Efeitos da monensina, extrato de Stryphnodendron adstringens e óleo de Pterodon emarginatus sobre o desempenho de vacas leiteiras

Bruna Aparecida Nascimento Ferraz1, Flávia Duarte de Jesus2, Eduardo Rodolfo da Costa3, Diogo Silva Santos4, Walquíria Miranda Alves Cruz5, Ítalo Garcia Borges de Almeida6, Emmanuel Arhnold7, Lorrany Bento Ferreira8
1 - Pontifícia Universidade Católica de Goias
2 - Universidade Federal de Goias
3 - Universidade Federal de Goias
4 - Universidade Federal de Goias
5 - Universidade Federal de Goias
6 - Universidade Federal de Goias
7 - Universidade Federal de Goias
8 - Universidade Federal de Goias

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os efeitos de monensina sódica, barbatimão e sucupira sobre a resposta de vacas leiteiras. Cinco vacas Holandês x Jersey canuladas, com produção leiteira de 22 kg/dia e 121 ± 47 dias de lactação foram distribuídas em quadrado latino 5 x 5. Os tratamentos foram Controle (M): com 22.5 mg kg MS-1 de monensina sódica; Barbatimão (B500) e (B1000): com 500 mg kg MS-1 e 1000 mg kg MS-1 de extrato seco de barbatimão, respectivamente; Sucupira (S250) e (S500): com 250 mg kg MS-1 e 500 mg kg MS-1 de óleo bruto de sucupira, respectivamente. O consumo de matéria seca e matéria orgânica foram menores (P<0,05) para o tratamento M comparado ao tratamento B500. O consumo de fibra em detergente neutro foi menor (P0,05) entre os tratamentos para produção e composição do leite. Os tratamentos com aditivos a base de extratos de plantas podem ser uma alternativa em rações de vacas leiteiras.

Palavras-chave: extratos de plantas, consumo de matéria seca, produção de leite

Effects of monensin, Stryphnodendron adstringens extract and Pterodon emarginatus oil on performance of dairy cows

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of monensin sodium, barbatimão and sucupira on the response of dairy cows. Five cows cannulated Holstein x Jersey with milk production of 22 kg/day and 121 ± 47 days of lactation were distributed in 5x5 Latin square. The treatments were Control (M): with 22.5 mg kg MS-1 of monensin sodium; Barbatimão (B500) and (B1000): with 500 mg kg MS-1 and 1000 mg kg MS-1 of barbatimão dry extract, respectively; Sucupira (S250) and (S500): with 250 mg kg MS-1 and 500 mg kg MS-1 sucupira crude oil, respectively. The dry matter and organic matter consumption were lower (P <0.05) for the M treatment compared to the B500 treatment. Neutral detergent fiber intake was lower (P<0.05) for M treatment than treatments B1000, B500 and S250. There was no difference (P>0.05) between treatments for milk production and composition. Treatments with additives based on plant extracts may be an alternative in diets of dairy cows.
Keywords: dry matter intake, milk production, plant extracts


Introdução

Os ionóforos, como a monensina sódica, usados na alimentação de ruminantes tem por objetivo melhorar a eficiência alimentar através da manipulação da fermentação ruminal (Callaway et al., 2003). No entanto, a legislação classifica os ionóforos como antibióticos, fazendo seu uso ser cada vez mais criticado pela sociedade consumidora (OMS, 2012). Frente a isso, a comunidade científica tem aumentado seu interesse em pesquisas que utilizem produtos alternativos ao uso de ionóforos na alimentação de ruminantes. Dentre elas, os extratos de plantas podem substituir os antibióticos convencionais com a mesma eficiência, assim como evitar o desenvolvimento da resistência bacteriana. Estudos têm demonstrado o efeito antibiótico de várias plantas do Cerrado brasileiro (Bustamante et al., 2010; Ferreira et al., 2013). Plantas como a Stryphnodendron adstringens (Barbatimão) e a Pterodon emarginatus (Sucupira) possuem efeito antibiótico contra diferentes microrganismos patogênicos sendo potenciais modificadores da fermentação microbiana ruminal in vitro, no entanto, não existem pesquisas in vivo avaliando o efeito desses aditivos naturais em vacas leiteiras (Souza, 2013). Objetivou-se avaliar os efeitos do extrato seco da casca de Barbatimão, do óleo bruto de Sucupira e monensina sódica sobre o consumo, produção e composição do leite de vacas leiteiras.

