EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA E (alfa-tocoferol) EM DIETAS DE Prochilodus lineatus (VALENCIENNES 1847)
Vitória Yukie Mayer Kuratani1, Giovana Letícia Onuma2, Raphael da Silva Costa3, Cristiéle da Silva Ribeiro4
1 - Feis/Unesp
2 - Feis/Unesp
3 - Unesp
4 - Feis/Unesp
RESUMO -
A vitamina E é conhecida como antioxidante lipossolúvel em sistemas biológicos, notadamente utilizada como suplemento em dietas animais. Neste trabalho foi testada uma dieta suplementada com 500mg/kg de vitamina E em juvenis de Prochilodus lineatus, espécie de peixe neotropical que tem ótimo potencial para a piscicultura. As rações testadas tinham a seguinte composição: ração comercial extrusada Tetramim® contendo 47% de proteína bruta, 8,8% de lipídeos e 2% de fibras. O experimento teve duração de 30 dias, com fotoperíodo natural, com coletas ao início, 15 e 30 dias experimentais de tecido hepático, encefálico e muscular. Foram analisadas as concentrações de proteínas totais. Nos resultados foram observadas diferenças nos valores de proteína hepática aos 15 dias para ambas dietas testadas, em relação ao início do experimento, fruto da duração do período de aclimatação. A qualidade do filé não foi influenciada pelo uso da vitamina E.
Palavras-chave: curimba, vitamina E, metabolismo proteico, filé.
EFFECTS OF THE VITAMIN E (alfa-tocoferol) IN DIETS OF Prochilodus lineatus (VALENCIENNES 1847)
ABSTRACT - Vitamin E is known as a liposoluble antioxidant in biological systems, notably used as a supplement in animal diets. In this work, a diet supplemented with 500mg / kg of vitamin E was tested in juveniles of Prochilodus lineatus, a neotropical fish species that has great potential for fish farming. The rations tested had the following composition: Tetramim® extruded commercial feed containing 47% crude protein, 8.8% lipid and 2% fiber. The experiment lasted 30 days, with natural photoperiod, with collections at the beginning, 15 and 30 days of experiment of the hepatic, encephalic and muscular tissue. The concentrations of total proteins were analyzed. The results showed differences in hepatic protein values at 15 days for both diets tested, in relation to the beginning of the experiment, explained by the acclimation period. The quality of the fillet was not influenced by the use of vitamin E.
Keywords: curimba, vitamin E, protein metabolism, fillet.
Introdução
Todos os animais requerem fontes de proteínas, aminoácidos, lipídeos, carboidratos, fibras, vitaminas e minerais na sua alimentação. Os tipos e quantidades de cada nutriente variam tanto interespecificamente como intraespecificamente de acordo com a idade, com as funções reprodutivas e condições ambientais (SANTOS, 2007).
A vitamina E é um antioxidante lipossolúvel de grande importância, responsável por proteger as membranas da peroxidação lipídica, o que leva a um retardamento do processo de envelhecimento biológico em animais e humanos (THAKUR; SRIVASTAVA, 1996). A carência da vitamina E nas dietas de peixes provoca várias patologias (TACON, 1992). O teor de α-tocoferol em peixes é determinado por vários fatores e oscila conforme o teor lipídico, espécie, tamanho, idade e condições de cultivo (RUFF et al., 2003). A vitamina E é encontrada em peixes de água doce em torno de 10mg/100g como por exemplo em tambaqui (
Colossoma macropomum) ou curimba (
Prochilodus scrofa).
O Corimba (
Prochilodus lineatus) é um peixe de grande porte, atingindo 78cm e 8,2kg. Sua distribuição compreende as bacias hidrográficas do Paraná e do Paraguai, além de ser uma espécie introduzida na bacia do Paraíba do Sul. Vive em ambientes lóticos e realiza migrações reprodutivas no período de setembro a janeiro (DIAS; SHIBATTA, 2006).
Tendo em vista o que foi abordado anteriormente, estre trabalho tem como objetivo analisar a influência da vitamina E (α-tocoferol) sobre metabolismo proteico em juvenis de
P. lineatus.
Revisão Bibliográfica
A área da aquicultura se divide em vários ramos, dentre eles a piscicultura, a qual tem se deslocado da região Norte do Brasil, onde se encontra a maior bacia hidrográfica do país, para novas regiões, principalmente o centro-oeste, e auferido destaque por estar crescendo consideravelmente no mercado nos últimos anos. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura o total de peixes cultivados em 2007 era de aproximadamente 210 milhões de toneladas e até o ano de 2011 este valor progrediu quase 300% atingindo a casa dos 544 milhões de toneladas (MPA, 2012).
