Efeito da suplementação com monensina e tanino sobre a digestibilidade in vitro da fibra insolúvel em detergente neutro do capim Marandu adubado ou não com nitrogênio
JESSICA HALLANA SAMPAIO1, Danielle Dias Brutti2, Nelcino Francisco de Paula3, ADRIELE TORRES MUNDIM4, MICHAEL DOUGLAS DOS SANTOS ARRUDA5, FLAVIA IZABEL GODOES6, RONYATTA WEICH TEOBALDOD7, Haryanne Martello8
1 - UFMT
2 - UFMT
3 - UFMT
4 - UFMT
5 - UFMT
6 - UFMT
7 - UFMT
8 - UFMT
RESUMO -
Objetivou-se avaliar os efeitos da suplementação com monensina e tanino sobre a digestibilidade in vitro da fibra insolúvel em detergente neutro em que utilizou-se inoculo ruminal de dois bovinos nelore com aproximadamente 300 kg de peso corporal com canula ruminal, suplementados com mistura múltipla a 0,3 % do peso corporal. O arranjo fatorial foi 2×5 na qual utilizou-se como substratos Urochloa brizantha cv. Marandu (adubada e não adubada com nitrogênio), quatro níveis de taninos (0, 2, 4 e 6 mg g MS-1) e monensina (0,02 mg g MS-1). A inclusão de monensina reduziu (P<0,05) a DFDN96 quando comparado a inclusão de tanino e ao tratamento sem aditivos. A inclusão de monensina no substrato com forragem adubada reduziu a DFDN24, assim como também a inclusão de tanino. A utilização de monensina e taninos promovem reduções na digestibilidade da fibra.
Palavras-chave: bovinos de corte, incubações, forragem, extratos
Effect of supplementation with monensin and tannin on the in vitro digestibility of the neutral detergent insoluble fiber of the Marandu grass fertilized or not with nitrogen
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of monensin and tannin supplementation on the in vitro digestibility of neutral detergent insoluble fiber in which ruminal inoculum of two Nellore cattle with approximately 300 kg of body weight with ruminal cannula supplemented with multiple 0.3% of body weight. The factorial arrangement was 2x5 in which Urochloa brizantha cv. Marandu (fertilized and not fertilized with nitrogen), four levels of tannins (0, 2, 4 and 6 mg g MS-1) and monensin (0.02 mg g MS-1). The inclusion of monensin reduced (P <0.05) the DFDN96 when compared to the inclusion of tannin and the treatment without additives. The inclusion of monensin in the substrate with fertilized fodder reduced the DFDN24, as well as the inclusion of tannin. The use of monensin and tannins promotes reductions in fiber digestibility.
Keywords: beef cattle, incubations, forage, extracts
Introdução
Após a União Europeia banir preventivamente o uso de ionóforos antimicrobianos devido aos efeitos de possível resistência dos microrganismos e presença de resíduos nos produtos de origem animal (Clark et al., 2012) tem crescido o interesse pela utilização de produtos naturais que promovam efeitos semelhantes aos ionóforos na qual se apresentam como alternativas para substituição dos aditivos que são antimicrobianos sem causar riscos à saúde. Os taninos são polímeros fenólicos solúveis em água resultantes do metabolismo secundário das plantas (Guimarães -Beelen et al., 2006), exercem efeitos benéficos quando utilizados na alimentação de ruminantes como a redução da emissão de metano ruminal, redução a ocorrência de distúrbios digestivos em animais recebendo elevadas proporções de concentrado bem como controlar ou reduzir a proteólise e colaborar para o aumento na eficiência de uso do nitrogênio (Calsamiglia et al., 2007). O presente trabalho tem como objetivo avaliar os diferentes níveis de taninos e monensina sobre a digestibilidade
in vitro da fibra insolúvel em detergente neutro do capim Marandu com ou sem adubação nitrogenada.
Revisão Bibliográfica
Os taninos presentes nos vegetais utilizados na nutrição de diversas espécies animais podem apresentar efeitos deletérios e benéficos quanto à saúde e à produção animal. Acredita-se que os efeitos biológicos dos taninos possam ocorrer de duas maneiras: como uma estrutura complexa e inabsorvível, produz efeitos locais no trato gastrointestinal ação antioxidante e sequestro de radicais livres, ação antibacteriana e antinutricional; como taninos absorvíveis (provavelmente com baixo peso molecular) e metabólitos produzidos através da fermentação da microbiota e afetam vários órgãos (Serrano et al., 2009).Os Taninos condensados são polímeros de flavan-3-ols e flavan-3,4-diols unidos por ligações carbono-carbono; possuem estrutura complexa e são resistentes à hidrólise (Costa et al., 2008). Os Taninos hidrolisáveis são constituídos por fenóis simples, galotaninos e elagitaninos, que após hidrólise formam ácido gálico e ácido elágico. (Etuk et al., 2012).
