Estudo comportamental em matrizes suínas confinadas e sua relação com a produtividade
2 - Universidade Federal Rural do Semi-arido
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
6 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO -
Objetivo do presente trabalho foi analisar os comportamentos de matrizes suínas em turnos variados e relacionar as estereotipias apresentadas ao número de leitões vivos. Foram utilizadas 11 porcas do cruzamento das raças Large White e Landrace, dispostas em baias individuais, com alimentação fornecida em comedouros simples. As observações foram feitas em 3 dias, no período da manhã às 10h e tarde às 15h. O método de registro foi um etograma – observações-piloto. A maior parte do tempo gasto foi em comportamento de Inatividade (53%). Na separação dos turnos, houve uma diferença significativa em relação às estereotipias, no qual o período da tarde apresentou maiores valores. O valor médio de natalidade foi de 9,91 por parição, que relacionados às estereotipias apresentadas geraram significância <1%. Conclui-se que os suínos apresentam comportamentos de agitação em horários próximos ao fornecimento do alimento, mostrando a noção de “prever” o que vai acontecer posteriormente.
Behavioral study on confined swine matrices and their relation to productivity.
ABSTRACT - Aim of the present work was to analyze the behaviors of swine matrices in varied shifts and to relate the presented stereotypies to the number of live piglets. Eleven sows from the crosses of the Large White and Landrace races were used, arranged in individual stalls, with feed provided in simple feeders. Observations were made in 3 days, in the morning at 10am and later at 3pm. The recording method was an etogram - pilot observations. Most of the time spent was inactive behavior (53%). In the separation of the shifts, there was a significant difference in relation to the stereotypes, in which the afternoon presented higher values. The mean birth rate was 9.91 per calving, which related to the presented stereotypies generated significance <1%. It is concluded that the pigs present behavior of agitation in schedules close to the food supply, showing the notion of "predicting" what will happen later.Introdução
O aumento da população humana acaba influenciando de forma direta ou indireta a vida dos animais, no qual a pecuária mundial vem cada vez mais se preocupando com a eficiência dos sistemas de manejo, que forneçam cuidados e bem-estar aos animais. Na suinocultura, busca-se que as matrizes tenham parições de leitegadas com crias vigorosas, uniformes e com alto índice de sobrevivência para uma produtividade satisfatória.
Na medida em que a preocupação sobre o bem-estar animal está relacionada com a saúde básica e funcionamento dos animais, pesquisas na área tornaram-se fundamentais. Quando se relata o termo bem-estar, suas características não deve levar apenas a saúde física, mas também associar aspectos fisiológicos e psicológicos, tais como, sede, fome, dor, estresse e vários outros estados subjetivos do comportamento que são desencadeados quando os animais são privados de realizar algo que estão incentivados a fazer (Dawkins, 1990).
Certos comportamentos são expressos como uma tentativa de enfrentar algum aspecto do seu ambiente, acontecendo em sequências repetitivas do movimento com pouca ou nenhuma variação, sendo chamados de estereotipias, que em alguns casos podem não conferir efeito benéfico. Para reconhecer que o comportamento é anormal, faz-se necessário a observação do animal, estando familiarizado com os comportamentos normais da espécie e como se espera que estes sejam expressos em condições de cativeiro.
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi analisar os comportamentos de matrizes suínas em turnos variados e relacionar as estereotipias apresentadas ao número de leitões vivos.
Revisão Bibliográfica
A variedade de opiniões baseadas nos princípios sobre o que levam os animais a terem boa qualidade de vida resultou em um amplo conjunto de métodos e abordagens, os quais são usados para avaliar e melhorar o bem-estar animal. Ao rever dados sobre o uso do comportamento como índice de bem-estar, Mason & Lathan (2004) diz que uma situação confusa surge entre o que é considerado normal e anormal. Na prática, o bem-estar é avaliado por meio de indicadores fisiológicos e comportamentais. As medidas fisiológicas aliadas ao estresse têm sido usadas com base em que, se o estresse aumenta, o bem-estar diminui (Pandorfi et al., 2006). Já os indicadores comportamentais são baseados especialmente na ocorrência de comportamentos anormais e daqueles que se afastam do comportamento no ambiente natural (Machado Filho; Hötzel, 2000). Deve-se ter cuidado quando um grande número de animais apresenta um comportamento anormal, para que este não passe despercebido e seja confundido com um comportamento natural, como por exemplo, o ato dos suínos de morder as barras das instalações.
