Efeito do empenamento na produção de calor de frangos de corte caipiras criados na Amazônia Ocidental

Marcelo Bastos Cordeiro1, Maria de Jesus S. Barbosa2, Henrique Jorge de Freitas3, Nathaly Silva Rezende4
1 - UFVJM
2 - UFAC
3 - UFAC
4 - UFAC

RESUMO -

O experimento foi conduzido no Setor de Avicultura da Universidade Federal do Acre, AC, Brasil, durante os meses de janeiro a abril, período este caracterizado como inverno amazônico. Foram utilizados 280 pintos de um dia, sendo 140 aves de cada linhagem Pescoço Pelado (parcialmente empenado – PE) e Carijó Preto (totalmente empenado – TE). As aves foram criadas em sistema de confinamento, recendo água e alimentação à vontade e foram criadas até os 71 dias de idade. As variáveis de desempenho fisiológico avaliadas foram: temperatura de média corporal (TMC), temperatura cloacal (TCL) e frequência respiratória (FR). As variáveis ambientais analisadas foram temperatura do ar (oC) e umidade relativa do ar (%). Não houve efeito significativo (p>0,05) entre as linhagens com relação ao desempenho fisiológico entre os sexos e linhagens. Em condições de inverno amazônico em que predomina as altas temperaturas e alta umidade relativa, a característica de empenamento das aves não foi suficiente para determinar a melhor adaptabilidade entre as linhagens.

Palavras-chave: Ambiência, Avicultura, Estresse calórico

Effect of feathering on the heat production of country chicken in the Western Amazon

ABSTRACT - The experiment was carried out in the Aviculture Sector of the Federal University of Acre, AC, Brazil, during the months of January to April, a period characterized as the Amazonian winter. One hundred and twenty-one - day chicks were used, of which 140 birds were of each strain. Pelado Neck (partially fledged- PE) and Carijó Preto (fully fledge - TE). The birds were raised in a feedlot system, water and feed recipients and were raised up to 71 days old. The variables of physiological performance evaluated were: mean body temperature (TMC), cloacal temperature (TCL) and respiratory rate (RF). Environmental variables analyzed: air temperature (oC), relative air humidity (%) and black globe temperature and humidity index (ITGU). There was no significant effect (p> 0.05) between lineages regarding physiological performance under sexes and lineages. In Amazonian winter conditions in which high temperatures and high relative humidity predominate, the feathering characteristics of the birds were not sufficient to determine the best adaptability among the strains.
Keywords: Ambience, Poultry, Heat stress


Introdução

Atualmente o consumo de aves de linhagens caipira tem maior aceitabilidade pelos consumidores da região norte do Brasil (CORDEIRO et al., 2014). Essas linhagens se caracterizam pela rusticidade, pelo sabor inconfundível, maciez da carne e menor acúmulo de gordura (CARVALHO et al., 2013). No entanto, devemos atender às necessidades de cada linhagem, observando os fatores que interferem direta e indiretamente nos fatores produtivos das aves. Dentre eles fatores, as condições climáticas são preponderantes para o bom desempenho zootécnico dos frangos. Dentre os fatores térmicos com maior evidência nos sistemas de criação está a temperatura, por afetar diretamente os animais, comprometendo a manutenção da homeotermia quando associada a outras variáveis ambientais (BAÊTA e SOUZA, 2010). Deste modo, a arquitetura do ambiente, a utilização dos recursos naturais e a adequações no alojamento avícola devem fazer parte do planejamento da produção, a fim de evitar o desconforto térmico das aves e reduzir os custos de produção. À elevação da temperatura no interior do galpão ocasiona grande perdas aos produtores, fazendo com que algumas linhagens percam a capacidade de adaptação a climas quentes, apresentando estresse térmico severo, respondendo com a redução no consumo de alimento, redução na eficiência alimentar, elevando os índices de mortalidade entre os lotes e prejudicando o desempenho produtivo de modo geral (TINOCO et al., 2014) Com isso faz-se necessário o estudo de diferentes linhagens de frango adaptadas às regiões de clima quentes e úmido, visando à redução de custos em instalações, alimentação e obtenção de melhor eficiência produtiva. Neste trabalho objetivou-se determinar se a característica de cobertura corporal possui influência na produção e dissipação de calor em frangos de corte de linhagem caipira criadas em condições climáticas da Amazônia Ocidental.

