Digestibilidade da silagem de coproduto do maracujá com fubá de milho para ovinos

Tiago Adriano Simioni1, Ubiara Henrique Gomes Teixeira2, Rodrigo Nazaré Santos Torres3, Kaio Augusto Ribeiro Santana Cavalini Soares4, Douglas dos Santos Pina5
1 - Unesp/Jaboticabal
2 - UEM
3 - UFMT/Sinop
4 - UFMT/Sinop
5 - UFMT/Sinop

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os efeitos da inclusão de fubá de milho (FM) (0, 10 e 20%) em silagem do coproduto de maracujá (SCM) e do nível de inclusão da silagem de coproduto (10 e 30%) na dieta de ovinos em substituição parcial ao feno de Capim pé-de-galinha (Eleusine coracana L. Gaertn) sobre a digestibilidade total dos nutrientes e o valor energético. Foram utilizados doze ovinos machos castrados, aproximadamente 36,5 ± 2,1 kg de peso corporal, mestiços Santa Inês, distribuídos em seis quadrados latinos 2 x 2. As SCM apresentam concentração de EE, 7,98, 7,53 e 6,17% na MS, com níveis de inclusão de fubá de 0, 10 e 20%, respectivamente. A FM, nos níveis de 0, 10 e 20% na SCM não influenciou (P0,05). Os valores de digestibilidade observados no presente trabalho indicam que a SCM tem potencial de uso na dieta de ovinos sem influenciar na digestibilidade da fibra.

Palavras-chave: coproduto, ruminantes, valor energético

Digestibility silage of passion fruit coproduct with corn meal for sheep

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of inclusion of corn meal (CM) (0, 10 and 20%) in silage from the passion fruit co-product (PFC) and the inclusion level of the co-product silage (10 and 30%) in the diet of (Eleusine coracana L. Gaertn) on total digestibility of nutrients and energy value. Twelve male castrated sheep, approximately 36.5 ± 2.1 kg of body weight, Santa Inês crossed, distributed in six 2 x 2 Latin squares were used. PFC had a concentration of EE, 7.98, 7.53 and 6, 17% in DM, with levels of inclusion of 0, 10 and 20%, respectively. CM, at the levels of 0, 10 and 20% in PFC did not influence the digestibility of DM, OM, CP, NDF and CNF (P <0.05) regardless of silage levels in the experimental diets. The energy value of the diets was not influenced by the proportion of silage in the diet and by the inclusion level of CM in the silages (P> 0.05). The digestibility values observed in the present study indicate that PFC has potential for use in the sheep diet without influencing the digestibility of the fiber.
Keywords: Co-product, ruminants, energy


Introdução

Apesar dos coprodutos apresentarem potencial para uso na alimentação de ruminantes, a necessidade de se estudar a viabilidade de inclusão de diversas fontes alimentares alternativas e quantificar as respostas animais, principalmente para ruminantes, em termos produtivos (BAMPIDIS e ROBINSON, 2006). Uma das alternativas é a introdução dos coprodutos agroindustriais na dieta dos animais na forma de silagem, porém, para a grande maioria desses alimentos ainda há pouca informação em relação a sua composição e níveis adequados de inclusão. No caso do uso do coproduto de maracujá é recomendado o uso de aditivos absorventes de umidade, devido seu baixo teor de matéria seca (MS), a fim de fornecer melhor ambiente para o desenvolvimento das bactérias produtoras de ácido lático e menores perdas de MS e nutrientes durante o processo (NEIVA et al., 2007). Assim, o uso do fubá de milho como aditivo absorvente de umidade na ensilagem de coproduto de maracujá, também pode melhorar o teor energético da silagem, o consumo e a digestibilidade dos nutrientes. Existem vários fatores que podem influenciar a digestibilidade especialmente a densidade energética da dieta. Maior coeficiente de digestibilidade está correlacionado ao valor energético dos alimentos que constituem a dieta (LOUSADA JUNIOR et al., 2005). Desta forma, objetivou-se com este trabalho avaliar a inclusão de fubá de milho na silagem do coproduto do processamento do maracujá in natura, e dois níveis de substituição do feno de capim pé-de-galinha em dietas para ovinos, sobre a digestibilidade e o valor energético.

