EFEITO DO CONSUMO DE FARELO DE CRAMBE SOBRE PARÂMETROS RUMINAIS E METABÓLICOS EM OVINOS
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RESUMO -
Os coprodutos e subprodutos, oriundos da agroindústria, destacam-se como potenciais substitutos aos ingredientes tradicionais usados em dietas de ruminantes, contribuindo com a redução da competitividade com a alimentação humana e de animais monogástricos. A maioria dos estudos com farelo de crambe para ruminantes está voltada para bovinos e pouco se sabe sobre a concentração ideal de inclusão do farelo de crambe nas dietas de ovinos e sua influência nos parâmetros ruminais e metabólicos desses animais. Diante do exposto, objetivou-se avaliar o efeito da inclusão crescente da proteína bruta do farelo de crambe na dieta de ovinos confinados em substituição à proteína bruta do concentrado sobre o consumo e digestibilidade aparente de nutrientes, degradação, síntese de proteína microbiana, balanço de nitrogênio, taxa de passagem de compostos fibrosos, parâmetros ruminais e metabólicos.
EFFECT OF CRAMBE FARM CONSUMPTION ON RUMINAL AND METABOLIC PARAMETERS IN SHEEP
ABSTRACT - Los co-productos y subproductos procedentes de la industria agrícola, han surgido como posibles sustitutos de ingredientes tradicionales utilizados en la alimentación de rumiantes, lo que contribuye a la reducción de la competencia con los alimentos y los animales monogástricos. La mayoría de los estudios con comida crambe a los rumiantes se centra en el ganado y poco se sabe acerca de la concentración óptima de inclusión de harina de crambe en las dietas de ovejas y su influencia en el rumen y los parámetros metabólicos de estos animales. Dado lo anterior, se evaluó el aumento de la inclusión del efecto de la proteína cruda de salvado de crambe en la dieta de ovejas corral de engorde para reemplazar el concentrado de proteína cruda en la ingesta y la digestibilidad de los nutrientes, la degradación, la síntesis de proteína microbiana, balance tasa de paso de nitrógeno de los compuestos rumen fibrosos y los parámetros metabólicos.Revisão Bibliográfica
1- Resíduos da agroindústria na nutrição de ruminantes A utilização de resíduos agroindustriais na alimentação animal em geral, propicia redução no custo da alimentação e otimiza a eficiência da produção, além de servir como alternativa sustentável de reaproveitamento da matéria orgânica de origem vegetal, evitando o acúmulo destes resíduos no meio ambiente (BRÁS, 2014). O uso desses alimentos alternativos, cada vez mais comum na alimentação de ovinos, visa reduzir os custos de produção por quilo de carne produzida, podendo ser alternativa promissora e economicamente viável para os sistemas de produção de ruminantes, que devido à adaptação fisiológica do rúmen podem aproveitar esses alimentos, quando inseridos em dietas que atendam seus requerimentos de mantença, crescimento e produção (AREGHEORE, 2000). No entanto, a insuficiência de informações sobre composição e qualidade nutricional, possível toxidez e viabilidade econômica tem ocasionado subaproveitamento desses coprodutos (PIETRO, 2013) O milho e o farelo de soja são os principais alimentos utilizados nas formulações de rações para ruminantes. Ambos formam uma excelente combinação de energia e proteína, e não apresentam restrições quanto à presença de fatores antinutricionais. No entanto, a elevação do custo destes alimentos, aumenta o custo de produção, o que favorece o estudo e utilização de alimentos alternativos de menor custo e de boa qualidade para manter a eficiência da produtividade dos rebanhos (GOES et al., 2010). Alguns resíduos agroindustriais podem ser considerados fontes valiosas de proteína, energia e fibra para produção animal (NRC, 1985), apresentando variação nos valores de matéria seca (MS) entre 85,95 e 96,36%, devido ao tempo de secagem, temperatura submetida e umidade relativa do ar (ALVES et al., 2012). De acordo com Silva (2001), os subprodutos da indústria do biodiesel possuem potencial para substituir o farelo de soja reduzindo custos no