum use of DHA is up to 3% in the concentrate for feedlot lambs consuming high grain diets.
Keywords: Docosahexaenoic acid. Nutrition. Ovis aries. Ruminants. Unsaturated fats.


Introdução

Fontes lipídicas como as provenientes de algas já são encontradas em dietas para ruminantes na forma by pass ou com degradação ruminal. Essas fontes possuem alto poder redutor, ou seja, alta concentração de energia e começam a ser utilizadas principalmente para animais de alta produção que possui grande demanda energética. Seu uso pode ser muito interessante visto seu diferente perfil nutricional principalmente por constituir fontes de ácidos graxos de cadeia longa poli-insaturados como o do ácido docosahexaenóico (DHA, ômega 3). Muitos são os benefícios descritos na literatura sobre a utilização de ácidos graxos da série ômega 3 na alimentação humana, como o melhor desempenho do cérebro, além do desenvolvimento da visão, cognição e imunidade (Almeida e Bueno Franco, 2006). A European Food Safety Authority recomenda o consumo de 250 mg diárias de DHA e outros ácidos graxos de cadeia longa (EFSA, 2010). A utilização de fontes de ômega 3 na alimentação animal poderá gerar produtos, como carne e leite ricos nesse tipo de gordura e com isso trazer benefícios à saúde humana. No entanto, é necessário estudar como os níveis de suplementação desses produtos podem afetar o desempenho e consumo de matéria seca dos animais. As rações de ruminantes caracterizam-se pelo baixo teor lipídico, geralmente menos que 3% a pasto e quando confinados varia de 5 a 7% na matéria seca (Palmquist e Mattos, 2006). Lipídeos não protegidos e poli-insaturados (como o DHA) na dieta podem afetar a colonização e a capacidade fermentativa da fibra pelos micro-organismos do rúmen. Dai surge a necessidade de estudos para estabelecer níveis seguros dessas gorduras de forma que não afete a dinâmica do ecossistema ruminal e consequentemente o desempenho animal. Portanto objetivou-se avaliar o efeito de diferentes níveis no concentrado de ácido docosahexaenóico (DHA, produto comercial ALL-G RichTM) sobre o consumo e desempenho de cordeiros mestiços.

