ECLODIBILIDADE DE OVOS PROVENIENTES DE EMBRIÕES SUPLEMENTADOS COM 25-HIDROXI-COLECALCIFEROL IN OVO ORIUNDOS DE INCUBAÇÃO EM MÁQUINA DE ESTÁGIO MÚLTIPLO

Michele Laboissière1, José Henrique Stringhini2, Roberto Moraes Jardim Filho3, Miliane Alves da Costa4, Fernanda Rodrigues Taveira Rocha5, Elisabeth Gonzales6, Higor Santiago Vieira dos Santos7
1 - Universidade Estadual de Goiás
2 - Universidade Federal de Goiás
3 - São Salvador Alimentos S/A
4 - Universidade Estadual de Goiás
5 - Universidade Estadual de Goiás
6 - Universidade Estadual Paulista
7 - Universidade Estadual de Goiás

RESUMO -

Em geral as máquinas de estágio múltiplo apresentam maiores diferenças no desenvolvimento do embrião quando comparados com as máquinas de estágio único. Objetivou-se avaliar a qualidade de eclosão de pintos de corte, originados de embriões suplementados in ovo com 25-D-hidroxi-colecalciferol, 25(OH)D3 aos 18 dias de desenvolvimento embrionário. A incubação foi conduzida no incubatório São Salvador Alimentos S/A em máquina de estágio múltiplo, modelo CASP CMg 125HT utilizando-se 400 ovos de matrizes Cobb 500Ò com 35 semanas de idade. Na transferência, os ovos com embriões viáveis foram inoculados com a solução controle e com 25(OH)D3 incorporados na vacina. A compatibilidade do produto foi avaliada anteriormente e as dosagens utilizadas foram zero e 1,250mg de 25(OH)D3 equivalentes a 50 UI de vitamina D3. Não houve diferença significativa na eclodibilidade entre os tratamentos. Conclui-se que é possível inocular o metabólito 25(OH)D3 in ovo, sem prejuízo ao processo automático de vacinação e transferência dos ovos embrionados. Entretanto, o metabólito 25(OH)D3 não foi efetivo na melhoria da eclodibilidade de ovos incubados em máquina de estágio múltiplo e suplementados no 18º dia de desenvolvimento embrionário.

Palavras-chave: embrião, estágio múltiplo, frango de corte, suplementação in ovo, vitamina D

ECLODIBILITY OF EGGS FROM EMBRYOS SUPPLEMENTED WITH 25-HYDROXY-COLECALCIFEROL IN OVO FROM INCUBATION IN A MULTI-STAGE MACHINE

ABSTRACT - This work was carried out to evaluate the quality of newborn chicks, males and females, hatched from embryos supplemented in ovo with 25-D-hydroxy-colecalciferol, 25(OH)D3 at 18 days of embryo development. Chicks were hatched in multiple stage hatcheries with 400 eggs 35-week old Cobb 500Ò breeder eggs. The hatch was checked each two hours to evaluate incubation period (hours), hatchability of the newborn chicks. During the transference and vaccination, fertile and viable eggs were inoculated with placebo or 25(OH)D3 solution incorporated in the vaccine and the compatibility of the mix were tested with two dosis, zero and 1,250mg of 25(OH)D3 equivalent to 50 UI of vitamin D3. No difference was observed in hatchability between treatments. It is possible to inoculate the metabolite 25(OH)D3 in ovo, without prejudice to the vaccination process and transfer of embryonated eggs. It is possible to conclude that the metabolite 25(OH)D3 was not effective to increase chick quality when eggs were hatched in multiple stage machines.
Keywords: broiler, embryo, in ovo supplementation, vitamin D


Introdução

Em geral as máquinas de estágio múltiplo apresentam maiores diferenças no desenvolvimento do embrião quando comparados com as máquinas de estágio único. O embrião de frango de corte apresenta limitada quantidade de nutrientes para seu desenvolvimento. O fornecimento de nutrientes in ovo pode funcionar como fonte extra de nutrientes ao embrião, resultando em maior peso ao nascimento, maior viabilidade e melhor vigor, entre outras características. Para tanto, é necessário definir quais nutrientes utilizar, o período e local da administração e, principalmente, a forma de fazer esta administração (SANTOS, 2007).

