Efeito da pintura do telhado no ambiente térmico das instalações de suínos, no Semiárido Pernambucano.

Silvia Helena Nogueira Turco1, Amélia Carvalho Faustino2, Ana Carolina de Sá Silva Lins3, Murilo Santos Freire4
1 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
2 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
3 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
4 - Universidade Federal do Vale do São Francisco

RESUMO -

Objetivou-se estudar o efeito da pintura branca em telhados cerâmicos de instalações de suínos, no semiárido pernambucano. Os tratamentos utilizados foram pintura branca no telhado no setor de gestação (GTCP) e instalação de maternidade sem pintura de telhado (MTSP). Foram coletados dados do ambiente térmico as 9 e 15h, de temperatura, umidade relativa, velocidade do ar e com estes dados foram calculados os índices de temperatura de globo Negro e umidade (ITGU) e índice de temperatura e umidade (ITU). Não ocorram diferenças estatísticas entre os tratamentos, nas variáveis estudadas. O ambiente térmico das instalações proporcionou temperatura, umidade, ITGU e ITU, acima dos valores considerados ideais para as matrizes suínas. Concluiu-se que apenas a pintura de telhado não proporciona adequação do ambiente térmico neste período do ano, sendo necessárias outras intervenções para minimizar o estresse térmico.

Palavras-chave: conforto térmico; instalações de animais, estresse

Effect of roof painting on the thermal environment of the pig facilities in the semi-arid Pernambuco.

ABSTRACT - The objective of this work was to study the effect of white paint on ceramics roofs of pig facilities in the semi-arid Pernambuco. The treatments used were white paint on the roof in the gestation sector (GTCP) and maternity installation without painting of roof (MTSP). Data were collected from the thermal environment at 9 and 15h, temperature, relative humidity, air velocity and with these data the black temperature and humidity (IBGTH) and temperature and humidity (ITH) indices were calculated. There were no statistical differences between treatments, in the studied variables. The thermal environment of the facilities provided temperature, humidity, IBGTH and ITH, above the values considered ideal for females. t is concluded that only the roof painting does not provide adequacy of the thermal environment in this period of the year, and other interventions are necessary to minimize thermal stress.
Keywords: Thermic confort, animal build, stress


Introdução

As atividades relacionadas à suinocultura ocupam lugar de destaque na matriz produtiva do agronegócio brasileiro, destacando-a como uma atividade de importância no âmbito econômico e social (Zen et al., 2014). No decorrer dos anos, os criadores vêm intensificando suas técnicas de manejo, procurando melhorar o controle sanitário, a eficiência da mão-de-obra e o desempenho dos animais. Nesse sentido, as instalações apresentam um papel fundamental no desempenho dos animais. O ambiente térmico de uma instalação normalmente é resultante das condições meteorológicas locais, dos materiais e técnicas construtivas, da espécie animal, do número de animais e do manejo. Qualquer característica construtiva adequada proporcionar um ambiente favorável ao bem-estar, mas as inadequadas poderão proporcionar um ambiente estressante, afetando o desempenho dos animais. Objetivamos com esta pesquisa avaliar as condições microclimáticas proporcionada pela pintura branca externa do telhado no período de verão, em uma área de gestação de suínos localizada no semiárido pernambucano.