Com frequência, exemplos de estereotipias são apresentados em matrizes de gestação dispostas em baias individuais, chegando a até 80% do período de análise comportamental durante a luz do dia (Stolba; Baker; Wood-Gush, 1983). Por exemplo, Silva et al. (2008) constataram maior proporção de estereotipias nas matrizes confinadas individualmente do que nas alojadas em grupo.
No caso dos animais de produção, é necessário interligar o bem-estar à produtividade e à lucratividade da fazenda, pois, caso contrário, o produtor não obteria lucro satisfatório e poderia até sair da atividade (Fraser, 1997). Características como tamanho da leitegada, número de partos/ano, número de leitões desmamados, mortalidade pré-desmama e a natimortalidade, são capazes de definir o perfil econômico da atividade (Fraga et al., 2007). A natimortalidade representa para o produtor um déficit na produção, ou seja, aqueles animais não terminados e não comercializados (Santoro et al., 2003).
Materiais e Métodos
O trabalho foi realizado no setor de suinocultura da Unidade Especializada em Ciências Agrárias, situada na Escola agrícola de Jundiaí, no município de Macaíba/RN, com temperatura média anual de aproximadamente 26 °C (média máxima de 31 °C e mínima de 21 °C), chegando a 32 °C nos meses mais quentes e podendo cair até para abaixo de 20 °C nos meses mais frios.
As fêmeas tiveram como fator essencial para avaliação do bem-estar e estereotipias o comportamento apresentado e o número de parições que obtiveram leitões vivos. Foram utilizadas 11 porcas e marrãs vazias do cruzamento das raças Large White e Landrace, dispostas em baias individuais, com alimentação fornecida em comedouros simples. As observações foram feitas em 3 dias: 19, 24 e 25 de maio, no período da manhã às 10h e tarde às 15h.
O método de registro foi um etograma tendo como base observações-piloto, que permitiram notar quais os elementos comportamentais poderiam ser registrados, sendo o etograma final desenvolvido de acordo os estudos desenvolvidos por O’Connell, Beattie e Moss (2004), Zonderland et al. (2004) e De Leeuw et al. (2003). A medida utilizada foi o focal scanner para os estados comportamentais, anotados a cada 30 segundos até totalizar 10 minutos por turno, que contemplou uma hora de observação por animal. Os eventos foram ressaltados em estereotipias, com focal contínuo realizado juntamente as anotações dos estados. Os testes estatísticos foram realizados com o programa SPSS, versão 13.0 de 2004.
Resultados e Discussão
Foi realizado um orçamento de atividades, estimando o tempo alocado para cada atividade baseado na proporção de focais (Gráfico 1).
A maior parte do tempo gasto foi em comportamento de Inatividade, correspondendo a 53%, seguido de Observar o Ambiente com 23,9% e Estereotipias, com 11,7%. Esses dados nos mostram que as matrizes passam grande parte do tempo paradas, levando ao ócio, que pode ser devido ao ambiente pobre. Também devemos levar em consideração que em estudos comparativos de sistemas de produção, é difícil descobrir quantos animais apresentam desempenho ruim, pois os dados são apresentados como uma média dos animais em um sistema. Portanto, algumas matrizes que produzem bem podem mascarar outras com baixa produção. Isso nos mostra a importância de avaliar o comportamento individual.
A comparação entre os turnos (manhã, tarde, manhã+tarde) gerou resultados significativos com relação aos estados comportamentais de Manipular o Ambiente com 0,018%, Observar o Ambiente com 0,000%, Mastigar Vazio com 0,040% e Fuçar com 0,002%. Na separação dos turnos, houve uma diferença significativa com relação às estereotipias, no qual o período da tarde apresentou maiores valores (Gráfico 2). Isso pode ter sido devido ao manejo para fornecimento da alimentação dos suínos ocorrerem no início da manhã e ao final da tarde, fazendo com que os animais demonstrassem uma agitação à espera do alimento, que acontecia momentos depois da coleta de dados. Sob essas condições de manejo, os animais ficam intensamente excitados na hora da alimentação e em momentos antes (Broom, Fraser, 2010).
O valor médio de natalidade foi de 9,91 por parição, que relacionados às estereotipias apresentadas geraram significância <1%, totalizando 19,09 estereotipias por hora e 0,3 por minuto. Desses comportamentos, os mais apresentados foram de Mastigar o Vazio com 47,619%, Esticar o Pescoço com 14,285% e Coçar com 9,048%.
