EFEITO DO NÍVEL DE SUPLEMENTAÇÃO SOBRE PADRÕES COMPORTAMENTAIS DE BEZERROS EM TIFTON 85

LUIZ ANGELO DAMIAN PIZZUTI1, DARI CELESTINO ALVES FILHO2, IVAN LUIZ BRONDANI3, JOZIANE MICHELON COCCO4, PATRÍCIA MACHADO MARTINI5, CAMILE CARIJO DOMINGUES6, SANDER MARTINHO ADAMS7, MARCELO ASCOLI DA SILVA8
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar os padrões comportamentais (PC) de bezerros desmamados e mantidos em pastagem de Tifton 85, recebendo diferentes níveis de suplementação concentrada. Foram utilizados 28 bezerros castrados, com idade média inicial de 4,5 meses, divididos em quatro níveis de suplementação: 0,29; 0,5; 1,0 e 1,5% do PC com base em matéria seca. O tempo médio diário de pastejo dos animais correspondeu a 9h53min; 9h03min; 7h20min e 5h48min, respectivamente para os tratamentos 0,29; 0,5; 1,0 e 1,5% do PC. Para todos os tratamentos os picos de pastejo com maiores durações ocorreram entre as 6-9h e 16-19h. Houve interação entre tratamento e período para a variável tempo de ruminação, com variações nos períodos intermediários, não havendo diferença no tempo de ruminação no primeiro e último período. A diminuição no tempo de pastejo não condiciona a menor tempo de ruminação, mesmo com maior ingestão de alimento com baixo teor de fibra detergente neutro para os maiores níveis de suplementação.

Palavras-chave: pastejo, ruminação

EFFECT OF SUPPLEMENTATION LEVEL ON THE BEHAVIORAL PATTERNS OF CALVES IN TIFTON 85

ABSTRACT - The objective was to evaluate the behavioral patterns of calves weaned and kept in Tifton 85 pasture, receiving different levels of concentrated supplementation. We used 28 castrated calves, with initial mean age of 4.5 months, divided into four levels of supplementation: 0.29; 0.5; 1.0 and 1.5% of the CP based on dry matter. The mean daily grazing time of the animals corresponded to 9h53min; 9:03 min; 7:20 and 5:48 min, respectively for treatments 0.29; 0.5; 1.0 and 1.5% of PC. For all treatments, grazing peaks with longer durations occurred between 6-9h and 16-19h. There was interaction between treatment and period for the rumination time variable, with variations in the intermediate periods, with no difference in rumination time in the first and last period. The decrease in grazing time does not affect the less rumination time, even with higher feed intake with low neutral detergent fiber content for higher levels of supplementation.
Keywords: grazing, rumination


Introdução

Vários são os entendimentos que envolvem a produção de bovinos de corte, principalmente quando se está trabalhando com animais em sistema de pastejo. A variável comportamento animal interfere no sistema de produção e é um fator muitas vezes determinante dos resultados obtidos. Esse enfoque é relevante principalmente em função do animal ser capaz de demonstrar por meio de seu comportamento, as características quanti-qualitativas do ambiente pastoril (CARVALHO et al., 2008). Dessa forma, a própria gestão do animal em seu ambiente de pastejo passa a compor um contexto mais complexo do que a simples determinação, por exemplo, do tipo animal (demanda e nicho alimentar), da taxa de lotação (intensidade de pastejo) e de sua distribuição (métodos de pastejo) (CARVALHO et al., 2009).

Quando bovinos são suplementados, novas variáveis interferem no consumo de nutrientes e mudam conforme as características da base forrageira e do suplemento (HODGSON, 1990). A suplementação também compromete as variáveis relacionadas ao comportamento ingestivo, não só pela quantidade de alimento ingerido, mas também por sua composição e pela razão volumoso: concentrado (SILVA et al., 2010).

Dessa forma, objetivou-se avaliar o efeito dos níveis de suplementação sobre os padrões comportamentais de bezerros desmamados em pastagem de Tifton 85.



