Digestibilidade in vitro de Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly ex Rowl. em função do processamento para uso forrageiro

Ana Lúcia Teodoro1, Géssica Solanna Calado Soares2, Italvan Milfont Macêdo3, Albericio Pereira de Andrade4, André Luiz Rodrigues Magalhães5, Divan Soares da Silva6, Daniel Bezerra do Nascimento7, Diana Valadares Pessoa8
1 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
2 - Mestre em Zootecnia, Areia, PB, Brasil
3 - Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba – PDIZ/UFPB
4 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
5 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
6 - Professor Colaborador PDIZ/UFPB, Areia, PB, Brasil.
7 - Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns – UFRPE/UAG
8 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG

RESUMO -

O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a digestibilidade in vitro da matéria seca do Pilosocereus gounellei. Foram realizadas coletas em três áreas distintas, ambas no estado da Paraíba e apresentando a caatinga como vegetação predominante. Em cada localidade foram coletadas amostras dos cladódios de P. gounellei (xiquexique) e posteriormente procedeu-se as análises de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS). Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey à 0,05 de significância por meio do programa estatístico SAS. Foi realizado análise conjunta, considerando DIC para os três processamentos e três locais. Os maiores valores de DIVMS foram obtidos com a retirada manual dos espinhos. Houve diferença (P<0,05) em função das partes. O P. gounellei propicia elevada DIVMS, apresentando-se como importante alternativa alimentar para ruminantes em períodos de maior escassez de forragem.

Palavras-chave: cactácea, Semiárido, xiquexique

In vitro digestibility of Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly ex Rowl. processing for fodder use

ABSTRACT - The present work was conducted with the objective of evaluating the in vitro digestibility of the dry matter of Pilosocereus gounellei. Samples were collected in three distinct areas, both in the State of Paraíba and presenting the Caatinga as predominant vegetation. In each locality, samples of cladodes of P. gounellei (xiquexique) were collected and the in vitro dry matter digestibility analyzes were carried out (IVDMD). The results were submitted to analysis of variance and the means were compared by the Tukey test at 0.05 of significance through the SAS statistical program. A joint analysis was performed considering DIC for the three processes and three sites. The highest values of IVDMD were obtained with manual removal of the spines. There was a difference (P <0.05) as a function of the parts. P. gounellei provides high IVDMD, presenting as an important alternative food for ruminants in periods of greater forage shortage.
Keywords: cactos, Semiarid, xiquexique


Introdução

Aproximadamente um milhão de km2 da região Nordeste do Brasil é Semiárido (Araújo Filho, 2013) e tem como principal tipo vegetacional a Caatinga que ocupa 70%. Araújo Filho & Crispim (2002) avaliando a vegetação da caatinga, descreveram que cerca de 596 espécies de arbustos e árvores foram registradas, e deste total 180 são endêmicas, mostrando a grande biodiversidade presente neste bioma, sendo este um dos principais recursos disponíveis para as populações desta região. A família Cactaceae apresenta-se como importante recurso para as regiões semiáridas. Conforme Zappi e Taylor (2008) de um total de 160 cactáceas ocorrentes no Brasil, 31% estão distribuídas na Caatinga. Muitas destas espécies são constantemente utilizadas como fonte alternativa de água e alimento para ruminantes durante os períodos de estiagem, destacando-se o uso das espécies nativas, como: Cereus jamacaru (mandacarú), Pilosocereus gounellei (xiquexique) e Pilosocereus pachycladus (facheiro), variando em função da sua ocorrência natural em cada região. Porém, muitas vezes o corte e a queima da parte aérea para eliminação dos espinhos são realizadas diretamente no campo, sendo estas práticas comuns, como estratégia de sobrevivência para os rebanhos locais. Neste sentido, objetivou-se avaliar a digestibilidade in vitro de Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly ex Rowl. em função das formas de processamento para uso forrageiro.

