DIGESTIBILIDADE IN VITRO DE DIETAS FIBROSAS PARA SUÍNOS NA FASE DE TERMINAÇÃO.

SABRINE GARBIN1, ADRIENE NÚZIA DE ALMEIDA SANTOS2, BERNARDO BERENCHTEIN3, CARINE FATIMA PALIGA4
1 - UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
3 - UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
4 - UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

RESUMO -

O presente trabalho teve como objetivo avaliar, através da técnica de digestibilidade in vitro, a digestibilidade e degradabilidade em dietas fibrosas para suínos em terminação. O experimento foi conduzido no laboratório de Nutrição Animal do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP em conjunto com o laboratório de Bromatologia e Processamento de Produtos de Origem Animal e Vegetal da UFFS. O processo de hidrólise in vitro ocorreu de acordo com adaptação do protocolo de Boisen e Fernandez (1997). Foi feito um pool de amostras da mesma fonte fibrosa para a fermentação in vitro. O gás gerado foi mensurado em intervalos durante 48 horas. Em relação a digestibilidade in vitro, a polpa cítrica obteve maior digestibilidade em relação a esses tratamentos. Em relação aos parâmetros de degradabilidade não houve diferença significativa entre os tratamentos. O único tratamento que apresentou diferença significativa foi a polpa cítrica.

Palavras-chave: fibras, digestibilidade, suínos.

IN VITRO DIGESTIBILITY OF FIBROUS DIETS FOR SWINE IN THE TERMINATION PHASE.

ABSTRACT - The objective of the present work was to evaluate the digestibility and degradability in fibrous diets for finishing pigs using the in vitro digestibility technique. The experiment was conducted in the Laboratory of Animal Nutrition of the Center of Nuclear Energy in Agriculture of USP in conjunction with the Laboratory of Bromatology and Processing of Products of Animal and Vegetable Origin of UFFS. The in vitro hydrolysis process was carried out according to the adaptation of Boisen and Fernandez (1997) protocol. A pool of samples from the same fibrous source was made for in vitro fermentation. The generated gas was measured at intervals for 48 hours. In relation to in vitro digestibility, citrus pulp obtained higher digestibility in relation to these treatments. Regarding the degradability parameters, there was no significant difference between treatments. The only treatment that presented a significant difference was the citrus pulp.
Keywords: fiber, digestibility, pigs.


Introdução

Nos últimos anos, pode-se observar um aumento significativo na suinocultura brasileira, e diante disso um fator extremamente importante é o grau de competição nutricional que os suínos apresentam em relação a espécie humana. Aproximadamente 75% da matéria prima diretamente utilizada na nutrição humana também são destinadas para esta espécie (LUDKE et al., 2000). Consequentemente, torna-se evidente que a nutrição e alimentação de suínos devam ser reformuladas, para tanto, executando estudos que investiguem a habilidade desses animais em utilizar alimentos alternativos como fonte de energia e/ou de proteínas, que de preferencia não sejam utilizados diretamente pelo homem e com isso venham a ter menor custo para o produtor. Para tanto são necessários novos estudos sobre o potencial de diversos alimentos fibrosos sobre a produção suína, através da identificação, quantificação e avaliação das interações entre os efeitos fisiológicos e sociativos sobre a digestibilidade e o desempenho animal, devido aos animais apresentarem limitada capacidade do trato digestivo para processar este material fibroso. Diante da situação citada acima e em função da busca por alimentos alternativos que possam ser inseridos na nutrição de suínos, fez-se necessário investigar a digestibilidade de alguns alimentos fibrosos que possam ser inseridos na dieta desses animais.

Revisão Bibliográfica

O uso de técnicas in vitro é uma das maneiras de avaliar as frações digestíveis dos alimentos, são consideradas menos onerosas e facilitam o controle das condições experimentais (NEIVA JUNIOR et al., 2010). Os sistemas in vitro devem simular o processo de digestão que ocorre no rúmen, abomaso ou intestino, fornecendo os dados da taxa e o grau de digestão do animal vivo (BERCHIELLI et al., 2006). No início, o sistema in vitro era utilizado apenas para avaliar a degradação de forragens e outros volumosos, com o aperfeiçoamento da técnica é possível a avaliação de diversos alimentos, além de investigar os mecanismos de fermentação microbiana (DETMANN et al., 2006). É importante ter conhecimento da digestibilidade dos alimentos, pois é a partir desses dados que podemos ter conhecimento dos nutrientes que serão efetivamente aproveitados pelo animal e com isso definir a qualidade da dieta, um dos fatores que exercem mais influência na resposta animal é a quantidade de nutrientes absorvidos na dieta (BERCHIELLI et al., 2005). Com o objetivo de estudar a digestibilidade dos alimentos em não ruminantes, foram desenvolvidas técnicas in vitro que simulam a digestão em partes diferentes do trato digestivo desses animais de estômago simples, como os suínos. A digestibilidade in vitro descrita por Boisen e Fernández (1997) é uma técnica bastante barata e fácil de se reproduzir. No entanto, ao conduzir os experimentos de digestibilidade in vitro deve-se ter em conta a seguintes considerações: uso sequencial de enzimas digestivas, um pH adequado, concentração das enzimas, temperatura ótima para a atividade da enzima, um certo grau de mistura, tempo adequado de incubação, e remoção de produtos finais de digestão para separar as porções digeridas e não digeridas de alimentação (LONGLAND, 1991). A fermentação in vitro dos alimentos, após a incubação enzimática, é acompanhada pela produção de gases. A taxa de fermentação é geralmente avaliada através da medição da quantidade de gás produzido durante o processo. Inicialmente a técnica foi proposta por Menke et al., (1979), para avaliar a digestibilidade e energia metabolizável de alimentos consumidos por ruminantes. A técnica foi então adaptada, modificada e automatizada (SCHOFIELD, 2000) tornando-se possível a aplicação em outras espécies, tais como coelhos (CALABRO et al., 1999, STANCO et al., 2003, BOVERA et al., 2007), avestruzes e suínos (AWATI et al., 2005; JHA et al., 2011), cada uma com objetivos diferentes.

