DISTRIBUIÇÃO DO VOLUME E COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO LEITE PRODUZIDO NOS QUARTOS ANTERIOR E POSTERIOR DO ÚBERE DE VACAS GIR LEITEIRO

Sávio Caldeira Bahia Lima1, Lucília Louise Nogueira Gonçalves2, André Rabelo Fernandes3, Leonardo de Oliveira Fernandes4
1 - Faculdades Associadas de Uberaba
2 - Faculdades Associadas de Uberaba
3 - Faculdades Associadas de Uberaba
4 - Faculdades Associadas de Uberaba

RESUMO -

A raça Gir Leiteiro tem grande importância econômica no Brasil, sendo base em cruzamentos com finalidade leiteira. Objetivou-se neste trabalho, avaliar a tendência de produção de leite dos quartos posterior e anterior do úbere de vacas Gir Leiteiro, analisando a composição do leite produzido nas referidas divisões da glândula mamária dos animais. Utilizou-se 17 vacas da raça Gir Leiteiro de diferentes ordens de lactação, avaliando a produção isolada dos quartos anteriores e posteriores. Foi constatado que a tendência de distribuição da glândula mamária do Gir Leiteiro é diferente da distribuição do leite no gado europeu, sendo que para a raça em avaliação a porcentagem encontrada foi de 50,95% e 49,05% respectivamente para anterior e posterior, não havendo diferença significativa entre os dois quartos. As médias para gordura, proteína, ponto de congelamento, densidade e sólidos não gordurosos se demonstraram iguais nos dois tratamentos.

Palavras-chave: Glândula mamária, Produção, Zebuínos

MILK VOLUME DISTRIBUTION PRODUCED IN FOREQUARTERS AND HINDQUARTERS OF GIR DAIRY COWS

ABSTRACT - The breed cattle Gir has great economic importance in Brazil, being the basis for crossbreeding with lactating. The aim of this study was to evaluate the milk production trend of the forequarters and hindquarters of the udder of dairy Gir cows, analyzing the composition of milk produced in those divisions of the mammary gland of animals. 17 Gir cows of different lactation orders were used, evaluating the isolated yield of the forequarters and hindquarters. It has been found that the tendency of distribution of the mammary gland of dairy Gir is different from the distribution of milk in European cattle, once that the percentage found for the breed in study was 50.95% and 49.05% respectively for front and back, with no significant difference between the two quarters. The averages for fat, protein, freezing point, density and non-fat solids showed the same results in both treatments.
Keywords: Mammary gland, Production, Udder


Introdução

Na pecuária brasileira as raças zebuínas e seus cruzamentos tem grande expressão, sendo à base da bovinocultura nacional. Neste cenário, algumas raças têm maior destaque que outras; no caso da bovinocultura de leite, o Gir Leiteiro é o zebuíno que apresenta características adequadas (rusticidade: boa adaptabilidade ao clima, resistência a endo e ectoparasitas) para a produção de leite, a raça possui dentre os zebuínos a maior produtividade leiteira nos trópicos, e expressa crescente potencial para se destacar na pecuária leiteira mundial (FERNANDES, 2015). Segundo a Embrapa Gado de Leite (S. D) apud ABCGIL (2016), a maior parte da produção de leite do país é oriunda de rebanhos mestiços com algum grau de sangue Gir Leiteiro, que possui a produção média de 3.600 kg de leite em 305 dias de lactação, o que corresponde a três vezes a média nacional, atualmente de 1.237 kg de leite. A raça também se destaca pela grande produção de sólidos no leite com valores médios de 4,2% de gordura e 3,1% de proteína. Outra característica importante na raça Gir Leiteiro é sua vida útil (tempo em que o animal mantém-se produtivo e reprodutivo dentro do rebanho). Hazel et al. (2014) afirmam que a longevidade das vacas é um fator importante no seu desempenho econômico, pois os custos com a reposição de animais tem representado uma grande despesa para os rebanhos leiteiros. Em tal contexto a glândula mamária e seu funcionamento tem enorme importância. O sistema mamário da fêmea bovina é constituído por quatro glândulas mamárias individuais chamadas de quartos, que são divididos em quartos anteriores (direito e esquerdo) e quartos posteriores (direito e esquerdo) (BRAGULLA & KONIG, 2004 apud ARAUJO et al., 2012). Segundo Fernandes (2015) o úbere das vacas Gir Leiteiro deve apresentar ainda proporcionalidade entre a parte anterior e posterior. Os quartos anteriores devem apresentar avançados para frente e aderidos ao ventre e os quartos posteriores bem projetados para trás e para cima. A avaliação do úbere funciona como um indicativo de produção de leite. Com isso, objetivou-se com este trabalho avaliar a tendência de produção de leite dos quartos posterior e anterior do úbere de vacas Gir Leiteiro, analisando a composição do leite produzido nas referidas divisões da glândula mamária dos animais.