Os taninos condensados e seu alto peso molecular diminui a capacidade de união das enzimas com as proteínas, se ligam, principalmente às proteínas, impedindo que ocorra sua degradação total no rúmen, pois os microrganismos não conseguem fermentar os complexos tanino-proteína (Archana et al., 2010). Possuem capacidade de inibir enzimas, formar complexos com carboidratos, e íons metálicos, reduzindo a absorção de nutrientes e a digestibilidade (Kumari e Jain, 2012), e a possível inibição do crescimento de algumas classes bacterianas (Archana et al., 2010).
Os ionóforos atuam selecionando as bactérias Gram-negativas que são mais resistentes em virtude de sua célula ser constituída por uma membrana externa de proteção formada por proteínas, lipoproteínas, já as Gram-positivas produtoras de ácido acético, butírico, lático, fórmico e de hidrogênio, são prejudicadas pela ação da monensina (Morais et al., 2011). As bactérias gram positivas são na sua maioria bactérias celulolíticas, responsáveis pela degradação da celulose e da hemicelulose no ambiente ruminal, a diminuição da população desses tipos de microorganismos pode causar baixos valores de digestibilidade ou, até mesmo, em função da baixa qualidade da fibra (Lopes, 2002).
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Nutrição Animal da Faculdade de Agronomia e Zootecnia – FAAZ da Universidade Federal de Mato Grosso, no mês de agosto de 2016. Ocorreu durante quatro semanas consecutivas em arranjo fatorial 2x5, utilizando -se dois substratos (forragem adubada e não adubada com nitrogênio), quatro níveis de taninos (0, 2, 4 e 6 mg g MS
-1) e monensina (0,02 mg g MS
-1). O tanino foi obtido a partir de uma mistura (Silvafeed-Bypro
®, Silvateam-Inudor S.A., Argentina) e a monensina (Rumensin
®Elanco, 20%). O substrato incubado foi a
Urochloa brizantha cv. Marandu, proveniente de um estudo anterior em que a cada ciclo de corte as parcelas adubadas recebiam 100 kg de N/ha de sulfato de amônio a 21%, nas quais as amostras utilizadas foram obtidas no quinto corte (maio de 2016). O fluído ruminal foi colhido de dois bovinos Nelore machos inteiros com 300 kg ± 25 kg de peso corporal portando cânulas ruminais, suplementados com uma mistura múltipla a 0,3 % do peso corporal diariamente em um piquete formado por
Urochloa brizantha cv. Marandu.
Foram adicionados aos frascos 40 mL de solução tampão McDougal (1949), pipetado 0,2 mL do aditivo tanino diluído em água destilada aquecida (60ºC) e a monensina em álcool etílico absoluto P.A, trinta minutos depois foi adicionado 10 ml de líquido ruminal; 0,5 g de cada substrato-forragem adubada ou sem adubação, (exceto brancos e padrões) dispostos aleatoriamente no banho-maria com agitação orbital. Para determinação da digestibilidade
in vitro da fibra insolúvel em detergente neutro (DFDN), os frascos foram retirados nos tempos de 24 horas (DFDN24), 48 horas (DFDN48) e 96 horas (DFDN96). O conteúdo de cada frasco foi colocado em sacos ankom
® F57 (Ankom Technology Corp. , Macedon, NY) e colocados no equipamento Ankom
200 Fyber Analyzer a fim de avaliar a DFDN24, DFDN48 ou DFDN96. As variáveis foram analisadas utilizando o procedimento MIXED do SAS (versão 9,3), sendo significativa, foram declaradas a P (<0,05).
Resultados e Discussão
A forragem sem adubação permitiu maior (P<0,05) DFDN48 e DFDN96 em relação à forragem adubada. Independentemente do substrato, a inclusão de monensina reduziu (P<0,05) a DFDN96 quando comparado ao controle e a inclusão de tanino.
Houve interação forragem x aditivos (P<0,05) para DFDN24. A inclusão de monensina reduziu (P<0,05) a DFDN24 comparado com o controle considerando forragem adubada.
A monensina pode ter reduzido a digestibilidade pois inibe alguns dos microrgranimos fibrolíticos (e.g.
Ruminococcus albus, Ruminococcus flavefaciens e Butyrivibrio fibrisolvens) (Chen e Wolin, 1979).
