Efeito dos farelos de biscoito e castanha de caju como fontes energéticas alternativas em dietas com baixa e alta energia em ovelhas Morada Nova: comportamento ingestivo

Luiz Carlos Oliveira de Sousa1, Luiz Fernando da Silva César2, José Rodrigo Rodrigues de Oliveira3, Adailton Camêlo Costa4, Francisca Thais Bezerra de Moura Ferro5, Talisson Ferreira Medeiros6, Paulo de Tasso Vasconcelos Filho7, Aline Vieira Landim8
1 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito dos farelos de biscoito (FBIS) e de castanha de caju (FCC) como fontes energéticas em dietas com baixa e alta energias para ovelhas Morada Nova sobre o comportamento ingestivo. Utilizaram-se 20 ovelhas, peso vivo 31,5±4,13 kg distribuídas em um delineamento inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 2 x 2 (2 fontes energéticas x 2 concentrações de nutrientes digestíveis totais, NDT), perfazendo quatro tratamentos com cinco repetições. O ensaio teve duração de 24 dias, com 14 dias de adaptação e após esse período, por três dias consecutivos, realizou-se as observações das atividades de ingestão, ruminação, ócio e outras atividades. Não houve efeito das fontes energéticas (P>0,05) nos parâmetros de comportamento, contudo na dieta com baixo NDT houve maior tempo de ruminação (P<0,05). A adição do FBIS e do FCC, adicionados em dietas com baixo e alto teor de NDT não altera o padrão normal do comportamento ingestivo de ovelhas Morada Nova.

Palavras-chave: coprodutos, NDT, ovinos naturalizados, semiárido

Effect of biscuit and cashew nut meal as energetics sources in diets with low and high energy in Morada Nova hair ewes: ingestive behavior

ABSTRACT - The aim was to evaluate the effect of biscuit meal (BISM) and cashew nuts meal (CNM) as energetic sources in diets with low and high energy in Morada Nova hair ewes on the ingestive behavior. Twenty ewes, live weight 31.5 ± 4.13 kg distributed in a completely randomized design, in a 2 x 2 factorial scheme (2 energetics sources x 2 concentrations of total digestible nutrients, TDN) were used, being four treatments, with five repetitions each. The trial lasted 24-d, with 14-d of adaptation, and after that period, by three days consecutives, were carried the observations of the activities spent to ingestion, rumination, idle and other activities. There was no effect of energetic sources and NDT concentrations (P> 0.05) on parameters of ingestive behavior, however, in diet of low TDN there was higher rumination time (P<0,05). The addition of BISM and CNM added in diets with low and high TDN content not alter the normal stand of ingestive behavior of Morada Nova hair ewes.
Keywords: coproduct, naturalized sheep, semiarid, TDN


Introdução

A raça Morada Nova é uma raça nativa de ovinos deslanados do Nordeste do Brasil, de pequeno porte e apresenta características determinantes em um sistema de produção de carne, como rusticidade, adaptabilidade e bom ganho de peso. Atualmente, diferentes pesquisas têm sido realizadas com o intuito avaliar a utilização de subprodutos da indústria, como fontes proteica e/ou energéticas alternativas para compor a dieta de ruminantes. Destaca-se nesse sentido, o FCC, que apresenta alto valor nutricional, i.e., energia, devido alto teor de extrato etéreo, podendo substituir parcialmente o milho. O FBIS, por sua vez, apresenta-se como alternativa energética, por possuir elevado teor de amido rapidamente fermentescível, e também pode ser usado em substituição parcial ao milho, implicando entre outras vantagens, em diminuição do custo das rações. Em vista disso, o estudo do comportamento ingestivo, propicia avaliar os aspectos nutricionais, como qualidade, viabilidade e compreender as respostas fisiológicas dos animais, e elucidar problemas relacionados com possíveis reduções do consumo. Objetivou-se avaliar o efeito do farelo de biscoito e do farelo de castanha de caju como fontes energéticas alternativas em dietas com baixa e alta energia para ovelhas Morada Nova sobre o comportamento ingestivo.

Revisão Bibliográfica

Atualmente, diferentes pesquisas têm sido realizadas avaliando a utilização de subprodutos da indústria, que apresentam bom potencial e disponibilidade para ser usado como opção de fonte proteica e/ou energética na dieta de ruminantes, auxiliando nos problemas relacionados escassez de alimentos determinado mais fortemente durante a época crítica (Costa et al., 2007). Ao formular uma ração, é necessário considerar os níveis de energia presentes nos alimentos, pois a disponibilidade de energia inferior às exigências do animal, reduz o crescimento e a fertilidade e retarda o ganho de peso, além de aumentar a suscetibilidade a doenças infecciosas e parasitárias. Por outro lado, o excesso de energia também é prejudicial, por ocasionar deposição excessiva de gordura, podendo ocorrer desequilíbrio com os outros nutrientes. Portanto, a quantidade de energia para compor uma dieta varia de acordo com o estágio fisiológico em que o animal se encontra, devendo ser dimensionada segundo as exigências para mantença, crescimento, produção, gestação ou lactação (NRC, 2007).

