EFICIÊNCIA ALIMENTAR OBTIDA PELO MÉTODO DE CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL EM TOURINHOS DA RAÇA NELORE MANTIDOS EM CONFINAMENTO

Valesca Vilela Andrade1, Fábio Saraiva de Oliveira2, Carlos Henrique Cavallari Machado3, Juliana Jorge Paschoal4
1 - Faculdades Associadas de Uberaba
2 - Faculdades Associadas de Uberaba
3 - Faculdades Associadas de Uberaba
4 - Faculdades Associadas de Uberaba

RESUMO -

A alimentação na bovinocultura de corte afeta diretamente a rentabilidade do sistema, com isso, a eficiência alimentar passa a ter importante papel na tomada de decisão. O objetivo do trabalho foi comparar 18 animais da raça Nelore, com idade entre 16 e 18 meses, mantidos em confinamento, em um sistema que permite a pesagem constante dos alimentos e peso dos animais, por 91 dias. Com base nos dados obtidos foram calculados os valores de consumo alimentar residual dos animais e os mesmos foram divididos em dois grupos experimentais, de consumo alimentar residual positivo e negativo comparados quanto ao consumo de matéria seca. Utilizou-se o Delineamento Inteiramente Casualizado, a análise de variância foi realizada utilizando-se o software SISVAR e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% significância. Animais com consumo alimentar residual negativo consumiram menos alimento que animais consumo alimentar positivo, sem prejuízos no desempenho.

Palavras-chave: Alimentação, ganho de peso, consumo de matéria seca

EFFICIENCY FOOD OBTAINED BY FOOD CONSUMPTION IN RESIDUAL METHOD RACE BULLS NELORE HELD IN CONTAINMENT

ABSTRACT - Feeding in beef cattle directly affects the profitability of the system, with this, food efficiency has an important role in decision making. The objective of the study was to compare 18 Nelore animals, aged between 16 and 18 months, kept in confinement, in a system that allows constant weighing of food and weight of animals for 91 days. Based on the data obtained, the values of the residual food consumption of the animals were calculated and they were divided in two experimental groups, of positive and negative residual food consumption compared to the dry matter consumption. A completely randomized design was used, the analysis of variance was performed using the SISVAR software and the means were compared by the Tukey test at 5% significance. Animals with negative residual food consumption consumed less food than animals positive food consumption, with no impairment in performance.
Keywords: Feed, weight gain, dry matter intake