Revisão Bibliográfica

A ovinocultura nos últimos anos obteve queda no número de cabeças do rebanho total brasileiro IBGE, (2014). No entanto, as importações brasileiras de carne ovina aumentaram contribuindo para a valorização do produto, assim como o aumento no preço por quilo da carne de cordeiro, o que incentiva os produtores a continuarem na atividade. A alimentação representando em média 70 a 80% dos custos em um sistema de produção requer atenção especial quanto ao aproveitamento da ração pelos animais em suas diferentes fases fisiológicas.  O uso de alimentos como co-produtos ou diferentes fontes energéticas é uma alternativa em reduzir custos e melhorar a eficiência produtiva e reprodutiva do rebanho. Segundo Oliveira et al. (2007) A suplementação com lipídeos é uma estratégia que possibilita, além de benefícios ao desempenho animal, alterar características relacionadas principalmente ao perfil da gordura de produtos de origem animal. Lipídeos em dietas de ruminantes estão presentes principalmente na forma esterificada como mono e digalactoglicerídeos em forragens e como triglicerídeos em alimentos concentrados, é uma opção para aumentar a densidade energética sem aumentar o consumo de carboidratos não estruturais. A digestão destes compostos ocorre através da hidrólise, ação realizada pelas bactérias ruminais liberando açucares e glicerol, sendo grande parte fermentados a ácidos graxos voláteis de cadeia longa. Em seguida através da biohidrogenação ocorre a modificação nas ligações promovendo a saturação destes ácidos graxos, o que torna possível aos ruminantes o ao longo do trato grastro intestinal o aproveitando das fontes lipídicas provindas na dieta. A adição de gordura nas rações é limitada entre 6 a 7% de inclusão na matéria seca (MS) total. Quando administrado grandes quantidades de gordura (> 7% na MS esperam-se efeitos negativos na digestibilidade da fibra e no consumo de matéria seca, devido ao revestimento físico e à proteção da ingesta contra a ação dos microrganismos. Alguns ácidos graxos, especialmente os poli-insaturados são tóxico ás bactérias ruminais, tal toxicidade está relacionada à natureza anfipática dos ácidos graxos, ou seja, aqueles que são solúveis, tanto em solventes orgânicos como em água, são mais tóxicos. Portanto, como um mecanismo de defesa, a biohidrogenação torna-se um evento muito importante no ambiente ruminal.  Porém, é importante ressaltar que alguns tipos de gordura como a saturada, ou, inerte ao rúmen, por não afetarem a população microbiana é possível ser incluída em maiores proporções nas dietas Dias et al. (2009). Como já relatado, a adição de lipídeos pode influenciar na digestibilidade das frações fibrosas, sendo assim compreender os aspectos físicos e efetivos da fibra, contribui para a formulação de rações que não levem a distúrbios metabólicos relacionados ao excesso de gordura na alimentação. O tamanho das partículas do volumoso pode favorece o consumo devido a mudanças na taxa de passagem (Kp), metodologias como PennState®  forma desenvolvidas para identificar o tamanho das partículas tanto dos alimentos fornecidos e das sobras do animal, podendo inferir na efetividade, qualidade da ração e seletividade dos animais. Segundo Macedo Junior (2007), a efetividade pode ser entendida como capacidade de um alimento ou dieta em promover a atividade física motora do trato gastrintestinal mantendo normal a ingestão de alimentos. No caso de animais jovens consumindo o maior tamanho de partícula da fibra a efetividade ruminal não é prejudicada, mas sim a capacidade de consumo é limitada pelo espaço físico ruminal. O crescimento é um processo complexo que envolve ações hormonais, por exemplo, diferentes calasses sexuais, raças, ou a nível nutricional como a suplementações energéticas, o que modifica a velocidade de crescimento de órgãos e tecidos.  Segundo Yáñez et al. (2004) as mensurações do animal in vivo permitem comparar o desempenho dos mesmo ao longo de todo período de desenvolvimento, aplicando medidas biométricas como comprimento corporal, circunferência torácica, escore de condição corporal dentre outras. Conhecendo as particularidades dos processos de digestão e metabolismo de gordura, e de cada estágio fisiológico dos animais ruminantes, seja foco para produção de carne ou de matrizes para reposição, é possível incluir novos produtos a base de lipídeos que contribuam para maior produtividade e rentabilidade ao produtor.

