DIGESTIBILIDADE IN VITRO DO FARELO DE GIRASSOL
Ana Karoline de Jesus Vieira1, Luciana Castro Geraseev2, Idael Matheus Góes Lopes3, Geziana Moreira Seles4, Amália Saturnino Chaves5, Anne Ellen Rodrigues Pereira6, Sarah Silva Santos7, Raquel Gonçalves Oliva8
1 - UFMG
2 - UFMG
3 - UFMG
4 - UFMG
5 - UFMG
6 - UFMG
7 - UFMG
8 - UFMG
RESUMO -
Objetivou-se avaliar a DIVMS e FDN do farelo de girassol utilizando tecidos filter bag F57 (Ankon®) e TNT. O delineamento utilizado foi casualizado em esquema fatorial com quatro níveis de inclusão do coproduto (0, 10, 20, 30%) e saquinhos (filter bag F57 (Ankon®) e TNT). A DIVMS e DIVFDN apresentou redução com a inclusão do coproduto, mas somente a DIVMS diferiu de tecido utilizado. A digestibilidade do FDN variou de 70,07% a 29,88%. Para o Filter Bag 57 (ANKON®) a equação encontrada para digestibilidade da MS em função da inclusão do coproduto foi: y= -0,0059x + 0,779, e para o TNT foi y= – 0,0085x + 0,8306. Conclui-se que a inclusão do coproduto reduz a digestibilidade da MS e FDN, e que os tecidos utilizados foram semelhantes nas estimativas da digestibilidade da FDN.
Palavras-chave: Coproduto, Fibra em Detergente Neutro, filter bag F57 (Ankon®), TNT.
IN VITRO DIGESTIBILITY OF SUNFLOWER MEAL
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the IVDMD and NDF of sunflower meal using filter bag fabrics F57 (Ankon®) and TNT. The experimental design was factorial with four treatments with different levels of inclusion of sunflower meal (0%, 10%, 20%, 30%), two types of bags (filter bag F57 (Ankon®) and TNT) and 3 replicates for each treatment. DIVMS and DIVFDN showed reduction with the inclusion of the co-product, but only the IVDMDD differed from the tissue used. The average NDF digestibility ranged from 70.07% to 29.88. For the Filter Bag 57 (ANKON®), the equation obtained for dry matter digestibility in function of the sunflower meal inclusion was: y = -0.0059x + 0.779. For TNT, the equation was y = - 0.0085 + 0.8306. It was concluded that the inclusion of the co-product reduces the digestibility of DM and NDF, and that the tissues used were similar in the NDF digestibility estimates.
Keywords: By-product, Neutral Detergent Fiber, Filter bag F57 (Ankon®), TNT.
Introdução
A busca por novas fontes de alimento se tornam indispensáveis, principalmente os coprodutos que podem ser aproveitados pelos ruminantes (VITOR, 2014), pois, esses animais possuem adaptação no sistema digestivo, que permite o aproveitamento de alimentos fibrosos e grosseiros (VALADARES FILHO; PINA, 2006).
O girassol que é uma boa fonte de proteína (NRC, 2007), porém para a utilização segura dessa fonte proteica na alimentação de ruminantes é necessário o conhecimento do valor nutricional e seu aproveitamento pelo animal, sendo a digestibilidade
in vitro uma das analises utilizadas para se obter tal dados.
O tecido mais utilizado comumente para realizar a digestibilidade é o tecido F57 (Ankon), esse tipo de tecido apresenta limitação devido ao alto custo. O TNT pode ser uma alternativa de substituição ao tecido F57, resultando em redução de custos e mantendo a idoneidade dos resultados.
Dentro desse contexto, esse estudo teve como objetivo avaliar a digestibilidade
in vitro da matéria seca e fibra em detergente neutro em dietas com diferentes níveis de inclusão do farelo de girassol reprocessado e comparar a eficiência de dois tipos de tecidos filter bag F57 (Ankon®) e TNT.
Revisão Bibliográfica
O girassol pode fornecer vários derivados, como o farelo (GALÁTI, 2004; GARCIA,
et al 2004) e a torta de girassol (BORGONOVI, 2003; STEIN, 2003). O farelo de girassol é uma boa fonte proteica, porém o valor de extrato etéreo pode comprometer a fermentação ruminal e consequentemente a disponibilidade de nutrientes, por isso é importante a determinação dos níveis adequados de inclusão do coproduto nas dietas para ruminantes.