Revisão Bibliográfica

Para tanto, a uniformidade do desenvolvimento embrionário é muito importante, ao injetar nutrientes in ovo. Após a eclosão as aves apresentam funções digestivas limitadas, o que diminui a disponibilidade de nutrientes, e a absorção do fluído amniótico a partir do 17º dia de incubação torna-se essencial para o desenvolvimento do embrião (UNI et al., 2003). Segundo OVIEDO-RONDÓN (2008), manter a uniformidade do desenvolvimento embrionário durante a incubação é fator crítico, pois condições ambientais desfavoráveis e/ou heterogêneas provocam stress ambiental que afeta o desenvolvimento ósseo e a qualidade das pernas. O tipo de incubadora de carga única e múltipla foi recentemente avaliado por OVIEDO-RONDÓN et al (2009) constatando a relação entre o tipo de máquina de estágio múltiplo e o aumento do problema de pernas, principalmente nos machos. Objetivou-se avaliar a eclodibilidade de pintos de corte, originados de embriões suplementados in ovo com 25-D-hidroxi-colecalciferol, 25(OH)D3 aos 18 dias de desenvolvimento embrionário.

Materiais e Métodos

A incubação foi conduzida no incubatório São Salvador Alimentos S/A em máquina de estágio múltiplo, modelo CASP CMg 125HT utilizando-se 400 ovos de matrizes Cobb 500Ò com 35 semanas de idade. Na transferência, os ovos com embriões viáveis foram inoculados com a solução controle e com 25(OH)D3 incorporados na vacina. A compatibilidade do produto foi avaliada anteriormente e as dosagens utilizadas foram zero e 1,250mg de 25(OH)D3 equivalentes a 50 UI de vitamina D3. Os ovos foram acondicionados em sacos de filó, ar-permeável, para discriminar cada neonato. O nascimento foi acompanhado a cada duas horas, avaliando-se o período de incubação (horas) e a eclodibilidade dos ovos férteis. Os resultados de eclodibilidade, qualidade da eclosão dos neonatos foram avaliados por unidade de ovos amostrados. Foi, também, avaliado a dispersão/janela do nascimento de cada tratamento referente ao intervalo determinado para registro dos nascimentos. Os pintainhos foram sexados pela asa, pesados, classificados e identificados, individualmente, com anilha numerada. A taxa de eclosão é uma medida da eficiência do processo de incubação artificial e é realizada após a retirada dos neonatos do nascedouro com a contagem total dos nascidos em relação ao total de ovos incubados, e foi determinada pela equação: eclosão = (n0 total de ovos que eclodiram / n0 total de ovos incubados) x 100. A eclodibilidade foi determinada realizando o exame de resíduo de uma amostra de ovos que não eclodiram (nível 95% de confiança). Neste exame é feita a quebra dos ovos com posterior análise visual e contagem dos inférteis. Portanto, o cálculo da eclodibilidade é realizado pela equação: eclodibilidade = (n0 total de ovos que eclodiram / n0 total de ovos férteis incubados) x 100. O delineamento foi inteiramente ao acaso, com esquema fatorial 2 x 2 (dois inóculos - placebo e 25(OH)D3 e dois sexos). Os dados foram submetidos à análise de variância aplicando-se o teste F do software R.