Materiais e Métodos

O presente trabalho foi conduzido entre 11 de janeiro a 19 de fevereiro de 2015, na Fazenda experimental Capim Branco, Setor de Ovino e Caprinocultura da Universidade Federal de Uberlândia, localizada na região sudoeste de Minas Gerais – Brasil. Foram utilizados 24 ovinos mestiços (Dorper x Santa Inês) machos e fêmeas recém-desmamados com idade média 90 dias e peso corporal médio de 17 kg. Esses foram alojados em quatro baias coletivas sendo seis animais por baia (três machos e três fêmeas), com piso ripado, comedouro, saleiro e bebedouro. Os animais foram casqueados e vermifugados com cloridrato de levamisol no período de adaptação, dez dias antes do início do experimento. Além disso, foi realizado controle da eimeriose com sulfaquinoxalina. Ao longo do experimento foram realizados exames para verificação da verminose e eimeriose. A ração utilizada foi composta por silagem de milho, farelo de milho, farelo de soja, mineral específico para espécie e ALL-G RichTM (Tabela 1), sendo balanceada para atender as necessidades nutricionais de ganho 200g/animal/dia segundo o NRC (2007). O arraçoamento foi dividido em dois períodos, sendo fornecido às 8:00 e às 16:00 horas. A relação volumoso:concentrado adotada foi de 18:82% (na matéria seca), respectivamente. Os tratamentos foram inclusão de 0%, 3%, 6 % e 9 % de ácido docosahexaenóico (DHA, provindo do produto comercial ALL-G RichTM) no concentrado ofertados diariamente. Para os períodos experimentais obteve-se intervalo de 15 dias entre avaliações, sendo divididos em 0, 15, 30 e 40 dias. A cada novo período experimental os animais foram pesados para ajuste do fornecimento de ração, conforme recomendação do NRC (2007). Para determinação do consumo de alimento foram realizadas pesagens do total ofertado e das sobras diariamente, amostrados para determinação da matéria seca segundo Silva e Queiroz (2006). A quantidade de ração foi ajustada para manter 10% de sobra no cocho diariamente. A metodologia do separador de partículas PennState® foi utilizada para verificar a seleção dos animais em relação as sobras e ao que foi ofertado. Sendo assim foram separadas 500g de amostra composta das sobras de cada tratamento e do ofertado de silagem ao final de cada semana, e, colocando a amostra sobre a peneira superior realizava-se a agitação em cinco movimentos suaves de ida e volta para cada um dos quatro lados da peneira anotando o peso de retenção em cada malha e no fundo ao final do procedimento. As variáveis mensuradas para desempenho foram peso corporal e medidas biométricas. Essas foram obtidas antes da alimentação ás 08:00 horas quinzenalmente caracterizando os diferentes períodos experimentais. As pesagens ocorreram em balança adequada com box de contenção e devidamente aferida. As medidas biométricas foram feitas com auxilio de fita métrica. Para mensuração o animal era mantido calmo e contido em uma superfície plana com as quatro patas apoiadas no chão e postura alinhada. As variáveis foram: Altura do anterior: distância vertical entre o ponto mais alto (no sentido da escápula) e o solo, altura do posterior: distância vertical entre o ponto mais alto (no sentido do osso ílio) e o solo, comprimento corporal: distância entre a base da cauda (osso ísquio) e a base do pescoço (face lateral da articulação escápulo-umeral), circunferência torácica (em centímetros) aferida na parte posterior das escápulas junto às axilas, largura de peito: distância (em centímetros) entre as faces laterais das articulações escápulo-umerais do lado direito e esquerdo e circunferência do barril: circunferência (em centímetros) da parte inferior às costelas onde se localiza o vazio (VILARINHO, 2012). Para circunferência escrotal foi feita leitura em centímetros do contorno da porção medial do escroto com auxilio de fita métrica e para o escore de condição corporal foi feito análise por uma pessoa treinada através da apalpação das 12ª e 13ª vertebras lombares que permite avaliar à deposição de gordura numa escala de 1 a 5. O escore 1 representa condição corporal pobre, situação em que as apófises espinhosas e as apófises transversas são facilmente sentidas na palpação. No escore 5 há deposição excessiva de gordura, que impede a palpação das apófises (Russel, Doney e Gunn, 1969). O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado (DIC) com arranjo fatorial, sendo 2 sexos e 4 níveis do ALL-G RichTM . Nas análises que envolvem período, caracterizou-se em DIC com parcelas subdivididas (tratamento e período). Para comparação dos tratamentos e períodos utilizou-se o estudo de regressão (P<0,05). Já para as médias relativas ao sexo foi feito o teste SNK (P<0,05). Para análise do escore de condição corporal foi utilizada estatística não paramétrica, através do teste de Kruskal e Wallis (1952) e Conover (1980). Para a avaliação do consumo de matéria seca e retenção de partículas nas peneiras da PennState® os dados são apresentados de forma descritiva por não haver repetição de baias.