preparo de concentrado para ruminantes agregando valor à cadeia produtiva. Nos atuais sistemas de formulação de dietas para ruminantes são necessárias informações relativas às proporções das frações de todos os alimentos, bem como suas taxas de digestão, para sincronizar a disponibilidade de energia e nitrogênio (N) no rúmen, e maximizar a eficiência microbiana e a digestão dos alimentos com menores perdas energéticas da fermentação ruminal, fazendo com que os animais sejam alimentados mais economicamente (GOES et al., 2010). Além de identificar potenciais subprodutos passíveis de serem utilizados com eficiência na dieta de ruminantes em substituição à ingredientes convencionais (MIZUBUTI et al., 2011). 2- Subprodutos da indústria de biodiesel Desde o início do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel no ano de 2005, a principal matéria prima para produção de biodiesel tem sido a soja. Em setembro de 2011, o óleo de soja respondeu por 71,13% do biodiesel (ANP, 2012). A partir de então, tem-se preconizado a busca por fontes alternativas de óleo vegetal para a produção de biodiesel com elevados rendimentos de óleo por unidade de superfície cultivada, gerando subprodutos com potencial uso na alimentação animal e que contribuam para reduzir a dependência pela soja (RODRIGUES e RONDINA, 2013). 3- Crambe abyssinica Hochst Apesar de pouco conhecida, a Crambe abyssinica já está sendo utilizada para a produção de biodiesel. O interesse pela produção de crambe foi despertado em virtude da sua capacidade de produção de óleos, com elevado teor de ácido erúcico (ácido graxo biodegradável), que varia de 26% a 38% (ECHEVENGUÁ, 2007). A Crambe abyssinica, da família das Brassicáceas, teve origem no Mediterrâneo, na região da Ásia e Europa Ocidental. É uma planta de clima subtropical, adapta-se bem às alterações climáticas, é altamente tolerante à seca, possui ciclo curto (90 a 95 dias), e todo o seu cultivo pode ser mecanizado, sendo resistente às pragas e doenças (CANOVA, 2011). É cultivada na África, Ásia, Europa, Estados Unidos, México e América do Sul, como cultura para cobertura do solo. Tem despertado interesse dos produtores, por ser mais uma alternativa para a safrinha, em especial para produtores de soja e milho, na rotação de culturas (OLIVEIRA, 2010). Segundo Colodetti et al. (2012), o interesse na produção de crambe no Brasil tem se intensificado, visto que os óleos utilizados para produção de biodiesel são baseados em culturas principalmente de ciclo primavera/verão, faltando opções para o outono/inverno. Atualmente a área plantada no país se aproxima de seis mil hectares em Minas Gerais (Triângulo Mineiro), Goiás e Mato Grosso do Sul (SOUZA, 2014). 4- Subprodutos da Cultura da Crambe A torta de crambe é o principal subproduto da extração do óleo por prensa, apresenta elevado teor proteico (20 a 30% da MS) e energético (em torno de 29% da MS), características que a diferem do farelo de crambe, pois este apresenta teores próximos aos 33% e 2% de proteína e extrato etéreo respectivamente (KNIGTHS, 2002). O farelo de crambe é obtido a partir da extração do óleo por solvente químico (Hexano) (MIZUBUTI et al., 2009). De acordo com Souza (2014), a maior parte desse subproduto gerado pela indústria ainda não tem uma destinação de mercado, sendo utilizada para gerar energia nas caldeiras ou descartada no ambiente servindo como adubo orgânico em lavouras. A utilização de subprodutos do crambe tem sido mais utilizada na alimentação de bovinos. Pouco se sabe sobre a concentração ideal de inclusão do farelo de crambe na alimentação de ovinos, sendo ainda utilizados de maneira incipiente. Ítavo et al. (2015), encontraram teor de proteína bruta maior para o farelo de soja em comparação ao farelo de crambe (507 contra 371 g/ Kg de MS, respectivamente) e concentração de FDN mais elevada para o farelo de crambe (393 contra 230 g/Kg de matéria seca respectivamente). Por ser um alimento rico em celulose e hemicelulose, o farelo de crambe é melhor para o trato gastrointestinal de ruminantes, se