ESCORE DE HIGIENE E CONFORTO DE VACAS HOLANDESAS EM SISTEMA COMPOST BARN

Roselene Soares de Souza1, Manuela Espindula de Melo2, Priscila Rodrigues Moreno Assis3, Luciano Eduardo M Polaquini4, Thalita Cucki5
1 - Universidade Anhembi morumbi
2 - Universidade Anhembi morumbi
3 - Universidade Anhembi morumbi
4 - Universidade Anhembi morumbi
5 - Universidade Anhembi morumbi

RESUMO -

A demanda da produção leiteira no Brasil é crescente, o país é o sexto maior produtor mundial. Devido a essa grande produção há a necessidade constante de desenvolvimento de novas técnicas que garantam o aspecto sanitário, o conforto dos animais e a produção em massa de leite com custos reduzidos. Dessa forma, o objetivo do trabalho é avaliar as contribuições do modelo de produção Compost Barn frente aos aspectos sanitários (higiene do úbere, parte inferior das pernas, coxas, flancos, lesões nos jarretes e cascos) e a perspectiva do conforto das vacas em confinamento. A pesquisa conclui-se a partir de uma metodologia in loco que houve higiene adequada, principalmente no úbere das vacas holandesas, na saúde dos cascos, e jarretes comparando-se aos dados disponíveis na literatura. Além disso, o estudo mostrou que nesse modelo de produção os animais permanecem mais tempo deitados, fato que é favorável para a saúde e bem-estar do animal.

Palavras-chave: Bovinocultura de leite, Gado holandês, Manejo sanitário, Sistema intensivo e Bem-estar animal

Hygiene score and comfort of Dutch cows in compost system barn

ABSTRACT - The demand for milk production in Brazil is increasing; the country is the sixth largest producer in the world. Due to this large production, there is a constant need for the development of new techniques that guarantee the sanitary aspect, the comfort of the animals and the mass production of milk with reduced costs. In this way, the objective of the work is to evaluate the contributions of the Compost Barn production model to sanitary aspects (hygiene of the udder, lower legs, thighs, flanks, hock injuries and hoofs) and the perspective of animal comfort. The research concluded from an on-site methodology that there was an improvement in hygiene, mainly in the udder of the Dutch cows, in the health of the hooves, and hocks compared to the data available in the literature. In addition, the study showed that in this model of production the animals remain lying down longer, a fact that is favorable for the health and welfare of the animal.
Keywords: Dairy Cattle, Dutch Cattle, Sanitary Management, Intensive System and Animal Welfare


Introdução

As instalações usadas para vacas leiteiras têm forte influência nos resultados de produtividade e sanidade do rebanho. É uma preocupação constante pela literatura buscar itens que podem melhorar o bem-estar dos animais, como conforto térmico, espaço físico adequado, etc. (BRITO et al., 2009). Dentre os sistemas de confinamento o mais utilizado no Brasil é o Free Stall, trata-se de um galpão em que as vacas em produção leiteira descansam em baias individuais. Entretanto, destaca-se um novo sistema criado em Minessota o sistema de confinamento Compost Barn traduzindo do inglês “celeiro de composto”. O Compost Barn é um sistema de confinamento em que o animal fica sobre uma cama semi compostada, criada em 2001 nos EUA. O Compost Barn possui o objetivo de trazer conforto e bem-estar para eles, sendo que o descanso é realizado em baias coletivas (AP MILANI, 2010). Um ambiente impróprio leva a perdas econômicas como: queda na produção, prejuízo na reprodução, mastites, doenças de casco, custo com tratamento e descarte dos animais, fatores que são vitais para o sucesso da produção. A literatura atual reconhece que o sistema Compost Barn traz benefícios para a produção leiteira. Assim, o objetivo do presente trabalho é avaliar as contribuições do modelo de produção Compost Barn frente aos aspectos sanitários (higiene do úbere, parte inferior das pernas, coxas, flancos, lesões no jarrete e cascos) e a perspectiva do conforto do animal em ambiente estabulado.  