Resultados e Discussão

A retenção de partículas da silagem de milho ofertada ao longo das semanas nas peneiras da Penn State® apresentaram partículas maiores que 8 mm em sua maioria, refletindo na capacidade de armazenamento ruminal. Segundo recomendação da Penn State®  o desejável de retenção em cada peneira para silagem é 3-8% peneira 1 (19 mm de diâmetro da malha), 45-65% peneira (8 mm de malha), 30-40% peneira 3(1.18 mm de malha), e <5% no fundo. Observou-se grandes variações ao longo das semanas onde a peneira 1 ficou com níveis acima do desejado (chegando a 40% na última semana) e a peneira 3 com valores de retenção bem abaixo do desejável chegando a 10% na última semana, mostrando aumento do tamanho de partícula ao longo do tempo, podendo atribuir a falha no processo de ensilagem do milho. A qualidade da silagem associada ao acréscimo de lipídeo dentro do rúmen dos diferentes tratamentos pode ter contribuído para diminuição do consumo pelo tipo do volumoso que permaneceria mais tempo dentro do rúmen e a fonte lipídica que se caracterizava altamente insaturada como será discutido adiante. Foi observada variação na MS da silagem ao longo das semanas (Figura 1) sendo considerada destoante do ideal, que é de 30 a 35% segundo Nussio et al. (2001) em quase todas as semanas. Observando a análise descritiva das sobras nos diferentes tratamentos, observou-se que a maior parte do alimento foi retido nas peneiras 2 (19 a 8 mm) e 3 (8 a 1,18 mm), exceto na sexta semana em que houve aumento da retenção na peneira 1 em todos os tratamentos. Segundo as recomendações descritas no separador de partículas é desejável que 2 a 8 % esteja retido na peneira 1, 30 a 50% esteja na peneira 2, 30 a 50% na peneira 3 e <20% no fundo para a ração total. No entanto, o tamanho de partícula da sobra depende de alguns fatores como proporção volumoso:concentrado, e digestibilidade da dieta. Ao final, as maiores retenções nas peneiras 1 e 2 evidenciam seleção dos animais ao final do experimento. No tratamento com menor teor lipídico 0%, observou-se que a maior parte das sobras ocupou a peneira 2. Já no tratamento 3% observou-se um equilíbrio entre as peneiras 2 e 3 com variações ao longo das semanas. Nos tratamentos com níveis mais altos de gordura 6% e 9%, ocorreu maior retenção na peneira 3. Isso mostra que nesses tratamentos com maiores teores lipídicos reduziu a aceitabilidade pelo odor ou efeitos deletérios do lipídeo insaturado a microbiota ruminal (Tabela 2). Através de análise descritivia foi observado maior consumo de matéria seca pelos animais em menores níveis de inclusão lipidica.  O tratamento 0% apresentou maior consumo de matéria seca descritivo, em 3% e 6% foi semelhante e o tratamento 9% menor consumo em relação a média de peso corporal. Na Tabela 3 encontra-se a quantidade de extrato etéreo de cada alimento utilizado e de cada ração fornecida. Silva et al. (2010) trabalhando com cabras leiteiras alimentadas com caroço de algodão, torta ou semente de faveleira (oleaginosa) observaram que a ingestão de lipídeos dessas fontes provocou a diminuição do consumo de matéria seca. Trabalhando com cordeiros Santa Inês e com diferentes níveis de caroço de algodão na ração (0, 20, 30 e 40%) Cunha et al. (2008) obtiveram maior percentagem de consumo em relação ao peso corporal, sendo esses valores semelhantes entre os diferentes níveis e sem diferença estatística (média de 4,61% do peso corporal). Urano et al. (2006) trabalhando com cordeiros confinados e 4 níveis de soja grão (0, 7, 14 e 21% na MS) encontraram diferença do consumo em percentagem do peso vivo entre os tratamentos que foram 3,8%, 3,5% ,3,4% e 3,5% respectivamente para os níveis de inclusão de grão de soja. Assim como nesses trabalhos, a medida que incluiu DHA no concentrado e associando esse fato a silagem com variações de matéria seca e os animais em crescimento, houve diferença de consumo com consequências diretas no desempenho. O crescimento corporal dos animais mostrou-se semelhante frente aos diferentes níveis do DHA e da classe sexual sobre as medidas biométricas (Tabela 4). Pinheiro et al. (2007) avaliando a biometria de cordeiros 7/8 Île de France 1/8 Ideal com peso inicial de 17 kg e em sistema de confinamento recebendo diferentes relações de volumoso:concentrado encontraram alturas do dorso e da garupa superiores nos animais que receberam dieta mais concentrada, não observando diferença nas demais medidas biométricas. Os valores médios das medidas biométricas desses autores foram (em cm): 59,5; 59,8; 60,5; 19,3 e 80,4 respectivamente para altura do dorso, altura da garupa, comprimento corporal, largura do peito e perímetro torácico. O escore