Revisão Bibliográfica

De acordo com Silva et al. (2005), as cactáceas nativas têm sido utilizadas nos períodos de secas prolongadas, como recurso forrageiro estratégico para composição das dietas dos ruminantes em determinadas regiões do Semiárido nordestino. Essas espécies atendem parte das exigências de água dos animais, bem como suprem parte da demanda nutricional (Ferreira et al., 2009), e permanecem suculentas durante períodos de seca, devido às suas características fisiológicas de economia e uso da água. Sistemas extensivos de produção tem sido comumente utilizado para criação de pequenos ruminantes na região Semiárida do Nordeste brasileiro. O uso das cactáceas na alimentação animal contribuem para diminuir os efeitos desfavoráveis decorrentes de longos períodos de estiagem, podendo ser fornecidas associadas com fenos de outras espécies forrageiras nativas da Caatinga, permitindo a redução dos custos e contribuindo para a viabilização dos sistemas de produção pecuários. Assim, o P. gounellei se torna uma das alternativas alimentares em áreas do Semiárido. Para o fornecimento do P. gounellei aos animais, geralmente é realizada a coleta da parte aérea da planta, através do corte e queima para eliminação dos espinhos. Em vários casos relatados na literatura a queima dos espinhos é realizada no campo, diretamente na planta, sem que haja a retirada dela do solo, e logo após a queima dos espinhos, há o consumo direto pelos animais. Com isto, as plantas queimadas por inteiro morrem, aumentando a cada época seca o risco de extinção da espécie, visto que, esta prática tem causado sérios danos ao bioma Caatinga. Por outro lado, Silva et al. (2005) observaram que, os agropecuaristas que dispõem de mais recursos, têm utilizado diversas estratégias na utilização das cactáceas, principalmente a queima dos espinhos com lança chamas a gás butano. Além da adoção destas práticas, muitos animais consomem o P. gounellei diretamente no campo, ainda com os espinhos, o que pode causar sérios danos à saúde animal, como perfuração dos olhos, boca, estômago e entre outras regiões do corpo.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado em três fragmentos florestais de Caatinga, nos municípios de Pocinhos (área I), Boa Vista (área II) e São João do Cariri (área III), localizados no Estado da Paraíba. Foram selecionados doze indivíduos de P. gounellei em cada área experimental e em seguida coletado amostras na região intermediária (terço médio) de três cladódios primários localizados nas regiões: apical, medial e basal, considerados como formas de manejo para caracterização das coletas. Foram coletadas 36 amostras por área, sendo 12 amostras por forma de manejo. As formas de processamento foram: retirada Manual dos espinhos (RME), material vegetal inteiro passado na máquina trituradora de cactos (MTCn) da Laboremus e queima dos espinhos com lança chamas (LC). Após a aplicação dos tratamentos, as amostras foram pré-secas em estufa de ventilação forçada de ar a 55º C até a estabilização do peso, em seguida, moídas a 2 mm. Para realização da digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) seguiu-se a metodologia descrita por Tilley & Terry (1963), seguindo as modificações descritas por Holden (1999), com o uso do rúmen artificial (modelo TE150®). Após o período de digestão foi retirado todo líquido dos jarros e as amostras foram submetidas ao processo de lavagem em máquina, na sequencia foram colocadas em estufa a 105ºC por 48 horas. A DIVMS foi obtida através da seguinte equação: DIVMS (%) = Onde: W1 = peso da tara dos sacos F57 da ANKON; W2 = peso das amostras; W3 = peso dos sacos F57 da ANKON final após as 24 h de digestão com Pepsina + HCL; W4 = correção dos sacos F57 da ANKON em branco (peso do saco F57 em branco após as 24 h de digestão com Pepsina + HCL /peso do saco F57 original). Os dados foram submetidos à análise de variância pelo procedimento PROC GLM e as médias comparadas pelo teste Tukey à 0,05 de significância por meio do programa estatístico SAS. Foi realizado análise conjunta, considerando (DIC) nos três processamentos e três locais.

Resultados e Discussão

Os dados referentes as precipitações pluviais foram obtidos no endereço eletrônico da Agência Executiva de Águas da Paraíba (AESA), sendo 92,3; 91,4 e 125 mm para o mês de janeiro/2016 nos municípios de Pocinhos (área I), Boa Vista (área II) e São João do Cariri (área III), respectivamente, período em que foram realizadas as coletas. Os maiores valores de DIVMS foram obtidos com a RME, diferindo (P<0,05) das demais formas de processamento (Tabela 1) com exceção da RME e LC na área II. Os maiores valores de DIVMS para o tratamento com RME deve-se a retirada dos espinhos e aréolas, pois, possivelmente estas estruturas apresentam menor quantidade de carboidratos não fibrosos, bem como maior participação da lignina digerida em ácido e fração C dos carboidratos totais em sua composição. Houve diferença (P<0,05) em função das partes sendo o maior valor (690,68 g/MS) observado para os cladódios apicais, seguido dos mediais e basais que apresentaram 660,13 e 608,22 g/MS, respectivamente (Tabela 2). Este efeito pode ser observado devido ao estádio de maturidade em função da altura do cladódio com relação ao caule principal, pois com o avanço da maturidade, há tendência de reduzir a produção de componentes potencialmente digestíveis, como os carboidratos solúveis e as proteínas, e a aumentar a produção de constituintes da parede celular, resultando em decréscimo no valor da DIVMS. Barbosa (1997) estudando a DIVMS do P. gounellei obteve 658,0 g/kg MS, valor maior que os resultados encontrados nesta pesquisa para os processamentos MTCn e LC.

Conclusões

O Pilosocereus gounellei propicia elevada digestibilidade in vitro da matéria seca, apresentando-se como importante alternativa alimentar para ruminantes em períodos de maior escassez de forragem.

Gráficos e Tabelas




Referências

AGÊNCIA EXECUTIVA DE ÁGUAS DA PARAÍBA – AESA. 2016. Disponível em: < http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/medicaoPluviometrica.do?metodo=chuvasDiariasMapa> Acesso em 07/02/2017. ARAÚJO FILHO, J.A & CRISPIM, S.M.A. Associated grazing of cattle, sheep and Goats at the semi-arid region of northeast Brazil. First Virtual Global Conference on Organic Beef Cattle Production September, 02 to October, 15 – 2002. ARAÚJO FILHO, J.A. Manejo pastoril sustentável da caatinga. – Recife, PE: Projeto Dom Helder Câmara, 2013. 200p. BARBOSA, H. P. Tabela de composição de alimentos do estado da Paraíba. João Pessoa: UFPB, 1997. 165p. FERREIRA, M. A. et al. Estratégias na suplementação de vacas leiteiras no semiárido do Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v. 38, p. 322-329, 2009. HOLDEN, L. A. Comparison of methods of in vitro dry matter digestibility for ten feeds. Journal of Dairy Science, v. 82, n. 8, p. 1791-1794, 1999. SILVA, J.G.M. et al. Xiquexique (Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly. ex Rowl.) em Substituição à Silagem de Sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) na Alimentação de Vacas Leiteiras. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.4, p.1408-1417, 2005. TILLEY, J. M. A.; TERRY, R. A. A two-stage technique for the in vitro digestion of forage crops. Journal British of Grassland Society, v. 18, n. 2, p. 104-111, 1963. ZAPPI, D.; TAYLOR, N. Diversidade e endemismo das Cactaceae na cadeia do Espinhaço. Revista Megadiversidade, v.4 nº 1-2, 2008.