Digestibilidade aparente de dietas extrusadas com relações de carboidratos e lipídios pela tilápia do Nilo cultivadas em tanques-rede

Juliano José de Oliveira Coutinho1, Ligia Maria Neira2, Lidiane Cristina Gonçalves de Sandre3, Thalys Vinicius Cruz4, Joseane Penteado Rosa5, Dalton José Carneiro6
1 - Centro de Aquicultura da UNESP
2 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP
3 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP
4 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP
5 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP
6 - Centro de Aquicultura da UNESP

RESUMO -

O objetivo deste estudo foi estudar os efeitos de quatro relações de carboidratos e lipídios (CHO/L) em dietas para tilápias do Nilo cultivadas em tanques-rede sobre os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos nutrientes e da energia. Foram utilizados 240 juvenis de tilápia do Nilo, com peso médio de 35,7±7,19g. Quatro dietas práticas contendo relações de CHO/L foram formuladas (CHO35/L9, CHO39/L8, CHO43/L7 e CHO47/L6%). Os animais foram alimentados durante sete dias até à saciedade aparente com dietas com adição de marcador inerte e ao oitavo dia foram coletadas as fezes a cada duas horas. A relação CHO47/L6 proporcionou os melhores coeficientes de digestibilidade aparente para a matéria seca e para a energia bruta. As dietas contendo menores proporções de CHO/L apresentaram coeficientes de digestibilidade aparente satisfatórios, mas menores para a produção de tilápia do Nilo em tanques-rede. O CDA para a fração proteica das dietas foi alto, mas não diferiu estatisticamente.

Palavras-chave: Amido, energia, gordura, Oreochromis niloticus

Apparent digestibility of diets with carbohydrate and lipid ratios in extruded diets for nile tilapia farmed in net cages

ABSTRACT - The objective of this study was to study the effects of four carbohydrate and lipid (CHO/L) ratios on diets for Nile tilapia grown in net cages on apparent nutrient and energy digestibility coefficients. Were used 240 juveniles of Nile tilapia, with an average weight of 35.7 ± 7.19g. Four practical diets containing CHO/L ratios were formulated(CHO35/L9, CHO39/L8, CHO43/L7 e CHO47/L6%). The animals were fed for seven days until apparent satiety with the addition of an inert marker in the diets. Feces were collected from the eighth day every two hours. The CHO47/L6 ratio provided the best apparent digestibility coefficients (ADC) for dry matter and for crude energy. Diets containing lower CHO/L ratios had satisfactory but lower apparent digestibility coefficients for the production of Nile tilapia in net cages. The ADC for the protein fraction of the diets were high, but did not differ with the different ratios studied.
Keywords: Starch, energy, fat, Oreochromis niloticus


Introdução

Atualmente, uma das espécies de maior potencial na aquicultura é a tilápia do Nilo (O. niloticus), principal espécie de peixe de água doce cultivada no Brasil (Lovshin & Girino,1998). Sua produção vem sendo impulsionada, devido a características como resistência a altos níveis de amônia dissolvidos na água (Alceste & Jorry, 1998), crescimento rápido e boa conversão alimentar (Meurer et al.,2000). Além disso, apresenta grande interesse comercial, por adequar-se muito bem a indústria de filetagem por não possuir espinhos intermusculares em “Y”, tendo ótima aceitação pelo mercado consumidor. No entanto, os altos custos da alimentação são entraves no sistema de produção de organismos aquáticos (Fernandes et al. 2000). Mais de 50% dos custos de produção, do sistema intensivo, são com rações (El-Sayed, 1999). Pelo aumento da produção de peixes, o mercado de rações é o que tem apresentado maior crescimento, tendo dobrado a produção na última década (Gill, 2007). Apesar do desafio determinado pela estiagem que comprometeu diversos reservatórios no país, a demanda de rações para peixes e camarões alcançou 940 mil toneladas e avançou 10% ao longo do ano de 2015 (Sindirações, 2015). O objetivo deste experimento foi estudar os efeitos de quatro relações de carboidratos e lipídios em dietas para tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) cultivadas em tanques-rede sobre os coeficientes de digestibilidade aparente da proteína, da energia e da matéria seca.