corporal médio foi de 3,1. Não foi observado diferenças entre classe sexual para as medidas biométricas onde os machos inteiros nessa idade, apesar de terem maior potencial de ganho de peso e crescimento pelo efeito do início da produção de testosterona, se desenvolveram semelhante às fêmeas. Foram observadas equações lineares para as medidas biométricas em função do período, com exceção, da altura do posterior que apresentou equação quadrática, o que nos mostra que os animais no final do experimento já estavam chegando a maturidade sexual (próximo dos 6 meses) desacelerando o crescimento. Segundo Santos et al. (2001) em condições adequadas, a curva de crescimento de ovinos da raça Santa Inês do nascimento é do tipo sigmoide, acelerando sua velocidade até a puberdade e depois estabiliza-se. O crescimento médio da altura dos animais aumentou 0,995% do período zero até o período de 15 dias, aumentou 4,196% do período de 15 dias até 30 dias e 2,243% de 30 a 40 dias. Isso mostra que ao início os animais cresceram menos o que é explicado pela adaptação ao experimento e estresse devido a desmama. Então nos próximos períodos atingem maiores taxas de crescimento após a adaptação dos animais, ilustrando a fase de aceleração da curva sigmoide de crescimento pré-puberdade. Aos 40 dias de experimento obteve-se maior escore de condição corporal (ECC), isso ocorreu porque os animais já estavam atingindo a puberdade com grande deposição muscular e início da deposição lipídica na carcaça. É importante ressaltar que, no início do experimento, os cordeiros haviam sido separados das suas mães recentemente, o que ocasionou estresse aos animais e possivelmente prejudicou o seu ECC. O perímetro escrotal (PE) aumentou consideravelmente com o decorrer do experimente. Isso é reflexo do nível energético da dieta total fornecida que continha alta energia. A maior disponibilidade energética antecipa a deposição de gordura que é responsável pela produção de hormônios esteroides como a testosterona que é refletida pelo aumento do perímetro escrotal. Ao final, a combinação do maior consumo, crescimento corporal refletido pelas medidas biométricas, maior escore de condição corporal (deposição de músculo e gordura) e maior PE, caracterizam a antecipação da puberdade desses animais. Contudo, o desempenho dos animais com maiores teores lipídicos foi inferior como será visto. Não verificou-se diferença de peso corporal e ganho médio diário para animais machos ou fêmeas (Tabela 5). O peso corporal e o ganho médio diário (GMD) 30-40 e 0-40 dias reduziram linearmente com o aumento da inclusão de DHA acompanhando a mesma tendência do consumo. Isso mostra o efeito deletério a maior prazo que a utilização do lipídeo provocou nos animais com maiores inclusões, indicando que um tempo de utilização maior que 40 dias poderia trazer maiores prejuízos aos animais desses tratamentos. O ganho de peso geral dos animais foi maior que o estimado segundo a formulação da ração que foi baseada para ganhos de 200 gramas/dia mostrando que o NRC (2007) tem a tendência de superestimar a exigência dos cordeiros de genética nacional. Foram observados ganhos próximos a 400 gramas/dia no início do experimento nos animais dos tratamentos 0% e 3% e esses ganhos tenderam a diminuir com o decorrer do experimento. Isso ilustra a curva de crescimento do tipo sigmoide esperada para ovinos no qual desacelera o crescimento chegando próximo à puberdade. O tratamento 9% obteve os menores ganhos chegando aos 40 dias com menos da metade do ganho previsto com a dieta formulada. Isso mostra claramente que a esse nível de inclusão o lipídeo atrapalha o desenvolvimento dos animais, seja pela diminuição do consumo devido ao alto grau de insaturação do lipídeo que prejudica o processo de biohidrogenação ou talvez pela aceitabilidade do produto, porém essa última variável não foi mensurada. Tal fato também pode ser evidenciado pelo peso corporal que foi menor quando aumentou o nível lipídico acima de 3% no concentrado. Urano et al. (2006) trabalhando com cordeiros confinados e 4 níveis de soja grão (0, 7, 14 e 21% na MS) encontraram GMD significativo entre os tratamentos sendo eles 298, 275, 289 e 255g respectivamente, sendo esses ganhos de forma geral maiores que os ganhos desse estudo. Já Cunha et al. (2008) trabalhando com cordeiros Santa Inês e com diferentes níveis de caroço de algodão na ração (0, 20, 30 e 40%) encontraram regressão linear decrescente para GMD de acordo com o aumento do nível de caroço de algodão na ração sendo os valores de ganho encontrados por esses autores menores que os verificados nesse trabalho nos tratamentos 0%, 3% e 6% no período de 0-40 dias.