Revisão Bibliográfica

A produção da pecuária de corte mais rentável a partir de forragens depende em larga escala da quantidade e da qualidade da forragem produzida, da capacidade do animal para colher e utilizar de forma eficiente à forragem e da capacidade do produtor em gerir os recursos a sua disposição (FORBES, 1988). O conhecimento dos padrões de comportamento de escolha, localização e ingestão a pasto pelo animal, são de fundamental importância quando se pretende estabelecer práticas de manejo (ZANINE et al., 2007). Fatores relacionados à planta e ao animal, como a quantidade e a forma como a forragem é fornecida ao animal determinam diferentes respostas no consumo e desempenho (ROMAN et al., 2007). Para Macari et al. (2007), o aumento da quantidade de suplemento fornecido aos animais em pastejo, modificou o comportamento ingestivo diurno de bezerras de corte, uma vez que reduziu o tempo de pastejo, aumentando o tempo de ócio, sem afetar o tempo de ruminação. A compreensão dos padrões naturais do comportamento do pastejo pelos ruminantes e suas reações às restrições que lhe são impostas, pode melhorar e eficiência de utilização deste recurso durante o processo de ingestão de cada animal (GIBB, 2006). Esse processo de ingestão, caracterizado pela interface planta-animal, é um complexo sistema de interações que existem quando os animais entram em contato com a forragem, sendo regulado pelo tamanho do bocado, taxa de apreensão e tempo de pastejo (ERLINGER et al., 1990). A abordagem mecanicista da ingestão pode fornecer uma base para estudar como as variações no pasto e as características dos animais influenciam o consumo de forragem (ERLINGER et al., 1990). O uso de suplementação concentrada para ruminantes a pasto também pode influenciar a produção e o comportamento animal por estimular ou inibir o consumo da forragem, uma vez que a resposta ao tipo de suplementação, tanto energética como proteica, provoca mudanças nos hábitos comportamentais do animal (pastejo, ruminação, ócio e outras atividades como micção, defecação, ingestão de água), influenciando o desempenho desses animais (POMPEU et al., 2009). A suplementação modifica o comportamento ingestivo, provocando redução no tempo de pastejo, número de bocados por minuto e número de bocados totais, porém, aumenta o tempo de descanso e de caminhada dos animais (PARDO et al., 2003).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Bovinocultura de Corte da Universidade Federal de Santa Maria-RS. A área experimental utilizada correspondeu a 2,6 ha de capim bermuda Tifton 85 (Cynodon ssp.), dividida em 12 piquetes de 0,217 ha cada, onde foram manejados os animais testes. O período experimental foi de 15 de janeiro a 02 de junho do ano de 2012, totalizando 140 dias, dividido em cinco períodos de 28 dias. Foram utilizados bezerros castrados, com idade média inicial de 4,5 meses e peso corporal médio inicial de 128,3 + 26,7 kg. Os tratamentos consistiram em quatro níveis de suplementação: 0,29; 0,5; 1,0 e 1,5% de peso corporal com base em matéria seca, com fornecimento único do suplemento às 11h. As observações do comportamento animal foram realizadas em dois piquetes de cada tratamento, contendo três e quatro animais cada, totalizando sete animais observados por tratamento em cada período de avaliação. As avaliações do comportamento ingestivo foram realizadas: 1ª: 26 e 27/01/12; 2ª: 05 e 06/03/12; 3ª: 29 e 30/03/12; 4ª: 26 e 27/04/12; 5ª: 28 e 29/05/12, durante 24 horas ininterruptas, com início e término às 7h. A cada 10 minutos foram registradas as atividades em minutos de pastejo e ruminação. O tempo de pastejo foi considerado o período no qual ocorreu a prática de apreensão da forragem pelo animal, incluindo pequenos deslocamentos. O tempo de ruminação foi considerado o período em que o animal não estava pastejando, entretanto, estava mastigando o bolo alimentar regurgitado do rúmen. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em fatorial 4 x 5 (quatro tratamentos x cinco períodos). Para as variáveis que apresentaram interação significativa (tratamento x período), as médias de cada tratamento dentro do período foram analisadas pelo teste t de Student, e as médias de cada tratamento em função dos períodos, através de regressão polinomial. As análises dos dados foram realizadas através do programa SAS, versão 8.01 (2001).