Revisão Bibliográfica

Devido ao grande potencial de produção da tilápia do Nilo, inúmeros estudos têm sido realizados acerca de seus hábitos alimentares e sobre a forma que utilizam os nutrientes da dieta, a fim de compreender melhor sua nutrição e alimentação (Degani & Revach,1991). Mesmo não havendo exigência nutricional definida para inclusão de carboidratos nas dietas para peixes, estes nutrientes  são a fonte energética de menor custo, e utilizados em maiores níveis de inclusão, permitindo que a proteína seja usada para o crescimento e não como fonte energética (Boscolo et al., 2011). Os Lipídios são uma importante fonte de energia não proteica para os peixes, fornecendo ainda ácidos graxos essenciais. Porém, são utilizados mais eficientemente como fonte de energia pelos peixes carnívoros (El-Dahhar & El-Shazly,1993). A viabilidade econômica da utilização de elevados níveis de inclusão de óleos em dietas para peixes onívoros tem sido questionada, como afirma Meer et al. (1997).  Boscolo et al. (2011) salientaram que a utilização de níveis elevados de gordura em rações para peixes pode comprometer o processamento e a estabilidade das mesmas. Além disso, o nível de inclusão desse nutriente em dietas para peixes está diretamente relacionado com o aumento da deposição de gordura corporal (Cyrino, 1995). No Brasil, a produção de peixes em tanques-rede tem se mostrado bastante eficiente por conciliar alta produtividade (Chagas et al., 2003). O cultivo comercial de tilápia em tanques-rede tem apresentando bons resultados, devido sua precocidade e desempenho positivo em sistemas intensivos de produção (Furlaneto et al., 2006). Segundo Tacon e Halwart (2007), a pressão da globalização e a grande procura por produtos aquáticos levaram à evolução rápida dos sistemas de criação em tanques-rede nos últimos anos.

Materiais e Métodos

Para o ensaio de digestibilidade foram utilizados 240 juvenis de tilápia do Nilo (O. niloticus), com peso médio de 35,7± 7,19 g. Os peixes foram distribuídos em 16 tanques experimentais de 100 litros, em uma densidade de 15 peixes por tanque. Os tratamentos foram constituídos por quatro dietas experimentais com diferentes relações de inclusão de carboidratos e lipídios: 35% carboidratos e 9% de lipídios (CHO35/L9), 39% carboidratos e 8% de lipídios (CHO39/L8), 43% carboidratos e 7% de lipídios (CHO43/L7) e 47% carboidratos e 6% de lipídios (CHO47/L6) (Tabela 1). As dietas foram extrusadas e após a extrusão, foram moídas para incorporação de 0,5% de óxido de crômio III, granuladas em moedor e posteriormente secas em estufa à 55 °C, por um período de 24 horas. Os peixes foram alimentados até a saciedade aparente com as quatro dietas experimentais durante sete dias. Após o período de alimentação, iniciou-se a coleta de fezes. Os peixes foram transferidos para os coletores de fezes, de 80 litros de capacidade, com circulação contínua de água, construídos de acordo com o sistema de Guelph modificado. As fezes foram coletadas a cada duas horas e posteriormente, as fezes foram secas em liofilizador. As concentrações de oxido crômico-III das fezes e das rações foram determinadas por digestão nitro-perclórica, de acordo com a metodologia descrita por Furukawa e Tsukahara (1966). Para a determinação dos coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da matéria seca, proteína bruta e energia bruta, foi utilizada a metodologia descrita por Nose (1960). A normalidade dos dados e a homogeneidade da variância foram testadas antes da aplicação da análise de variância (ANOVA). Quando houve significância estatística, as médias dos coeficientes de digestibilidade aparente foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas no programa Statistical Analysis System SAS® v.9.0 (SAS Institute Inc., Cary, North Carolina, USA).

Resultados e Discussão

Os resultados das análises de variância e média dos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (MS), energia bruta (EB) e da proteína bruta (PB), das quatro dietas avaliadas, estão expressos na tabela 2. A dieta com a relação de 47% de carboidratos e 6% de Lipídios apresentamm as maiores médias para os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da matéria seca (MS) e energia bruta (EB), 80,58% e 83,17%, respectivamente. Este resultado concorda com a afirmação de McGoogan e Reigh (1996), de que os peixes onívoros como a tilápia, utilizam de forma mais eficiente a fração carboidratos das dietas, o que está diretamente relacionado com as características do trato gastrointestinal, mais longo em comparação com os carnívoros (Silveira et al., 2009). Dietas contendo menores relações de carboidratos e lipídios tiveram coeficientes de digestibilidade aparente satisfatórios mas menores para os para produção de tilápias do Nilo em tanques-rede. Os CDA para a fração proteica das dietas foram altos, não diferindo com as diferentes relações de CHO/L das dietas estudadas. Chou & Shiau (1996) afirmaram que dietas com níveis de inclusão de Lipídios acima de 5%, não influenciam o desempenho de alevinos de tilápia-do-nilo. No entanto Meurer et al. (2002), afirmaram que níveis de inclusão de gorduras acima de 3% foram prejudiciais para alevinos da espécie, pois diminuíram o crescimento e aumentaram o depósito de gordura corporal. Neste estudo, as demais dietas apresentaram valores intermediários para os coeficientes de digestibilidade da MS e EB  das dietas. Não houve diferença estatística para os CDA da proteína bruta das dietas estudadas.

Conclusões

A dieta com a relação de 47% de carboidratos e 6% de lipídios (CHO47/L6) proporcionou melhores médias de CDA para matéria seca e energia bruta para juvenis de tilápias do Nilo cultivados em tanques-rede. As dietas contendo as menores relações de carboidratos e lipídios apresentaram CDA satisfatórios, mas menores para os para produção de tilápias do Nilo em tanques-rede. Os CDA para a fração proteica das dietas foram altos, porém não diferiu com as diferentes relações de CHO/L das dietas estudadas.

Gráficos e Tabelas




Referências

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