Digestibilidade aparente total de nutrientes avaliada em ovinos alimentados com farelo de crambe

KATHARINE KELLY DE AZEVEDO1, Leila das Dores Fernandes2, Darcilene Maria de Figueiredo3, Raul Ribeiro Silveira4, Sérgio Domingos Simão5, Maurício Gomes de Sousa6, Rafaela Cristina Rodrigues7, Juliana Aparecida Vieira8
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
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8 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a digestibilidade aparente total de nutrientes em ovinos alimentados com dietas contendo 0, 25, 50, ou 75% da proteína bruta do farelo de crambe em substituição à proteína bruta do concentrado. Foram utilizados quatro ovinos adultos SRD, fistulados no rúmen e alojados em gaiolas metabólicas, com idade média e peso vivo médio inicial de 18 meses e 50 Kg, respectivamente. Utilizou-se o delineamento em quadrado latino com 5 tratamentos e 5 repetições. Os dados obtidos foram analisados por regressão em nível de 5% de probabilidade. A digestibilidade da MS, MO e CNF corrigidos para cinzas e proteína apresentaram respostas lineares decrescentes com o aumento do nível de farelo de crambe nas dietas. Não houve efeito dos níveis de farelo de crambe para a digestibilidade da PB, EE e FDN corrigida para cinzas e proteína, apresentando as médias 70,87, 88,27 e 60,14%, respectivamente. Os resultados demonstraram que a proteína bruta do farelo de crambe tem potencial para substituir a proteína do concentrado em até 75%.

Palavras-chave: alimento protéico, coprodutos, nutrição, ruminantes

Total apparent digestibility of nutrients evaluated in sheep fed with crambe bran

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the total apparent digestibility of nutrients in sheep fed diets containing 0, 25, 50, or 75% of the crude protein of the crambe meal instead of the crude protein of the concentrate. Four adult SRD sheep, rumen fistulated and housed in metabolic cages, were used, with mean age and initial mean live weight of 18 months and 50 kg, respectively. The Latin square design was used with 5 treatments and 5 replicates. Data were analyzed by regression at a 5% probability level. The digestibility of MS, MO and CNF corrected for ash and protein showed linear decreasing responses with the increase of the level of crambe meal in the diets. There was no effect of crambe meal levels for the digestibility of PB, EE and corrected NDF for ashes and protein, presenting the means 70.87, 88.27 and 60.14%, respectively. The results demonstrated that crude protein from crambe has the potential to replace the protein in the concentrate by up to 75%.
Keywords: Protein Food, Co-Products, Nutrition, Ruminants


Introdução

Os coprodutos e subprodutos, oriundos da agroindústria, destacam-se como potenciais substitutos aos ingredientes tradicionais usados em dietas de ruminantes. O coproduto farelo de crambe, oriundo da extração do óleo da planta Crambe abyssinica para produção do biodiesel, apresenta elevado valor nutricional, podendo substituir o concentrado proteico nas dietas de ruminantes. No entanto, para o adequado aproveitamento dos alimentos pelos animais são necessárias informações relativas às proporções das frações dos alimentos na adequação de dietas para ruminantes, bem como suas taxas de digestão (GOES et al., 2010). Dessa forma, objetivou-se avaliar a digestibilidade dos nutrientes em ovinos alimentados com dietas contendo níveis crescentes da proteína bruta do farelo de crambe em substituição a proteína bruta do concentrado.

Revisão Bibliográfica

Nos atuais sistemas de formulação de dietas para ruminantes são necessárias informações relativas às proporções das frações de todos os alimentos, bem como suas taxas de digestão, para sincronizar a disponibilidade de energia e nitrogênio (N) no rúmen, e maximizar a eficiência microbiana e a digestão dos alimentos com menores perdas energéticas da fermentação ruminal, fazendo com que os animais sejam alimentados mais economicamente (GOES et al., 2010). Além de identificar potenciais subprodutos passíveis de serem utilizados com eficiência na dieta de ruminantes em substituição à ingredientes convencionais (MIZUBUTI et al., 2011). Segundo Detmann et al. (2006), o coeficiente de digestibilidade, ou simplesmente digestibilidade do alimento, é um dos principais constituintes relacionados aos parâmetros nutricionais determinantes para o processo produtivo de ruminantes, por este ser representado pelos efeitos das ações dos sistemas enzimáticos microbianos do animal durante a passagem pelo trato gastrintestinal, sendo este fundamental para a disponibilidade energética de um alimento ou dieta.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Laboratório de Nutrição de Ruminantes da Fazenda Experimental do Moura da UFVJM, localizado no município de Curvelo, MG. Foram utilizados quatro ovinos fistulados no rúmen SRD, machos, castrados, alojados em gaiolas metabólicas (1,2 m x 0,6 m), com idade média inicial de 18 meses e peso vivo médio inicial de 50 Kg, respectivamente. O experimento foi conduzido em quadrado latino 4 x 4 (4 tratamentos e 4 períodos como repetição). Os tratamentos consistiram em dietas formuladas para apresentar níveis crescentes de inclusão da PB do farelo de crambe em substituição à PB do concentrado (Tabela 1), com relação volumoso:concentrado de 50:50. Para a estimativa da digestibilidade aparente total dos nutrientes realizou-se ensaio de digestibilidade durante o 8º ao 12º dia de cada período experimental, através de coletas totais de fezes com o auxílio de bolsas coletoras adaptadas aos animais. Nas amostras compostas de fezes, realizadas através da mistura das amostras representativas de todos os dias de coleta, e nas amostras de sobras, foram realizadas as análises de MS, MO, PB e EE (AOAC, 1995) e fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína (FDNcp) (Mertens, 2002). Os carboidratos não fibrosos corrigidos para cinzas e proteína (CNFcp) e carboidratos totais (CHOT) foram estimados de acordo com Hall e Akinyode (2000). Os valores de digestibilidade aparente total dos nutrientes (DN) foram obtidos a partir da equação descrita por Andrigueto (1986). Para o cálculo dos nutrientes digestíveis totais foi utilizada a equação do NRC (2001): NDT = PBD + 2,25 x EED + FDNcpD + CNFD. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão linear, a 5% de probabilidade, com o auxílio do programa estatístico R (R Core Team, 2017).