Introdução

A pecuária bovina é uma atividade econômica de fundamental importância no agronegócio brasileiro. Assim, nos últimos anos, a expansão e consolidação do setor de pecuária de corte podem ser explicadas pela difusão de tecnologias nas áreas de genética, nutrição, reprodução, manejo e sanidade. Em contrapartida, a população mundial irá aumentar cerca de 34% podendo alcançar 9,1 bilhões até 2050 (FAO, 2015). Para responder a essa demanda populacional, a produção mundial de alimentos deve aumentar cerca de 70%. Para sustentar esse crescimento populacional é necessária a adoção de práticas sustentáveis de cultivo da terra e produção animal, que priorizem a eficiência na utilização de recursos e a preservação ambiental (BERCHIELLI et al., 2013). O Brasil é o quinto maior país do mundo em território, com 851,6 milhões de hectares de extensão (IBGE, 2015), com cerca de 23% da sua área total, 198 milhões de hectares sendo ocupada por pastagens e com aproximadamente 209 milhões de bovinos (CRPBZ; IBGE, 2015). Por volta de 80% da população de bovinos no Brasil é composta por animais de raças zebuínas (Bos taurus indicus), compondo o maior rebanho comercial do mundo. A raça Nelore apresenta grande destaque na pecuária nacional devido a capacidade de adaptação em condições tropicais. Estimativas demonstram que cerca de 90% do rebanho nacional de corte é Nelore ou anelorado (ACNB, 2013) provavelmente em função da adaptabilidade às condições tropicais, vigor desde o nascimento, tolerância a parasitas, eficiência nas pastagens tropicais e longevidade (KOURY FILHO et al., 2005), o que coloca a Nelore como a principal raça de bovinos de corte criada no Brasil. Grande parte do abate no Brasil é proveniente de animais terminados a pasto, porém, os confinamentos no Brasil estão em franca expansão, apesar das constantes flutuações nas cotações da arroba de carne bovina. O número de animais tratados em confinamento saltou de 2317 mil cabeças em 2006 para 4692 milhões de cabeças em 2014, com uma taxa de crescimento aproximadamente de 103% durante esses anos (ANUALPEC, 2014). O aumento da demanda mundial e a abertura de mercados internacionais para os produtos cárneos brasileiros tendem a viabilizar a bovinocultura intensiva, uma vez que a mesma favorece a utilização racional dos fatores de produção (ALENCAR, 1997). A alimentação é a maior despesa individual para a bovinocultura de corte intensiva e, portanto, buscar animais mais eficientes na utilização dos nutrientes ajuda a reduzir os custos de produção (ALMEIDA, 2005). Para bovinos confinados, onde o custo de alimentação representa cerca de 70 a 85% do custo de produção, (RESTLE; VAZ, 1999) o aumento na eficiência alimentar seria de extrema importância, pela diminuição da quantidade de alimento consumido para cada quilo de carne produzido. O alto custo da alimentação na bovinocultura afeta diretamente a rentabilidade do sistema, portanto, faz-se necessário o uso eficiente e produtivo de alimentos para a manutenção e crescimento dos animais com o mínimo de perdas possíveis (NKRUMAH et al., 2006). É importante estudar as exigências para mantença e crescimento dos animais, as quais são diretamente relacionadas ao consumo de alimentos, e assim, identificar os animais com melhor eficiência alimentar (HICKS et al., 1990). Para aumentar a rentabilidade de um sistema de produção animal é preciso diminuir os custos, principalmente aqueles relacionados à alimentação, e, para tanto, além de utilizar alimentos mais baratos na constituição das dietas, é importante a manutenção de rebanhos de animais eficientes. Há alguns anos, pesquisadores australianos entenderam isso e passaram a considerar ambos os fatores (FERREIRA; SANDOVAL, 2012). A eficiência alimentar exerce grande impacto sobre a lucratividade da pecuária, portanto, é essencial pensar em animais cada vez mais eficientes no aproveitamento do alimento e reduzir custo de produção. Diante do que foi exposto, objetiva-se neste trabalho comparar animais da raça Nelore classificados quanto à eficiência alimentar em CAR+ e CAR- levando-se em consideração a mensuração de consumo de alimentos e ganho de peso.

