EFEITO DA PRIMEIRA PESAGEM E TOSA SOBRE A FREQUÊNCIA CARDÍACA DE POTROS

Lívia Vieira Costa Nicolau1, Amanda Heloisa Dicilio de Alcântara2, Bruna Egydio de Sousa Santos3, Camila Giunco4, Laura Alves Brandi5, Mayra Oliveira Medeiros6, Tamires Romão Nunes7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
2 - FZEA - USP
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8 - FZEA - USP

RESUMO -

Com o objetivo de avaliar a reatividade de potros frente a primeira tosa e pesagem, através da frequência cardíaca, onze potros, seis machos e cinco fêmeas, com idades variando entre 12 a 14 meses, foram utilizados. Para a determinação da reatividade, a frequência cardíaca foi aferida através de frequencímetro portátil, imediatamente antes e após a pesagem e imediatamente antes e após a tosa. Foi observado efeito (p<0,05) sobre a frequência cardíaca. Potros são mais reativos a estímulos que envolvem som, vibração e manipulação a aqueles somente de local desconhecido. O manejo prévio dos potros pode contribuir para a observação de menores reatividades a estímulos já conhecidos.

Palavras-chave: comportamento, equinos, reatividade

EFFECT OF FIRST WEIGHING AND MANE TRIMMING ON THE HEART RATE OF FOALS

ABSTRACT - With the aim of evaluating the reactivity of foals facing the first mane trimming and weighing, through measurement of the heart rate, eleven foals were used, six males and five females, with ages between 12 and 14 months. The portable frequency meter measured the heart rate, immediately before and after the weighing and the trimming. Effect was observed (p<0,01) of the trimming on the heart rate of the foals, showing higher values after the procedure, fact that can be associated to the fear that the animal felt in the first contact with the handling. On the other side, the weighing didn’t have an effect (p>0,05) on the heart rate. Foals are more reactive to stimulus involving sound, vibration and manipulation, to those of unknown location only. The previous handling of foals may contribute to the observation of less reactivity to stimulus already known.
Keywords: behavior, equines, reactivity


Introdução

O comportamento animal nada mais é do que a expressão do temperamento individual e pode ser determinado por fatores bióticos e abióticos aos quais o potro é exposto ao longo da vida. Para garantir a segurança das atividades ligadas ao manejo de equinos, é de suma importância conhecer o temperamento do animal e sua reatividade ao manejo diário e cotidiano (CAVIELLO, 2013) A análise da reatividade geralmente ocorre por observação do animal submetido a diferentes desafios, mas pode também ser avaliada pela variação de frequência cardíaca, pois consiste em modo não invasivo e de fácil mensuração que informa o nível de estresse do organismo (SANDI AND PINELO-NAVA, 2007). Estímulos desconhecidos podem desencadear efeitos emocionais no animal, com ativação do sistema nervoso autônomo simpático que culminará no aumento da frequência cardíaca (CUNNINGHAM & KLEIN, 2015). O presente estudo teve como objetivo avaliar a reatividade de potros frente a primeira tosa e pesagem, através da frequência cardíaca.

Revisão Bibliográfica

Segundo CAVIELLO (2013), é proveitoso para as pessoas que lidam com equinos terem a habilidade de determinar o temperamento do cavalo através da análise da reatividade, em decorrência do comportamento expresso pelo animal. Segundo VON BORSTEL et al. (2011), provas de temperamento consistem em um conjunto de estímulos inesperados apresentados ao animal com o intuito de avaliar o medo e inquietude destes e definir um âmbito geral do comportamento do cavalo. Desta forma, a capacidade do cavalo em se adaptar, com mais ou menos desenvoltura aos desafios, vai depender de seu temperamento (CAVIELLO, 2013). As reações dos cavalos aos seres humanos resultam da interação entre a reatividade do animal, o temperamento e as habilidade do ser humano e da experiência animal adquirida através do contato com o homem (HAUSBERGER ET AL., 2008) Para a análise do temperamento dos equinos, algumas metodologias foram desenvolvidas, dentre as quais destacam-se a utilização de variáveis fisiológicas como a frequência cardíaca e respiratória (LEINER; FENDT, 2011). A variações da frequência nos dá valores comparativos das alterações do sistema nervoso autônomo em diferentes níveis de excitação do animal. Quando o animal é submetido ao um desafio ou estímulo estressante seu corpo sai da homeostasia e a resposta corporal consiste no reestabelecimento dessa. A velocidade ou método para essa volta varia entre os indivíduos (SEYLE, 1936). O nível da facilidade do indivíduo na adaptação vai ser definido pela reatividade sob as situações estimulantes, onde está pode ser determinada através do monitoramento da frequência cardíaca dos animais (BUDZYŃSKA e KRUPA, 2011).