A preocupação comercial com a produção de organismos aquáticos, versa a importância de formulação de dietas de qualidade para espécies potencialmente utilizadas na aquicultura. Dentre os componentes de rações para organismos aquáticos estão as vitaminas, compostos orgânicos indispensáveis em pequenas quantidades e que de maneira geral atuam como catalisadores ou reguladores metabólicos (RIBEIRO et al., 2012) e alguns organismos não são capazes de sintetizá-las (SANTOS, 2007). As vitaminas estão comprometidas em reações e rotas metabólicas, sendo imprescindíveis ao crescimento, reprodução e manutenção da higidez em peixes (RIBEIRO et al., 2012).
As principais vitaminas que vêm se destacando nos estudos de nutrição e alimentação de peixes são a A, C, D e E, justamente por estarem ligadas ao sistema imunológico (CAVICHIOLO et al., 2008). A grande maioria dos estudos estão relacionadas à alimentação de reprodutores, tanto que os primeiros experimentos realizados com nutrição e alimentação de peixes ocorreram no Japão, utilizando-se
Pagrus auratus (WATANABE et al., 1984), no qual notou-se a importância da preparação de dietas adequadas no período de pré-desova, que acarreta grande impacto na qualidade dos ovos e larvas.
Em um estudo realizado por CAVICHIOLO et al., (2008) com larvas de tilápia do Nilo,
Oreochromis niloticus L., no qual se avaliou o efeito da vitamina E e C em relação a ectoparasitas, sobrevivência, peso e comprimento, os resultados demonstraram que houve um aumento significativo quando levados em conta peso e o comprimento total e padrão no tratamento com 300 mg vitamina E e também que houve um melhor índice de sobrevivência para o tratamento com 1000mg de vitamina C. Isso significa que a vitamina E age diretamente sobre o desenvolvimento corpóreo e que já a vitamina C possui influência positiva sobre a taxa de sobrevivência.
Materiais e Métodos
Foram utilizados juvenis de
P. lineatus, com 10 cm de comprimento em média. Estes foram doados pela Estação de Piscicultura da Cemig de Volta Grande-MG, logo foram encaminhados para o Laboratório de Ictiologia Neotropical; FEIS-UNESP. Foram divididos 150 peixes em 6 caixas plásticas de forma aleatória para aclimatação, que durou 15 dias. Após este período, os animais foram novamente remanejados separando-se 75 indivíduos divididos em 3 caixas plásticas com 25 peixes cada, com alimentação diária (3% de ração/biomassa de animal) com ração comercial extrusada Tetramim® que contém em sua composição 47% de proteína bruta, 8,8% de lipídeos e 2% de fibras, quanto os outros 75 animais foram divididos em caixas igualmente, porém compondo o grupo tratamento, alimentado com ração suplementada com 500mg/kg de vitamina E. Os animais foram constantemente mantidos em fotoperíodo natural e, a limpeza das caixas efetuada a cada três dias.
O tempo de duração do experimento foi de 30 dias. Foram coletados materiais biológicos no tempo zero, após 15 e 30 dias. Para cada coleta, os indivíduos analisados foram anestesiados com solução alcóolica de benzocaína (ROSS; ROSS, 1984), depois foram coletados os dados zootécnicos a seguir: massa do animal (g) e a massa do fígado. Este último foi utilizado para o cálculo do índice hepatossomático (IHS). Este índice expressa a porcentagem do fígado em relação a massa corporal, obtido em porcentagem: IHS = (massa do fígado/massa corpórea) x 100. Em seguida foi executada uma incisão na região ventral dos indivíduos que possibilitou a exposição da cavidade abdominal para retirada de músculo branco, encéfalo e fígado, os quais foram congelados em nitrogênio líquido e armazenados em ultrafreezer, até que se realizasse as análises de proteínas totais dos tecidos pelo método colorimétrico de (LOWRY et al., 1951), após precipitação e solubilização das proteínas totais segundo método proposto por (MILLIGAN; GIRARD, 1993).
Resultados e Discussão
O índice hepatossomático (IHS) representa a porcentagem de massa hepática na massa total do animal, fisiologicamente este índice pode demostrar a taxa metabólica do animal, já que este tecido tem importância fundamental na síntese e mobilização de substratos energéticos (MOMMSEN, 2001; SHERIDAN, 1994). No presente experimento, decorrendo 15 dias de experimento houve uma queda de valores do IHS para o grupo controle e maiores valores encontrados no grupo alimentado com vitamina E. Aos 30 dias do experimento observou-se valores mais baixos em IHS para os dois grupos experimentais, com diferença estatística significativa em relação ao grupo inicial (Fig. 1), esta diminuição de IHS nos animais do grupo alimentado com vitamina E corrobora o encontrado por PEARCE; HARRIS; DAVIES, (2003) para
Oncorhynchus mykiss.
