Distribuição espacial da serapilheira em áreas de Caatinga sob diferentes lotação de caprino

MARIAH TENORIO DE CARVALHO SOUZA1
1 - UFAL

RESUMO -

Objetivou-se com este trabalho, avaliar a distribuição espacial da deposição da serapilheira em áreas de Caatinga com diferentes lotação animal. O experimento foi conduzido na Estação Experimental pertencente a UFPB, localizada no município de São João do Cariri-PB. A área experimental representou 5 hectares. Os animais pertencentes às áreas eram caprinos machos, sem padrão racial definido. O método utilizado para a análise dos dados foi o de parcelas contíguas em áreas de um hectare, delimitadas com auxílio de GPS. Para a quantificação da serapilheira foi utilizado um molde de estrutura férrea e balança de precisão. Duas áreas apresentaram maior acúmulo de serapilheira e do pool do material lenhoso, quando comparado os demais constituintes da serapilheira. A deposição das cíbalas está diretamente ligada ao acúmulo de folhas produzidas.

Palavras-chave: pequenos ruminantes, liteira, semiárido

semiarid, small ruminants, litter

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the spatial distribution of litter deposition in areas of Caatinga with different animal stocking. The experiment was conducted at the Experimental Station belonging to the UFPB, located in the municipality of São João do Cariri-PB. The experimental area represented 5 hectares. The animals belonging to the areas were male goats, with no defined racial pattern. The method used to analyze the data was that of contiguous plots in areas of one hectare, delimited with the help of GPS. For the litter quantification a cast iron structure and precision scale were used. Two areas presented greater accumulation of litter and pool of woody material when compared to the other constituents of the litter. The deposition of the cymbals is directly linked to the accumulation of leaves produced
Keywords: semiarid, small ruminants, litter


Introdução

Em áreas de Caatinga, a quantificação da deposição da serapilheira é variável não só pela vegetação nativa presente nesse ecossistema; a precipitação pluvial (por estação) influencia na serapilheira acumulada sobre a superfície do solo e consequentemente na quantidade de matéria orgânica que volta para o sistema em forma de nutrientes para a planta. Ainda, em períodos de seca prolongada com sistemas de produção que possuem carga animal também interferem na quantificação desse material, uma vez que estes consomem as folhas e galhos presentes na serapilheira (Souza, 2015). A vegetação xerófita, presente em ambientes semiáridos possui uma eficiente resiliência a esse habitat, com uma capacidade incrível de recuperação e rápida rebrota, principalmente do estrato herbáceo. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar a distribuição espacial da deposição da serapilheira em áreas de Caatinga em período prolongado de seca e em época chuvosa, com diferentes lotação animal.

Revisão Bibliográfica

Segundo Souza (2009) a serapilheira depositada sob os solos florestados compreende a camada mais superficial, sendo formados por folhas, galhos, órgãos reprodutivos e miscelânea, que exercem inúmeras funções para o equilíbrio e dinâmica destes ecossistemas. Este material protege o solo contra as elevadas temperaturas, armazena grande quantidade de sementes e abriga uma abundante diversidade de microrganismos que atuam diretamente nos processos de decomposição e incorporação do material fornecendo nutrientes ao solo. Para Moreira e Siqueira (2002), o tipo de vegetação e as condições ambientais são os fatores que mais influem na quantidade e qualidade do material que cai no solo.  Além disso, o estágio sucessional da formação vegetal influi diretamente na produção do folhedo, de tal modo que florestas secundárias caracterizam-se por apresentar menor produção de serapilheira que florestas em início de regeneração, já que estas últimas apresentam dominância de espécies pioneiras (Leitão Filho et al. 1993). Assim, a importância de se avaliar a produção de serapilheira está na compreensão dos reservatórios e fluxos de nutrientes, nestes ecossistemas, os quais se constituem na principal via de fornecimento de nutrientes, por meio da mineralização dos restos vegetais (Souza e Davide, 2001). Por isso, a cada dia fica perceptível a necessidade de se realizarem pesquisas a curto, médio e longo prazo, que possam dar subsídios ao maior entendimento de como ocorrem os processos de ciclagem de nutrientes em áreas de Caatinga. Por esta razão faz-se necessário estudar a deposição da serapilheira para melhor subsidiar ações conservacionistas e orientar práticas de manejo, associando a preservação do meio ambiente ao desenvolvimento sustentável.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Estação Experimental pertencente a UFPB, localizada no município de São João do Cariri-PB, nas coordenadas 7o23’30”S e 36o31’59”W. Na área predomina o clima Bsh com temperatura média mensal varia de 27,2 ºC, precipitações de 400 mm/ano e umidade relativa de 70%. A vegetação que recobre a região estudada é a Caatinga hiperxrófita. A área experimental representou, foi contém diferentes lotação animal e estados de antropização, da seguinte forma: Área 1 (10 animais – 1 animal/3.200 m2), Área 2 (5 animais – 1 animal/6.400 m2), Área 3, 4 e 5 (sem animais). Os animais pertencentes às áreas eram caprinos machos, adultos, sem padrão racial definido. O método utilizado para a análise dos dados foi o de parcelas contíguas (Muller-Dombois e Ellemberg, 1974; Rodal et al., 1992). As áreas foram subdivididos em 100 subparcelas de 10mx10m com auxílio de um GPS (Global Positioning System), totalizando uma área amostral de 50.000m2. A serapilheira acumulada na superfície do solo foi estimada através de uma coleta na estação seca (novembro e dezembro de 2012). Para a quantificação desse material foi utilizado um molde de estrutura férrea, vazado, medindo 0,25m2, lançado aleatoriamente em cada subparcela cinco vezes, o material foi pesado e devolvido para o solo evitando assim a degradação. Os mapas de isolinhas de distribuição espacial para a quantificação da serapilheira foram elaborados através da krigagem com o auxílio dos programas Microsoft Office ® – Excel 2010, Surfer® v. 9 (Golden software, Colorado, EUA) e Corel DRAW® v. X4.

