EFICIÊNCIA DE UM PROTOCOLO DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO NO RETORNO AO ESTRO E NA TAXA DE PRENHEZ EM FÊMEAS BOVINAS MESTIÇAS NO ALTO VALE DO ITAJAÍ – SC

Gustavo Cunha1, Gerson Cunha2, Everton Eduardo Lopes Dias Juffo3, Rafael Pereira Heckler4
1 - Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul
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3 - Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul
4 - Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul

RESUMO -

O trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de um protocolo de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em fêmeas bovinas mestiças na região do Alto Vale do Itajaí – SC. Os animais foram divididos em dois lotes de 20 fêmeas, médias de 330 e 270 Kg, respectivamente. O protocolo consistiu de quatro manejos (D0, D8, D10 e D14). D0: Inserção de um dispositivo intravaginal de progesterona e aplicação de 2,0 mg de benzoato de estradiol; D8: Retirada dos implantes intravaginais e aplicação de 0,5 mg de cloprostenol sódico; 1,0 mg cipionato de estradiol e 300 UI gonadotrofina coriônica equina; D10: Inseminação artificial; D14: Aplicado 150 mg de progesterona. A taxa média de retorno ao estro foi de 15%. Dos 40 animais, 28 tiverem resultado positivo para prenhez, obtendo assim 70% de concepção em IATF. A correta sincronização hormonal em vacas mestiças criadas a pasto na região do Alto Vale do Itajaí – SC pode proporcionar baixo retorno ao estro aliado a altas taxas de concepção.

Palavras-chave: Pequenas propriedades, manejo reprodutivo, sincronização, concepção.

EFFICIENCY OF A PROTOCOL OF FIXED-TIME ARTIFICIAL INSEMINATION IN RETURN TO ESTRUS AND PRESSURE RATE IN CROSSBRED BOVINE FEMALES IN THE ALTO VALE DO ITAJAÍ – SC

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the efficiency of a fixed-time artificial insemination protocol (FTAI) in crossbred bovine females in the Alto Vale do Itajaí - SC region. The animals were divided into two batches of 20 females, averages of 330 and 270 kg, respectively. The protocol consisted of four maneuvers (D0, D8, D10 and D14). D0: Insertion of an intravaginal progesterone device and application of 2.0 mg of estradiol benzoate; D8: Removal of intravaginal implants and application of 0.5 mg of cloprostenol sodium; 1.0 mg estradiol cypionate and 300 IU equine chorionic gonadotrophin; D10: Artificial insemination; D14: 150 mg progesterone is applied. The mean rate of return to estrus was 15%. Of the 40 animals, 28 tested positive for pregnancy, thus achieving 70% conception in FTAI. Correct hormonal synchronization in crossbred cows raised in pasture in the Alto Vale do Itajaí - SC region can provide low returns to estrus, together with high conception rates.
Keywords: Small property, reproductive management, synchronization, conception.


Introdução

A atividade leiteira vem tendo cada vez mais importância econômica e social para o setor agrícola de Santa Catarina. Atualmente, se constitui num segmento estratégico para a vida de um significativo contingente de produtores rurais, particularmente os familiares, e é responsável pelo movimento econômico de grande parte dos municípios do Estado (SANTOS et al., 2006). Dentre as práticas de manejo que visam auxiliar o produtor na melhoria da eficiência do sistema de cria de bovinos, pode-se destacar o estabelecimento do período de monta como sendo uma das primeiras a ser adotada. Além de disciplinar as demais atividades de manejo, ela também faz com que o período de maior oferta de alimentos de qualidade se ajuste aquele de maior demanda nutricional por parte do animal. (VALLE et al., 1998). Uma das tecnologias que colabora sobremaneira na eficiência do período de monta é o tempo fixo para inseminação artificial (BARUSELLI, 2002). Esta técnica se resume em pré-determinar o dia e o horário que um determinado lote de fêmeas bovinas será inseminado, reduzindo assim o período de estação de monta em um menor número de dias, evitando falhas na detecção de cio, além de reduzir o trabalho para alguns dias ao invés de meses. (MIKESKA & WILLIAMS, 1988, apud MALUF 2002). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o retorno ao estro e a eficiência de um protocolo de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em fêmeas bovinas mestiças na região do Alto Vale do Itajaí – SC.