A inclusão de tanino reduziu (P<0,05) de forma linear a DFDN24 quando o substrato foi a forragem adubada, entretanto quando o substrato foi a forragem não adubada, o efeito foi linear crescente (P<0,05; tabela 1). A inclusão de tanino promoveu efeito quadrático (P<0,05) na DFDN48 e DFDN96, independentemente do substrato (Tabela 1). Esse efeito pode ser atribuído devido à ação inibitória sobre a atividade das enzimas e microrganismos (Coelho, 2007). McSweeney et al. (2001) sugeriram que, dentre as inibições da atividade das enzimas fibrolíticas exercidas pelos taninos, o efeito sobre os complexos enzimáticos hemiceluloliticos é mais intenso que o provocado sobre os celulolíticos. Em seus estudos observaram que ovelhas suplementadas com 60 g de taninos condensados/kg de MS em dietas compostas de alta quantidade de carboidratos fibrosos, as proporções de F. succinogenes e Ruminococcus spp., as digestibilidades da matéria seca (MS) e da fibra em detergente neutro (FDN) foram reduzidas, isso em virtude da diminuição nas bactérias fermentadoras de carboidratos estruturais.
Conclusões
A utilização de monensina e taninos promovem reduções na digestibilidade da fibra em detergente neutro.
Gráficos e Tabelas
Referências
ARCHANA, A.B., JADHAV, M.V., KADAM, V.J., Potential of tannnins: a review.
Asian J. Plant. Sci., v.9, p.209–214, 2010.
CALSAMIGLIA, S.; BUSQUET, M.; CARDOZO, P.W.; CASTILLEJOS, L.; FERRET, A. Essential oils as modifiers of rumen microbial fermentation.
J. Dairy Sci.
, V.90, p.2580–2595, 2007.
CHEN, M.; E WOLIN, M.J., Effect of monensin and lasalocid-sodium on the growth of methanogenic and rumen saccharolytic bacteria. Appl.
Environmental Microbiology. 38, 72–77, 1979.
CLARK S.; DALY R.; JORDAN E.; LEE J.; MATHEW A.; EBNER P. The future of biosecurity and antimicrobial use in livestock production in the United States and the role of extension.
J. Anim. Sci , 90:2861–2872, 2012.
COELHO, C. P.
Desempenho de ovinos da raça Santa Inês alimentados com silagens com diferentes concentrações de tanino. 50p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2007.
COSTA, C. T. C.; BEVILAQUA, C. M. L.; MORAIS, S. M.; VIEIRA, L. S. Taninos e sua utilização em pequenos ruminantes.
Rev. Bras. Pl. Med. 10(4):108-116, 2008.
ETUK, E. B.; OKEUDO N. J.; ESUNU B. O.; UDEDIBIE A. B. I. Antinutritional factor in sorghum: chemistry, mode of action and effects on livestock and poultry
. Online J. Anim. Feed Res. 2(2):113-119, 2012.
GUIMARÃES-BEELEN, P. M.; BERCHIELLI, T. T.; BUDDINGTON, R.; BEELEN, R. Efeito dos taninos condensados de forrageiras nativas do semi-árido nordestino sobre o crescimento e atividade celulolítica de Ruminococcus flavefaciens FD1.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 58, n. 5, p. 910-917, 2006.
KUMARI, M.; e JAINAI, S. Tannins: An Antinutrient with Positive Effect to Manage Diabetes.
Res. J. Recent Sci. 1(12):70-73, 2012.
LOPES, F.C.F.; AROEIRA, L.J.M., ARCURI, P.B.; DAYRELL, M.S.; VITTORI, A. Efeitos da defaunação em ovinos alimentados com cana-de-açúcar (Saccharum officinarum, L.) adicionada de uréia.
Arq. Bra. de med. vet.. v.54, n.2, p.180- 188, 2002.
McDOUGAL, E. Studies on ruminant saliva. The composition and output of sheep’s saliva.
Biochem. J., v. 43, p.99-109, 1949.
McSWEENEY, C.S.; PALMER, B.; MCNEIL, D.M.; KRAUSE, D.O. Microbial interactions with tannins: nutritional consequences for ruminants.
Anim. Feed. Sci. Tech., v.91, p.83-93, 2001.
MORAIS, J. A. S.; BERCHIELLI, T. T.; REIS, R. A. Aditivos. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G.
Nutrição de ruminantes. 2. ed. Jaboticabal: Funep, 2011.
SERRANO, J., PUUPPONEN-PIMIÃ, R.; DAUER, A.; AURA, A-M.; SAURA-CALIXTO, F. Tannins: currente knowledge and food sources, intake, bioavailability and biological effects. Mol. Nutr. Food Res. 53:s310-s329. 2009.