Os resultados de proteína nos tecidos (Fig. 2) muscular e encefálico não demonstraram diferença estatística em seus valores em qualquer momento experimental. Já o tecido hepático mostrou diferença estatística, sendo que o grupo coletado ao início do experimento apresentou os maiores valores amostrados na comparação com os grupos controle e tratamento aos 15 dias experimentais. No final do experimento os valores amostrados voltaram a se assemelhar com o que foi detectado no início do experimento. Uma vez que a diferença estatística foi observada aos 15 dias de experimento para ambas as dietas, exclui-se o efeito da dieta. Tendo-se em vista o que foi citado pode-se relacionar o efeito da aclimatação sobre os valores amostrados aos 15 dias, logo o período de aclimatação inicial foi estendido, corrobora-se ainda a esta afirmação a volta dos valores aos 30 dias como observado no período inicial.
Conclusões
Pode-se concluir com os resultados apresentados que a utilização da vitamina E nas dietas não provocou influências nos tecidos muscular, encefálico e hepático e que no entanto, as variações nos valores obtidos no tecido hepático ocorreu devido ao período de aclimatação, que parece ter sido prolongado. Pode-se afirmar que uma vez que não houve diferença estatística nos valores de proteína muscular, o filé manteve-se intacto em sua constituição.
Gráficos e Tabelas
Referências
CAVICHIOLO, F. et al. Efeito da suplementação de vitamina C e vitamina E na dieta, sobre a ocorrência de ectoparasitas, desempenho e sobrevivência em larvas de tilápia do Nilo (
Oreochromis niloticus L.) durante a reversão sexual.
Acta Scientiarum. Animal Sciences, v. 24, p. 943, 29 abr. 2008.
DIAS, J. H. P.; SHIBATTA, O. A. 40 Peixes do Brasil. p. 208, 2006.
LOWRY, O. H. et al. Protein measurement with the Folin phenol reagent.
J. Biol. Chem., v. 193, p. 265–275, 1951.
MILLIGAN, C. L.; GIRARD, S. S. Lactate metabolism in rainbow trout.
Journal of Experimental Biology, v. 180, p. 175–193, 1993.
MOMMSEN, T. P. Paradigms of growth in fish.
Comparative Biochemistry and Physiology Part B, v. 129, p. 207–219, 2001.
MONTERO, D. et al. Low vitamin E in diet reduces stress resistance of gilthead seabream (Sparus aurata) juveniles.
Fish & shellfish immunology, v. 11, n. 6, p. 473–90, ago. 2001.
MPA.
BOLETIM ESTATÍSTICO DA PESCA E AQUICULTURA. 2011.
PEARCE, J.; HARRIS, J. E.; DAVIES, S. J. The effect of vitamin E on the serum complement activity of the rainbow trout,
Oncorhynchus mykiss (Walbaum).
Aquaculture Nutrition, v. 9, n. 5, p. 337–340, out. 2003.
RIBEIRO, P. A. P. et al.
Manejo Nutricional E Alimentar De Peixes De Água Doce. [s.l: s.n.].
ROSS, L. G.; ROSS, B.
Anaesthetic and sedative techniques for fish. UK: Institute of Aquaculture, University of Stirling, 1984.
RUFF, N. et al. The effect of dietary vitamin E and C level on market-size turbot (
Scophthalmus maximus) fillet quality.
Aquaculture Nutrition, v. 9, n. 2, p. 91–103, abr. 2003.
SANTOS, F. W. B. Nutrição De Peixes De Água Doce: Definições, Perspectivas E Avanços Científicos.
1o Simpósio de Nutrição Animal., 2007.
SHERIDAN, M. A. Regulation of lipid metabolism in poikilothermic vertebrates.
Comp Biochem Physiol A, v. 107, n. 4, p. 495–508, 1994.
TACON, A. G. J.
Nutritional fish pathology. Morphological signs of nutrient deficiency and toxicity in farmed fish. Rome: FAO, 1992. v. N.330
THAKUR, M. L.; SRIVASTAVA, U. S. Vitamin-E metabolism and its application.
Nutrition Research, v. 16, n. 10, p. 1767–1809, out. 1996.
WATANABE, T. et al. Nutritional studies in the seed production of fish - XIV. Effect of nutritional quality of broodstock diets on reproduction of red sea bream.
NIPPON SUISAN GAKKAISHI, v. 50, n. 3, p. 495–501, 1984.