Estudo de caso sobre a taxa de sobrevivência para pós-larvas de Tambaqui (Colossoma macropomum) em piscicultura no estado do Mato Grosso
2 - Universidade Federal de Mato Grosso
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RESUMO -
O domínio da tecnologia de produção de alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum) e sua prática como procedimento de rotina nas estações de piscicultura assume papel fundamental para o sucesso da atividade de produção de peixes em cativeiro. O objetivo com o presente trabalho foi avaliar a sobrevivência de pós-larvas de tambaqui em viveiro escavado de uma piscicultura comercial de grande porte instalada no estado do Mato Grosso. Utilizou-se 1.200.000 pós-larvas de tambaqui para o povoamento do viveiro escavado. Os manejos realizados durante o período foram o preparo do viveiro, povoamento/aclimatação, arraçoamento, análise de água, biometria e repicagem dos alevinos. A taxa de sobrevivência foi baixa e há necessidade de mais estudos no manejo de pós-larvas da espécie.
Case study about the survival rate for Tambaqui (Colossoma macropomum) post-larvae of a fish farming in Mato Grosso state
ABSTRACT - The dominance of technology for production of tambaqui (Colossoma macropomum) fingerlings and its practice as a routine procedure in fish farming stations assumes a fundamental role for the success of fish production. The objective through this work was to evaluate the survival of tambaqui post-larvae in a pond from a large commercial fish farming in Mato Grosso state. It were used 1,200,000 post-larvae of tambaqui released in the pond. The management during the period were pond preparation, release/acclimatization, feeding, water analysis, biometrics and fingerlings transfer. The survival rate was low and more studies about post-larvae management are necessary for this species.Introdução
A aquicultura é a atividade de cultivo de organismos cujo ciclo de vida em condições naturais se dá total ou parcialmente em meio aquático (BRASIL, 2014) e dentre as suas subdivisões, a piscicultura é a de maior importância mundial, representando 66,3% de volume total de produção mundial (44.151 milhões de toneladas) e 63,5% do valor (87.499 milhões de dólares) total, seguida em volume, de crustáceos (9,7%), moluscos (22,8%) e outras espécies (1,3%). Dos 66,3% da piscicultura, a piscicultura continental ou de água doce representa 87,42% (38.599 milhões de toneladas) e a piscicultura marinha 12,58% (5.552 milhões de toneladas) (FAO, 2014). Na criação de peixes em cativeiro há três fases cruciais envolvidas no processo produtivo, a reprodução, alevinagem ou recria e engorda. Dentre essas fases, a alevinagem consiste na produção dos alevinos, ou seja, a prole dos peixes que já se assemelham aos adultos da sua espécie. A produção de alevinos foi de 955,61 mil milheiros em 2015, representando um aumento de 16,2% em relação a 2014. A Região Sul liderou o ranking da produção de alevinos (29,3%), seguida pelas Regiões Nordeste (26,8%), Sudeste (20,1%), Centro-Oeste (11,9%) e Norte (11,9%) (IBGE, 2015). O domínio da tecnologia de produção de alevinos de tambaqui e sua consequente prática como procedimento de rotina das estações de piscicultura é um evento que se reveste da maior importância para o desenvolvimento da aqüicultura continental (LOPES; FONTENELE, 1982). Dado a necessidade de mais informações práticas quanto à sobrevivência de pós-larvas de espécies nativas em viveiros escavados de pisciculturas, o objetivo através do presente trabalho foi verificar a sobrevivência de pós-larvas de Tambaqui (Colossoma macropomum) em viveiro escavado do setor de alevinagem da piscicultura na Fazenda Filadélfia, do Grupo Bom Futuro.Revisão Bibliográfica
