Digestibilidade total de ovinos recebendo doses crescentes de farelo de casca de maracujá (Passiflora edulis) na ração

Jayne Rezende Costa1, Núbia Aparecida Ferreira da Silva2, Wemili Graziele de Souza Santana3, Gabriel Maciel Nunes4, Geovano Romão Mendes5, Welison Moreira Teixeira6, Luiz Juliano Valério Geron7, Silvia Cristina de Aguiar8
1 - Universidade do Estado de Mato Grosso
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar a inclusão de doses crescentes de farelo de casca de maracujá (FCM) (0%; 1,6%; 5,8% e 8,9%) na alimentação de ovinos sobre a digestibilidade total da ração com base na ingestão de matéria seca (MS). Foram utilizados 4 ovinos sem raça definida, pesando em média 38,4 kg de peso corporal e distribuídos em um quadrado latino 4×4. As diferentes doses do FCM não influenciaram (P>0,05) a digestibilidade da MS, MO, PB, EE, FDN, FDA e CT. Entretanto, as crescentes doses de FCM influenciaram de forma quadrática (P=0,037) a digestibilidade dos CNF. O menor CD foi observado na dose de 3,7% de FCM, obtendo-se 80,31% de digestibilidade; já o maior CD (83,78%) foi obtido na maior dose de FCM (8,9%). Conclui-se que os níveis crescentes de FCM não influenciaram o CD da MS, MO, PB, EE, FDN, FDA e CT, entretanto, verificou-se maior digestibilidade dos CNF para o nível de 8,9% de FCM (com base no CMS).

Palavras-chave: digestão, pectina, ruminante, subproduto

Total digestibility of sheep receiving increasing doses of passion fruit peel meal (Passiflora edulis) in the ration

ABSTRACT - The objective was to evaluate the inclusion of increasing doses of passion fruit peel meal (PPM) (0%; 1.6%; 5.8% and 8.9%) in sheep diet on total digestibility of feed based on dry matter intake (DMI). Four sheep were used, mixed breed, weighing 38.4 kg of body weight and distributed in a Latin square 4×4. The different doses of PPM did not influence (P>0.05) the digestibility of DM, OM, CP, EE, NDF, ADF and TC. However, the increasing doses influenced in a quadratic form (P = 0.037) the digestibility of the NFC. The lowest digestibility was observed in the dose of 3.7% of PPM, obtaining a value of 80.31%. The highest digestibility (83.78%) was observed in the highest dose (8.9%). It can be concluded that increasing levels of PPM did not influence total digestibility of DM, OM, CP, EE, NDF, ADF and TC, However, higher NFC digestibility was verified at the 8.9% level of PPM (based on DMI).
Keywords: byproduct, digestion, pectin, ruminant


Introdução

Os subprodutos de frutas estão sendo usados com frequência na alimentação de ruminantes, visto que o aparelho digestório tem uma alta capacidade de converter subprodutos em alimentos de melhor qualidade; além de ser uma fonte de alimento alternativa de menor custo, proporcionando, desta forma, a diminuição do custo de produção (NETO et al., 2002). Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a digestibilidade da matéria seca (MS) e nutrientes através de doses crescentes do farelo da casca de maracujá (FCM) na alimentação de ovinos.  