Materiais e Métodos

O presente trabalho simulou a hidrólise enzimática e a digestibilidade in vitro de três alimentos fibrosos feno tifton, casca de soja e polpa cítrica. Foram pesadas cerca de 2 g de cada amostra e acondicionadas em saquinhos de Naylon. Foram utilizados 4 recipientes de vidro, sendo cada recipiente uma repetiçã e 5 repetições de cada tratamento, totalizando 20 saquinhos em cada recipiente. Os recipientes foram deixados lacrados na incubadora por 2 horas com agitação. Essa primeira fase simulou o processo de hidrólise do estômago dos suínos. Após os saquinhos foram retirados e lavados com água destilada para seguir com a segunda fase do processo (simulação do duodeno). Os recipientes foram deixados na incubadora por 4 horas com agitação. Posteriormente foi feito um pool de amostras da mesma fonte fibrosa para a fermentação in vitro, utilizando a técnica cumulativa de produção de gases, onde 0,5 g de cada amostra hidrolisada foram colocadas em saquinhos, seladas e incubadas à 39°C. Para o processo de incubação foram utilizadas garrafas de vidro, nestes foram acrescentados os saquinhos e o de cultura final juntamente com inóculo oriundo das fezes dos suínos. Foram utilizados como doadores de fezes para os inóculos, 4 suínos em terminação (70 kg). As fezes foram diluídas 10 vezes em solução tampão, misturadas com o auxílio de um liquidificador por cerca de 10 minutos. Em seguida essa mistura foi filtrada e o produto obtido foi mantido em banho-maria a 39°C com saturação constante de CO2 e posteriormente transferido às garrafas com os substratos já hidrolisados. O gás gerado pela fermentação foi mensurado através da técnica de medição de pressão, utilizando o medidor de pressão. Esse aparelho foi acoplado a uma agulha para realizar as mensurações da pressão gerada no interior das garrafas nos intervalos pré-definidos durante o processo de fermentação. A fermentação foi paralisada às 48 horas pós incubação, colocando as garrafas em água com gelo.

Resultados e Discussão

Na Tabela1 em anexo pode-se observar que quanto a hidrólise enzimática não houve diferença significativa entre os tratamentos controle, casca de soja e feno tifton. O único tratamento que apresentou diferença significativa foi a polpa cítrica. Pois apresenta um teor de pectina considerável e com isso sendo mais digestível quando comparado aos demais tratamentos testados, e (BAMPIDIS e ROBINSON, 2006) mencionam que a polpa cítrica detém alto teor de pectina na sua estrutura (20,30%), com isso obtendo considerável degradação no trato digestório dos suínos (KREUSER et al., 2002), enquanto que o feno de tifton, casca de soja e tratamento controle apresentam na sua estrutura porcentagem maior de hemicelulose, celulose e lignina, determinados como não ou pouco digestíveis em animais monogástricos. Silva Júnior (2015), avaliando a degradabilidade in vitro da matéria seca utilizando inóculo de ceco de suínos criado ao ar livre, ceco de suínos criados confinados e líquido ruminal de bovinos e ovinos, foram identificadas diferenças para o substrato Torta da amêndoa da Acrocomia aculeata e Casca de mandioca. Para casca de mandioca, o inóculo líquido ruminal de ovino apresentou a menor degradabilidade e ceco suíno criado confinado não foi identificou diferença entre esses inóculos e ceco suíno criado ao ar livre. E observou- se a maior degradabilidade em todos os inóculos para casca de mandioca. Em relação a digetibilidade in vitro foi constatado que a polpa cítrica obteve diferença significativa em relação ao feno tifton e casca de soja, obtendo uma maior digestibilidade em relação a esses tratamentos. Ela apresenta valores próximos para as fibras solúvel (29,51%) e solúvel em detergente neutro (30,94%,), devido ao seu alto teor em pectina (20,30%) (BAMPIDIS e ROBINSON, 2006), é de alta fermentabilidade e de considerável degradação no trato digestório dos suínos (KREUSER et al., 2002), com isso destacando-se nos resultados de digestibilidade in vitro obtidos neste trabalho. Watanabe (2007), utilizando a polpa cítrica como ingrediente de rações para suínos pesados em programas de restrição alimentar, encontrou baixos coeficientes de digestibilidade da fibra, com valores de fibra em detergente neutro (40,05%) e fibra em detergente ácido (46,44%), enquanto o coeficiente de digestibilidade da fibra solúvel em detergente neutro foi elevado (85,93%), e de acordo com este mesmo autor a polpa cítrica não apresenta qualquer característica nutricional depreciável que a impeça de ser utilizada na alimentação de suínos na fase de terminação, podendo ainda ser um ingrediente a ser utilizado em programas de restrição alimentar qualitativa.

Conclusões

A polpa cítrica foi a fonte fibrosa que mais se destacou, obtendo uma maior degradabilidade e digestibilidade in vitro, podendo ser uma alternativa para a alimentação de suínos em terminação. São necessários maiores estudos em relação à inclusão destas fontes no que diz respeito ao consumo de ração.

Gráficos e Tabelas




Referências

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