Revisão Bibliográfica

O uso de coprodutos da agroindústria na alimentação animal tem sido realizado há muitos anos, apresentando vantagens relacionadas ao uso de alimentos que não são utilizados na alimentação humana; agregação de valor a esses produtos que poderiam ser descartados pela agroindústria e destinação correta aos mesmos, contribuindo para a redução na poluição ambiental causada pelo acúmulo dos mesmos (JUNIOR et al., 2008). A utilização de ingredientes alternativos, como coprodutos, na alimentação de ovinos deve ser adotada após análise de alguns critérios, como: disponibilidade e regularidade na oferta do ingrediente, custo de aquisição e do transporte, custo da tonelada de equivalente NDT e equivalente proteína bruta dos referidos ingredientes. Nos últimos anos várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas, objetivando um melhor aproveitamento no que diz respeito à utilização destes coprodutos como forma de alimento para animais, pois há um grande desperdício de materiais com alto valor nutritivo. A silagem do coproduto de maracujá (cascas) foi considerada por Siqueira et al. (1999) como opção de alimento volumoso, porém este coproduto possui baixo teor de matéria seca (15 a 17%), além de ser pobre em fibra efetiva. Segundo Pereira et al. (2009) a composição química deste coproduto sofre variação segundo os métodos e eficiência do processamento, as variedades do maracujá utilizadas e as proporções de cascas e sementes contidas no material. A silagem destes coprodutos provenientes do maracujá é uma das alternativas, que tem como vantagem o baixo custo de aquisição do material a ser ensilado, além de contribuir para minimizar o impacto que estes causariam ao meio ambiente sendo acumulados sem um destino adequado (AZÊVEDO et al., 2011a). Após o conhecimento da composição química, a obtenção de estimativas dos coeficientes de digestibilidade é reconhecidamente essencial para se quantificar o valor nutritivo dos alimentos (VALADARES FILHO et al., 2000). Assim, medidas de digestibilidade têm contribuído significativamente para o desenvolvimento de sistemas que descrevem o valor nutritivo dos alimentos (VAN SOEST, 1994). Dessa forma, os atributos biológicos de um alimento são muito significativos na predição do desempenho animal; todavia, são mais difíceis de serem determinados acuradamente, devido à interação da composição química do alimento com as capacidades metabólicas e digestivas do animal (PRESTON, 1999).

Materiais e Métodos

Foram utilizados doze ovinos machos, 36,5 ± 2,1 kg de peso corporal, mestiços Santa Inês, distribuídos em seis quadrados latinos 2 x 2, com duração de 60 dias. Os animais foram mantidos em gaiolas de estudos metabólicos. O fubá foi misturado ao coproduto do maracujá nas proporções de 0, 10 e 20% da massa ensilada. Em seguida essa massa foi pesada e colocada nos tambores, obtendo-se uma densidade de 890,08 ± 26,01 kg de MN m-3. Na tabela 1 encontra-se a composição química dos ingredientes. A coleta de fezes foi realizada pelo método de coleta total (24h), registrando-se a quantidade total excretada por animal, período de 5 dias. Durante a pesagem das fezes e, após homogeneização, foram retiradas alíquotas de aproximadamente 20%, para posterior confecção das amostras compostas de cada animal em cada um dos períodos de avaliação. Durante o período de coleta de fezes, foram registradas as quantidades de alimento consumido diariamente, coletando-se amostras dos alimentos por dieta por animal. Nas amostras foram analisados as concentrações de MS, MO, PB e EE. Analise de FDN de acordo com Mertens, (1992). Os teores de CNF foram calculados conforme proposto por Hall (2000) e os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados de acordo com Sniffen at al., (1992). Para avaliação do teor de NDT da silagem de coproduto do maracujá (com 0, 10 e 20% de fubá na matéria natural) e do feno de capim pé-de-galinha, foi adotado o sistema proposto por Coelho da Silva & Leão (1979). Os dados foram analisados segundo o agrupamento de quadrados latinos em esquema de reversão simples, três grupos de quadrado latino 2 x 2, sendo 2 quadrados por grupo, por meio do procedimento GLM do SAS versão 9.1.