Revisão Bibliográfica

A falta de tecnologia nas instalações suinícolas pode promover um ambiente não adequado a este animal, trazendo muitas consequências a seu crescimento, produção e bem-estar. Este desconforto propiciado por um ambiente inadequado resulta em estresse devido ao esforço realizado pelo animal com a finalidade de manter sua temperatura corporal constante, lembrando que o suíno é um animal com aparelho termorregulador pouco desenvolvido e é muito sensível ao calor quando adulto. O esforço que o animal faz para adaptar-se ao ambiente inadequado, faz com que o animal seja incapaz de demonstrar o máximo potencial genético, resultando na queda de imunidade, no surgimento de doenças, em altas taxas de mortalidade, na diminuição dos índices de produtividade, na perda da qualidade da carne e dos derivados e, consequentemente, em prejuízos para o produtor Carmerini (2008). As edificações devem ser planejadas para atender o melhor conforto térmico dos animais. Podemos citar como exemplos de técnicas e materiais de construção que devem ser empregados nas instalações suinícolas: os telhados leves, mas isolantes, de cor clara, para reduzir a incidência de calor, ventilados (com lanternim ou tubo de alívio), para permitir a saída de ar quente e de gases; A inclinação do telhado e a projeção das abas devem ser projetadas para reduzir os efeitos da insolação e da chuva; Pisos com textura regular e média (nem áspera e nem lisa); As paredes devem ser de cor clara para evitar o ganho de calor nas instalações; Os prédios devem ter orientação Leste-Oeste, no sentido do movimento do Sol, a fim de reduzir o ganho de calor solar na construção (EMBRAPA, 2014). Quando as instalações não são bem planejadas poderá ocorrer elevas temperaturas e umidade do ar, afetando seu desempenho e saúde. O que está de acordo com Quinioun et al. (2000), que pesquisaram suínos entre 25 kg e 110 kg e constataram que o aumento ou a diminuição da ingestão de alimentos estão relacionados com a oscilação da temperatura do ar. Para caracterizar as condições térmicas do ambiente, alguns índices têm sido utilizados com objetivo de predizer, por meio de um único valor, as condições térmicas de um determinado ambiente. Um dos índices de conforto térmico mais utilizados é o Índice de Temperatura de Globo Negro e Umidade (ITGU), proposto por Buffington et al. (1981), a partir do índice de temperatura e umidade (ITU) desenvolvido por Thom (1958). Turco (1993), realizando investigação acerca dos efeitos da ventilação e do resfriamento evaporativo para porcas em lactação, verificou que ITGU em torno de 72 é crítico, sendo que valores superiores a este levam ao aumento da frequência respiratória e temperatura retal, evidenciando desconforto térmico. Para atender as condições de conforto térmico das matrizes e leitões, as maternidades devem propiciar o ITGU em torno de 72 para as matrizes e 80 para os leitões (Turco, 1995).

Materiais e Métodos

A coleta de dados foi realizada na instalação para suínos localizada no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina, Pernambuco. O experimento foi realizado nos meses de dezembro e janeiro de 2016 e 2017. A instalação de suinocultura possui dois galpões interligados, um destinado os suínos no estágio de crescimento e terminação, e outro destinado a suínos no período de gestação, creche e maternidade. Toda a instalação é de alvenaria, coberta com telhas de barro, sem forro, piso de concreto e está orientada no sentido Leste-oeste. Os tratamentos realizados foram: pintura de cor branca no telhado de barro da área da gestação (GTCP) e sem pintura no telhado de barro da área de creche (MTSP). Não possuía nenhum animal nas áreas estudadas durante a fase experimental. As coletas dos dados foram realizadas em dias alternados, duas vezes ao dia, nos horários das 9:00h e 15:00h, foram registrados dados de temperatura e umidade relativa do ar, velocidade do ar e temperatura de globo negro, simultaneamente. Para o levantamento das variáveis citadas, foi traçado um plano cartesiano em uma extremidade do prédio e a partir deste, delimitado pontos para as coletas dos dados. A cada 1,0m² foi marcado um ponto no piso de todo o galpão e na área externa à 5 metros em cada lateral das salas da instalação. Os registros das variáveis foram realizados em cada ponto marcado na instalação, a 1,5m de altura do piso. Dados médios foram realizados com todos os pontos e utilizado para cálculo da média aritmética e para análise estatística por cada dia em cada horário. Foram calculados os seguintes índices de conforto térmico, com os dados climáticos obtidos: Índice de Temperatura e Umidade (ITU) e Índice de Temperatura de Globo Negro e Umidade (ITGU). Os dados das variáveis de Temperatura do ar, Umidade Relativa, Velocidade do Vento, ITU e ITGU, obtidos através do registro das variáveis Ta, UR e Vv em diversos pontos distribuídos dentro dos apriscos, foram submetidos à análise descritiva. As médias avaliadas pela análise da estatística descritiva foram submetidos ao teste Tucky de normalidade a 95% de confiança, utilizando o programa ASSISTAT Versão 7.7 pt (2017).

