Efeito de diferentes níveis de concentrado sobre o peso corporal de ovelhas gestantes e de suas crias

Marco Túlio Santos Siqueira1, Gilberto de Lima Macedo Júnior2, Débora Adriana de Paula Silva3, Maria Júlia Pereira de Araújo4, Thauane Ariel Valadares de Jesus5, Paulo Arthur Cardoso Ruela6, Adriana Lima Silva7, Joyce Karla Fernandes8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Uberlândia
5 - Universidade Federal de Uberlândia
6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da utilização de dois níveis de suplementação com farelo de glúten de milho sobre o peso corporal de ovelhas gestantes no pré e pós-parto, bem como o peso corporal médio de suas crias. Utilizou-se 41 ovelhas gestantes Santa Inês, ½ sangue e ¾ Santa x Inês Dorper, com peso médio de 64 kg, separadas em dois grupos de acordo com o tratamento, que foram diferentes níveis de concentrado na dieta, 300 e 400 gramas/animal/dia. Foram avaliados o peso corporal das ovelhas no pré e pós-parto, peso corporal das crias e peso da placenta. Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado, com medidas repetidas ao tempo. Não houve efeito dos níveis de concentrado sobre o peso corporal das ovelhas e das crias. Conclui-se que as diferentes quantidades de concentrado com inclusão de 15% de farelo de glúten de milho (FGM) não afeta o desempenho de ovelhas gestantes, bem como o peso corporal de suas crias.

Palavras-chave: desempenho, ganho de peso, nutrição, ovinos

Effect of different levels of concentrate on the body weight of pregnant ewes and their offspring

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of two levels of supplementation with corn gluten meal concentrate on the body weight of pregnant sheep during pre and postpartum, as well as the mean body weight of their offspring. 41 pregnant sheep Santa Inês, ½ blood and ¾ Santa Inês x Dorper, weighing 64 kg on average were divided into two groups according to the levels of concentrate in the diet, 300 or 400 grams. Body weight of pre and postpartum ewes, body weight of the offspring and weight of the placenta were evaluated. The design was completely randomized, with measures repeated over time. There was no effect of the levels of concentrate on the maternal body weight of the sheep and offspring and the average weight of the offspring. It is concluded that the different amounts of concentrate with inclusion of 15% corn gluten meal (CGM) does not affect the performance of pregnant sheep, as well as body weight of their offspring.
Keywords: nutrition, performance, sheep, weight gain


Introdução

Vários fatores têm sido estudados atualmente, tais como a nutrição materna e o tamanho da placenta sobre como regulam o crescimento fetal em ovinos, o que acaba determinando o peso do cordeiro ao nascer. Sabe-se que animais que nascem com aproximadamente 4 kg apresentam melhores resultados que animais mais leves, desmamando mais pesados e tendo um melhor ganho de peso ao longo de todo o ciclo produtivo, o que acaba diminuindo custos de produção e aumentando a lucratividade dos produtores. Diante do exposto, objetivou-se avaliar o efeito da utilização de dois níveis de suplementação concentrada com farelo de glúten de milho sobre o peso corporal de ovelhas gestantes e de suas crias.

Revisão Bibliográfica

A suplementação com concentrado para ovelhas gestantes no terço final da gestação tem mostrado vários pontos positivos, como aumento do peso ao nascer de cordeiros e aumento da produção de leite, o que afeta diretamente o peso à desmama e causa redução da duração do anestro pós-parto, tendo impacto direto  no período de serviço e no intervalo de partos (GERASEEV et al., 2006). Nóbrega Júnior et al (2005) demonstram que cordeiros com baixo peso ao nascimento são mais propensos a mortalidade como também baixo peso à desmama. O baixo peso ao nascimento está intimamente relacionado à nutrição materna que por sua vez tem importante relação com a função placentária que é responsável pelo crescimento fetal no terço final da gestação e pode ser demonstrada pela variação de peso fetal no final da gestação em comparação ao meio da gestação, visto que o maior desenvolvimento fetal ocorre no terço final da gestação (GREENWOOD; SLEPETIS; BELL, 2000).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, durante o período de julho a agosto de 2016. Foram utilizadas 41 ovelhas gestantes Santa Inês, ½ sangue e ¾ Santa x Inês Dorper, com peso médio de 64 kg, nas quais foi realizado ultrassonografia para diagnóstico de gestação, um mês após a cobertura. Todos os animais foram mantidos em piquetes de Urochloa brizantha cv. Marandu, com proteinado, até o início do experimento. Para início do experimento esses animais foram confinados aos 135 dias de gestação até o momento do parto, em baias coletivas, distribuídas em dois tratamentos que se diferenciaram quanto ao nível de inclusão de concentrado na dieta (tabela 1). A silagem de milho foi ofertada de modo a suprir o consumo de 2,5% do peso corporal. Foram utilizadas dez baias (cinco baias por tratamento) com aproximadamente quatro animais em cada uma, sendo 21 animais no tratamento com 300 gramas/animal/dia e 20 animais no tratamento com 400 gramas/animal/dia. A alimentação foi fornecida duas vezes ao dia. Na fase do pré-parto, aos 135 dias de gestação e após o parto os animais foram pesados em balança com precisão de 100g para obtenção do peso corporal das ovelhas (PCO). As pesagens foram realizadas sempre antes do fornecimento do primeiro trato, com os animais em jejum. A pesagem dos filhotes foi realizada após terem o umbigo curado e antes da ingestão do colostro em balança com precisão de cinco gramas. Também foi feita a pesagem das placentas das ovelhas. Tais medições foram feitas com o intuito de relacionar o peso materno e o peso das crias com objetivo de verificar se houve algum comprometimento por parte das ovelhas como restrição de consumo, devido ao tamanho dos fetos, ou algum tipo de alteração metabólica das ovelhas pela alta demanda de glicose pelos fetos e placenta. Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado com medidas repetidas ao tempo. Para comparação das médias foi usado teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