Revisão Bibliográfica

Quando se trata da distribuição de leite no úbere dos animais da raça Gir Leiteiro, pouco ainda se sabe, e várias afirmações errôneas são feitas, até mesmo admitindo-se que a raça possua a mesma distribuição que os animais de origem europeia. Segundo Wattiaux (2009), cada quarto é uma entidade funcional própria que opera independentemente e secreta o leite por seu próprio teto. Geralmente, os quartos traseiros são levemente mais desenvolvidos e produzem mais leite (60%) do que os quartos dianteiros (40%). Contudo, não há relatos científicos que comprovem essa distribuição para as raças de origem zebuína. O que se intui através de avaliações visuais e baseando-se na morfologia do úbere dos zebuínos, é que a distribuição nos animais provenientes da raça Gir Leiteiro seja o inverso da que acontece nas raças europeias, ou seja, que os quartos anteriores produzam mais que os posteriores, ou ainda, que essa produção para o Gir Leiteiro seja igual entre os quartos. Segundo Norman e Powell (1988 apud PORCINATO; NEGRÃO; PAIVA 2009), as características morfológicas variam entre indivíduos assim, a morfologia do úbere pode favorecer o desempenho dos indivíduos ou mesmo das raças.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado de outubro de 2015 a abril de 2016, na fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) destinada a Associação dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), localizada Univerdecidade, em Uberaba – MG. As normais climatológicas médias do período experimental obtidas da Estação Experimental Getúlio Vargas (EPAMIG) foram precipitação de 216,85 mm, umidade de 71,42% e temperatura média de 26,2 ºC. Foram utilizadas 17 vacas da raça Gir Leiteiro em diferentes fases e ordens de lactação (1ª, 2ª e 3ª), as quais foram submetidas às mesmas dietas, ambiente e manejos. Os animais recebiam suplementação com 24% de proteína na proporção de 3:1, foram alimentados com silagem de sorgo de outubro ao início de novembro, e depois passaram a pastejar em pasto com Brachiaria brizantha cv. MG-5. A coleta de dados foi realizada uma vez ao mês, durante os seis meses do estudo. Duas ordenhas foram realizadas, uma às 7h00 e a outra às 14h30. O controle leiteiro era realizado em intervalos de mais ou menos 30 dias. Por ser uma prova zootécnica que consiste na mensuração e registro da produção individual da vaca em um período de 24 horas, é tradicionalmente utilizada para a estimação da produção acumulada até 305 dias (ABCZ, 2014). Por isso, a coleta dos dados variou de 2 a 3 dias conforme as datas do controle leiteiro. Como método de coleta utilizou-se dois conjuntos de ordenha por animal (um para os quartos anteriores e outro para os posteriores), um conjunto era colocado nos dois tetos anteriores e o outro conjunto nos dois tetos posteriores, utilizaram-se tampões de teteiras para que não houvesse perda do vácuo nas teteiras vazias. Essa metodologia foi adotada porque a ordenha dos quartos devia ser simultânea levando em consideração o pico de ocitocina visando à ejeção total do leite, assim não havendo incidência de leite residual. Para medir o volume de leite durante as ordenhas, foram utilizados medidores graduados acoplados ao conjunto de ordenha. As amostras de leite eram homogeneizadas e colocadas em tubos coletores com conservante de leite, cada tubo recebia um número e uma letra, as letras correspondiam aos quartos (D= dianteiro e T= traseiro) e os números representavam uma unidade experimental, assim, totalizando 34 tubos, sendo dois tubos coletores para cada unidade experimental. Para a composição do leite utilizou-se o equipamento ECOMILK M®, um analisador de leite ultrassônico para detecção rápida e precisa do teor de gordura, sólidos não gordurosos (SNG), proteína, água adicionada ao leite, ponto de congelamento (PC, freezing point) e densidade. O delineamento utilizado foi o em blocos ao acaso (DBC), onde os animais foram blocados de acordo com a sua ordem de lactação e os tratamentos se dividiram em quartos anteriores e quartos posteriores com 17 repetições cada um. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de TUKEY ao nível de 5% de probabilidade de erro. As análises foram executadas através do software SISVAR versão 5.6, desenvolvido pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Resultados e Discussão