Resultados e Discussão

Pode-se observar pela Tabela 01, que não ocorreu diferenças significativas entre os tratamentos, o GTCP, apresentou temperaturas levemente superior ao tratamento sem pintura MTSP, nos dois horários. Demonstrando que apenas a pintura de telhado, para a Região Semiárida do Nordeste, não proporciona um melhor microclima.   A temperatura ambiente considerada ótima para a matriz varia entre 18 e 23 °C (Yan & Yamamoto, 2000; Brown-Brandl et al., 2001) observa-se que os valores médios de temperaturas analisadas no horário das 9 e 15h,para os dois tratamentos foram superiores a estas temperaturas, podendo levá-las ao estresse térmico se mantidas nesse ambiente. Alta temperatura do ar afetam o desempenho das fêmeas reprodutoras, segundo Ferreira (2005) porcas submetidas a uma temperatura de 32ºC obtiveram um declínio de cerca de 25% na produção de leite, ocasionando redução no peso dos leitões. A umidade relativa do ar foi mais elevada no período da manhã que a tarde devido a menor temperatura do ar neste período, mas não foi observada diferenças entre os tratamentos. Os valores em ambos tratamentos foram considerados baixos para a saúde dos animais, pois segundo Baêta & Sousa (2010) a umidade relativa ideal para a criação de animais domésticos deve estar entre 50 e 70%, os valores apresentados em ambos os horários foram abaixo de 50%. Segundo Brown-Brandl et al. (2001), após a exposição durante um período de 8 horas com uma umidade relativa em torno de 40%, os suínos apresentaram aumento significativo na temperatura retal sendo um indicativo que o animal está em estresse térmico. Não ocorreu diferenças estatísticas entre os dois tratamentos na média da velocidade ar. A localização e o tipo de abertura das instalações favoreceram a ventilação natural. Segundo Mazon (2006) algumas características construtivas como altura do pé direito, ventilação natural é utilizada com o objetivo de aumentar as trocas de ar, que podem ser controladas pelas aberturas das instalações. Com relação ao ITGU e ITU, tabela 02, não ocorreu diferenças significativas entre os tratamentos, novamente observa-se que somente a pintura do telhado, não proporciona um ambiente mais adequado aos animais. Observa-se, ainda, que os tratamentos não proporcionaram um ambiente adequado nos dois horários, das 9 às 15h, com valores superiores a 72 de ITGU, considerado por Turco (1993), como estressante.  

Conclusões

Somente a pintura de branco do telhado não proporcionou redução das condições térmicas do ambiente, para as condições meteorológicas nas instalações localizadas no semiárido de Pernambuco.

Gráficos e Tabelas




Referências

BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. (1997) Ambiência em edificações rurais - conforto animal. Editora UFV, 246p. BROWN-BRANDL, T. M.; EIGENGERG, R. A.; NIENABER, J. A.; KACHMAN, S. D. Thermoregulatory profile of a newer genetic line of pigs. Livestock Production Science, v.71, p.253-260, 2001. BUFFINGTON, C.S.; COLLAZO-ARPCHO, A.; CANTON, G.H.; PITT, D.; THATCHER, W.W.; COLLIER, R.J. (1981) Black globe humidity index (BGHI) as comfort equation for dairy cows. Transactions of the ASAE, 24: 711-714. CAMERINI, N. L. Analise de variáveis ambientais em modelos reduzidos de instalações agropecuárias com forro de resíduo de EVA. 2008. 59p. Dissertação (mestrado em Engenharia Agrícola). Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, PB. FERREIRA, R. A. Maior produção com melhor ambiente para aves, suínos e bovinos. Viçosa: Aprenda Fácil Editora, 1ª ed. p.371, 2005. MAZON, A. A. O.; SILVA, R. G. O. S.; SOUZA, H. A. Ventilação natural em galpões: o uso de lanternins nas coberturas. Revista Escola de Minas, v. 59 n°.2. Ouro Preto, MG. 2006. Quinioun, N.; Massabie, P.; Granier, R. (2000) Diurnally variation of ambient temperature around 24 ou 28º: Influense on performance and feeding behavior of growing pigs. In: Proceedings of the 1st internatinal conference, Iowa, Swine Housing. p. 332-339. Thom, E.C. (1958) Cooling degrees - days air conditioning, heating, and ventilating. Transactions of the ASAE, 55:65-72. Turco, S.H.N. (1993) Modificações das condições ambientais de verão, em maternidade de suínos. Viçosa, Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa. 58p. TURCO, S.H.N.; BAÊTA, F.C.; COSTA, P.M. et al. (1995) Utilização da ventilação forçada e resfriamento adiabático localizados em maternidades de suínos. Jaboticabal, SBEA, 18p. YAN, P. S.; YAMAMOTO, S. Relationship between thermoregulatory responses and heat loss in piglets. Journal of Animal Science, v.71, n.10, p.5005-509, 2000. Zen, S.; Ortean, C.B.; Iguma, M.D. Suinocultura Brasileira Avança no Cenário Mundial. In: Informativo CEPEA Ano 1, Edição 1 4o Trimestre, 2014. P. 1-4.





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