Efeito do exercício sobre o crescimento de caprinos submetidos a diferentes planos nutricionais

Rafaela Nunes Coelho1, Marcella Cândia D'Oliveira2, Marcelo Vedovatto3, Ibrahim Miranda Cortada Neto4, Marina de Nadai Bonin5, Camila da Silva Pereira6, Jaqueline Rodrigues Ferreira7, Gumercindo Loriano Franco8
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RESUMO -

O efeito da caminhada de 7,5 km sobre o crescimento de caprinos submetidos ou não a restrição alimentar foi avaliado durante 50 dias e as suas implicações no período de recuperação do exercício e da restrição alimentar. Na 1ª fase os tratamentos foram: com exercício e restrição de 10% (EX+REST); sem exercício e restrição de 10% (S/EX+REST); com exercício e alimentados para ganho  de 150 g/dia (EX+AD); sem exercício e alimentados para ganho de 150 g/dia (S/EX+AD). Na 2ª fase, os animais receberam alimentação para atender a exigência de ganho de 150 g/dia, por 35 dias, sem exercício físico. Na 1ª fase, o peso corporal, área de olho de lombo(AOL) e espessura de gordura subcutânea não foram afetados pelo exercício, porém nos grupos com restrição alimentar foi observada redução nestas variáveis. Já na 2ª fase, os grupos com restrição alimentar permaneceram com peso corporal e AOL inferiores aos observados nos grupos sem restrição. O exercício não influenciou o crescimento dos animais, porém, a restrição alimentar acarreta redução no desempenho dos caprinos.

Palavras-chave: desempenho, ganho compensatório, pequenos ruminantes, restrição alimentar

Effect of exercise on growth of goats under different nutritional plans

ABSTRACT - The effect of a 7.5 km walkig exercise on growth of goats submited to feed restriction or not during 50 days and its implications during the recovery period and the feed restriction period. On the first phase, the treatments were: exercise and feed restriction in 10% (EX+REST); no exercise and feed restriction in 10% (S/EX+REST); exercise and fed for 150 g/day weight gain (EX+AD); no exercise and fed for 150 g/day weight gain (S/EX+AD). At the second phase, animals were fed to meet their requirement for gain of 150g/day during 35 days, without exercise. In the first phase body weight, loin muscle areas (AOL) and carcass subcutaneous fat thickness were not affected by exercise, however in the feed restricted groups a decrease in these parameters was observed. In the second phase the feed restriction groups preserved a lower body weight and AOL of those observed in EX+AD and S/EX+AD groups. Exercise did not influenced the growth of the animals, however the feed restriction causes a reduction in the performance of goats.
Keywords: compensatory gain, feed restriction, performance, small ruminants


Introdução

Em países de clima tropical nos quais há sazonalidade na produção forrageira, o crescimento compensatório tem sido utilizado como uma possiblidade para contornar as perdas de peso observadas durante este período de restrição alimentar, buscando maximizar os ganhos durante a fase de crescimento acelerado, quando os animais são realimentados (Abouheif et al., 2013). Quando as taxas de crescimento são reduzidas, como consequência de uma limitação nutricional, são observadas diminuição no ganho de peso, na eficiência alimentar (Abouheif et al., 2013) e parada no crescimento em dimensões do corpo (Kamalzadeh et al., 1998), assim como mudanças na prioridade de crescimento, pois alguns tecidos passam a crescer menos, como por exemplo, as vísceras e o tecido adiposo (Abouheif et al., 2013). Se a restrição alimentar resulta em redução do peso e/ou proporção dos órgãos e/ou tecidos metabolicamente mais ativos, a realimentação está associada com a rápida recuperação dos mesmos (Yambayamba et al., 1996). As informações disponíveis sobre os efeitos da restrição alimentar associada ao exercício físico de caminhada em ruminantes ainda são muito limitadas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do exercício sobre o crescimento de caprinos submetidos a diferentes planos nutricionais durante 50 dias, bem como suas inter-relações, e se há a ocorrência de ganho compensatório após 35 dias de realimentação.

Revisão Bibliográfica

Para atingir o maior potencial de crescimento do animal é necessário manter as taxas de crescimento com o suprimento compatível dos nutrientes necessários para coordenar os processos bioquímicos de formação dos tecidos. Logo, quando as taxas de crescimento são reduzidas, como consequência de uma limitação nutricional, são observadas redução no ganho de peso, na eficiência alimentar (Abouheif et al., 2013) e no crescimento em dimensões do corpo (Kamalzadeh et al., 1998), assim como mudanças na prioridade de crescimento, e alguns tecidos passam a crescer menos, como por exemplo, as vísceras e o tecido adiposo (Abouheif et al., 2013).

