Efeito da combinação de monensina sódica com leveduras ou taninos condensados sobre o comportamento ingestivo de bovinos Nelore confinados

Gustavo Ragni Soldá1, Gabriel Ferreira Gasparin2, Fábio Santiago Delli Colli3, Felipe Cesar Santos Oliveira4, Alessandro Rogério S. Morais5, Lucas Alexandre do Carmo6, Ana Claudia Ambiel Corral Camargo7, Murillo Ceola Stefano Pereira8
1 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
2 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
3 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
4 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
5 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
6 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
7 - Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP, Brasil.
8 - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Botucatu, Botucatu – SP, Brasil.

RESUMO -

O objetivo do estudo foi avaliar o efeito da combinação de monensina sódica com leveduras ou taninos condensados sobre o comportamento ingestivo de bovinos Nelore confinados. Os tratamentos foram: MON+LEV (associação de monensina sódica (25 ppm) + levedura (2,4×106); e Tanino (taninos condensados 20 g kg/MS). Foi observado (P < 0,10) efeito dos aditivos apenas para consumo de matéria seca (CMS), bovinos alimentados com MON+LEV tiveram menor consumo do que animais alimentados com taninos condensados. Com base nos resultados, o fornecimento de monensina sódica e levedura ou taninos condensados não influenciou o comportamento ingestivo de bovinos Nelore confiandos. A monensina sódica associado a levedura reduziu apenas o CMS de bovinos Nelore confinados.

Palavras-chave: alimentação, ócio, ruminação, Zebu

Effect of sodium monensin with yeast or condensed tannin on feeding behavior of feedlot Nellore cattle

ABSTRACT - The objective of this study was evaluate the effect of sodium monensin with yeast combination or condensed tannins on feeding behavior of feedlot Nellore cattle. The treats were: MON+LEV (association of sodium monensin (25 ppm) + Yeast (2,4x106); and Tanino (condensed tannins 20 g kg/MS). A significant main effect of additive was observed (P < 0.10) for dry matter intake (DMI). Feedlot cattle fed with MON+LEV had lesser DMI than cattle fed with condensed tannins. Thus, the supply of sodium monensin and yeast or condensed tannins did not influence the feeding behavior of feedlot Nellore cattle. The sodium monensin associated with yeast only decrease the DMI of feedlot Nellore cattle.
Keywords: eating, resting, rumination, Zebu


Introdução

Ionóforos, como a monensina sódica, são classificados pela Food and Drug Administration (FDA), como antibióticos. Grupos científicos vem cada vez mais questionando o uso de antibiótico na alimentação animal por acharem que esses produtos poderiam contribuir para o desenvolvimento de organismos resistentes, criando risco à saúde humana. Atualmente, não existem trabalhos na literatura que comprovem resistência de bactérias ao uso de ionóforos a partir do enfoque nutricional A proibição do uso de antibióticos na alimentação animal tem sido recomendada por uma questão de precaução, principalmente na Europa, a eliminação do uso dos promotores de crescimento antibióticos, como a monensina sódica, terá importantes implicações econômicas. Sendo assim, torna-se necessário novos estudos que envolvam aditivos alimentares naturais, abrindo um novo campo de estudo para os taninos. Os taninos são substâncias produzidas, principalmente, pelas forrageiras tropicais com o objetivo de proteger a planta contra o ataque de bactérias, fungos, vírus e também de herbívoros. Estes compostos são popularmente reconhecidos por apresentarem odor repulsivo, gosto amargo, por atuarem como fatores antinutricionais (Giner-Chaves, 1996). Com base nesses estudos, o objetivo do estudo que foi avaliar o efeito da combinação de monensina sódica com leveduras ou tanino condensados sobre o comportamento ingestivo de bovinos Nelore confinados.