Revisão Bibliográfica

A demanda crescente do mercado de leite, traz a necessidade de que a condição do alojamento das vacas holandesas garanta tanto lucratividade em grande escala para o produtor, como também garanta a saúde e forneça conforto ao animal (THAMSBORG et al., 1999). Vale acrescentar que segundo Barbeg et al. (2007) as pesquisas apresentam menor incidência de problemas de casco nas vacas no modelo de produção Compost Barn em relação ao sistema Free Stall Observa-se um percentual de incidência de 8% nas vacas criadas no sistema Compost Barn e entre 20 a 28% em propriedades no sistema Free Stall. Os autores afirmam que essa diferença de incidência de problemas se justifica por os animais ficarem sobre uma superfície mais macia no sistema Compost Barn, que permite maior liberdade para locomoção e para deitar. A partir dessa redução de incidência dos problemas de casco no sistema Compost Barn, observa-se também melhoria na detecção do cio por parte dos tratadores, acarretando em maiores taxas de concepção. As taxas de detecção de cio passaram de 37% para 41% e as taxas de concepção de 13% para 17%, no sistema Compost Barn comparando-se ao sistema Free Stall (BARBERG et al., 2007). É importante observar que a qualidade do leite obtido também se modifica no sistema Compost Barn, já que os índices de CCS (contagem de células somáticas) e incidência de mastite são reduzidos a partir da redução da carga microbiana das camas, na melhoria dos aspectos de higiene das vacas e de ambiente mais confortável que promove a melhora do sistema imune dos animais. (BRIGATTI, 2015). Segundo levantamento feito por Tomasella et. al. (2014) a alta prevalência de lesões no Free stall está diretamente relacionada ao fato de possuir uma superfície abrasiva, acarretando em um desgaste excessivo da superfície córnea dos cascos. Além de que problemas de casco provocam diminuição da eficiência reprodutiva, aumentam a incidência de mastite, gastos com tratamentos, taxa de descarte, podendo chegar, em alguns casos, até na morte do animal (FERREIRA,2005). Sabe-se que um ambiente adequado eleva a produtividade, porém, a não adequação desse sistema pode elevar o aumento da temperatura corporal do animal, acarretando negativamente no consumo de alimentos, criando-se condições favoráveis ao aparecimento de endo e ectoparasitos e de outras enfermidades que afligem os animais. (COCCHIM, 2012).

Materiais e Métodos

O presente estudo trata-se de observações in loco obtida pelo período de 15 dias julho/agosto (inverno) em uma fazenda no sul de MG. O trabalho usou uma abordagem de pesquisa quantitativa para atender o objetivo do artigo. Os dados foram coletados através de observação dos animais 2x ao dia entre 6h - 8h e entre 16h - 18h os dados eram anotados em planilha.  A higiene do úbere, parte inferior das pernas, Coxas e flancos foram avaliados aplicando-se uma nota entre 1 a 4 considerado - se, (1) - Muito limpas, (2). Limpas, (3) –Sujas, (4) -Muito sujas. Avaliação dos cascos foi coletada observando a locomoção dos animais e a classificação a partir de notas, considerando-se um escore de locomoção de 5 pontos, estabelecido por Sprecher et al. (1997): sendo (1) locomoção normal e (5) claudicação gravíssima. A avaliação da jarrete foi realizada por notas, sendo 1- sem edema 2-  sem edemas e sem pelos 3- sem pelos com feridas e edemas evidentes. Para avaliar o conforto dos animais em relação ao ambiente, foi aferido a temperatura do ambiente e umidade do ar com 2 termo higrômetro disposto a 70cm de altura dos galpões, a temperatura da superfície da cama foi obtida através de termômetro, infravermelho, da marca Fluke modelo 62 Mini, com precisão de ± 1% da leitura e a temperatura de profundidade foi aferida 30cm abaixo da superfície a umidade da cama através do teste de aperto de mão e observação da higiene das vacas. Todos estes parâmetros foram avaliados 2x ao dia ás 6:00 e 12:00. A fazenda estudada possuía 112 vacas leiteiras da raça holandesa no sistema Compost Barn, dividida em 4 lotes. Esses lotes possuem uma área total de 30m x 72m. A área da cama era de 2mx 12mx 72m, pé direito 13m. A distância de um animal para o outro é de cerca de 14 m². Existem 18 ventiladores instalados, o material da cama era de serragem sendo revolvida 3 vezes ao dia utilizando um trator com subsolador acoplado nos seguintes horários: 4:40, 11:40 e as 19:40 enquanto as vacas estão na ordenha.  