Não houve correlação entre o número de estereotipias e a produção das matrizes, porém os índices reprodutivos também são variáveis que podem indicar problemas no ambiente em que o animal vive. Na comparação de bem-estar de matrizes por Broom et al. (1995), a maior diferença entre os animais em diferentes condições de alojamento foi o nível muito maior de comportamento anormal nas matrizes alojadas em baias individuais que em ambas as outras condições de alojamento.
A dieta pode ter um efeito sobre as estereotipias. Volumosos adicionados em formatos manipuláveis, como o feno, por exemplo, pode haver uma redução considerável em estereotipias (Broom, Fraser, 2010). Portando, adotar alternativas no manejo diário pode gerar situações que evitem expressões de comportamentos estereotipados, mesmo que no caso deste trabalho não tenha dado diferença significativa, podendo ser por motivos de um pequeno número amostral ou por pouco tempo de coleta de dados, por exemplo.
Conclusões
Conclui-se que os suínos apresentam comportamentos de agitação em horários próximos ao fornecimento do alimento, mostrando a noção de “prever” o que irá acontecer posteriormente. A relação dos comportamentos estereotipados com a produção de leitões vivos não variou, podendo ser pelo fato do pequeno número amostral e o curto prazo em que foi realizada a pesquisa. A implantação de novos trabalhos na área podem mostrar resultados que diferem e inovar a discussão sobre a temática.
Referências
Broom, D.M., Mendl, M.T. and Zanella, A.J. (1995). A comparison of the welfare of sows in diferente housing conditions. Animal Science 61, p. 369-385.
Broom, D.M., Fraser, A.F. (2010). Domestic animal behavior and welfare. 4 ed., p. 226-234; 272-280.
Dawkins, M.S. (1990). From an animal’s point of view: Motivation, fitness, and animal welfare. Behavioral and Brain Sciences. Disponível em: <http://doi.org/10.1017/S0140525X00077104>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
De Leeuw, J.A.; Ekkel, E.D.; Jongbloed, A.W.; Verstegen, M.A.W. (2003). Effects of floor-feeding and the presence of a foraging substrate on the behaviour and stress physiological response of individually housed gilts. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 80, n. 2, p. 297–310.
Fraga, A.B.; Araújo Filho, J.T.; Azevedo, A.P.; Silva, F.L.; Santana, R.S.; Machado, D.F.B.P.; Costa, P.P.S. (2007). Peso médio do leitão, peso e tamanho de leitegada, natimortalidade e mortalidade em suínos no estado de Alagoas. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.8, n.4, p. 354-363, out/dez, 2007.
Fraser, A.F.; Broom, D.M. (1997). Pig welfare problems. In: Farm animal behaviour and welfare. 3th ed. Wallington, UK: Cab International, p.358-369.
Machado Filho, L.C.P.; Hötzel, M.J. (2000). Bem estar em suínos. In: Seminário Internacional de Suinocultura, 5., 2000, São Paulo. Anais. São Paulo: Gessuli, p. 88-105.
Mason, G.J. & Latham, N.R. (2004). Can’t stop, won't stop: Is stereotypy a reliable animal welfare indicator?. Animal Welfare, 13(SUPPL.), p. 57–69.
O’connell, N.E.; Beattie, V.E.; Moss, B.W. (2004). Influence of replacement rate on the welfare of sows introduced to a large dynamic group. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 85, n. 1/2, p. 43-56.
Pandorfi, H.; Silva, I.J.O.; Carvalho, J.L.; Piedade, S.M.S. (2006). Estudo do comportamento bioclimático de matrizes suínas alojadas em baias individuais e coletivas, com ênfase no bem-estar animal na fase de gestação. Engenharia Rural, v.17, n.1.
Santoro, K. R.; Barbosa; S. B. P., Holanda, M. C. R. (2003). Modelo de predição da natimortalidade em suínos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.5, p.1131-1140.
Silva, I.J.O.; Pandorfi, H.; Piedade, S.M.S. (2008). Influência do sistema de alojamento no comportamento e bem-estar de matrizes suínas em gestação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.7, p.1319-1329.
Stolba, A.; Baker, N.; Wood-Gush, D.G.M. (1983). The characterization of stereotyped behavior in stalled sows by informational redundancy. Behaviour, Leiden, v. 77, n. 1, p. 157-81.
Zonderland, J.J.; Leeuw, J.A.; Nolten, C.; Spoolder, H.A.M. (2004). Assessing long-term behavioural effects of feeding motivation in group-housed pregnant sows; what, when and how to observe. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 87, n. 1/2, p. 15-30.