Revisão Bibliográfica

Os constituintes do ambiente térmico que afetam diretamente as aves são a temperatura, a umidade, a radiação e o vento (BAÊTA e SOUZA, 2010; AMARAL et al., 2011). Em regiões tropicais, os animais dependem da intervenção humana para melhor responderem a seus requerimentos de conforto térmico, bem-estar e de produção, necessitando com isso, de alternativas acessíveis que beneficiem os sistemas avícolas. As respostas fisiológicas, comportamentais e metabólicas de perda ou produção de calor das aves são influenciadas pela quantidade de calor armazenado e pela temperatura ambiente considerado como um dos principais responsáveis pelo sucesso ou fracasso da produção animal (FURLAN, 2002; CORDEIRO et al. 2011; PEREIRA et al., 2011; CASSUCE, 2013). Segundo Nascimento (2010) quando a temperatura do ar estiver próxima a 21°C, a ave tem facilidade em dissipar calor em até 75% através das formas sensíveis: radiação, condução e convecção. Porém, quando a temperatura ambiental se aproxima da temperatura de superfície corporal das aves, seu principal mecanismo de perda de calor passa a ser a liberação de calor latente, por meio da respiração (BAÊTA e SOUZA, 2010). O estresse calórico afeta diretamente o consumo de ração pelas aves, a reprodução e a produção de carne e ovos (BROSSI et al., 2009) estão intimamente relacionados com as condições térmicas ambientes. Demonstraram ainda que a ingestão de alimento diminui de acordo com a situação de estresse em que as aves são mantidas. Em aves submetidas à condições de estresse calórico observa-se o aumento da temperatura cloacal, temperatura superficial e aumento da frequência respiratória. Com isso, os processos fisiológicos são ativados com a finalidade de aumentar a dissipação de calor e reduzir a produção metabólica de calor para manutenção da homeotermia corporal (Yahav et al. 2005)

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Avicultura do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza (CCBN) da Universidade Federal do Acre (UFAC), Município de Rio Branco, estado do Acre, durante os meses de janeiro a abril, período este caracterizado como inverno amazônico. Rio Branco está a uma altitude de 187 m, tendo como coordenadas 9° 57’ 30’’ S e 67° 52’ 06’’ W.  A classificação do clima é Am de acordo com a Köppen, possuindo temperatura média anual de 26.2 °C e pluviosidade de 1935 mm. O galpão utilizado foi do tipo convencional, apresentando 16,0 m de comprimento e 5,0 m largura, pé direito de 2,8 m, piso e muretas laterais de concreto, pilares e tesoura de madeira, cercado e dividido com tela de arame, telhado de alumínio (pintada de branco) e lanternim de fibrocimento. O galpão possui 32 boxes experimentais com dimensões de 2,0 x 1,0 m cada. Foram utilizados 140 pintos de um dia da linhagem caipira parcialmente empenados e 140 totalmente empenados. Foram utilizadas rações comerciais balanceadas e fornecidas para as duas linhagens de acordo com a fase das aves. Os dados de temperatura e umidade ambiente foram coletados diariamente a cada 15 minutos, durante todo o período experimental, através de “dataloggers”, instalados em dois pontos distintos e medianos do galpão. Para avaliação das respostas fisiológicas foram aferidas a temperatura cloacal, frequência respiratória e temperatura da superfície corporal (cabeça, crista, face, pescoço, peito, sob a asa, pata e penas), em dois períodos do dia. As coletas de temperatura de superfície corporal foram realizadas utilizando sensor infravermelho digital com precisão de ± 0,5 °C. Com os dados foram calculados a temperatura média corporal (TCM), através da equação proposta por RICHARDS  (1971), onde: TCM = (0,12 x Tasa) + (0,03 x Tcabeça) + (0,15 x Tpata) + (0,70 x Tdorso), em °C, Onde: (Tasa= temperatura da asa (°C), Tcabeça = temperatura da cabeça (°C), Tpata = temperatura da pata (°C), e Tdorso = temperatura do dorso (°C).   A frequência respiratória foi realizada através da observação dos movimentos respiratórios das aves utilizando o método visual (mov. min-1).  A temperatura cloacal foi medida utilizando um termômetro clínico digital, com precisão de ± 0,1 °C, introduzido na cloaca da ave, durante um minuto. Para a avaliação das respostas fisiológicas utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso em parcelas subdivididas no tempo, em que a linhagem foi considerada o tratamento primário e o período o tratamento secundário.