O resultado do percentual da distribuição de leite nos quartos mamários das vacas Gir Leiteiro avaliadas pode ser observado na TAB. 1. Pode-se observar que não houve diferença significativa na distribuição de leite entre os quartos mamários das vacas Gir Leiteiro avaliadas (P<0,05). Este resultado divergiu aos relatos de Wattiaux (2009), que trabalhando com gado de origem europeia, afirma que geralmente, os quartos traseiros são levemente mais desenvolvidos e produzem mais leite (60%) do que os quartos dianteiros (40%). Visualmente o volume do quarto anterior das vacas avaliadas era superior ao volume do quarto posterior. De acordo com Fernandes (2015), o maior volume da glândula mamária sugere uma maior capacidade de secreção e armazenamento de leite. A distribuição da produção de leite em percentual mensal nos quartos mamários das vacas Gir Leiteiro avaliadas pode ser observado na FIG. 1. O gráfico demonstra que durante os meses de coleta houve pouca oscilação na produção de leite entre os quartos mamários, não sendo uma oscilação expressiva nos meses de outubro, novembro, dezembro e fevereiro (P<0,05). Entretanto, nos meses de janeiro e março houve diferença significativa (P< 0,05) na produção de leite entre os anteriores e os posteriores, sendo observada nos dois meses uma maior produção de leite em percentual dos quartos anteriores. Em relação à produção de leite na 1ª e 2ª ordenha não houve diferença de produtividade entre o quarto anterior e o posterior. A quantidade de leite produzida variou de animal para animal, porém nenhum dos animais demonstrou uma elevada produção de um quarto em relação ao outro. A distribuição de leite na glândula mamária é uma tendência, sempre seguindo o mesmo padrão, ou seja, mesmo não existindo diferença significativa (P< 0,05) na produção entre os quartos anterior e posterior, os animais que apresentaram maior produção em um dos quartos, ainda que pequena, continuaram a produzir mais nesse mesmo quarto durante todo o período experimental. Sendo uma tendência mesmo que haja maior estimulação da glândula mamária para secreção de leite e, consequentemente, aumento do desenvolvimento do tecido alveolar, a distribuição entre os quartos mantêm-se na mesma proporção, aumentando somente o volume de leite produzido. Não houve diferença significativa (P< 0,05) na composição físico-química do leite. Os teores de gordura e proteína não foram afetados pelos tratamentos, o que demonstra estabilidade de produção entre os quartos mamários dos animais. Caso um dos quartos apresentasse produção significativa em relação ao outro, poderia ocorrer o efeito de diluição. Weiss et al., (2002 apud REIS et al., 2007) explicam que, devido ao maior período entre a ordenha da tarde e a da manhã, do dia seguinte, o volume de leite acumulado dentro do úbere seria maior pela manhã, causando um efeito de diluição do conteúdo de gordura, ou seja, o efeito de diluição ocorre quando há maior volume de leite. No entanto, o quarto posterior e o anterior das vacas Gir Leiteiro demonstraram equilíbrio, por isso, não verificou-se o efeito de diluição e nem diferença entre os componentes físico-químicos do leite.  

Conclusões

A distribuição de leite na glândula mamária dos animais Gir Leiteiro não segue o mesmo padrão que a distribuição de leite na glândula mamária do gado europeu leiteiro. Não há influencia da divisão dos quartos na composição físico-química do leite. A distribuição de leite em percentual na glândula mamária é uma tendência, logo essa distribuição é pouco influenciada por fatores externos ao animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABCGIL. Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro – PNMGL.2016. Disponível em: <http://g irleiteiro.org.br/?conteudo,170>. Acesso: 8 de maio de 2016. ABCZ. Manual. 2014. Disponível em: <http://www.abcz. org.br/Home/Conteudo/23237-Manual>. Acesso: 8 de maio de 2016. ARAUJO, G.D. et al. Aspectos morfológicos e fisiológicos de glândulas mamarias de fêmeas bovinas – revisão de literatura. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 36, Ed. 223, Art. 1478, 2012. FERNANDES, A. R. Associação entre a produção de leite e as características de úbere e de manejo no melhoramento genético do Gir Leiteiro. 2015. 56 f. Tese (Mestrado) - Curso de Zootecnia, Programa de Pós-graduação em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos, Universidade de Uberaba, Uberaba-MG, 2015. HAZEL, A.R.; HEINS, B.J.; SEYKORA, A.J.; HANSEN, L.B. production, fertility, survival, and body measurements of montbéliarde-sired crossbreds compared with pure Holsteins during their first 5 lactations. Journal Dairy Science, v.97(4), p.2512-2525, 2014. Disponível em: <http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(14)00066-6/pdf>. Acesso: 27 de maio de 2016. PORCINATO, M. A. F.; NEGRÃO, J. A.; PAIVA, F. A. Morfometria e distribuição de leite alveolar e cisternal na glândula mamária de vacas Holandesa e Girolanda. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.61, n.2, p.287-292, 2009. REIS, G. L.; ALVES, A. A.; LANA, A. M. Q.; COELHO, S. G.; SOUZA, M. R.; CERQUEIRA, M. M. O. P.; PENNA, C. F. A. M.; MENDES, E. D. M. Procedimentos de coleta de leite cru individual e sua relação com a composição físico-química e a contagem de células somáticas. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, p.1134-1138, jul-ago, 2007. WATTIAUX, M. A. Secreção de leite no úbere. Instituto Babcock para Pesquisa e Desenvolvimento da Pecuária Leiteira Internacional, University of Wisconsin-Madison, USA, 2009. Disponível em: < http://www.ebah.com.br /content /ABAAAf1F0AE/bovinocultura-leite-20-pt>. Acesso: 20 de maio de 2016.





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