Resultados e Discussão

O experimento foi conduzido na época seca, porém com uma importante observação, pois este período representou a pior seca dos últimos cinquenta anos (desde 1962) com mais de 1.400 municípios afetados (ONU, 2013). Foi possível observar uma precipitação com pulsos concentrados entre os meses de janeiro a agosto, totalizando ao longo do ano 1.299 mm. As áreas apresentaram variação na quantificação da serapilheira, conforme observa-se na figura 1, ou seja, houve assimetria nos dados avaliados. Em 2012, a área 1 (com maior lotação animal) não acumulou quantidade significativa de serapilheira a ser quantificada, porém a área 4 (sem lotação animal) apresentou um interquartil com pouco mais de 400g/m² desse material, sendo 50% dos dados representados por mais de 300g/m². A amplitude da variação foi alta por tratar-se de um experimento a campo. Os pontos localizados fora do diagrama de caixa são os outliers, cujos dados fogem do padrão. Figura 1. Gráfico em boxplot demonstrando médias e desvios da produção da serapilheira nas quatro áreas de Caatinga no ano base de 2012. Observa-se na figura 2, a distribuição espacial da serapilheira em quatro áreas de Caatinga no ano base de 2012. A área 1 não foi contabilizada por não ter apresentado serapilheira significativa. Tal fato deve-se por estes animais terem o hábito comportamental de ingerir folhas de catingueira secas (que fazem parte da serapilheira acumulada no solo), o que também pode ter contribuído para o desaparecimento da serapilheira. Figura 2. Isolinhas da distribuição do pool da serapilheira (g.m-²) (A2,A3,A4 e A5) e cíbalas (C) em quatro áreas de Caatinga no ano de 2012. É possível afirmar, com base na figura 2 e conforme o trabalho de Araújo (2010), que nos locais onde ocorreu uma maior deposição da serapilheira estão localizados os estratos arbóreo/arbustivos de maior frequência e menor lotação animal. O local com maior deposição da serapilheira apresentou apenas 1,24% da área amostral da serapilheira e corresponde acima de 500g.m-2. A maior parte representativa da área foi de 55,80% entre 100 a 200g.m-2 de serapilheira. Araújo, (2010) trabalhando na mesmas áreas em 2010, destacou a presença das espécies Croton sonderianus (Marmeleiro), seguido de Sida sp. (Malva), Jatropha mollisssima (Pinhão) e Poincianella pyramidalis (Catingueira), representando 42,73, 13,45, 12,08 e 11,89% dos indivíduos vegetais presente nas áreas. Em relação as cíbalas, aproximadamente 10,25% da região do mapa apresentou uma produção de 6 a 8 g.m-2 de cíbalas, enquanto que 54,95% da área do mapa representou de 0 a 4 g.m-2. Sendo assim, pode-se afirmar que há uma concentração de cíbalas na parte norte/nordeste da área do mapa. É provável que os animais passem a maior parte do tempo nesta região se alimentando de folhas do estrato arbustivo e arbóreo no período seco.

Conclusões

A serapilheira em áreas de Caatinga é utilizada como fonte de volumoso para caprinos em pastejo, assim altas taxas de lotação podem provocar maior degradabilidade das áreas nativas, no entanto as cíbalas servem como fonte de ciclagem de  nutrientes e são distribuídas de acordo com a presença e distribuição dos indivíduos do estrato arbóreo.

Gráficos e Tabelas




Referências

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