EFEITO ENTRE O pH DA ÁGUA E DENSIDADE DE ESTOCAGEM NO CRESCIMENTO E FLUXO IÔNICO DE TILÁPIA-DO-NILO

Carlos Henrique da Paixão Lemos1, Samantha Chung2, José Rogério Souza da Silva3, Carlos Eduardo Copatti4, Claudio Vaz Di Mambro Ribeiro5
1 - Universidade Ferderal da Bahia
2 - Universidade Ferderal da Bahia
3 - Universidade Ferderal da Bahia
4 - Universidade Ferderal da Bahia
5 - Universidade Ferderal da Bahia

RESUMO -

O trabalho objetivou avaliar a interação de pH e densidade de estocagem (DE), no crescimento e fluxo de íons de juvenis de tilápia-do-Nilo. Foram testadas três DE (0,54; 1,08 e 2,16 kg/m³) sob três níveis de pH (5,74; 7,14 e 8,62) por 60 dias. Os peixes expostos a DE 2,16 kg m³ apresentaram peso, ganho de peso e comprimento menores que a DE 0,54 kg/m³ em todos os pHs (P<0,05). A biomassa foi menor nos pHs 7,14 e 8,62 nas DEs 0,54 e 1,08 kg/m³ (P<0,05). No geral, ocorreu efluxo de Na+ e influxo de Cl- nos dias 2 e 30 de experimento. No dia 2, os peixes apresentaram influxo de Na+ no pH 7,14 e DE 0,54 kg/m³ que diferiu estatisticamente dos efluxos de Na+ nas demais DE e mesmo pH e no pH 8,62 na mesma DE (P<0,05). No dia 30, o efluxo de Na+ foi menor em peixes expostos ao pH 5,72 em relação ao pH 7,14 para a DE 0,54 kg/m³ (P<0,05). Em conclusão, a maior DE reduziu os parâmetros biométricos de tilápia-do-Nilo (exceto biomassa) e, as maiores perdas de íons Na+ ocorreram no pH neutro.

Palavras-chave: Na+, Cl-, ganho de peso, biomassa

INTERACION BETWEEN pH AND STOCKING DENSITY IN THE GROWTH AND ION FLUXES OF NILE TILAPIA

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the interaction of pH and storage density (SD) on growth and ions fluxes of Nile tilapia juveniles. They were tested three SDs (0.54; 1.08 and 2.16 kg/m³) under three pH levels (5.74, 7.14 and 8.62) for 60 days. The fish exposed to SD 2.16 kg/m³ fish presented weight, weight gain and length smaller than SD 0.54 kg/m³ at all pH (P <0.05). The biomass was lower at pH 7.14 and 8.62 at SD 0,54 and 1,08 kg/m³ (P <0.05). In general, Na+ efflux and Cl- influx occurred on days 2 and 30 of the experiment. On day 2, the fish had an influx of Na+ at pH 7.14 and SD 0.54 kg/m³ , which differed statistically from the Na+ efflux in the other SD and the same pH and the pH 8.62 in the same SD (P <0.05). On day 30, the Na+ efflux was lower in fish exposed to pH 5.72 than in pH 7.14 for SD 0.54 kg/m³ (P <0.05). In conclusion, the higher SD reduced the biometric parameters of Nile tilapia (excpt biomass) and, the higher losses of Na+ ions occurred at neutral pH.
Keywords: Na+, Cl-, weight gain, biomass


Introdução

A intensificação da produção aquícola para atender à crescente demanda de peixes na alimentação humana expõe continuamente os animais a situações estressantes (CHAGAS et al., 2009). Tais situações comprometem o desenvolvimento, diminuem o sistema imune e reduzem a sobrevivência de peixes (BARCELLOS et al., 2011). Dentre os agentes estressantes que podem comprometer o bem-estar animal e a produtividade do setor, atenção deve ser dada ao pH e a densidade de estocagem (DE). Situações como baixa exposição a condições extremas de pH desencadeiam estresse e danos aos peixes (YOUSEFIAN & AMIRI, 2009). A alta DE eleva a disputa pelo alimento, influenciando diretamente o desempenho dos peixes (BARCELLOS et al., 2004).

A tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) é uma das espécies mais cultivadas do mundo (FAO, 2014). Destacando-se pela rusticidade, rápido crescimento, necessidade de pouco capital de giro para seu cultivo e boa aceitação no mercado (FURUYA et al., 2005). Contudo não existem estudos avaliando o estresse causado pela interação do pH e DE e as respostas geradas a estes agentes. Uma vez que são necessários para proporcionar maior qualidade no cultivo, bem como o bem-estar dos peixes. O objetivo deste estudo foi verificar o efeito da interação de pH e DE no desempenho e fluxos dos íons Na+ e Cl-  em juvenis de tilápia-do-Nilo.



Revisão Bibliográfica

A necessidade de intensificar os sistemas de criação para atender a demanda de peixes na alimentação humana expõe os peixes a situações estressantes (CHAGAS et al., 2009). Tais situações afetam o bem-estar dos animais. Dentre os agentes estressantes que podem afetar negativamente a produção, atenção deve ser dada ao pH e a densidade de estocagem (DE).

 Situações como baixa ou elevada exposição a condições extremas de pH desencadeiam estresse e danos aos peixes (YOUSEFIAN & AMIRI, 2009), resultando em perdas de crescimento e até mortalidade. A maioria das espécies de peixes é afetada quando exposta a um pH inferior a 6,0 ou superior a 9,0.