O tecido adiposo possui baixa prioridade fisiológica, por se tratar de tecido de reserva energética do animal; desta forma, quando há restrição de nutrientes, os tecidos corporais são mobilizados na ordem inversa de sua deposição (adiposo > muscular > ósseo; Chilliard et al., 1998). As partes do corpo que maturam mais cedo na vida do animal, como os ossos, são menos afetadas pela restrição nutricional do que os componentes que maturam tardiamente, como músculo e gordura (Kamalzadeh et al., 1998).

Em muitos países de clima tropical nos quais é verificada sazonalidade na produção forrageira, o crescimento compensatório vem sendo estudado como uma possibilidade para contornar as perdas observadas durante a restrição alimentar e maximizar os ganhos nesta fase de crescimento acelerado, quando os animais são realimentados (Abouheif et al., 2013).

Outro fator importante que interfere no desempenho dos animais é o sistema de criação, pois o custo energético de manutenção de animais em pastejo pode ser de 8,0 a 30,0% maior que o de animais em confinamento, e essa variação depende, fundamentalmente, das características da pastagem e topografia (Di Marco & Aello, 2001), que pode aumentar a exigência energética necessária para execução das atividades relacionadas com o pastejo. O aumento da exigência energética de animais submetidos ao exercício físico de caminhada está associado, também, à redução no peso corporal e ganho médio diário (Sejian et al., 2012). Em garrotes submetidos ao transporte a pé por comitiva observou-se perda de peso durante o período de caminhada. Entretanto, após o término dessa caminhada, o ganho de peso permaneceu baixo, indicando que o exercício pode comprometer a recuperação destes animais (D’ Oliveira et al., 2014).



Materiais e Métodos

Foram utilizados 36 caprinos machos inteiros, com peso corporal (PC) inicial de 21±0,3 kg. O experimento consistiu em duas fases. Na primeira, os animais foram distribuídos nos tratamentos: com exercício e restrição de 10% da exigência de mantença de acordo com o NRC (2007) (EX+REST); sem exercício e restrição de 10% (S/EX+REST); com exercício e alimentados para ganho de 150 g/dia (EX+AD); e sem exercício e alimentados para ganho de 150 g/dia (S/EX+AD). Os grupos com exercício percorreram um trajeto diário de 7,5 ± 0,4 km. Após estes 50 dias iniciou-se a fase de recuperação, de 35 dias, na qual os animais receberam alimentação para ganho de 150 g/d e não foram submetidos ao exercício. Os animais receberam feno de Massai (Panicum maximum cv. Massai), e suplemento proteico-energético. O consumo foi ajustado quinzenalmente ao peso corporal dos animais para manter a proporção de volumoso: concentrado de 1,0% e 2,3% do PC em base de matéria seca (MS) de feno e 3,0% a 0,7% do PC de suplemento, respectivamente para os tratamentos sem restrição alimentar e com restrição alimentar. A avaliação da área de olho de lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS) foi realizada por meio do uso de ultrassonografia ao início e final da primeira fase e ao final da segunda fase, após serem submetidos a jejum de sólidos de 16 horas.  As medidas ultrassonográficas dos animais foram obtidas por imagens entre a 12ª e 13ª costelas (Longissimus dorsi) do lado esquerdo do animal utilizando-se o equipamento Aloka SSD 500 Micrus (Aloka Co. Ltd), com transdutor linear de 3,5 mHz e de 12 mm de comprimento. O delineamento experimental foi o inteiramente casualisado, em esquema fatorial com nove repetições. Utilizou-se o procedimento PROC MIXED do SAS para medidas repetidas no tempo. As médias de quadrados mínimos foram comparadas por teste tipo Tukey, em nível de 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Durante a fase de caminhada (15, 30 e 50 dias), as médias de peso corporal dos grupos EX+AD e S/EX+AD foram superiores aos grupos com restrição (Tabela 1). Os animais pertencentes aos grupos com restrição alimentar mantiveram seu peso estável durante a fase de caminhada, enquanto nos dois grupos EX+AD e S/EX+AD foi observado ganho progressivo em seu peso corporal. O mesmo comportamento se manteve durante a fase de recuperação (65d e 85d). Os animais pertencentes aos tratamentos EX+AD e S/EX+AD apresentaram maior GMD (121,69 ± 7,89 e 139,55 ± 7,89 g/dia, respectivamente) do que aos pertencentes ao EX+REST e S/EX+REST (6,27 ± 7,89 e 4,18 ± 7,89 g/dia, respectivamente). Os animais submetidos ao EX+AD aumentaram a AOL apenas no final do período de recuperação (85d), quando os mesmos não foram submetidos mais ao exercício de caminhada; porém, não houve mudança na EGS entre o início (0d), final da caminhada (50d) e final da recuperação (85d). No entanto, os caprinos submetidos ao S/EX+AD elevaram a AOL ao longo do tempo, demostrando uma constante deposição proteica, e mantendo a EGS durante ambas as fases (Tabela 2). Ambos os tratamentos EX+AD e S/EX+AD apresentaram maior AOL e EGS do que os animais submetidos ao EX+REST e S/EX+REST após 50 dias de caminhada e após 35 dias de recuperação (85d). Os animais submetidos ao EX+REST e S/EX+REST reduziram a AOL e EGS após 50 dias de caminhada, porém aumentaram após 35 dias de recuperação (85d). No entanto, os animais pertencentes ao grupo EX+REST e EX+AD não diferiram entre si quanto a EGS após 50 dias de caminhada e após 35 dias de recuperação (85d). Os animais pertencentes aos grupos EX+REST e S/EX+REST mantiveram seu peso durante a fase de caminhada, sendo o mesmo acompanhado de redução da AOL e EGS (Tabelas 1 a 2) o que indica redução da massa muscular e tecido adiposo dos animais em restrição alimentar. Keogh et al. (2015) também observaram, em bovinos, redução da profundidade do Longissimus dorsi e da gordura subcutânea quando os animais foram submetidos à restrição alimentar. Possivelmente, isto está relacionado ao fato de que, em animais sobre regime de restrição alimentar, há mobilização da reserva energética, assim como do tecido muscular para manter os processos de homeotermia e homeorrese. Segundo Chilliard et al. (1998), animais submetidos à restrição alimentar podem mobilizar até 75-80% dos lipídeos do corpo, enquanto apenas 15-20% da proteína corporal pode ser mobilizada. Logo, como a prioridade para síntese e deposição de gordura é menor do que a do músculo, durante o período de restrição alimentar, os nutrientes são particionados prioritariamente para os tecidos vitais. Houve aumento da AOL durante o período de recuperação; no entanto, a diferença entre os grupos que sofreram restrição alimentar e os sem restrição alimentar permaneceu. Isto é mais um indicativo de que não houve crescimento compensatório.