Revisão Bibliográfica

Os sistemas intensivos de produção têm sido uma forma eficiente de maximização dos lucros, porém, para conseguir abater um número maior de animais mais jovens, com elevados ganhos de peso e carcaças padronizadas, torna-se necessário a utilização de dietas com elevados teores de energia, o que resulta em aumento da fermentação ruminal. A consequência, por sua vez, é a produção de maiores quantidades de ácidos, cujo acúmulo pode provocar distúrbios metabólicos, como a acidose, que prejudicam o desempenho do animal (Owens et al., 1998). Para que tais objetivos sejam alcançados, existem diversas ferramentas de manejo que podem ser adotadas, entre elas destaca-se a utilização de aditivos alimentares. Os ionóforos, principalmente a monensina, provavelmente são os aditivos mais pesquisados em dietas de ruminantes e um de seus principais efeitos é a redução no consumo de matéria seca (Duffield et al., 2012). Os resultados consistentes na utilização da monensina sobre a modulação do consumo de alimento fez com que o NRC (1996) recomendasse que o CMS estimado fosse diminuído em 4% em animais suplementados entre 27,5 a 33 ppm de monensina. Outro aditivo muito utilizado são os probióticos, que atuam na melhora dos índices produtivos, principalmente aqueles que continham bactérias do gênero Ruminobacter amylophilum, Ruminobacter succinogenes e Succinovibrio dextrinosolvens, as quais agem na fermentação ruminal do amido, celulose,pectina e maltose (Cato et al. 1978; Van Houtert, 1993), Contudo alguns países, principalmente os da União Europeia baniram desde 2006 (artigo no11, regulamento 1831/2003) o uso dos ionóforos como promotores de crescimento, por serem classificados como antibiótico (OJEU, 2003), Uma alternativa para a substituição dos ionóforos é a utilização de taninos condensados, Patra e Saxena (2010) descrevem os taninos como compostos poli-fenólicos, solúveis em água, com elevado peso molecular, e com alta capacidade de complexar-se com proteínas, e em intensidade com carboidratos. O efeito mais conhecido dos taninos está associado a sua capacidade de complexar as proteínas, e reduzir a degradação proteica, aumentando o fluxo de proteína metabolizável para os intestinos (Zelter et al., 1970).

Materiais e Métodos

O estudo foi conduzido no confinamento do Grupo Gasparim Nutrição Animal em Presidente Bernardes – SP. Foram utilizados 144 animais, machos, não castrados, da raça Nelore, com peso vivo médio inicial de 339,08 ± 17,61 kg. Os animais foram mantidos em 12 baias (12 animais/baia), as quais foram consideradas as unidades experimentais para todas as variáveis avaliadas, sendo divididos em 2 tratamentos, os quais foram: MON+LEV (associação de monensina sódica (25 ppm) + levedura (2,4x106); e Tanino (tanino 20 g kg/MS). O estudo teve duração de 90 dias, divididos em: 14 dias de adaptação, 26 dias de crescimento e 60 dias de terminação. As rações experimentais foram formuladas segundo o NRC 1996, cujos níveis estão apresentados na Tabela 1. O consumo de matéria seca (CMS) foi medido para cada baia por meio da pesagem do alimento fornecido diariamente, e consequente pesagem da sobra antes do trato da manhã seguinte. Três animais de cada baia foram selecionados de forma aleatória e submetidos a uma observação visual para avaliação do comportamento ingestivo, no dia 80 do período experimental. O comportamento ingestivo, foi feito de acordo com à metodologia de Robles et al. (2007). Durante as observações foram coletados dados para se determinar o tempo despendido em ócio, alimentação e ruminação, tempo de alimentação por refeição, números expressos em minutos e número de refeições por dia (quantidade de idas ao cocho). No período de observação, foram coletadas amostras das rações fornecidas e das sobras após 24 horas, que por meio de análises bromatológicas de matéria seca (AOAC, 1995) e FDN (Van Soest, 1991), se determinou a quantidade ingerida desses nutrientes por cada baia. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, em função do peso vivo inicial. Os dados foram analisados pelo PROC MIXED do SAS (2003), sendo o teste F utilizado para comparação entre médias, considerando o nível de 10% de significância.