Resultados e Discussão

Durante o período estudado, a temperatura média (oC) medida na área experimental foi de 28,5 oC, com temperatura máxima de 35 oC e mínima de 22 oC. A umidade relativa média foi de 77,5 %, com valor máximo de 100% e mínima de 55%. Os meses de janeiro a abril se caracterizam por ser um período de alta precipitação pluviométrica e altas temperaturas na região da Amazônia Ocidental. Nas Tabela 1, 2 e 3 estão representadas, respectivamente, os valores de temperatura média corporal (TMC), temperatura cloacal das aves (TC) e da frequência respiratória das aves (FR). Não houve efeito significativo para TMC, TC e FR entre linhagens e sexo. As médias de temperatura retal encontradas nesta pesquisa estão de acordo com as encontradas por Nazareno et al., 2011; Cordeiro et al., 2014 e Dias et al. 2016, demonstrando que os animais conseguiram manter sua temperatura interna dentre os parâmetros recomendados, de 40 a 42 oC, mostrando a adaptabilidade das duas linhagens estudadas. Dias et al (2016) não verificaram diferenças na temperatura retal quando compararam as linhagens Pesadão e Pescoço Pelado, corroborando com esta pesquisa. Entretanto, resultados contrastantes foram encontradas por Silva et al. (2001), Mazzi et al. (2002) e Gonçalves (2012), no qual obtiveram valores superiores de temperatura cloacal e na frequência respiratória e Souza Junior (2012) que encontraram temperaturas superficiais superiores,  em linhagem de empenamento normal, sugerindo que a linhagem de pescoço pelado possui maior adaptabilidade ao estresse térmico. Entretanto, esses autores desconsideraram o efeito da umidade relativa sobre a troca de calor das aves, trabalhando com valores médios de 60% de UR ou não mencionando os valores em suas pesquisas. Em altas temperaturas do ar e alta umidade relativa, a dissipação de calor das aves se dá em grande parte através da perda de calor latente pela respiração (CORDEIRO et al, 2014). O empenamento seria responsável somente pela perda de calor sensível através da radiação e convecção, o qual teria efeito significativo somente se houvesse uma fonte maior de ventilação aplicado sobre as aves. A região amazônica caracteriza-se pela alta pluviosidade ao longo do ano, potencializando os efeitos do estresse calórico, uma vez que as aves reduzem a troca de calor latente com o meio (CORDEIRO et al., 2014) Dionelo et al. (2002) sugere que a linhagem Pescoço pelado apresentam menor incremento de temperatura cloacal pois produzem menor calor em função da maior perda de calor sensível.

Conclusões

Em condições de inverno amazônico em que predomina as altas temperaturas e alta umidade relativa, a característica de empenamento das aves não foi suficiente para determinar a melhor adaptabilidade entre as linhagens.

Gráficos e Tabelas




Referências

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