Resultados e Discussão

Durante a observação a temperatura de superfície da cama possuía uma variação entre 17,9ºC a 26,5 ºC, o indicado pela literatura é 19º C ressalta-se que as temperaturas mais altas foram registradas após seu revolvimento, aproximando-se sempre da temperatura ambiente. Nos 15 dias de estudos a temperatura ambiente estava entre mínima de 17ºC e máxima de 28ºC. A temperatura da cama a 30 cm de profundidade apresentou resultados entre 47º C e 50º C, que são temperaturas dentro da normalidade, segundo universidade de Kentucky que afirma que a temperatura deve estar entre 43ºC e 60ºC. Mesmo com a temperatura da superfície da cama chegando a valores de 26ºC possibilitou que as vacas se deitassem sem sinais de estresse térmico, atribui-se essa condição a estrutura do galpão e o auxílio dos ventiladores que distribuídos homogeneamente entre os lotes evitou aglomeração dos mesmos em um determinado local, a distância estabelecida pela literatura é de 10m² entre os animais este fato foi respeitado e se mostrou importante, pois facilitou a locomoção dos animais dentro do galpão. A umidade da cama ao realizar o teste, constatou que não houve aglomerado de líquidos escorrendo entre os dedos, portanto considera-se a cama seca. A umidade do ambiente ficou entre 50 a 58%, sendo considerada adequada de acordo com as indicações de Pereira Neto (1996). O autor explica que a quantidade de água potencializa a atividade microbiana das camas e a compostagem depende de microrganismo para decompor a matéria orgânica e produzir dióxido de carbono, água e calor. Todos os animais apresentaram escore de jarrete 1, conclui-se que o sistema adotado favoreceu o bem-estar animal, evitando traumas. O sistema locomotor, evidenciou que 78% das vacas apresentaram escore de locomoção 1 e 22% escore 2. Vacas com escore 1 é uma vaca que caminha normalmente, vacas com escore 2 são vacas que paradas não formam arcos na linha de dorso, mas que ao caminharem é possível visualizar, porém caminham normalmente.  Este fato mostra que o Compost Barn nesta fazenda proporcionou um ambiente adequado, dentro do proposto pela Farm Animal Welfare Council para 1 das 5 liberdades, que diz que os animais devem ser livres de dor, ferimentos e doenças. Na higiene, média de 2,5 sendo consideradas limpas. Validando o bom manejo da cama, revolvida 3 vezes ao dia não permitindo a umidade excessiva e impedindo que as vacas ficassem sujas.  De acordo com Brigatti (2003) o chão macio facilita o andar e o deitar das vacas dentro dos galpões, como mostra a figura¹. Resultados resumidamente tabela ¹, o sistema utilizado está no limite proposto pela literatura em relação ao bem estar animal encontrando uma ressalva o limite da temperatura de superfície, não houve desconforto dos animais, porém torna-se um ponto importante a ser    avaliado   caso o produtor deseje introduzir novos animais aos lotes o que reduziria a distância entre eles, dificultando a locomoção e o deitar, piorando a saúde e conforto dos animais.  

Conclusões

Baseado nos dados obtidos no presente estudo é possível inferir que o Sistema Compost Barn, é uma opção para produtores que visam não só o conforto de seus animais, mas também a sanidade. Outro aspecto importante observado foi a higiene, adequada principalmente no úbere dos animais, na saúde dos cascos, e jarretes se comparados aos dados disponíveis na literatura. Pode-se observar também que os animais permanecem mais tempo deitados o que é bom para sua saúde e bem estar dos mesmos. Apesar dos poucos estudos ainda sobre o Compost Barn, ele mostra-se como uma boa opção para os produtores de leite e, como todo sistema apresenta vantagens e limitações que devem ser avaliadas a principal desvantagem é a necessidade de instrumentos para revolver a cama, se mal manejada o sistema de compostagem não funciona levando prejuízos financeiros ao produtor e piora da saúde dos animais. Portanto a escolha do sistema deve ser avaliada perante fatores econômicos, ambientais e de bem estar animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARBERG, A. E., M. I. ENDRES, and K. A. JANNI. “Compost dairy barns in Minnesota: A descriptive study.” Applied Engineering in Agriculture, 23:2, 231-238, 2007 BRIGATTI, Analice. Compost Barn e a produtividade leiteira. 201, Disponível em: http://iepec.com/compost-barn-e-produtividade-leiteira/ Acesso em 03/03/2017. BRITO, A. S., F. V. Nobre, J. R. R. Fonseca. Bovinocultura leiteira: informações técnicas e de gestão. SEBRAE/RN. 320 p. 2009. CECCHIN, D. Comportamento de Vacas Leiteiras Confinadas em Free-Stall com Cama de Areia e Borracha, 2012. p. 115. Dissertação do (Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola) da Universidade Federal de Lavras, 2012. JANNI, K. A.; ENDRES, M. I.; RENEAU, J. K.; SCHOPER, W. W. Compost dairy barn layout and management recommendations. Applied Engineering in Agriculture, v.23, n. 1, 97-102, 2007. SIQUEIRA, Valise (2012) Instalação do tipo "Compost Barn" para confinamento de vacas leiteiras Acesso em: 12/03/2017 VEIGA, Santos (2012) Compost Barn uma alternativa para o confinamento de vacas leiteiras. Disponível em:https://www.milkpoint.com.br/mypoint/6239/p_compost_barn_uma_alternativa_para_o_confinamento_de_vacas_leiteiras_4771.aspx Acesso em: 25/03/2017. Compost Badded Pack Barn: características e considerações sobre o manejo (Parte 2) University of Kentucky Tradução e adaptação Equipe. Universidade do Leite. Reprodução não permitida. Publicado em: 07/04/2014. Disponível em: http://www.universidadedoleite.com.br/artigo-compost-badded-packbarn-caracteristicas-e-consideracoes-sobre-o-manejo-parte-2#7588018242508777. Acessado em: 03/03/2017 MILKPOINT (2013). Cai o número de produtores de leite do país. Disponível em: http://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/cai-o-numero-deprodutores-de-leite-do-pais-85477n.aspx. Acesso em: 17/03/2017      





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