Resultados e Discussão

A inclusão de fubá na silagem de coproduto do maracujá (SCM) não afetou (P<0,05) a digestibilidade da MS, MO, PB, FDN e CNF, independentemente dos níveis de inclusão das silagens nas dietas experimentais (Tabela 2). Os valores de digestibilidade de MS, MO e CNF estão acima de valores encontrados na literatura. Lousada Junior et al. (2005), observaram digestibilidade de 60 e 58,2% para MS e MO respectivamente. Contudo, Azevêdo et al. (2011b), utilizando coproduto de maracujá fresco encontrou valor de digestibilidade de CNF de 56,49%. Para os valores de digestibilidade de PB encontrados no presente trabalho, os mesmos estão de acordo com Neiva et al. (2007) e Azevêdo et al. (2011b), que usando coproduto de maracujá ensilado para bovinos, verificaram um valor de 65,7 e 65,45% de digestibilidade para PB, respectivamente. Conforme relatado por Neiva et al. (2007), quando avaliando diferentes coprodutos de frutas que apresentaram DPB mais elevada (maracujá e melão) são os que possuem maiores teores de proteína bruta (PB), de 12,4% e 17,3%, respectivamente, enquanto os subprodutos de abacaxi, acerola e goiaba, que possuem as menores DPB, apresentam teores de PB inferiores aos demais subprodutos, de 8,4; 10,5 e 8,5%, respectivamente. Sobre o aspecto nutricional o aumento na proporção de energia na dieta leva à uma melhor eficiência em sua digestibilidade. No entanto, quando grande quantidade de energia é adicionada à dieta de ruminantes ocorre aumento na taxa de passagem da digesta pelo rúmen, acarretando menor tempo de colonização da população microbiana e diminuição da digestibilidade da fibra em decorrência do aumento nas proporções dos carboidratos prontamente disponíveis e fermentáveis (ØRSKOV, 2000; MERTENS, 2001). Em virtude dos valores de digestibilidade observados no presente trabalho, mostra que a SCM tem potencial de uso na dieta de ovinos sem prejudicar a digestibilidade da fibra (Tabela 2). Houve interação (P<0,05) entre a inclusão de fubá nas SCM e os níveis de inclusão de silagem nas dietas em relação a digestibilidade do EE (Tabela 2), as quais foram desdobradas (Tabela 3). No nível de inclusão de 30% das silagens, os animais alimentados com as dietas com SCM consumiram mais carboidratos não-fibrosos em relação a aqueles que receberam as dietas com 10%, exceto para a silagem com 0% de inclusão de fubá. No nível de inclusão 30% de silagem na dieta, os animais consumiram mais CNF na dieta com silagem contendo 20% de fubá, como consequência da maior proporção desse nutriente nessa dieta, com concentração de 57,60% na MS. O nível de inclusão de 10% de SCM na dieta influenciou (P<0,05) a digestibilidade do EE, a qual foi menor quando comparado com o nível de inclusão de 30% na dieta, quando não foi utilizado milho na ensilagem do coproduto do maracujá (Tabela 2). Em relação aos níveis de inclusão de fubá na SCM nas dietas (10 e 30%), não houve diferença na digestiblidade do EE (P>0,05).

Conclusões

Silagens do coproduto de maracujá com até 20% de inclusão de fubá caracterizaram-se apresentando em média 75% de NDT, podendo ser uma alternativa para a inclusão em dietas de ruminantes como substituto de alimentos volumosos ou concentrados energéticos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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