Revisão Bibliográfica

A casca e a semente do maracujá, subprodutos da indústria de alimentos, podem apresentar características interessantes já que sua casca é composta pelo flavedo, que corresponde à camada externa de coloração verde amarela rica em fibras insolúveis e o albedo, que corresponde à camada branca, que é área rica em fibras solúveis, em especial a pectina, com pequenas quantidades de mucilagens (CAZARIN, et al., 2014). Em estudo paralelo, Santana et al. (2015) avaliaram o consumo de MS e nutrientes de ovinos recebendo as mesmas doses de FCM utilizadas neste experimento. Albuquerque et al. (2005) avaliaram os coeficientes de digestibilidade da MS, MO, PB e EE de dietas experimentais fornecidas a ovinos contendo níveis crescentes (0, 18, 31 e 47) de subproduto da indústria processadora de maracujá. Azevêdo et al. (2011) avaliaram os efeitos da inclusão de subprodutos de frutas in natura (abacaxi, goiaba, mamão, manga e maracujá) e do nível (10 e 30%) utilizado na dieta de bovinos em substituição parcial à silagem de milho sobre a digestibilidade total dos nutrientes. Nesse resíduo pode ser destacada a presença de pectina na casca e a elevada concentração de lipídios nas sementes, o que contribuem com sua fração energética nas dietas. Em contrapartida, o excesso de gordura pode prejudicar o aproveitamento da fibra dietética (Giordani Júnior et al., 2014).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no campus experimental de Pontes e Lacerda – MT, pertencente ao Departamento de Zootecnia da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Foram utilizados quatro ovinos machos, castrados, sem raça definida e com peso corporal (PC) médio de 38,4 kg. Os animais foram alojados em gaiolas metabólicas situadas no Setor de Metabolismo Animal (SeMA) do campus. Os ovinos foram distribuídos aleatoriamente em um quadrado latino 4×4, com quatro períodos e quatro tratamentos. Os tratamentos experimentais diferiram com a inclusão ou não de doses crescentes de farelo da casca de maracujá amarelo (FCM) constituindo-se, portanto, em quatro tratamentos: sem adição de FCM (0% de ingestão de FCM em relação ao consumo de matéria seca (CMS)), adição de 15 g/dia de FCM (1,6% de ingestão de FCM em relação ao CMS), 45 g/dia de FCM (5,8% de ingestão de FCM em relação ao CMS) e 75 g/dia de FCM (8,9% de ingestão de FCM em relação ao CMS). A dieta experimental, contendo 50% de silagem de milho e 50% de concentrado (constituído de grão de milho moído e farelo de soja) foi formulada a fim de apresentar 15% de proteína bruta (PB) e 70% de nutrientes digestíveis totais (NDT) na MS. O experimento foi constituído de 4 períodos experimentais com 21 dias cada, onde 14 dias foram para adaptação dos animais e 7 dias para coleta A alimentação dos ovinos foi dividida em duas refeições (08h e 16h) e as doses de FCM eram misturadas à ração no momento do fornecimento das mesmas. A ração, pesada diariamente, foi fornecida ad libitum permitindo sobras de, no máximo, 10% da matéria natural oferecida. Os ovinos foram pesados no início e no fim de cada período de coleta, para que fosse estimado o fornecimento de MS das rações experimentais em função do PC. A coleta total de fezes foi realizada utilizando uma sacola de napa adaptada em cada animal, provida de abertura com zíper. Todo o conteúdo fecal presente na sacola foi pesado para a determinação da produção fecal diária. O consumo diário foi estimado pela diferença entre o fornecido e as sobras no cocho.  As amostras dos alimentos e sobras foram analisadas para determinação de MS, matéria orgânica (MO), PB, extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA). Os carboidratos totais (CT) foram obtidos por intermédio da seguinte equação: CT = 100 - (%PB + %EE + %Matéria Mineral) e os carboidratos não-fibrosos (CNF) foram determinados pela diferença entre CT e FDN (sem correção para proteína). O coeficiente de digestibilidade aparente (CD) da MS, MO, PB, EE, FDN e FDA foi calculado de acordo com fórmula descrita por Silva & Leão (1979). As análises estatísticas das variáveis estudadas foram interpretadas por análises de variância e regressão, utilizando o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG).

Resultados e Discussão

As diferentes doses do FCM não influenciaram (P>0,05) a digestibilidade da MS, MO, PB, EE, FDN, FDA e CT (Tabela 1). Entretanto, as crescentes doses de FCM influenciaram de forma quadrática (P=0,037) a digestibilidade dos CNF, obtendo-se a seguinte equação: Y = 82,0508 – 0,94385X + 0,127981X2, com R2= 20,47%. O menor CD para os CNF foi observado na dose de 3,7% de FCM, obtendo-se 80,31% de digestibilidade; já o maior CD (83,78%) foi obtido na maior dose de FCM (8,9%), de acordo com a equação de regressão supracitada. Conforme descrito na revisão sobre o tema, Santana et al. (2015) não observaram diferenças no consumo em função dos níveis crescentes; desta forma, não houve influência do consumo sobre a digestibilidade dos CNF. Albuquerque et al. (2005) trabalhando com dietas experimentais fornecidas a ovinos contendo níveis crescentes (0, 18, 31 e 47) de subproduto da indústria processadora de maracujá não observaram diferença entre os níveis de inclusão, obtendo média de 66,28% para o CDMS. Azevêdo et al. (2011) verificaram redução no CD da PB e do EE para a dieta contendo 30% de FCM. Os baixos níveis de FCM de maracujá não influenciaram de forma negativa a digestibilidade dos nutrientes, com favorecimento do CD dos CNF, uma vez que a adição do FCM nos níveis aqui utilizados reduziu a razão FDN/CNF, provavelmente devido ao teor de pectina presente no FCM.

Conclusões

OOs níveis crescentes de FCM não influenciaram o CD da MS, MO, PB, EE, FDN, FDA e CT, entretanto, verificou-se maior CD dos CNF para o nível de 8,9% de FCM (com base no CMS).

Gráficos e Tabelas




Referências

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