Estratégias alimentares no desempenho produtivo da tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) em tanques-rede
2 - UNESP, Centro de Aquicultura. Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n 14884-900, Jaboticabal, SP
RESUMO -
A fim de estabelecer um protocolo de arraçoamento para tilápias em tanques-rede, este estudo propôs avaliar o desempenho produtivo da tilápia-do-nilo frente a diferentes estratégias alimentares, as quais incluíram jejum de um dia na semana e ajustes da quantidade de ração baseados na observação do consumo. Alimentação sem jejum semanal e ajustes da quantidade diária no tempo de 15 minutos de tolerância para o consumo, foram os mais adequados para criação da tilápia, pois proporcionaram os maiores valores de peso final, ganho em peso diário e consumo, assim como a menor conversão alimentar aparente (P<0,05).
Feeding regimes on productive performance of nile tilapia rearing (Oreochromis niloticus) in cages
ABSTRACT - In order to establish a feeding protocol for tilapia reared in cages, this study evaluate the productive performance of Nile tilapia in relation to different feeding strategies, which included fasting of one day a week and adjustments of the amount of feed based on the consumption observation. Feeding without fasting and the adjustment of daily feed considering 15 minutes of tolerance for consumption were considered as the best results for tilapia production. This strategy provided the highest values of final weight, daily weight gain and feed consumption, as well as the lowest feed conversion rate (P <0.05).Introdução
A criação de tilápias em tanques-rede em grandes reservatórios mostra-se uma boa alternativa para o aproveitamento de corpos d’água não explorados pela piscicultura convencional. Nesse sistema, o regime alimentar utilizado (frequência e quantidade) afeta a utilização do alimento, os custos com ração e mão-de-obra, além do ambiente devido a presença de restos de ração e metabólitos na água. Objetivando estabelecer um protocolo adequado de fornecimento de ração para tilápias em tanques-rede na fase de terminação, este estudo propôs, pela primeira vez, avaliar o desempenho produtivo da tilápia-do-nilo (O. niloticus) frente a diferentes estratégias alimentares, as quais incluíram jejum de um dia na semana e ajustes da quantidade de ração fornecida baseada em tempos de tolerância para o consumo.Revisão Bibliográfica
A alimentação manual é atualmente a forma mais utilizada nas pisciculturas. Quanto maior a unidade de produção, mais complexo e oneroso se torna o manejo alimentar devido à necessidade de maior número de tratadores capacitados para essa função. Esse profissional, juntamente com o manejo alimentar adotado pela piscicultura são pontos chave, que conduzirão o empreendimento ao sucesso ou ao fracasso (Carneiro et al., 1999).
A quantificação do volume diário de ração utilizada para alimentar peixes em tanques-rede costuma seguir a recomendação de tabelas de alimentação fornecidas pelas fábricas de ração, as quais consideram a biomassa dos tanques e a temperatura da água. Entretanto, outra forma de controlar a quantidade de ração pode ser feita pela avaliação do consumo durante um período pré-estipulado após seu fornecimento. Uma vantagem deste método é a possibilidade de ajustar quantidades diárias de ração de acordo com o consumo e sem a necessidade de realizar biometrias ou correções com base na temperatura da água e mortalidade, embora o sucesso da utilização desse manejo dependa fortemente da acurácia do tratador. Além disso, ciclos de jejum na criação de peixes é uma prática que pode ser empregada visando favorecer a taxa de crescimento e a eficiência alimentar, devido ao crescimento compensatório dos peixes na realimentação (Maclean e Metcalfe, 2001).
Materiais e Métodos
O estudo foi conduzido no reservatório da hidrelétrica de Ilha Solteira com 48 tanques-rede de 1,5 m3 de volume útil. O experimento teve duração de 83 dias e as tilápias (614,1±6,3 g) foram estocadas na densidade de 67 peixes tanque-1.
As variáveis de qualidade da água foram monitoradas e mantiveram-se dentro dos limites preconizados para a tilápia-do-nilo (temperatura: 24,2±0,8°C; oxigênio dissolvido: 4,9±0,6 mg L-1).
Os peixes foram alimentados com ração comercial ofertada três vezes ao dia, de forma contínua ou com um dia de jejum na semana. A quantidade inicial de ração foi de 2% da biomassa dos tanques e, posteriormente ajustada diariamente com base no consumo das duas primeiras alimentações do dia anterior. Três tempos de tolerância para o consumo foram considerados (cinco, quinze e 25 minutos) e a quantidade de alimento foi corrigida de acordo com os seguintes critérios: (1) quando todo alimento oferecido foi consumido por dois dias consecutivos, a quantidade foi aumentada em 5%; (2) quando observaram-se sobras em pelo menos uma das alimentações, a quantidade permaneceu a mesma; (3) quando observaram-se sobras nas duas das alimentações, a quantidade foi reduzida em 5%. Um controle foi considerado, utilizando tabela de alimentação proposta pelo fabricante de ração e alimentando os peixes sete dias na semana.
O delineamento foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 2x3. Sete repetições foram atribuídas para cada estratégia alimentar e seis repetições para o controle.