Resultados e Discussão

Foi observado (P < 0,10) efeito dos aditivos apenas para CMS (Tabela 2), bovinos alimentados com MON+LEV tiveram menor CMS do que animais alimentados com taninos condensados. Os ionóforos, principalmente a monensina sódica, provavelmente são os aditivos mais pesquisados em dietas de ruminantes e um de seus principais efeitos é a alteração na relação dos ácidos graxos de cadeia curta (Oliveira et al. 2007). Outro benefício do ionóforo é a regulação no CMS (Duffield et al. 2012). Esse mecanismo não é bem esclarecido na literatura, porém ocorre provavelmente devido ao aumento do tempo de retenção da dieta ingerida no rúmen. Este efeito é causado devido à ação do propionato, um ácido graxo de cadeia curta (precursor da glicose) responsável pela regulação da saciedade em ruminantes, semelhante ao efeito da glicose sanguínea, que regula o consumo de animais monogástricos (Rogers e Davis, 1982). Outro mecanismo de regulação, menos utilizado que o anterior, é o de Baile et al. (1979), que atribuíram a redução no consumo ao sabor do ionóforo, que não é palatável aos animais. Os taninos apresentam efeitos flavorizantes, melhorando o sabor e o cheiro da dieta (Liu et al., 2013), contribuindo para o maior CMS. Contudo, em determinadas dosagens, os taninos apresentam sabor adstringente (McLeod, 1974), o que pode prejudicar o consumo e piorar o desempenho. Devido ao comportamento ingestivo ser uma medida pontual, e ter sido mensurado no final do período do confinamento, não foram observados efeitos sobre os animais. Contudo, mais estudos que mensurem o comportamento ingestivo no período de adaptação devem ser realizados, a fim de verificar o efeito no período mais crítico do confinamento.

Conclusões

Com base nos resultados, o fornecimento de monensina sódica e levedura ou taninos condensados não influenciou o comportamento ingestivo de bovinos Nelore confinados. A monensina sódica associado a levedura reduziu o CMS de bovinos Nelore confinados.

Gráficos e Tabelas




Referências

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. 1995. Official Methods of Analysis. 16.ed. AOAC, Washington, DC. BAILE, C. A et al. Feeding begavioural changes of cattle during introduction to monensin whith roughage or concentrate diets. Journal of Animal Science, v. 48, n. 6, p. 1501-1508, 1979. CATO, E. P. et al. Designation of neotype strains for Bacteroides amylophilus Hamlin and Hungate 1956 and Bacteroides succinogenes Hungate 1950. International Journal of Sistematic Bacteriology, v.28, n.4, p.491-495, 1978. DUFFIELD, T. F. et al. Meta-analysis of the effects of monensin in beef cattle on feed efficiency, body weight gain, and dry matter intake. Journal of Animal Science, v. 90, p. 4583-4592, 2012. GINER-CHAVES, B.I. Condensed tannins in tropical forages. 1996. 196f. Tese (Doutorado em Filosofia) - Cornell University, Ithaca, 1996. LIU, Y. X. et al. Effect of the Prefermentative Addition of Five Enological Tannins on Anthocyanins and Color in Red Wines. Jounal of Food Science, v. 78, p. 25-30, 2013. McLeod M.N. Plant tannins: Their Role in Forage Quality. Nutrition Abstracts and Reviews, v. 44, p. 803-812, 1974. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of beef cattle. 7. ed. Washington: National Academy Press, 1996. p. 234. NRC (National Research Council). 1984. Nutrient requirements of beef cattle. 6th ed. Washington, D.C.: National Academy Press. OFFICIAL JOURNAL OF THE EUROPEAN UNION - OJEU. Regulation (EC) No 1831/2003 of the European Parliament and the Council of 22 of September of 2003 on Additives for Use in animal Nutrition. Pages L268/29-L268/43 in OJEU of 10/18/2003. OLIVEIRA, M. V. M. et al. Influência da monensina no consumo e na fermentação ruminal em bovinos recebendo dietas com teores baixo e alto de proteína. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 5, p. 1763-1774, 2005. OWENS, F. N. et al. Acidosis in cattle: A review. Journal of Animal Science, v. 76, p. 275-286, 1998. PATRA A. K. e SAXENA J. Dietary Phytochemicals as Rumen Modifiers: a Review of the Effects on Microbial Populations. Antonie van Leeuwenhoek, v. 96, p. 363-375, 2009. ROGERS, J. A. e DAVIS, C. L. Rumen volatile fatty acid production and nutrient utilization in steers fed a diet supplemented with sodium bicarbonate and monensin. Journal of Dairy Science, v. 65, n. 6, p. 944-952, 1982. VAN HOUTERT, M. F. J. The production and metabolism of volatile fatty acids by ruminants fed roughages: A review. Animal Feed Science and Technology, v.43, p.189-225, 1993. VAN SOEST, P. J. et al. Symposium: carboydrate metodology, metabolism, and nutritional implications in dairy cattle. Journal of Dairy Science, v. 74, p. 3583-3597, 1991. ZELTER, S. Z. et al. Protection of Proteins in the Feed against Deamination by Bacteria in the Rumen. Annales de Biologie Animale, Biochimie et Biophysique, v. 10, p. 111-122, 1970.