A inclusão de farelo de girassol em dietas de bovinos leiteiros em crescimento não modificou o consumo e ganho de peso desses animais, atingindo o ponto máximo de substituição de farelo de soja pelo de girassol de 45% (GARCIA
et al., 2006).
Com a necessidade de avançar os estudos sobre a digestibilidade de alimentos, a digestibilidade
in vitro se tornou uma grande aliada dos pesquisadores, pois essa técnica permite a avaliação de pequenas amostras e bem definidas no seu caráter biológico (WILSON,1982).
O uso do TNT (tecido não-tecido) vem sendo estudada para a substituição do uso do tecido filter bag F57 (Ankon®). Estudo feito por Casali.et al (2009) mostrou que valores de FDN de diferentes tipos de volumosos foram superiores com o uso do TNT e filter bag F57 (Ankon®) quando comparados com o náilon.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido no laboratório de bromatologia do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG-ICA), na cidade de Montes Claros, localizada na região do norte de Minas Gerais. O farelo de girassol foi obtido juntamente a empresa CARAMURU, situada na cidade de Itumbiara, estado de Goiás.
As dietas foram elaboradas de acordo com as recomendações do NRC (2007) para cordeiros em mantença e os níveis de inclusão de farelo de girassol utilizados foram: 0%, 10, 20 e 30% da matéria seca. Para a coleta do líquido ruminal o animal foi alimentado com uma dieta a base de 70% de volumoso e 30% de concentrado com 10 % de inclusão do farelo de girassol, formulada para atender o requerimento de nutrientes para ovinos adultos, com ganho mínimo de 250 g/dia, de acordo as recomendações do NRC (2007), por um período de 15 dias de adaptação.
Para a determinação da digestibilidade
in vitro foi utilizada a metodologia descrita por Silva e Queiroz (2004), Tilley e Terry (1963) e Holden (1999), que foi modificada para a incubadora
in vitro da Tecnal (TE – 150).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em arranjo fatorial 4 x 2 sendo quatro níveis de farelo de girassol e dois tipos de tecidos e três repetições. Os dados coletados foram agrupados e submetidos a análise de variância utilizando o pacote estatístico SAEG (2007), em caso de diferença significativa para os níveis de inclusão de farelo de girassol, foi feita análise de regressão.
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 estão expressos os coeficientes de digestibilidade
in vitro da matéria seca e da fibra em detergente neutro em função de diferentes níveis de inclusão de farelo de girassol e tipo de tecido. Tanto para a matéria seca, quanto para FDN, a inclusão do farelo de girassol alterou (P < 0,05) a digestibilidade, entretanto a interação entre o tipo de tecido e o nível de inclusão de farelo de girassol foi significativo (P<0,05) somente para a digestibilidade da matéria seca.
Com a inclusão do farelo de girassol houve diminuição da digestibilidade da matéria seca e da FDN, isso pode ser explicado devido ao teor de FDA presente no farelo de girassol, segundo Eastridge (1997) a digestibilidade está intimamente ligada com a FDA.
NISHINO et al., (1988) em um experimento realizado comparando os farelos de soja e de girassol na alimentação de bezerros de raça holandesa, verificaram que a digestibilidade
in vitro da matéria seca foi menor para o farelo de girassol. Oliveira et al. (2007) avaliando torta de girassol observou redução na DIVMS dos concentrados estudados com a inclusão do coproduto.
A estimativa de digestibilidade da matéria seca não foi similar entre os dois tipos de tecido. Com o uso de filter bag F57 (Ankon®) foi possível observar que a cada 1% de
inclusão do coproduto houve uma redução de 0,59 % na digestibilidade, com o tecido TNT esse valor aumenta para 0,85%. Esse resultado pode ser evidenciado devido a diferença porosidade entre o filter bag F57 (Ankon®) e o TNT, mesmo possuindo uma estrutura similar de malha, a quantidade de poros presente no TNT não ocupam toda a tonalidade do tecido, devido a isso pode ocorrer a limitação de acesso da microbiana ao material dentro dos tecidos, consequentemente diminuindo a digestibilidade da matéria seca (CASALI
et al. 2009).