As ovelhas gestantes que receberam 400 g de concentrado por dia tiveram maior peso de placenta quando comparado às ovelhas que receberam 300g (tabela 2). Segundo Jenkinson et al. (1995) o tamanho e número de cotilédones da placenta podem ser afetados pelo manejo e a nutrição durante a gestação. Além disso, o crescimento fetal do cordeiro é afetado pelo fluxo sanguíneo do útero para a placenta, assim como pela capacidade da placenta no transporte de nutrientes o que pode acarretar morte fetal quando o peso da placenta esta próximo do mínimo normal devido a falta de oxigênio e nutrientes (LANG, et al. 2003). Fernandes et al. (2013) encontraram valores para peso placentário próximos ao do presente trabalho (439 g em animais de parto simples e 524,5 g em animais de parto gemelar). Do mesmo modo o peso médio das crias (3,15 kg) esteve próximo ao deste trabalho, o que mostra a relação entre peso placentário e peso das crias. Não houve efeito da quantidade de concentrado sobre o peso corporal das crias (Tabela 2). Os valores de peso médio das crias ficaram dentro do esperado na literatura (PEDREIRA, 1987), que é de aproximadamente 4 Kg para cordeiros mestiços Santa Inês x Dorper. A mortalidade até a desmama foi de 1,7%, portanto, pode-se inferir que, o maior peso corporal das crias ao nascimento teve impacto positivo sobre a mortalidade neste período. Mexia et al. (2004), afirmaram que cordeiros nascidos pequenos e débeis, normalmente tem menores possibilidades de sobrevivência, devido à dificuldade de procurar alimentos. Pode-se inferir, portanto, que animais mais pesados ao nascimento, apresentam menores taxas de mortalidade, evidenciando a importância do peso ao nascer sobre a mortalidade dos animais do nascimento ao desmame. As relações entre os pesos corporal das crias e o peso das ovelhas foram semelhantes para as duas quantidades de concentrado, o que indica boa nutrição das fêmeas gestantes (tabela 2). Pode-se inferir, portanto, que a disponibilidade de nutrientes foi suficiente para ocasionar bom crescimento das crias. Além disso, em ambos os tratamentos o peso fetal correspondeu a aproximadamente 10% do peso materno, o que em alguns casos pode gerar restrição de consumo devido ao espaço ocupado pelo útero gravídico na cavidade abdominal, o que acaba comprimindo o trato gastrointestinal, afetando assim o desempenho dos animais. Devido a isso, faz-se importante a suplementação na fase pré-parto uma vez que é um período determinante para o peso ao nascer das crias e para o desempenho produtivo das matrizes, o que tem impacto direto no produto final.

Conclusões

Ovelhas gestantes suplementadas com diferentes níveis de ração concentrada apresentam aumento no peso da placenta, o que melhora o peso das crias ao nascimento, proporcionando melhores pesos à desmama e redução da taxa de mortalidade pós-parto.    

Gráficos e Tabelas




Referências

FERNANDES, C. E.; CIGERZA, C. F.; MIAZI, C. et al. Características do parto e involução uterina em ovelhas nativas do pantanal brasileiro. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 14, p. 245-252, 2013.   GERASEEV, L. C. PEREZ, J. R. O. CARVALHO, P. A. et al. Efeitos das restrições pré e pós-natal sobre o crescimento e o desempenho de cordeiros Santa Inês do nascimento ao desmame. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.1, 2006.   GREENWOOD, P. L.; SLEPETIS, R. M.; BELL, A. W. Influences on fetal and placental weights during mid to late gestation in prolific ewes well nourished throughout pregnancy. Reproduction, Fertility and Development. Melborne, v. 12, p. 149-156, 2000.   JENKINSON, C. M. C et al. Seasonal effects on birth weight in sheep are associated with changes in placental development. New Zealand Journal of Agricultural Research, Wellington, v.38, p. 337-345, 1995.   LANG U. et al. Uterine blood flow – a determinant of fetal growth. European Journal of Obstetrics e Gynecology and Reproduction Biology, Amstredam, v.110, p. 55–61, 2003.   MEXIA, A. A.; MACEDO, F. A. F.; ALCALDE, C. R. et al. Desempenhos Reprodutivo e Produtivo de Ovelhas Santa Inês Suplementadas em Diferentes Fases da Gestação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.3, p.658-667, 2004.   NÓBREGA JÚNIOR, J. E. et al. Mortalidade perinatal de cordeiros no semi-árido da Paraíba. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v.25, n.3, 2005. PEDREIRA, P. A .S. Diagnóstico da exploração de ovinos da raça Santa Inês no estado de Sergipe. Aracajú: EMBRAPA- CNPCo, 1987. Relatório de Projeto de Pesquisa.