Conclusões

A caminhada diária de 7,5 km não reduz o desempenho dos caprinos, tanto no peso corporal como nas características de AOL e EGS. Já, a restrição alimentar leva à redução do desempenho, como diminuição do peso corporal, menor AOL e EGS. Ainda, apesar dos animais terem sido submetidos à restrição alimentar abaixo do nível de mantença e acarretar em redução no desempenho dos caprinos, não ocorreu ganho compensatório nestes animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABOUHEIF, M., AL-OWAIMER, A., KRAIDEES, M., METWALLY, H., SHAFEY, T., 2013. Effect of restricted feeding and realimentation on feed performance and carcass characteristics of growing lambs. Rev. Bras. Zootec. 42, 95–101. CHILLIARD, Y., BOCQUIER, F., DOREAU, M., 1998. Digestive and metabolic adaptations of ruminants to undernutrition, and consequences on reproduction. Reprod. Nutr. Dev. 38, 131–152. DI MARCO, O.N, AELLO, M.S., 2001 Energy expenditure due to forage intake and walking of grazing cattle. Arq. Bras. Med. Vet Zootec. 53, 100-105. D’OLIVEIRA, M.C., SOUZA, M.I.L., CORRÊA FILHO, R.A.C., MORAIS, M. DA G., ÍTAVO, C.C.B.F., FRANCO, G.L., 2014. Effects of road transportation or droving on the weight and metabolism of young bulls. Trop. Anim. Health Prod. 46, 1447–1453. KAMALZADEH, A., KOOPS, W., VAN BRUCHEM, J., 1998. Feed quality restriction and compensatory growth in growing sheep: Modelling changes in body dimensions. Livest. Prod. Sci. 53, 57–67. KEOGH, K., WATERS, S.M., KELLY, A.K., KENNY, D.A., 2015. Feed restriction and subsequent realimentation in Holstein Friesian bulls : I . Effect on animal performance; muscle, fat, and linear body measurements ; and slaughter characteristics. J. Anim. Sci. 93, 3578-3589. NRC. Nutrient Requirements of Small Ruminants: Sheep, Goats, Cervids, and New World Camelids. National Academy of Science, Washintgton, D.C. 2007. 347p. SEJIAN, V., MAURYA, V.P., NAQVI, S.M.K., 2012. Effect of walking stress on growth, physiological adaptability and endocrine responses in Malpura ewes in a semi-arid tropical environment. Int. J. Biometeorol. 56, 243–252. YAMBAYAMBA, E.S.K., PRICE, M.A., JONES, S.D.M., 1996. Compensatory growth of carcass tissues and visceral organs in beef heifers. Livest. Prod. Sci. 46, 19–32.