Efeito dos taninos de diferentes espécies forrageiras sobre parâmetros ruminais de bovinos de corte

Roberta Cavalcante Cracco1, Gisele Maria Fagundes2, Gabriela Benetel3, Flávia Alves Melo4, Katiéli Caroline Welter5, Caroline Matos da Silva6, Tatiane Ninomya Ribeiro7, Ives Cláudio da Silva Bueno8
1 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
2 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
3 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
4 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
5 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
6 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
7 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.
8 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Universidade de São Paulo.

RESUMO -

Os taninos são polifenóis presente em alguns tipos de vegetais com propriedades bioativas capazes de alterar a fermentação ruminal, tornando-se alternativa natural aos ionóforos na alimentação de ruminantes. O objetivo do estudo foi avaliar o efeito dos taninos de 10 espécies de leguminosas sobre parâmetros ruminais de bovinos de corte. O delineamento utilizado foi em blocos aleatorizados em fatorial, com 4 blocos (inóculos provenientes de 4 animais doadores), sendo 24 tratamentos (2 controles e 10 plantas com e sem polietileno glicol), quatro blocos, e duas réplicas dentro de cada bloco. O efeito dos taninos sobre a fermentação ruminal foi avaliado por meio da técnica in vitro semiautomática da produção de gases. As espécies D. ovalifolium, D. paniculatum, L. procumbens e L. leucocephala apresentaram resultaram em menores taxas de fermentação e concentrações de NNH3 in vitro.

Palavras-chave: Compostos bioativos, Flavonoides, Leguminosas, Ruminantes

Effect of tannins of different forage species on ruminal parameters of beef cattle

ABSTRACT - Tannins are polyphenols present in some types of vegetables with bioactive properties capable of altering ruminal fermentation, becoming a natural alternative to ionophores in ruminant feed. The objective of the study was to evaluate the effect of tannins of 10 legume species on ruminal parameters in beef cattle. The design was factorials arranged in randomized blocks, with 4 blocks (inocula from 4 donor animals), 24 treatments (2 controls and 10 plants with an without polietilene glicol) and 2 replicates within each block. Semi-automatic in vitro gas production technique was used to evaluate the tannin effect on ruminal fermentation. The species D. ovalifolium, D. paniculatum, L. procumbens and L. leucocephala presented lower in vitro fermentation rates and lower NNH3 concentrations.
Keywords: Bioactive compounds, Flavonoids, Legumes, Ruminants


Introdução

Os taninos têm sido alvo de estudos na nutrição de ruminantes, visto que estes podem ser capazes de alterar favoravelmente a fermentação ruminal, devido sua ação contra determinados microrganismos do rúmen. No entanto, nem todos os tipos e concentrações de taninos possuem atividade biológica. Por conta da grande variabilidade na formação da sua estrutura, a obtenção de uma alta reatividade de suas subunidades com outras macromoléculas, o processo de isolamento, identificação e quantificação torna-se bastante complexo (Monteiro et al., 2005). Dessa forma, o estudo teve o objetivo de avaliar a reatividade dos taninos presente em diferentes espécies de plantas forrageiras sobre parâmetros ruminais em bovinos de corte.

Revisão Bibliográfica

As plantas se defendem do processo de herbivoria de insetos e animias por vários caminhos, seja por estruturas convencionais como espinhos ou pêlos urticantes ou ainda por sofisticadas defesas químicas, como os taninos (Monteiro et al., 2005). O termo "tanino" refere-se a “tanante”, substância usada no processo de curtimento do couro; estes também são responsáveis pela adstringência de bebidas populares, como chá e o vinho (Waghorn, 2008). Os taninos são amplamente distribuídos em leguminosas forrageiras arbóreas e arbustivas nutricionalmente importantes, e também em grãos e cereais que frequentemente limitam sua utilização para animais, pois possuem capacidade de precipitar proteínas e causar alterações na microbiota ruminal (Patra & Saxena, 2011).

Materiais e Métodos

O efeito das forrageiras estudadas sobre a fermentação ruminal foi avaliado por meio da técnica in vitro semiautomática da produção de gases (Theodorou et al., 1999). O delineamento experimental utilizado foi em blocos aleatorizados em arranjo fatorial, sendo 24 tratamentos: 12 forrageiras (dez leguminosas e 2 controles) com e sem polietilenoglicol (PEG), com 4 repetições (blocos) e duas réplicas dentro de cada bloco. Foram incubadas em garrafas de vidro de 160 mL 1 g de cada uma das espécies de plantas avaliadas com e sem PEG (Flemingia macrophylla, Leucaena leucocephala, Stylosanthes guianensis, Gliricidia sepium, Cratylia argentea, Cajanus cajan, Desmodium ovalifolium e Macrotiloma axilare, Desmodium paniculatum e Lespedeza procumbens).  O PEG foi utilizado para neutralizar os efeitos dos taninos. Duas espécies controle (Cynodon sp. e Medicago sativa) também foram incluídas no ensaio experimental. As medições da produção de gases acumulado para cada tratamento foram lidas após 0, 3, 6, 9, 12, 18, 24, 30, 34, 48, 60, 72 e 96h de incubação. No tempo final da incubação, 96 horas, a fermentação foi interrompida e os frascos colocados em recipientes com gelo para inibir a fermentação. Uma amostra do líquido ruminal de cada frasco foi coletada para a análise de NNH3. A degradabilidade da matéria seca (DMS) foi obtida pela filtragem dos resíduos da fermentação em cadinhos (porosidade 1) forrados com lã de vidro e posterior secagem em estufa (100°C) para determinação do resíduo. Pela diferença dos resíduos (cinzas) da queima em mufla (600°C) foi estimado a degradabilidade da matéria orgânica (DMO). Os parâmetros avaliados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e o teste de média utilizado na comparação entre as diferentes espécies de plantas foi o Duncan e na comparação entre o desdobramento com e sem PEG nas espécies o teste t, ambos ao nível de 5% de probabilidade. Os procedimentos estatísticos foram obtidos com auxílio do programa SAS 9.2.

Resultados e Discussão

Os resultados dos tratamentos comparados entre si e em comparação com e sem PEG de cada espécie se encontram na Tabela 1. Os controles Tifton e alfafa apresentaram maior DMS e DMO. Dentre as plantas avaliadas, S. guianensis, G. sepium e M. axilare degradabilidade, seguida de L. leucocephala e C. argentea com degradabilidade intermediária. Já as espécies L. procumbens, D. paniculatum e F. macrophylla resultaram em baixa degradabilidade in vitro. No entanto, em presença de PEG, estas últimas juntamente com L. leucocephala apresentaram degradabilidade superior, comprovando o efeito inibitório dos taninos sobre a fermentação nestas forrageiras. Em concordância ao estudo, Bueno et al. (2015) também observaram menor degradabilidade in vitro no tratamento com taninos. Conforme pode ser observado na Tabela 1, as espécies D. ovalifolium, D. paniculatum, L. procumbens e L. leucocephala apresentaram teores de NNH3 no rúmen significativamente menores em comparação ao tratamento com PEG, o que retrata a reatividade do complexo tanino-proteina presente nestas forrageiras. Bhatta et al. (2013) em estudo com diferentes tipos de espécies taniníferas também observaram aumento nas concentrações de NNH3 em algumas plantas com a adição de PEG.

Conclusões

Dentre as forrageiras estudadas, os taninos nas espécies D. ovalifolium, D. paniculatum, L. procumbens e L. leucocephala apresentaram maior reatividade, resultando em menores taxas de fermentação e concentrações de NNH3 in vitro.

Gráficos e Tabelas




Referências

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