A acidificação da água pode ocorrer pela presença de íons Al3+, ácido sulfúrico (ZWEIG et al., 1999), ácidos húmicos e fúlvicos. As variações do pH podem ser influenciadas por seres fotossintetizantes, pois durante o dia, consomem o CO2 dissolvido (elevando o pH) e durante a noite, a taxa fotossintética diminui, o que acarreta maior excreção de CO2, acidificando o sistema.  Outros fatores que influenciam na alcalinização é a elevação de níveis de carbonato e outros íons. Rebouças et al. (2015) observaram que juvenis de tilápia tiveram o peso mais baixo quando submetidos ao pH 8,0 em relação aos níveis 4, 5 e 6.

A DE é outro parâmetro que interfere no crescimento e na sobrevivência. Altas DE causam estresse, devido ao aumento da atividade natatória dos peixes, levando a maior demanda catabólica e aumento da área branquial, ocasionando perdas de íons e diminuição do oxigênio dissolvido (ÇAGILTAY et al., 2015). Além de aumentar a contaminação da água pelo excesso de excreção nitrogenada. Baixas DE influencia o aparecimento de classes hierárquicas, ocasionado agressões devido à monopolização das zonas, o que desencadeia um crescimento desigual (HASENBEIN et al., 2016). Estudo de DE com tilápia realizada por García-Trejo et al. (2016) mostrou que o ganho individual de peso pelo comprimento final foi maior para tratamentos com baixa DE.

As análises hematológicas, iônicas e bioquímicas, bem como o desempenho produtivo, podem dar respostas fundamentais ao estresse dos peixes, avaliando o estado de saúde e a fase de desenvolvimento dos mesmos em reposta às condições ambientais (BARCELLOS et al., 2000). 



Materiais e Métodos

Os procedimentos experimentais ocorreram na Universidade Federal da Bahia. Foram utilizados juvenis de tilápia-do-Nilo (n= 1512) com peso médio de 7g. Os peixes foram acondicionados em caixas de 200 L e submetidos a três diferentes níveis de DE (0,54; 1,08 e 2,16 kg/m3) em três diferentes faixas de pH (5,74; 7,14 e 8,62) em quadruplicata (n= 36 tanques) durante 60 dias. O controle do pH foi mantido com adição de 5 N de NaOH ou H2SO4, diariamente, entre 8:00-17:00 h. A ração tipo pellet (35% PB, 3.600 kcal/kg ED) foi ofertada duas vezes ao dia. Variáveis físico-químicas da água (amônia, alcalinidade, dureza, oxigênio, pH e temperatura) foram monitoradas durante o experimento.

As medidas de fluxo iônico (Nae Cl-) foram tomadas nos dias 2 e 30 (n=4 peixes por tanque). Cada espécime permaneceu em uma caixa plástica transparente com 310 mL de água durante 2 h, retirando-se 10 mL de água antes da colocação dos espécimes, e também após 2 h de exposição. As concentrações dos íons Na+ e Cl- foram medidos em fotômetro de chama e técnica de Zall et al. (1956), respectivamente. Para a avaliação do desempenho zootécnico, foram avaliados sobrevivência, peso total, comprimento total, ganho de peso diário, taxa de crescimento específico e biomassa.

Foi testada a homocedasticidade (teste de Levene) das variâncias. Os dados foram avaliados por análise de variância de duas vias (pH X DE) seguida pelo teste post-hoc de Tukey. Significância foi declara a 5% de probabilidade (P < 0,05).



Resultados e Discussão

A sobrevivência variou de 89 a 100%, não diferindo significativamente entre os tratamentos. Os peixes expostos a DE 2,16 kg/m3 apresentaram peso, ganho de peso e comprimento menores que a DE 0,54 kg/mem todos os pH (P<0,05). A biomassa foi menor nos pH 7,14 e 8,62 nas DE 0,54 e 1,08 kg/m(P<0,05). Não ocorreram diferenças significativas para taxa de crescimento específico (Tabela 1). Altas DE são frequentemente associados com reduzida ingestão de alimentos (PAPOUTSOGLOU et al., 2006). E consequentemente ao menor crescimento (SAMMOUTH et al., 2009). Para biomassa total, tanto no pH 7,5 quanto no pH 9,0; a DE 0,54 e 1,08 0 kg/m3 apresentaram menores (P<0,05) valores que a DE 2,16 kg/m3. Tais valores estão associados ao maior número de indivíduos no tanque.

No geral, ocorreu efluxo de Na+ e influxo de Cl- nos dias 2 e 30 de experimento. No dia 2, os peixes apresentaram influxo de Na+ no pH 7,14 e DE 0,54 kg/m3 que diferiu estatisticamente dos efluxos de Na+ nas demais DE e mesmo pH e no pH 8,62 na mesma DE (P<0,05). No dia 30, o efluxo de Na+ foi menor em peixes expostos ao pH 5,72 em relação ao pH 7,14 para a DE 0,54 kg/m3 (P<0,05). Não houve diferença estatística para os fluxos de Cl-, nos dias 2 e 30 (Figura 1). Baixas DE contribuem para o aparecimento de comportamentos territorialistas, gerando agressões (HASENBEIN et al., 2016). Tais agressões contribuíram para uma maior atividade natatória (perseguição x fuga), acarretando no aumento da área branquial (ÇAGILTAY et al., 2015). Isto pode explicar o influxo dos peixes quando submetidos as caixas plásticas durante 2 horas. Devido a maior área branquial (estresse), os espécimes absorveram o Na+ da água.



Conclusões

Embora a maior DE forneça uma biomassa final maior de juvenis de tilápia-do-Nilo, esta DE influenciou negativamente o peso total, ganho de peso diário e comprimento total. Este estudo também demostrou que as maiores perdas de íons Na+ ocorreram no pH neutro e baixa DE.



Gráficos e Tabelas




Referências

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