Materiais e Métodos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo sob protocolo número 2673240516. O experimento foi realizado no setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, utilizando-se 11 potros, seis machos e cinco fêmeas, com idades variando entre 12 a 14 meses. Os potros, pertencentes à mesma tropa, foram alojados no mesmo pasto. Para a determinação da reatividade, os animais foram conduzidos para a balança e em seguida para o tronco, onde foi realizada a tosa. A tosa foi realizada na crina em ambos os lados do cavalo utilizando-se tosquiadeira para equinos. A balança utilizada possuía piso de madeira com rampa de concreto, contida em corredor de barras de ferro, enquanto o tronco era de ferro, com aproximadamente 1x1,5m, ambos alocados em local coberto e aberto. A frequência cardíaca foi aferida através de frequencímetro portátil (Polar Electro OY®) imediatamente antes e após a pesagem e imediatamente antes e após a tosa. Foi realizada análise de variância contemplando o efeito fixo de procedimento (tosa ou pesagem) e as médias comparadas pelo teste t (PDIFF) pelo programa estatístico SAS (2004).

Resultados e Discussão

Foi observado efeito (p<0,01) da tosa sobre a frequência cardíaca dos potros (Tabela 1) observando-se maiores valores após o procedimento, o que pode ser atribuído ao medo que o animal sentiu em seu primeiro contato com este manejo, conforme descrito previamente por BURROW & DILLON (1997). Os ruídos e vibrações emitidos pela tosquiadeira e a proximidade deste procedimento com a cabeça do animal (MCGREEVY, 2004) são outros fatores que podem ter contribuído para a obtenção destes resultados, além da dificuldade de visualização pelo animal da fonte do estímulo, pois segundo VISSER et al. (2011) cavalos se assustam mais com estímulos sonoros que não enxergam o ponto de origem. Ao analisar-se mais profundamente a variação de frequência cardíaca atribuída a este estímulo, observou-se que o aumento foi de 35%, valor considerado significativo para um potro e pode exaltar a maior reatividade do animal a este manejo. Quando os animais foram avaliados tendo como estímulo a pesagem (balança), não houve efeito (p>0,05) deste desafio sobre a frequência cardíaca. Sugere-se que os animais não foram reativos a este procedimento, pois o local era aberto e os animais já haviam passado por procedimentos de condução semelhante ao realizado na balança. Ao comparar-se as médias das frequências cardíacas antes dos estímulos, não foi observado diferença (p>0,05) entre elas. Nota-se que as frequências cardíacas observadas estão dentro do preconizado para FC basal de potros (entre 40 e 80 batimentos por minuto), o que sugere que os animais estavam adaptados ao manejo e ao local, uma vez que já haviam sido apresentados a eles previamente, sugerindo habituação ao espaço. Após a exposição ao estímulo, verificou-se que a ação conjunta do som, vibração e manejo para tosa apresentaram maior efeito sobre a reatividade do animal, culminando nas maiores frequências cardíacas, quando comparado com a balança.

Conclusões

Potros são mais reativos a estímulos que envolvem som, vibração e manipulação, a aqueles somente de local desconhecido. O manejo prévio dos potros pode contribuir para a observação de menores reatividades a estímulos já conhecidos.

Gráficos e Tabelas




Referências

BUDZYŃSKA, M.; KRUPA, W. Relation between fearfulness level and maternal behaviour in Arab mares. Animal Science Papers & Reports, v. 29, n. 2, 2011. BURROW, H. M.; DILLON, R. D. Relationships between temperament and growth in a feedlot and commercial carcass traits of Bos indicus crossbreds. Animal Production Science, v. 37, n. 4, p. 407-411, 1997. CALVIELLO, R. F. Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013. HAUSBERGER, M. et al. A review of the human–horse relationship. Applied Animal Behaviour Science, v. 109, n. 1, p. 1-24, 2008. KLEIN, B. G. Cunningham tratado de fisiologia veterinária. Elsevier Brasil, 2015. LEINER, L.; FENDT, M. Behavioural fear and heart rate responses of horses after exposure to novel objects: Effects of habituation. Applied Animal Behaviour Science, v. 131, n. 3, p. 104-109, 2011. MCGREEVY, P. et al. Equine behavior: a guide for veterinarians and equine scientists. Saunders, An Imprint of Elsevier Limited, 2004. SANDI, C.; PINELO-NAVA, M. T. Stress and memory: behavioral effects and neurobiological mechanisms. Neural plasticity, v. 2007, 2007. SELYE, H. et al. A syndrome produced by diverse nocuous agents. Nature, v. 138, n. 3479, p. 32, 1936. STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM – SAS. OnlineDoc. Version 9.1.3. Cary: SAS Institute, 2004. VISSER, E. K. et al. Responses of horses in behavioural tests correlate with temperament assessed by riders. Equine veterinary journal, v. 35, n. 2, p. 176-183, 2003. VON BORSTEL et al. Equine behaviour and heart rate in temperament tests with or without rider or handler. Physiology & behavior, v. 104, n. 3, p. 454-463, 2011.