Revisão Bibliográfica

A produção leiteira catarinense está concentrada em estabelecimentos rurais com área de até 50 ha e constitui-se em importante atividade na formação da renda de um expressivo contingente de produtores, especialmente pequenos. Está geograficamente distribuída em quase todo o território catarinense, contribuindo de maneira significativa para a manutenção de produtores no campo e, consequentemente, redução do êxodo rural em várias regiões. Baixa produtividade, pouca utilização da tecnologia disponível e deficiência na alimentação do rebanho por falta de planejamento forrageiro, pela sazonalidade da produção de pastos e por falta de alternativas forrageiras, são tidos como alguns dos pontos fracos da cadeia produtiva de bovinos de leite e corte da região (SANTOS et al., 2006). A região do Vale do Itajaí participou em 2014 com aproximadamente 9% na produção leiteira do estado, com cerca de 260,9 milhões de litros de leite produzidos e também com valores próximos a 11,5% na produção de bovinos, totalizando mais de 62,5 mil animais abatidos (EPAGRI, 2016). A eficiência reprodutiva é o fator que, isoladamente, mais afeta a produtividade e a lucratividade de um rebanho. Entretanto, há muitos obstáculos para otimiza-la, pois ocorrem perdas reprodutivas desde a concepção (natural ou artificial) até o parto (BERGAMASCHI et al., 2010). A inseminação artificial foi a primeira biotecnologia reprodutiva empregada no melhoramento genético animal no Brasil (SEVERO, 2015). Esta tecnologia se consagrou mundialmente e provou ser viável técnica e economicamente para acelerar o ganho genético e o retorno econômico da pecuária. Entretanto, em todo o mundo, existem relatos que indicam baixa taxa de serviço, principalmente devido a comprometimentos na eficiência de detecção do estro (BARUSELLI, 2002). A técnica de IATF tem movimentado o dia a dia das fazendas e dos grupos de pesquisa em reprodução animal. Pela técnica as vacas tem ovulação induzida, e a I.A pode ser feita com data marcada. Sua utilização proporciona maior produção e qualidade agregada ao rebanho. Com este método, toda reprodução fica sob controle do produtor, podendo inseminar maior número de vacas em menos tempo, programar a inseminação e o nascimento dos bezerros, aumentar o número de bezerros de IA ao início da estação de nascimento, obter um melhor aproveitamento da mão-de-obra (BARUCELLI, 2004 apud INFORZATO, 2008).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na fazenda Pomerana, localizada no município de Lontras/SC, 27°12'31.9"S e 49°29'48.5"W. Foram utilizados dois lotes de animais, contendo cada um 20 fêmeas bovinas mestiças, com médias de 330 Kg e 270 Kg, para o primeiro e segundo lote, respectivamente. Para a escolha das fêmeas foram realizadas avaliações do sistema reprodutivo por exames ginecológicos através de palpação retal de todos os animais, identificando qualquer anormalidade que pudesse comprometer o protocolo. O protocolo consistiu de quatro manejos (D0, D8, 10 e D14). Os animais iniciaram em um dia aleatório do ciclo estral (D0) com a inserção de um dispositivo intravaginal de progesterona (SINCROGEST; Ourofino) e aplicação de 2,0 mg de benzoato de estradiol (2,0 mL de SINCRODIOL; Ourofino). No oitavo dia (D8) foram retirados os implantes intravaginais e em seguida foram aplicados 0,5 mg de cloprostenol sódico (2,0 mL de SINCROCIO; Ourofino); 1,0 mg cipionato de estradiol (1,0 mL de SINCROCP; Ourofino); e 300 UI gonadotrofina coriônica equina (1,5 mL de SINCRO eCG; Ourofino). As inseminações foram efetuadas 48 horas depois de retirado o implante intravaginal (D10). Após 4 dias (D14) foi aplicado 150 mg de progesterona (1,0 mL de SINCROGEST injetável; Ourofino). Os animais foram mantidos exclusivamente a pasto, em piquetes com água e suplementação mineral indicada para aumento do desempenho reprodutivo (FOSBOVI reprodução; Tortuga), à vontade. Do 16° ao 24° dia após inseminação (DAI) os animais foram acompanhados para identificar a manifestação de cio. Os animais que apresentaram volta ao estro foram submetidos a repasse novamente com inseminação artificial. O diagnóstico de gestação foi realizado por palpação retal após 75 dias da inseminação do segundo lote.