Materiais e Métodos

O ensaio foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral, CE, conforme procedimentos estabelecidos pelo CEUA/UVA (n°006.09.015.UVA.504.02). Foram utilizadas 20 ovelhas da raça Morada Nova, com peso vivo de 31,5 ± 4.13 kg, distribuídas em um delineamento inteiramente casualisado, em esquema fatorial 2 x 2 (2 fontes energéticas x 2 concentrações de NDT), totalizando quatros tratamentos, com cinco repetições. Os animais foram alojados em gaiolas metálicas de metabolismo dotadas de comedouros, bebedouros e saleiros plásticos e dispositivos apropriados para coleta de fezes e urina. As dietas foram constituídas por feno Tifton 85, milho, farelo de soja, calcário, além dos FBIS e FCC. Para composição dos tratamentos, considerou-se as exigências nutricionais para ovinos em sobreano em condição de manutenção mais crescimento. Todas as dietas foram isoproteicas, contudo, para os teores de energia (%NDT), foi imposta uma variação de 20% inferior e superior à exigência recomendada pelo NRC (2007). As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia (8h e às 16h). Previamente, realizou-se um ensaio de consumo, que teve duração de 24 dias, com 14 dias de adaptação, e após esse período, por três dias consecutivos, as observações do comportamento ingestivo registrados em intervalos de 5-5 min, a saber: atividades despendidas para ingestão, ruminação, ócio e outras atividades conforme descrito por Johnson e Combs (1991). Os animais foram mantidos durante todo experimento sob iluminação contínua. Para determinação do consumo dos nutrientes, foi registrado diariamente mediante pesagem, a quantidade da dieta fornecida e das sobras do dia anterior. As médias foram comparadas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas pelo Proc GLM do Statistical Analysis System - SAS® 9.0.

Resultados e Discussão

Não houve efeito das fontes energéticas (P>0,05) nos parâmetros de comportamento, contudo, nas dietas, foi verificado maior tempo de ruminação para os animais submetidos a dieta com baixo NDT (Tabela 1; P<0,05). A não diferença no comportamento ingestivo, notadamente, para o tempo despendido com a ingestão (TI) está diretamente relacionado com o manejo adotado, uma vez que as dietas foram fornecidas nos mesmo períodos (8h e 16h). Portanto, foi observado para TI maior assiduidade durante o dia (82,30%) o que corresponde aos períodos (P1 e P2), logo imediatamente ao fornecimento das dietas (Figura 1). Animais ruminantes possuem um padrão diário de alimentação, seja em confinamento ou solto à pasto, sendo que o tempo de distribuição dos alimentos, quantidade fornecida e frequência de fornecimento são considerados fatores de importante influência na atividade de ingestão (Pimentel et al., 2011). O tempo médio de ingestão de alimentos foi 2,65 horas/dia (Tabela 1). Provavelmente esse baixo tempo para os animais submetidos à condição de confinamento pode ser em decorrência do atendimento rápido das exigências energéticas. Esquematicamente, para animais alimentados com dietas muito digestíveis, proporciona-se um aumento na ingestão de alimentos com o aumento da taxa de digestão deste alimento no rúmen (estágio de regulação física); quando o suprimento de energia excede a exigência, a ingestão de alimentos decresce (estágio de regulação química) (Dulphy et al., 1980). O tempo médio gasto com a ruminação pelos animais submetidos às dietas foi de 6,02 horas/dia. É importante salientar, que o tempo despendido em ruminação é influenciado pela natureza da dieta e, provavelmente, é proporcional ao teor de parede celular dos volumosos o que explica maior tempo de ruminação para dieta com baixo NDT. Assim, quanto maior a participação de alimentos volumosos na dieta, maior o tempo despendido com ruminação (Van Soest, 1994).

Conclusões

A adição do farelo de biscoito e do farelo de castanha de caju, adicionados em dietas com baixo e alto teor de NDT não altera o padrão normal do comportamento ingestivo de ovelhas Morada Nova.

Gráficos e Tabelas




Referências

COSTA, R.G.; CORREIA, M.X.C.; SILVA, J.H.V. da; MEDEIROS, A.N. de; CARVALHO, F.F.R. de. Effect of different levels of dehydrated pineapple by-products on intake, digestibility and performance of growing goats. Small Ruminant Research, v.71, p.138-143, 2007.   DULPHY, J.P. REMOND, B. THERIEZ, M. Ingestive behavior and related activities in ruminants. In: RUCKEBUSCH, Y; TRIVEND, P (Eds). Digestive physiology and metabolism in ruminants. 1.ed. Lancaster: MTP Press Limited, 1980. p.103-122.   JOHNSON, T.R., COMBS, D.K. Effects of prepartum diet, inert rúmen bulk, and dietary polythyleneglicol on dry matterin take of lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.74, n.3, p.933-944, 1991.   NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient Requirements of Small Ruminants: Sheep, Goats, Cervids, and New World Camelids. 1.ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 2007. 384p.   PIMENTEL, P.G.; PEREIRA, E.S.; QUEIROZ, A.C.; MIZUBUTI, I.Y.; REGADAS FILHO, J.G.L.; MAIA, I.S.G.; Intake, apparent nutrient digestibility and ingestive behavior of sheep feed cashew nut meal. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.5, p.1128-1133, 2011. VAN SOEST, P.J. Nutritional Ecology of the Ruminant. 2.ed. Ithaca: Comstock Publication Association, 1994. 476p