Resultados e Discussão

Conforme demonstrado na Tabela 2, com o aumento dos níveis de farelo de crambe, verificou-se efeito linear decrescente das dietas sobre a digestibilidade da MS, MO e CNFcp. O mesmo efeito foi observado por Herculano (2013) para a digestibilidade da MS e MO em estudo semelhante com bovinos de leite. A digestibilidade dos nutrientes está relacionada com a cinética e a taxa de passagem da digesta pelo aparelho digestivo (Reis & Da Silva, 2006). Dessa forma, os fatores que comprometem o fluxo da digesta no rúmen podem interferir, diretamente, na digestibilidade dos nutrientes. Adicionalmente, sugere-se que, a redução na digestibilidade da MS pode estar relacionada ao baixo teor de CNFcp e elevado teor de FDA e lignina presente nas dietas com farelo de crambe (Tabela 1). A ausência de efeito das dietas sobre a DPB, com média geral de 70,87%, permite inferir que a proteína do farelo de crambe, oriundo da produção do biodiesel, pode substituir a proteína do concentrado em até 75%, sem apresentar alterações na digestibilidade da PB. Provavelmente, as fontes de proteína do concentrado e o farelo de crambe apresentaram características de digestibilidade proteica semelhante. Para a DFDNcp e DEE não foram observados efeitos dos níveis de FC. Indicando que as diferenças entre as frações das fibras das dietas não interferiram na sua digestibilidade. E a ausência de diferença significativa para a DEE entre as dietas pode estar relacionada a diluição da composição químico-bromatológica dos ingredientes na dieta final (Tabela 1). O comportamento linear decrescente observado para os NDTobs provavelmente foi consequênciada da digestibilidade decrescente observada para o CNFcp com a inclusão do crambe, uma vez que esse nutriente foi levado em consideração no cálculo do NDT.

Conclusões

A proteína bruta do farelo de crambe apresentou potencial para substituir a proteína bruta do concentrado em até 75%. No entanto, sua recomendação deve ser baseada na categoria animal a ser alimentada, e melhor atenção deve ser dada à formulação das dietas com a inclusão de farelo de crambe, uma vez que houve efeito na digestibilidade da MO, MS e CNFcp.

Gráficos e Tabelas




Referências

ANDRIGUETO, J. M. Nutrição animal. 4. ed. São Paulo: Nobel. v.1, 1986. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. 1995. Official Methods of Analysis. 16.ed. AOAC, Washington, DC. DETMANN, E.; CECON, P. R.; PAULINO, M. F.; ZERVOUDAKIS, J. T.; VALADARES FILHO, S. C.; ARAÚJO, C. V. Estimação de parâmetros da cinética de trânsito de partículas em bovinos sob pastejo por diferentes seqüências amostrais. Revista Brasileira de Zootecnia, p.222-230, 2006. GOES, R. H. T. B.; SOUZA, K. A.; PATUSSI, R. A.; CORNELIO, T. C.; OLIVEIRA, E. R.; BRABES, K. C. S. Degradabilidade in situ dos grãos de crambe, girassol e soja, e de seus coprodutos em ovinos. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.32, n.3, p.271-277, 2010. MIZUBUTI, I. Y.; RIBEIRO, E. L. A.; PEREIRA, E. S.; PINTO, A. P.; FRANCO, A. L. C.; SYPERRECK, M. A.; DÓREA, J. R. R.; CUNHA, G. E.; CAPELARI, M. G. M.; MUNIZ, E. B. M. Cinética de fermentação ruminal in vitro de alguns coprodutos gerados na cadeia produtiva do biodiesel pela técnica de produção de gás. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, suplemento 1, p. 2021-2028, 2011. HALL, M. B. and AKINYODE, A. Cottonseed hulls: working with a novel fiber source. In:  Annual Florida Ruminant Nutrition Symposium, 2000, Gainesville. v. 11, University of Florida, 2000. p.179-186. HERCULANO, B. N. Farelo de crambe na alimentação de bovinos leiteiros. 2013. 61 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)- Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, 2013. MERTENS, D. R. Gravimetric determination of amylase-treated neutral detergent fiber in feeds with refluxing in beakers or crucibles: collaborative study. Journal of AOAC International, v.85, n.6, p.1217-1240, 2002 R CORE TEAM. R: A Language and Environment for Statistical Computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statistical Computing. 2017. Disponível em: <http://www.R-project.org/>. Acesso em: 25 de janeiro de 2017. REIS, R.A.; SILVA, S.C. Consumo de forragens. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: FUNEP. p.79-110. 2006.