Resultados e Discussão

Das 40 fêmeas utilizadas, 6  animais voltaram a repetir cio, sendo 5 animais referentes ao lote 1 e 1 animal ao lote 2, obtendo assim uma taxa média de 15%. (Tabela 1). O resultado obtido neste estudo para retorno ao estro se mostra satisfatório em relação ao encontrado por CAMPOS e SANTOS (2015), que, avaliando a detecção de estro de retorno após IATF em vacas holandesas em Minas Gerais, obtiveram taxa de 43,27%. Dos 40 animais submetidos ao protocolo, 28 tiveram diagnóstico positivo para prenhez, sendo 15 presentes no primeiro lote e 13 no segundo, o que equivale a uma taxa de prenhez média de 70% (Tabela 2). Este resultado é superior ao analisado pelo Grupo Gerar (ZOETIS, 2016), o qual, analisando mais 800 mil animais em todo o país, obteve média de 51,6% de eficiência na taxa de prenhez à IATF. Os resultados também são superiores aos encontrados por VIANA et al. (2015), que, avaliando a taxa de prenhez de vacas zebuínas em Minas Gerais, obteve valores médios de 62% de concepção com uso da inseminação artificial em tempo fixo. A menor eficiência do segundo lote pode ser explicada devido à presença de vacas primíparas, o que não foi observado no primeiro lote. Esta categoria animal apresenta uma menor taxa de prenhez à IATF, sendo a média nacional de 47,4% (ZOETIS, 2016). Em relação aos resultados obtidos, o protocolo utilizado comprova sua viabilidade e eficiência no manejo reprodutivo. Porém estes resultados podem se tornar ainda mais relevantes quando propostos em uma realidade de pequenas propriedades rurais do Alto Vale do Itajaí, com menor número de animais, podendo proporcionar um aumento significativo no ganho genético e produtivo da mesma. A técnica de IATF pode possibilitar uma maior organização do rebanho, seja leiteiro ou corte, sincronizando período em que as vacas estarão em lactação, visando maior oferta de alimentos, formando lotes de animais uniformes e agregando valor ao produto final. Tendo em vista que a técnica de IATF, para pequenos produtores, tem um baixo custo, necessita apenas de uma instalação simples e funcional e um profissional qualificado para execução do protocolo, são necessários novos estudos sobre a implantação da tecnologia em pequenas propriedades, disponibilizando mais informação e assistência para o pequeno produtor, fomentando assim um aumento nos aspectos que envolvem o sistema da criação de bovinos, contribuindo a médio e longo prazo com a seleção de animais de alta produção e consequentemente proporcionando o aumento da rentabilidade do produtor e de toda a cadeia produtiva de bovinos de Santa Catarina.

Conclusões

A correta sincronização hormonal em fêmeas bovinas mestiças criadas a pasto na região do Alto Vale do Itajaí – SC, pode proporcionar elevadas taxas de concepção (70%) e baixo retorno ao estro (15%).

Gráficos e Tabelas




Referências

BARUSELLI, P. S.; MADUREIRA. E. H.; MARQUES, M. O. Eficiência a campo de programas de IA em tempo fixo em Bos indicus. Maio – 2002. Disponível em <http://www.beefpoint.com.br/radares-tecnicos/reproducao/eficiencia-a-campo-de-programas-de-i-a-em-tempo-fixo-em-bos-indicus-5053/> Acessado em 19 de fevereiro de 2017. BARUSELLI, P. S.; AYRES, H.; SOUZA, A. H.; MARTINS, C. M.; GIMENES, L. U.; JÚNIOR, J. R. S. T. Impacto da IATF na eficiência reprodutiva em bovinos de corte. Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP. São Paulo – SP, Brasil, 2005. BERGAMASCHI, M. A. C. M.; MACHADO, R.; BARBOSA, R. T. Eficiência reprodutiva das vacas leiteiras. EMBRAPA Pecuária Sudeste, Circular Técnica nº 64. São Carlos – SP, Novembro, 2010. CAMPOS, C. C.; SANTOS, R. M. dos. Conception rate and estrous return detection after TAI in Holstein cows. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 36, n. 3, suplemento 1, p. 1945-1954, 2015. EPAGRI. Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina. v.1 1976 - Florianópolis: Epagri/Cepa, 2016. INFORZATO, G. R.; SANTOS, W. R. M.; CLIMENI, B. S. O.; DELLALIBERA, F. L.; FILADELPHO, A. L. Emprego de IATF (inseminação artificial em tempo fixo) como alternativa na reprodução da pecuária de corte. Revista científica eletrônica de medicina veterinária – Garça FAMED/FAEF. Ano VI – Número 11 – Julho de 2008. MALUF, D. Z. Avaliação da reutilização de implantes contendo progestágenos para controle farmacológico do ciclo estral e ovulação em vacas de corte. ESALQ – Piracicaba, 46 p., 2002. SANTOS, O.V. dos; MARCONDES, T; CORDEIRO, J.L.F. Estudo da cadeia do leite em Santa Catarina; prospecção e demandas. (Versão preliminar). Florianópolis: Epagri/Cepa, 55 p., 2006. SEVERO, N. C. História da inseminação artificial no Brasil. Rev. Bras. Reprod. Anim. Belo Horizonte, v.39, n.1, p.17-21, jan./mar. 2015. VALLE, E. R. do; ANDREOTTI, R.; THIAGO, L. R. L. de S. Estratégias para aumento da eficiência reprodutiva e produtiva em bovinos de corte. Campo Grande: EMBRAPA – CNPGC. Documento, 71. 80 p., 1998. VIANA, W. A.; COSTA, M. D.; RUAS, R. M.; AMARAL JÚNIOR, L. T.; SEIXAS, A. A.; SERAFIM, V. F. Taxa de prenhez de vacas zebuínas com uso da inseminação artificial em tempo fixo (iatf) em fazendas do norte de minas gerais. Revista Científica De Medicina Veterinária, Ano XIII – N° 24 – Jan de 2015. ZOETIS. Gerar Corte – Informe Técnico Benchmarking 2016. Disponível em <https://www.zoetis.com.br/produtos-e-servicos/bovinos/gerar-corte.aspx>, Acessado em 26 de fevereiro de 2017.