Resultados contrários foram observados por Oliveira e Morgam (2002) e Adesogon (2005) que afirmaram que o uso do TNT resultou em aumento da digestibilidade estimada devido ao aumento do diâmetro dos poros do TNT com isso aumentando a chance de colonização e digestão feita pelos microrganismos ruminais, e também o fluxo de pequenas partículas que estão dentro do tecido e não foram digeridas para fora das amostras incubadas.
Conclusões
A inclusão do farelo de girassol reduz a digestibilidade da matéria seca e da fibra em detergente neutro. O tipo de tecido utilizado não influenciou na estimativa da digestibilidade da FDN, porém houve diferença entre os dois tipos de tecido na estimativa da digestibilidade da matéria seca.
Agradecemos o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo financiamento do projeto.
Gráficos e Tabelas
Referências
BORGONOVI, F.
Composição químico-bromatológicas de concentrados contendo diferentes níveis de torta de girassol. Monografia. (Graduação em Zootecnia). UNESP/FCAV. Jaboticabal. 2003. 49 p.
CASALI, A.O et al. Estimação de teores de componentes fibrosos em alimentos para ruminantes em sacos de diferentes tecidos
. R. Bras. Zootec. [Online]. 2009, vol.38, n.1, pp.130-138.
CONAB, Companhia Nacional do Abastecimento. Em: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/15_07_14_14_15_03_girassoljunho20 15.pdf, 2015.
EASTRIDGE.M.I. Fibra para vacas leiteiras. Confinamento de bovinos.
Anais do 9o Simpósio sobre Produção Animal. Piracicaba: FEALQ, 1997. p. 33-50.
GARCIA, J.A.S.; VIEIRA, P.F.; CECON, P.R. et al. Desempenho de bovinos leiteiros em fase de crescimento alimentados com farelo de girassol.
Ciência Animal Brasileira, v.7, n.3, p.223-233, 2006.
GALATI, R.L. 2004.
Co-produtos do milho, soja e girassol em dietas para bovinos de corte. Tese (Doutorado em Zootecnia). Universidade Estadual Paulista. Jaboticabal, SP. 168 pp. Gonçalves, J.S. 2010. Amido e fibra solúvel em detergente neutro em dietas para ovinos. Tese (Doutorado em Zootecnia). FCAV, UNESP. Jaboticabal, SP.
HOLDEN, L.A. Comparison of methods of in vitro dry matter digestibility for ten feeds.
J. Dairy Sci., v.82, p.1791-1794, 1999.
NRC-National Research Council. Nutrient requirements of smaal ruminants. 7th ed. Washington, D.C., 2007.
NISHINO, S.; ISOKAI, K.; KEMATA, S. Sunflower meal as a replacement for soybean meal in calf starter rations.
Journal College Dairying, v. 11, n. 2, p. 381-390, 1988.
OLIVEIRA, M. Dal S.; MOTA, D. A.; BARBOSA, J. C.; STEIN, M.; BORGONOVI, F. Composição bromatológicas e digestibilidade ruminal in vitro de concentrados contendo diferentes níveis de torta de girassol.
Ciênc. Anim. Bras., v. 8, p. 629-638, 2007.
SAEG.
Sistema para análises estatísticas. Versão 9.1, Viçosa: Fundação Arthur Bernardes, 2007.
SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C.
Análises de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3.ed. Viçosa: UFV, 2004. 235p.
TILLEY, J.M.A.; TERRY, R.A. A two-stage technique for the in vitro digestion of forage crops.
J. Br. Grassl. Soc., v.l8, p.104-111, l963.
TOMICH, T. R.
Avaliação do potencial forrageiro e das silagens de treze cultivares de girassol (Helianthus annuus L). Dissertação (Mestrado em Zootecnia). UFMG. Escola de Veterinária. Belo Horizonte. 1999. 131p.
WILSON, J.R. Environmemtal and nutritional factors affecting herbage quality. IN: Hacker, J.B. (ed.). Nutritional Limits to Animal Production from Pastures. Commonwealth Agricultural Bureaux. Farnham Royal. 1982. p. 111-131.
VITOR, A. C. P.
digestibilidade in vitro de coprodutos da bananicultura. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Zootecnia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Agrárias, Montes Claros, 2014.