Revisão Bibliográfica

Existem mais de 40 medidas utilizadas para avaliar a eficiência na utilização dos alimentos pelos animais. Tais medidas consideram em seus cálculos informações como consumo individual de alimentos e/ou medidas de desempenho como peso vivo ou ganho de peso. As tradicionalmente conhecidas são eficiência alimentar e conversão alimentar, que são relações diretas entre consumo de alimentos e ganho de peso, sendo assim muito influenciadas pelo tamanho corporal dos animais, quando usadas como critério de seleção, resulta em animais extremamente pesados e com exigências nutricionais elevadas, pois as exigências para mantença e crescimento dos animais não são consideradas nos cálculos. Assim, essas medidas não são ferramentas precisas para avaliar a eficiência de utilização dos alimentos pelos animais (ARTHUR et al., 1996; LANNA et al., 2003; NKRUMAH; BASARAB; PRICE, 2004). De acordo com dados encontrados pelos autores Arthur, Renand e Krauss (2001), a eficiência ou conversão alimentar são medidas brutas de eficiência com várias e sérias limitações, principalmente por estarem associadas com ganho de peso e peso à idade adulta. Dessa forma, usar conversão alimentar como parâmetro na seleção da eficiência alimentar em bovinos leva ao aumento no tamanho adulto das vacas, o que pode ser indesejável principalmente por comprometer a eficiência reprodutiva em condições nutricionais limitantes (LANNA et al., 2003). Por isso, a partir da década de 1990, na Austrália, Canadá e Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil (BONIM et al., 2008), vêm sendo desenvolvidas pesquisas em torno de um conceito de eficiência de produção lançado por Koch et al. (1963), conhecido como consumo alimentar residual (CAR). O CAR, considerado medida alternativa de eficiência alimentar, é calculado como a diferença entre o consumo observado e o consumo predito estimado em função do peso vivo médio metabólico e no ganho médio diário em peso (BASARAB et al., 2003). Assim, muitos autores avaliaram grande número de animais, machos e fêmeas, mensurando medidas de eficiência alimentar. Analisaram o ganho de peso e o consumo de alimentos, de modo a definir as relações dessas medidas com eficiência alimentar. A mensuração do CAR possibilita a identificação de animais com menores exigências de mantença, resultando em menor ingestão de matéria seca, de modo a manter o ganho médio diário e aumentar a eficiência do sistema de produção (ARTHUR; RENAND; KRAUSS, 2001). De acordo com Arthur e Herd (2008), o CAR é negativo, quando o animal consumiu menos que o esperado em função do seu ganho de peso e tamanho corporal e, portanto, são considerados mais eficientes. O contrário, isto é, quando o consumo observado é maior que o predito, os animais apresentam CAR positivo e são considerados menos eficientes. O CAR pode ser avaliado de diferentes formas, basicamente, existem três maneiras básicas de se colherem os dados necessários, cada qual com suas vantagens e desvantagens, bem como com dados adicionais podem ser fornecidos por cada sistema de mensuração, a mais simples e que exige menor investimento em infraestrutura, porém maior mão de obra é a mensuração manual, a qual consiste em alojar os animais em baias individuais e coletar diariamente sobra do alimento ofertado para cálculo do consumo. Outra forma mais sofisticada são os “Kalan Gates”, muito usados em gado de leite para ofertar dietas de acordo com a categoria animal e, a última e mais moderna tecnologia, GrowSafe®, um sistema Canadense ou Intergado® sistema Brasileiro eletrônico, que permite mensuração individual do consumo alimentar mesmo com os animais permanecendo em grupo e coletando também dados de comportamento animal (FERREIRA; SANDOVAL, 2012). A equipe do Laboratório de Nutrição e Crescimento Animal da Esalq/USP, coordenada pelo Dr. Dante Pazzanese Lanna é pioneira nos estudos sobre CAR no Brasil (ALMEIDA, 2005). Arthur, Renand e Krauss (2001) compararam bezerros, filhos de pais com alto CAR, com bezerros filhos de pais com baixo CAR e verificaram que os filhos de pais mais eficientes apresentaram CAR mais baixo (-0,54 vs. +0,70 kg/d), consumiram menos alimento (9,4 vs. 10,6 kg MS) e apresentaram menor conversão alimentar (6,6 vs. 7,8) do que os filhos de pais menos eficientes. Essas e outras pesquisas reforçam a ideia de que a eficiência alimentar talvez seja o futuro da pecuária mundial, produzindo a mesma quantidade, em menor tempo e com custos mais razoáveis; economia e produção aliadas para garantir a rentabilidade do produtor e satisfação do consumidor final. Herd, Archer e Arthur (2003) estudaram novilhas selecionadas na desmama, para CAR negativo e observaram que esses animais