No início e ao final do experimento, todos os peixes de cada tanque foram pesados e contados individualmente. Os índices de desempenho produtivo avaliados foram: taxa de sobrevivência, peso final, ganho em peso, consumo de ração e conversão alimentar aparente. Os resultados foram analisados por meio de análises de variância fatorial. Para os resultados que apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos (P<0,05), as médias foram estudadas pelo teste de Tukey.Resultados e Discussão
As estratégias alimentares avaliadas não influenciaram a taxa de sobrevivência das tilápias e os valores encontrados foram de 99,0±0,2%. Altas taxas de sobrevivência (> 96,8%) são descritas em outros estudos com tilápias em tanques-rede na fase de terminação com densidades semelhantes (Carneiro et al., 1999), como na fase de recria com maiores densidades (Marengoni, 2006).
A estratégia com alimentação contínua e os tempos de tolerância para o consumo de 15 e 25 minutos proporcionaram os maiores valores de peso final, ganho em peso diário e consumo (Tabela 1). Porém, quando foram considerados apenas os dias de alimentação, os resultados de ganho em peso e consumo foram maiores nos grupos com jejum. Na realimentação após períodos de jejum, observa-se em diversos animais elevação da taxa de ingestão de alimento, fenômeno conhecido como hiperfagia (Ali et al., 2003); este é um dos principais mecanismos envolvidos no ganho compensatório, um processo fisiológico por meio do qual um organismo tem seu crescimento acelerado (Hornick et al., 2000). Embora estratégias alimentares com ciclos de restrição e realimentação têm sido usadas para promover respostas compensatórias no desempenho produtivo de peixes (Palma et al., 2010), no presente estudo o maior ganho em peso foi observado no grupo de tilápias alimentadas continuamente. A hiperfagia observada no grupo com um dia de jejum semanal não foi suficiente para promover aumento do peso corporal das tilápias, similar ao observado em tilápias hibridas submetidas a jejum prolongado, após quatro semanas de realimentação (Wang et al., 2000). A estratégia utilizando tabela de alimentação, resultou no menor peso final e consumo diário, sugerindo que os animais foram subalimentados.
Os menores valores de conversão alimentar aparente ocorreram quando a quantidade de ração foi ajustada observando o consumo por 5 e 15 minutos e quando não foi atribuído jejum de um dia na semana; esses valores foram cerca de 5% menores e similares ao observado utilizando tabela de alimentação (Tabela 1). A aplicação de um dia de jejum semanal não aumentou a eficiência de utilização do alimento, em relação aos peixes alimentados continuamente. O mesmo foi observado por Abdel Hakim et al. (2009) estudando juvenis de pacu, onde a restrição por três dias resultou em aumento na taxa de ingestão, mas piora dos índices de conversão alimentar e ganho em peso. Nesse estudo, a maior conversão alimentar nos peixes mantidos em jejum por um dia na semana corrobora com os resultados de maior consumo.
Os resultados deste estudo indicam que a utilização da tabela de alimentação não proporcionou quantidade adequada de ração para garantir o máximo desempenho dos peixes. Tabelas de alimentação visam proporcionar bons resultados de conversão alimentar aparente, entretanto são generalistas para todos os ambientes de criação e resultam em ajustes pouco precisos das quantidades de ração de acordo com diferentes faixas de temperatura da água.
Conclusões
De acordo com os resultados do presente estudo, sugere-se que a estratégia mais adequada para criação da tilápia-do-nilo em tanques-rede na fase de terminação é aquela na qual o ajuste da quantidade de ração é baseado no consumo em 15 minutos e sem adoção de períodos de jejum. Esta estratégia pode ser usada como ferramenta para otimizar a utilização da ração ofertada e favorecer o desempenho produtivo dos peixes. No entanto, estudos com avaliação econômica dessas estratégias devem ser realizados.
Gráficos e Tabelas
Referências
ABDEL-HAKIM, N. F.; STATE, H. A. ABO; AL-AZAB, A. A.; EL-KHOLY, KH. F. Effect of feeding regimes on growth performance of juvenile hybrid tilapia (Oreochromis niloticus x Oreochromis aureus). World Journal of Agricultural Sciences, v. 5 n. 1, p. 49, 2009.
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CARNEIRO, P. C. F.; CYRINO, J. E. P.; CASTAGNOLLI, N. Produção da tilápia vermelha da Flórida em tanques-rede. Scientia agrícola, v. 56, n. 3, p. 673-679, 1999.
HORNICK, J.L.; EENAEME, C. V.; GÉRARD, O.; DUFRASNE, I.; ISTASSE, L. Mechanisms of reduced and compensatory growth. Domestic Animal Endocrine, v. 19, n. 2, p. 121-132, 2000.
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PALMA, E.H., Takahashi, L.S., Dias, L.T.S., Gimbo, R.Y., Kuyima, T.J., Nicodemo, D. 2010. Estratégias de alimentar com ciclos de restrição e realimentação no desempenho produtivo de juvenis de tilápia do nilo da linhagem GIFT. Ciência Rural 4: 421- 426.
WANG, Y.; Cui, Y.; Yang, Y.; Cai, F. Compensatory growth in hybrid tilapia (Oreochromis mossambicus x O. niloticus), reared in seawater. Aquaculture, v. 189, n. 1-2, p. 101-108, 2000