Conclusões

O aumento da inclusão de DHA provindo do produto comercial ALL-G RichTM no concentrado acima de 3% chegando até a 9% diminui o ganho médio diário de cordeiros mestiços. Assim, recomenda-se que a utilização máxima seja de até 3% no concentrado para cordeiros em confinamento consumindo dietas de alto grão.

Gráficos e Tabelas




Referências

Almeida NM, Bueno Franco MR. Influência da dieta alimentar na composição de ácidos graxos em pescado: aspectos nutricionais e benefícios à saúde humana. Revista do Instituto Adolfo Lutz. 2006; 65(1): 7-14.   CONOVER WJ. Practical Nonparametric Statistics. Wiley: New York; 1980.   CQBAL [Internet]. Agropecuária. Farelo de soja. 2015c. Acesso em: 10 dez. 2015. Disponível em: <http://cqbal.agropecuaria.ws/webcqbal/bin/relatorios/bin/multiplos.php>.   CQBAL [Internet]. Agropecuária. Milho moído. 2015b. Acesso em: 10 dez. 2015. Disponível em: <http://cqbal.agropecuaria.ws/webcqbal/bin/relatorios/bin/multiplos.php>.   CQBAL [Internet]. Agropecuária. Silagem de milho. 2015a. Acesso em: 10 dez. 2015. Disponível em: <http://cqbal.agropecuaria.ws/webcqbal/bin/relatorios/bin/multiplos.php>.   Cunha MGG, Carvalho FFR, Véras ASC, Batista AMV. Desempenho e digestibilidade aparente em ovinos confinados alimentados com dietas contendo níveis crescentes de caroço de algodão integral. Revista Brasileira de Zootecnia. 2008; 37(6): 1103-1111.   Dias, J. C., Martins, J. A. M., Emerick, L. L., Souza, F. A., & Andrade, V. J. (2009). Efeitos da suplementação lipídica no aumento da eficiência reprodutiva de fêmeas bovinas. Revista Brasileira de Reprodução Animal33(2), 95-104.   European Food Safety Authority. Scientific opinion on dietary reference values for fats, including saturated fatty acids, polyunsaturated fatty acids, monounsaturated fatty acids, trans fatty acids, and cholesterol. EFSA Journal. 2010; 8: 1461-1568.   Kruskal WH, Wallis WA. Use of ranks in one-criterion variance analysis. Journal American Statistical Association. 1952; 47: 583-621.   Macedo Júnior GL, Zanine AM, Borges I, Pérez JRO. Qualidade da fibra para a dieta de ruminantes. Ciência Animal Brasileira. 2007; 17(7): 7-17.   NACIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of small ruminants: Sheep, goats, cervids, and new world camelids. Washington, D. C.: National Academy Press; 2007. 384 p.   Nussio LG, Campos FD, Dias FN. Importância da qualidade da porção vegetativa no valor alimentício da silagem de milho. Simpósio sobre produção e utilização de forragens conservadas. Anais... 2001; 1:127-145.   de Oliveira, J. S., de Moura Zanine, A., & Santos, E. M. (2007). Processo fermentativo, digestivo e fatores antinutricionais de nutrientes para ruminantes. REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria8(2), 1-13.   Palmiquist DL, Mattos WRS. Metabolismo de lipídeos. In: Berchielli TT, Pires AV, Oliveira SG. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: FUNEP; 2006. 287-310.   Pinheiro RSB, Silva Sobrinho AG, Marques CAT, Yamamoto SM. Biometria in vivo e da carcaça de cordeiros confinados. Archivos de zootecnia. 2007; 56(216): 955-958.   Russel AJF, Doney JM, Gunn RG. Subjective assessment of body fat in live sheep. Journal Agricultural Science. 1969; 72: 451-454.   Santos CL, Pérez JRO, Muniz JA. Geraseev LC, Siqueira ER. Desenvolvimento relativo dos tecidos ósseo, muscular e adiposo dos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês. Revista Brasileira de Zootecnia. 2001; 30(2): 487-492.   Silva DJ, Queiroz AC. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa, MG: UFV; 2006. 235 p. Silva GLS, Silva AMA, Nóbrega GH, Azevedo SA, Pereira Filho JM, Mendes RS. Efeito da inclusão de fontes lipídicas na dieta de cabras em lactação sobre os parâmetros sanguíneos. Ciência e Agrotecnologia. 2010; 34(1): 233-239.   Urano FS, Pires AV, Susin I, Mendes CQ, Rodrigues GH, Araujo RD, et al. Desempenho e características da carcaça de cordeiros confinados alimentados com grãos de soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira. 2006; 41(10): 1525-1530.   Vilarinho RC. Características biométricas e instrumentais de carcaça de cordeiros Merino Australiano. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2012.   Yáñez EA, Resende KT, Ferreira ACD, Pereira Filho JM, Silva Sobrinho AG, Teixeira IAMA, et al. Utilização de medidas biométricas para predizer características da carcaça de cabritos Saanen. Revista Brasileira de Zootecnia. 2004; 33(6): 1564-1572.





©2024 Associação Brasileira de Zootecnistas

Fazer login com suas credenciais

Esqueceu sua senha?