também apresentavam CAR negativo em outras idades. A correlação do CAR na desmama com o CAR dos animais já adultos é alta (0,98), portanto, segundo os autores, a seleção de animais de melhor CAR na desmama resultará em animais eficientes na maturidade. O CAR tem sido utilizado como critério de seleção em função de sua moderada herdabilidade, de 0,30 a 0,40 (KOCH et al., 1963; ARTHUR; RENAND; KRAUSS, 2001; BASARAB et al., 2003). Na seleção de bovinos de corte são necessárias estratégias para aumentar a eficiência alimentar, mas sem prejudicar características de desempenho, reprodução ou comprometer a qualidade da carne (LANNA; ALMEIDA, 2004a). Já para bovinos de corte, praticamente todos os programas de melhoramento genético enfatizam apenas a seleção para características fenotípicas, tais como pesos a diversas idades, ganho de peso diário, circunferência escrotal, características de carcaça e até mesmo o desempenho reprodutivo (LANNA; ALMEIDA, 2004), sem se atentar para a diminuição dos custos com alimentação. Portanto, a eficiência alimentar é um candidato óbvio para o melhoramento genético para melhorar a rentabilidade e a sustentabilidade da bovinocultura de corte. Com o uso do CAR como critério de seleção, os animais podem ser selecionados por requererem menos alimento para o mesmo nível de produção, e com isso, aumentar a rentabilidade da indústria de carne bovina (MOORE et al., 2005). Em trabalho realizado com gado Angus, Arthur et al. (2001a), relataram que o peso corporal metabólico e o ganho médio diário foram fenotipicamente e geneticamente independentes do CAR. Assim, com o uso do CAR é possível obter animais mais eficientes dentro dos limites desejáveis, e dessa forma a seleção não conduz a aumentos no tamanho adulto dos animais (SUNDSTROM, 2004). No estudo de Arthur et al. (2001a), os autores, utilizando dados de 1.177 animais da raça Angus, relataram haver satisfatória variabilidade fenotípica para consumo alimentar ajustado para taxa de ganho e peso vivo médio metabólico, com desvio-padrão de 0,74. Neste trabalho foi observado que a característica CAR apresenta moderada herdabilidade (0,39) além de correlação genética com conversão alimentar (r = 0,63). No mesmo estudo, conduzido na Austrália, a correlação genética entre o CAR obtido em novilhas em regime de confinamento e aquele obtido nas mesmas fêmeas, já adultas, em regime de pasto, foi superior a 90%, indicando que se trata da mesma característica genética. Desta forma, a identificação de animais mais eficientes em confinamento abre a oportunidade de melhorar a eficiência do rebanho reprodutivo também, o qual pode ser ainda mais importante que a eficiência da terminação. Desta maneira, fica comprovado que o CAR pode ser incluído em programas de melhoramento genético de bovinos de corte, pois apresenta suficiente variabilidade genética aditiva, e que a seleção para tal parâmetro incluirá a seleção para conversão alimentar concomitantemente, sem aumentar o peso adulto dos animais. Estudos recentes de pesquisadores brasileiros procuraram também avaliar a variabilidade fenotípica para consumo alimentar residual em animais da raça Nelore. Almeida, Leme e Lanna (2004) verificaram valores de desvio-padrão para CAR em novilhos Nelore em crescimento de 1,05 kg/dia, com valores de mínimo e máximo de -1,70 e +2,07, respectivamente. O valor do desvio observado foi maior que o encontrado por Arthur et al. (2001a), trabalhando com animais da raça Angus. Em estudo posterior, Almeida (2005) verificou desvio-padrão da média do CAR de 0,41 e valores de mínimo e máximo de -0,73 e +0,95, confirmando a existência de variabilidade fenotípica em animais Nelore. De acordo com Archer et al. (1999), o CAR está diretamente ligado ao ganho de peso do animal, sendo que os animais mais eficientes, ou seja, baixo CAR, tendem a apresentar carcaças mais magras, com menor acabamento e menor quantidade de gordura intramuscular, o que leva a crer na queda da qualidade da carne. Richardson, Herd e Oddy (2001) avaliaram, quanto a composição corporal, progênies de touros e matrizes selecionados divergentemente para CAR. No estudo, foram verificadas diferenças entre animais CAR positivos e negativos, sendo que aqueles mais eficientes apresentaram menor espessura de gordura subcutânea que aqueles menos eficientes, sugerindo que bovinos em crescimento mais eficientes, apresentam um ganho maior em proteína do que em gordura. Assim sendo, a maior parte da literatura consultada (BASARAB et al., 2003, CARSTENS; THEIS; WHITE, 2002; HERD; ODDY; ARTHUR, 2004; ROBINSON; ODDY, 2004) afirma que este novo parâmetro de eficiência (CAR) está relacionado com a composição do ganho de peso, onde os animais mais eficientes (CAR negativo) tendem a apresentar carcaças mais magras, com menor acabamento e com menor gordura intramuscular, além de menor teor de gordura na cavidade abdominal. Estes fatores poderiam ter um impacto negativo na qualidade da carne. Entretanto, Sainz, Cruz e Monteiro (2006), não encontraram diferença entre novilhos Angus-Hereford com alto e baixo CAR para peso de carcaça quente, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, marmorização, acabamento, massa visceral e gordura abdominal. Estes resultados indicam que existe uma correlação fenotípica baixa ou inexistente entre CAR, características de carcaça e massa visceral. Ainda, no estudo realizado por Richardson Herd e Oddy (2001), as correlações encontradas entre CAR e composição corporal foram pequenas e por isso, foi sugerido que menos de 5% da variação do CAR dos touros testados pode ser explicado pela variação em composição corporal de sua progênie. De acordo com Medeiros (2013), com a relação à seleção de animais mais magros, deve-se observar atentamente, também, para não haver efeito negativo na fertilidade das fêmeas, o que não foi seguramente comprovado até então. Em trabalho recentemente realizado nos Estados Unidos demostrou que cada unidade de aumento no CAR implica uma redução de 7,5 dias na idade à puberdade, sem afetar taxas de prenhes ou concepção (SHAFFER et al., 2011). Em outras palavras, animais mais eficientes aferidos pelo CAR apresentariam puberdade mais tardiamente. Relevantes técnicas como o ultrassom devem ser utilizadas a fim avaliar as características de carcaça resultantes desta seleção de gordura de cobertura, menor marmoreio e, nas vacas, menor quantidade de gordura visceral, relacionada com a fertilidade.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na fazenda escola das Faculdades Associadas de Uberaba - FAZU, localizada no município de Uberaba, MG, em altitude de 780m; 19º44’ de latitude Sul e 47º57’ de longitude Oeste de Greenwich em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ, Evialis Nutrição Animal – In Vivo NSA e a Intergado. As normais climatológicas obtidas na empresa de pesquisa agropecuária de Minas – EPAMIG, Estação Experimental Getúlio Vargas são: precipitação total durante a prova de 1,4 mm, umidade relativa média de 49% e temperatura média 25,4 °C. Foram avaliados 18 animais da raça Nelore Puro de Origem – PO com Registro Genealógico de Nascimento - RGN, com idades entre 16 e 18 meses.  A prova teve início no dia 6 de junho de 2014 e finalizada no dia 5 de setembro de 2014. Os animais ficaram em sistema alimentar de confinamento, totalizando 91 dias, sendo 21 dias de adaptação às instalações e à dieta e 70 dias de prova efetiva. A dieta foi fornecida aos animais três vezes ao dia com relação de volumoso/concentrado de 40/60, isto é, composta por 40% de silagem de milho e 60% de concentrado comercial. A dieta foi formulada para ganho de 1,300 kg/dia com 14% proteína bruta e 70% NDT. Foram permitidas sobras diárias entre 5 a 10% do fornecido e o ajuste foi diário assegurando o consumo ad libitum (à vontade). Foi feita mensuração diária individual do consumo de alimento e pesagem dos animais por meio do sistema Intergado®. O monitoramento foi realizado 24 horas/dia, durante toda a prova. O peso médio inicial dos animais foi de 437 kg, e peso médio final de 584 kg com ganho total de 147 kg ou 4,9@ durante o período da prova, com ganho médio diário acima da meta esperada, atingindo 1,972 g/dia por animal. A equação para cálculo do consumo alimentar residual foi estimado como o resíduo da equação de regressão do consumo de matéria seca (CMS) em função do peso metabólico (PC0,75) e o ganho médio diário (GMD), conforme modelo proposto por Koch et al. (1963). CMS= β0 + βP* PV0.75 + βG*GMD + erro; em que β0 é o intercepto da regressão, βP e βG são coeficientes de regressão linear do peso metabólico e do ganho médio diário, respectivamente. A partir disso, os animais foram classificados quanto ao consumo alimentar residual positivo e negativo através da FIG 1. Os animais foram divididos em dois grupos experimentais de acordo com o consumo alimentar residual: Consumo Alimentar Residual Positivo (CAR+) e o Consumo Alimentar Residual negativo (CAR-) e comparados quanto ao consumo de matéria seca (CMS), obtido pela somatória de todos os registros diários válidos do consumo dividido pelo número de dias, e, ganho médio diário obtido pela diferença entre o peso final e inicial dos animais, sem jejum, dividido pelo número de dias. Foi utilizado o Delineamento Inteiramente Casualizado e a análise de variância foi realizada, utilizando-se o software SISVAR (2010). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância.