comparados aos animais não ruminantes. Silva (2014) avaliou o efeito de níveis crescentes de torta de crambe em dietas utilizadas na alimentação de ruminantes e concluiu que a substituição do farelo de soja pela torta de crambe resultou em redução da digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica e proteína bruta, porém, segundo o autor esta redução não impede que a torta de crambe seja utilizada em até 150 g/kg de substituição ao farelo de soja. Goes et al. (2010) ao avaliarem a degradabilidade in situ da MS e da PB do farelo de crambe, torta de crambe e torta de soja, verificaram que a torta e o farelo de crambe tiveram baixa degradação ruminal em relação a torta soja, indicando possível presença de proteína não degradável no rúmen (PNDR). Ao avaliar a cinética de fermentação in vitro dos coprodutos farelo de crambe, farelo de algodão, torta de crambe, torta de soja e torta de girassol, Mizubuti et al. (2011), verificaram valores menores para taxas de degradação dos carboidratos fibrosos para o farelo de crambe, farelo de algodão e torta de girassol. De acordo com Mendonça et al. (2012), o farelo e a torta de crambe podem ser utilizados em até 15% de inclusão na matéria seca de dietas para bovinos em crescimento sem efeito negativo sobre o consumo e digestibilidade de nutrientes. Em sua pesquisa, o consumo de matéria seca, de matéria orgânica, de proteína bruta, de FDN e CNF não diferiu entre os diferentes níveis de inclusão de farelo de crambe, mas houve redução da digestibilidade com o aumento do farelo de crambe na maioria das vezes. Costa et al. (2010) avaliaram o uso de farelo de crambe na alimentação de cordeiros em confinamento e concluíram que a substituição de até 90% do farelo de soja pelo farelo de crambe não influenciou o comportamento ingestivo dos animais. Herculano (2013) avaliou níveis de substituição de até 99% do farelo de soja pelo farelo de crambe para bovinos leiteiros e não observou efeitos dos níveis de substituição para os consumos de matéria seca, matéria orgânica, FDN corrigido para cinzas e proteína, FDA, CNF, PB, EE e NDT, quando expressos em porcentagem do peso vivo. As digestibilidades aparentes totais da FDN, FDA, carboidratos não fibrosos, PB e extrato etéreo também não foram influenciadas pelos níveis crescentes do farelo de crambe. 5- Fator antinutricional Apesar de apresentar características desejáveis de concentrado protéico de boa qualidade e ser uma alternativa na alimentação de ruminantes, a crambe possui como fator antinutricional os glicosinolatos, produzidos no metabolismo secundário de plantas brassicáceas. Durante a extração do óleo pela indústria o glicosinolato é hidrolisado pela enzima mironase tornando-se tóxico e nocivo à saúde animal por provocar efeitos fisiológicos adversos ou diminuir a biodisponibilidade de nutrientes. No entanto, nos ruminantes, o desenvolvimento da microbiota ruminal confere maior tolerância na ingestão de glicosinolatos, fazendo com que os animais adultos sejam mais resistentes a esta exposição se comparados aos jovens lactantes (TRIPATHI e MISHRA, 2007). De acordo com Wallig et al. (2002), os glicosinolatos são convertidos pelos microorganismos do rúmen em compostos potencialmente menos tóxicos favorecendo seu uso no preparo de dietas para esta espécie animal. Goularte et al. (2010) avaliaram o efeito do glicosinolato em cordeiros alimentados com farelo de crambe em substituição ao farelo de soja e concluíram que até o nível de 90% de substituição não houve alteração nos parâmetros bioquímicos do sangue dos animais, porém promoveu aumento da enzima ALP (fosfatase alcalina) e diminuição da TGO (transaminase glutâmica oxalacética), indicando possível alteração na função hepática. Nos achados de Herculano (2013), o farelo de crambe pode substituir em até 99% o farelo de soja, sem que haja mudanças na atividade tireoidiana e na função hepática de bovinos. Dessa forma o crambe se apresenta como ótimo substituto da soja, somente em partes.Referências
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