Resultados e Discussão

Não houve diferença significativa na eclodibilidade entre os tratamentos. O tempo de incubação total no presente experimento foi de 506h para ambos os tratamentos, obtendo-se 81,00% de eclosão para as aves originadas de embriões inoculados no 18º de incubação com 25(OH)D3 e 79,00% para o grupo controle. Embora obtivesse 2,0% a mais de eclodibilidade para os ovos inoculados com 25(OH)D3, os resultados não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos (TABELA 1). TABELA 1     Nascimento acumulado dos neonatos referente à incubação de 400 ovos em máquina de estágio múltiplo, provenientes de embriões inoculados ou não no 18º de incubação com 25(OH)D3
Tempo (h) Incubação Tratamentos P*
            Controle           25(OH)D3
476 0/200 0% 1/200 0,63% 1,00
478 0/200 0% 1/200 0,63% 1,00
480 0/200 0% 0/200 0% 1,00
482 9/200 4,5% 6/200 4,0% 0,60
484 10/200 9,5% 3/200 5,5% 0,08
486 22/200 20,5% 11/200 11,0% 0,06
488 14/200 27,5% 7/200 14,5% 0,17
490 13/200 34,0% 21/200 25,0% 0,20
492 21/200 44,5% 10/200 30,0% 0,05
494 14/200 51,5% 8/200 34,0% 0,27
496 12/200 57,5% 26/200 47,0% 0,02
498 17/200 66,0% 16/200 55,0% 1,00
500 9/200 70,5% 22/200 66,0% 1,00
502 9/200 75,0% 10/200 71,0% 1,00
504 4/200 77,0% 15/200 78,5% 0,01
506 4/200 79,0% 5/200 81,0% 1,00
Total 158/200 79,0% 162/200 81,0% 0,70
* Diferença significativa pelo teste Exato de Fisher (p<0,05).     Figura 1.     Distribuição da Janela de nascimento (eclosão) dos neonatos provenientes de embriões inoculados ou não no 18º de incubação com 25(OH)D3 Observou-se o retardo na eclosão dos embriões inoculados com 25(OH)D3 para o final da janela de nascimento. O comportamento da janela de nascimento foi diferente entre os tratamentos. Observou-se um intervalo de 24 horas para o grupo controle em comparação com os embriões inoculados com 25(OH)D3 que apresentaram maior intervalo de nascimento, atingindo 30 horas. Os intervalos de nascimento de ambos os tratamentos foram considerados satisfatórios para incubação em máquina de estágio múltiplo, porém, a eclodibilidade geral foi considerada baixa. Observou-se que o desenvolvimento embrionário das aves inoculadas com 25(OH)D3 foi mais lento, inicialmente, em relação ao nascimento do tratamento controle, recuperando essa diferença no final da janela de nascimento (Figura 1). De acordo com WILLIANS (2004), as diferenças encontradas em eclodibilidade utilizando a injeção in ovo no 18º dia são mais importantes ao se considerar a idade das matrizes e o tipo de incubadora que os próprios ajustes de temperatura e umidade da máquina. Diferentes tipos de incubadoras apresentam diferentes perfis de perda de água e da temperatura, resultando em diferentes estágios de desenvolvimento embrionário nos mesmos pontos cronológicos de incubação. Em geral as máquinas de estágio múltiplo apresentam maiores diferenças no estágio de desenvolvimento do embrião quando comparados com as máquinas de estágio único (GONZALES, 2012). O momento ideal da injeção in ovo, em termos de desenvolvimento, depende mais das características fisiológicas do embrião do que do tempo real de incubação. E essa condição pode afetar a eficiência da nutrição pré-eclosão, o que pode ter ocorrido no presente experimento, pois a inoculação tem que atingir a localização desejada (âmnio) dentro do ovo embrionado, e quanto mais uniforme estiver o desenvolvimento embrionário, melhor será a assimilação e aproveitamento da substância inoculada.  

Conclusões

Conclui-se que é possível inocular o metabólito 25(OH)D3 in ovo, sem prejuízo ao processo automático de vacinação e transferência dos ovos embrionados. Entretanto, o metabólito 25(OH)D3 não foi efetivo na melhoria da eclodibilidade de ovos incubados em máquina de estágio múltiplo e suplementados no 18º dia de desenvolvimento embrionário.

Gráficos e Tabelas




Referências

GONZALES, E. Comentário avícola: incubação. Revista Avicultura Industrial, 2008. Disponível em: http://www.aviculturaindustrial.com.br/PortalGessulli/ WebSite/Notícias/ Acesso em: 13 de outubro de 2012. SANTOS, T. T. Influência da inoculação de ingredientes intra ovo em aspectos produtivos e morfológicos de frangos de corte oriundos de distintos pesos de ovos. Pirassununga (SP): USP, 2007. 63f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, 2007. OVIEDO-RONDÓN E. “Factores que Afectam a Capacidade de Andar em Perus e Frangos” Aves e Ovos, Janeiro - Fevereiro, p. 14-23, 2008. OVIEDO-RONDÓN E. Wineland M, Funderburk S, Small J, Cutchin H, Mann M “Incubation conditions affect leg health in large, high-yield broilers” Journal of Applied Poultry Research, v.18, p.640-646, 2009. UNI, Z., TAKO, E. GAL-GARBER, O., SKLAN, D. Morphological, molecular, and functional changes in the chicken small intestine of the late -term embryo. Poultry Science, v. 82, p. 1747-1754, 2003. WILLIAMS, C. J. Princípios fundamentais e fatores fisiológicos da injeção in ovo.  In: CONFERÊNCIA APINCO 2004 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 2004, Campinas. Revista Brasileira de Ciência Avícola. Campinas: FACTA, 2004 p. 171-177.