Resultados e Discussão

As variáveis avaliadas estão apresentadas na TAB 1. Pode-se observar que o consumo de matéria seca diferiu significativamente entre os animais classificados quanto ao consumo alimentar residual em CAR (+) e CAR (-), 11,28 e 9,75 Kg de matéria seca por dia, respectivamente. Com relação ao ganho médio diário, não foi observada diferença estatística entre os grupos, apresentando os animais CAR (+) o mesmo ganho de peso dos animais CAR (-), 1,95 e 1,99 Kg/dia, respectivamente. Os dados foram semelhantes ao trabalho de Egawa (2012), onde observaram que os animais mais eficientes apresentaram o GMD muito próximo ao observado para os menos eficientes (0,832 e 0,861 kg/dia respectivamente), porém, consumiram 0,810 kg MS/dia a menos, aproximadamente 6% menos alimentos. Segundo trabalho realizado por Kelly et al., (2011) animais CAR positivo e negativos tiveram ganhos similares (1,83 vs. 1,91 kg/dia, respectivamente), contudo animais eficientes apresentaram ingestão de matéria seca inferior (10,39 vs. 9,34 kg por dia, respectivamente). De acordo com trabalho de Gomes (2009), animais com CAR positivos e negativos tiveram mesmo ganho (0,93 kg/dia), entretanto os animais eficientes apresentaram uma ingestão de matéria seca inferior (8,94 vs. 8,30 kg/dia concomitantemente). Quando comparamos os animais com CAR+ e CAR- com relação ao consumo de matéria seca (11,28 vs 9,75kg/dia) observamos uma diferença de 1,53 Kg de matéria seca por dia, ou seja, 14% menos alimento para o mesmo ganho de peso. Estes valores apresentam-se bastante significativos já que em sistemas de confinamento o custo com alimentação é o fator que mais onera a produção de bovinos de corte. Archer, Herd e Arthur (2001) concluíram que a mensuração do CAR em tourinhos é economicamente lucrativa para todos os sistemas de produção de carne bovina por reduzir a ingestão, diminuindo os custos com alimentação, sem alterar o desempenho, tanto em condições extensivas de pastejo, como em terminação no confinamento utilizando-se dietas de alto nível de concentrando. Diversos trabalhos vêm relatando esta diferença de consumo entre animais mais e menos eficientes, Richardson, Herd e Archer (2004) verificaram que a diferença de consumo entre os dois grupos de animais (mais e menos eficientes) foi de 6%, similar ao estudo de Egawa (2012) e 14% ao deste estudo. Carstens, Theis e White (2002) e Basarab et al. (2003) encontraram diferenças no CMS entre grupos de animais mais e menos eficientes de 21 e 12%, respectivamente. Segundo Basarab et al. (2003), identificar os animais que consomem menos sem prejuízos à produção traria grandes reduções de custo para o sistema. Segundo Castro Bulle et al. (2007), quando dois animais têm pesos corporais e taxas de GMD semelhantes, todavia, com consumos alimentares diferentes, o mais eficiente pode apresentar exigência de manutenção inferior ao menos eficiente. O contrário também é verdadeiro, ou seja, animais de maior consumo para um ganho semelhante possuem maiores necessidades energéticas e, portanto, menor eficiência.

Conclusões

Animais com CAR (-) consomem menos alimento que animais CAR (+), sem prejuízos no desempenho. A seleção de bovinos de corte com melhor eficiência alimentar, é sem dúvida, uma ação importante, principalmente pelo fato de diminuir os custos com alimentação que são muito altos dentro do sistema de produção. A inclusão do CAR como ferramenta de seleção, é uma forma de diminuir estes gastos alimentares por selecionar animais que consomem menor quantidade de alimento para um mesmo nível de produção. Estudos com CAR em zebuínos ainda são recentes no Brasil, pois a maioria são de animais taurinos. Diante desta situação, são necessários mais experimentos e estudos com animais zebuínos em condições climáticas brasileiras, com o intuito de compreender esta medida de eficiência.

Gráficos e Tabelas




Referências

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