Revisão Bibliográfica

Os aditivos alimentares são substâncias orgânicas ou inorgânicas, usadas na alimentação de ruminantes, com o intuito de aumentar a eficiência alimentar. Entre os aditivos licenciados no Brasil e utilizados na alimentação de ruminantes, se destaca os ionóforos, sendo a monensina o principal deste grupo (Oliveira et al., 2005). A monensina é produzida pelo Streptomyces cinnamonensis sua ação no rúmen provoca mudanças na população microbiana selecionando as bactérias Gram-negativas produtoras de ácido succínico ou que fermentam ácido láctico, e inibindo as Gram-positivas, produtoras de ácido acético, ácido butírico, ácido láctico e H2 (Berchielli et al. 2011). Contudo, os ionóforos, como a monensina, são classificados pelo FDA (Foods and Drugs Administration) como antibióticos. Diante disso, o uso de antibióticos vem sendo questionado em dietas de animais, devido ao suposto desenvolvimento de resistências bacterianas, causando riscos para a saúde humana (Millen, 2008). Com a proibição da utilização de antibióticos como promotores de crescimento pela União Européia aumentou a demanda por aditivos alternativos (Jouany & Morgavi, 2003), pressionando o setor pecuário a adotar medidas que garantam a otimização da bovinocultura e ao mesmo tempo assegurar a qualidade dos produtos de origem animal (Machado et al.,2014). Os extratos vegetais tendem a ser a nova alternativa com propósito de substituição dos aditivos sintéticos. Nestes contém compostos secundários que podem modificar a fermentação ruminal como taninos, saponinas e óleos essenciais. Esses compostos atuam como barreira química ou protetora do sistema de defesa da planta (Berchielli et al., 2011). Algumas plantas do cerrado brasileiro como Stryphnodendron adstringens vulgo barbatimão e a Pterodon emarginatus vulgo sucupira, por possuírem propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias apresentam grande potencial de utilização como moduladores da fermentação ruminal. O barbatimão é utilizado para extração de taninos da sua casca (Ferreira et al., 2013) e na casca de sucupira encontra-se os flavonoídes, saponínicos, resinas e no óleo o β-elemeno (15,3%), trans-cariofileno (35,9%) entre outros. Esses aditivos demonstram grande capacidade de seleção inibindo o crescimento das cepas Gram-positivas e não inibi as cepas Gram-negativas. Característica promissora na alimentação de ruminantes, em que as bactérias Gram-positivas são, em sua maioria, prejudiciais para a fermentação ruminal (Santos et al., 2010).

Materiais e Métodos

Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal de Goiás (Protocolo n° 55/14) e executado na Unidade de Produção de Leite da Escola de Veterinária e Zootecnia, da Universidade Federal de Goiás, localizada em Goiânia, GO. Cinco vacas mestiças Holandês x Jersey em lactação canuladas, com peso vivo médio de 460 kg, produção média de 22 kg/vaca/dia e em média 121 ± 47 dias de lactação, foram confinadas em baias do tipo tie stall e distribuídas em quadrado latino 5x5, com períodos de 21 dias. Os tratamentos continham a mesma dieta basal. A monensina sódica e os extratos de plantas foram previamente misturas no sal mineral e posteriormente no concentrado. Dieta basal (%MS): 50,0% de silagem de milho, 29,60% milho moído, 17,95% de farelo de soja, 0,32% de ureia, 0,70% de calcário e 1,29% de sal mineral. Os tratamentos foram Controle (M): com 22,5 mg kg MS-1 de monensina sódica; Barbatimão (B500) e (B1000): com 500 mg kg MS-1 e 1000 mg kg MS-1 do extrato seco de barbatimão, respectivamente; Sucupira (S250) e (S500):com 250 mg kg MS-1 e 500 mg kg MS-1 de óleo bruto de sucupira, respectivamente. Na Tabela 1 consta a composição química das dietas experimentais. A alimentação foi fornecida em dieta completa às 9h e as 17h. O consumo diário das dietas foram obtidos por meio da pesagem do fornecido e sobras por animal. Ao final de cada período a dieta oferecida e as sobras foram amostradas, para análises de matéria seca, matéria orgânica e fibra em detergente neutro (INCT-CA, 2012) para determinar o consumo. As vacas foram ordenhadas mecanicamente duas vezes ao dia (8:h30min e 16h30min). A produção de leite foi aferida e amostras foram colhidas nos dias 14,15 e 16 de cada período experimental, da ordenha da manhã e da tarde, de forma proporcional a produção, para análises de proteína, gordura, lactose e nitrogênio ureico. Os dados foram analisados com o software R e as médias comparadas pelo teste de Tukey com significância P<0,05.

Resultados e Discussão

Observa-se na Tabela 2 que não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos para consumo de matéria seca (MS) e matéria orgânica (MO). Exceto, para o tratamento B500 que se mostrou maior (P<0,05) para o consumo de MS e MO (P<0,05) comparado ao tratamento M. A redução no consumo de matéria seca é uma característica da monensina sódica observada em outros estudos (Gandra, 2009). No atual estudo, a dosagem de monensina sódica utilizada no tratamento M, provocou redução de 8,5% no consumo de matéria seca quando comparado a média de consumo para todos tratamentos com aditivos naturais. Em altas dosagens (48 mg Kg MS-1) a monensina sódica pode apresentar reduções no consumo de até 12,42% (Gandra, 2009). O consumo de FDN foi menor para o tratamento M comparado aos tratamentos B1000, B500 e S250, no entanto, não diferiu (P>0,05) do tratamento S500. A redução no consumo de FDN pelas vacas que receberam o tratamento M, mostra o efeito da monensina sobre microrganismos responsáveis por promover a digestão de fibras, ocasionando, redução na taxa de passagem e enchimento ruminal com consequente queda no consumo de matéria seca (Lana & Russel, 2001). Já a redução no consumo FDN do tratamento S500 está relacionado a palatabilidade do óleo de sucupira que pode ter resultado em baixa aceitabilidade da dieta pelos animais. Os tratamentos não influenciaram (P>0,05) a produção de leite, sendo observada a produção média de 20,79 kg de leite/vaca dia, corrigido para 4% de gordura. Esse mesmo comportamento estatístico foi verificado para os percentuais de gordura, proteína, caseína e lactose. Também não houve diferença (P>0,05) para a concentração de nitrogênio ureico do leite (NUL, mg/dL) entre os tratamentos. Os valores de NUL encontrados nesta pesquisa se manteve na faixa ideal de 10 a 14 mg/dL (Machado e Cassoli, 2006).

Conclusões

Com base nos resultados, os princípios ativos presentes no extrato seco da casca de barbatimão e no óleo bruto das sementes de sucupira podem ser utilizados na alimentação de vaca leiteiras como possível substituto da monensina sódica.

Gráficos e Tabelas




Referências

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