Resultados e Discussão

O tempo de pastejo dos tratamentos apresentou interação (P<0,01) com os períodos (Figura 1). Apesar das regressões demonstrarem comportamentos diferentes ao longo dos períodos de pastejo, os tratamentos 0,29 e 0,5% do PC, apresentaram diferenças no tempo de pastejo apenas no quarto período quando este foi maior para o tratamento 0,29% do PC. Os tempos de pastejo dos tratamentos 0,5 e 1,0% do PC não diferiram no terceiro e quinto período. O tratamento 1,5% do PC diminuiu linearmente seu tempo de pastejo no decorrer do período experimental, sendo distinto de todos os demais tratamentos, com exceção do primeiro período quando seu comportamento foi semelhante ao tratamento 1,0% do PC. Vendramini et al. (2007) avaliando o comportamento durante 12 horas de bezerros suplementados com 1,0; 1,5 e 2,0% do PC, observaram redução linear no tempo de pastejo a medida que elevou-se o nível de suplementação. No presente experimento o nível 2,0% do PC não foi avaliado, porém, o comportamento do nível 1,5% do PC corrobora com Vendramini et al. (2007). O tempo médio de pastejo dos animais correspondeu a 9h53min; 9h03min; 7h20min e 5h48min, representando 38,26; 37,72; 30,94 e 23,94% do tempo diário, respectivamente para os tratamentos 0,29; 0,5; 1,0 e 1,5% do PC. A suplementação com 1,0 e 1,5% do PC reduziu em 20,31% e 37,07% o tempo médio de pastejo dos animais em relação ao tratamento 0,29% do PC. A redução no tempo de pastejo é sustentada pelo aumento do nível de concentrado, correlação de -0,92 (P<0,0001). Para os tratamentos 0,29 e 0,5% do PC verificou-se que após a suplementação, às 11h, os bezerros continuaram o pastejo, pois tiveram menor gasto de tempo com o consumo do suplemento. Os tratamentos 1,0 e 1,5% do PC reduziram o tempo de pastejo no período pós-suplementação. Houve interação (P<0,01) entre tratamento e período para a variável tempo de ruminação (Figura 2). As principais variações ocorreram nos períodos intermediários, não havendo diferença entre o tempo de ruminação no primeiro e último período. No segundo e quarto períodos somente o tratamento 1,5% do PC diferiu dos demais, sendo que, no terceiro período, não houve diferença para o tempo despendido para ruminação entre os tratamentos 0,29; 0,5 e 1,5% do PC e para os tratamentos 0,5 e 1,0% do PC. O aumento no tempo de pastejo não contribuiu para o aumento da ruminação, não existindo correlação entre ambos, além de que, o nível 1,0% do PC, comportou-se de maneira semelhante aos tratamentos 0,29 e 0,5% do PC, com exceção do terceiro período, fato não observado no tempo de pastejo. Era de se esperar que o tempo de ruminação dos bezerros suplementados com 1,0% do PC fosse menor, principalmente em relação ao tratamento 0,29% do PC, em função de haver possivelmente substituição da forragem ingerida pelo concentrado, e consequentemente redução na ingestão de fibra detergente neutro, pois de acordo com Van Soest (1994) o tempo gasto para a ruminação é geralmente proporcional ao consumo de parede celular.

Conclusões

A diminuição no tempo de pastejo não condiciona a menor tempo de ruminação, mesmo com maior ingestão de alimento com baixo teor de fibra detergente neutro para os maiores níveis de suplementação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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