Nos últimos anos, a demanda mundial por pescado tem aumentado de maneira significativa, particularmente em função do crescimento da população mundial e da busca de alimentos mais saudáveis por parte dos consumidores. Neste contexto, a aquicultura surge como a alternativa viável para suprir a crescente demanda de pescado nos próximos anos. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2015, a aquicultura brasileira atingiu um valor de produção de R$ 4,39 bilhões, com a maior parte (69,9%) oriunda da criação de peixes, seguida pela criação de camarões (20,6%). Vale ressaltar que o Brasil apresenta um grande potencial para a produção aquícola, especialmente por sua disponibilidade hídrica, clima favorável, terras disponíveis, variedade de espécies nativas com interesse zootécnico, mão de obra relativamente barata e crescente mercado interno. A produção da piscicultura brasileira em 2016 foi de 640.510 toneladas conferindo um aumento adicional de 2.510 toneladas em relação ao ano de 2015. Os estados que lideraram o ranking de produção foram Paraná (93.600 T), Rondônia (74.750 T), São Paulo (65.400 T) e Mato Grosso (59.900 T). Dentre as regiões, houve destaque para o Norte (158.900 T) com crescimento de 4,81% sobre 2015, seguido das regiões Sul (152.430 T) com crescimento de 13% sobre 2015, Centro-Oeste (120.670 T), Nordeste (104.680 T) e Sudeste (103.830 T) (PEIXE BR, 2016). Na piscicultura, há as fases de larvas, pós-larvas, alevinos e peixe adulto. Após a eclosão, as larvas não possuem a boca aberta nem o trato digestivo formado, dependendo exclusivamente da reserva de nutrientes do saco vitelínico. Após algumas horas ou alguns dias de vida, a boca da larva se abre e esta pode iniciar a captura de alimentos externos, momento em que a larva passa a ser chamada de póslarva. Tanto a larva como a póslarva não se parecem com o peixe adulto e apresentam pouca pigmentação. As póslarvas passam a ser chamadas de alevinos quando estas apresentam características que já lembram os exemplares adultos, como a presença de todas as nadadeiras, a respiração branquial e a forma do peixe adulto. O peixe só deixa de ser alevino quando ele atinge maturação sexual (KUBTIZA, 2003). A criação de espécies nativas tem crescido no país, e o tambaqui tem expandido sua criação das regiões do Norte, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste (CHAGAS, 2010). Essa expansão se deve ao excelente potencial da espécie na produção intensiva quanto a fácil obtenção de juvenis, bom potencial de crescimento, alta produtividade, resistência a baixos níveis de oxigênio dissolvido na água (DAIRIKI & SILVA, 2011) e ao ótimo uso dos alimentos. O sucesso da piscicultura como uma bioindústria é proveniente do domínio da produção de pós-larvas e alevinos de espécies potencialmente cultiváveis que garantem a formação saudável dos peixes e o abastecimento do mercado (BORGHETTI, 1996; MOREIRA, 1998; SENHORINE & FRANSOTO, 1998; ZIMMERMANN, 1999; SIPAÚBA-TAVARES, 1993). Isto requer o entendimento sobre desenvolvimento, alimentação, taxas de sobrevivência e outros aspectos biológicos das larvas (ZAVALA-CAMIN, 1996; CESTAROLLI et al., 1997; PEZZATO, 1997).Materiais e Métodos
O Grupo Bom Futuro recentemente investiu no melhoramento genético de peixes nativos em parceria com pesquisadores autônomos e foi construído um centro de pesquisa na unidade de produção de alevinos de peixes nativos localizada em Cuiabá, no distrito Coxipó do Ouro – MT. Na estação reprodutiva 2016/2017 em uma desova para formação de famílias foram produzidas pós-larvas de tambaqui e destinadas ao setor de alevinagem da fazenda Filadélfia do Grupo Bom Futuro, em Campo Verde – MT. Utilizou-se como unidade experimental para avaliação da sobrevivência das pós-larvas de tambaqui, um viveiro escavado localizado em frente ao laboratório do setor, com dimensões de 100m x 30m, telado para evitar predação por pássaros, com sistema de drenagem de água do tipo monge e entrada de água com tela do tipo sombrite que serviu como filtro na entrada do viveiro evitando-se a entrada de possíveis predadores. Antes de receber as pós-larvas houve preparação prévia do viveiro (Tabela 1) com esvaziamento completo, desinfecção com cal virgem, calagem com calcário agrícola dolomítico, adubação com Organpesc® e o enchimento do viveiro iniciou-se no dia seguinte. As pós-larvas de três dias de vida chegaram no período matutino na quantidade de 1,2 milhões, devidamente distribuídas em sacolas plásticas transparentes. Estas foram aclimatadas e soltas no viveiro 24 que foi devidamente preparado de acordo com as instruções do Protocolo de larvas de tambaqui. A aclimatação foi feita de modo que cada sacola plástica foi colocada na água e boiava por alguns minutos, depois desamarrava-se a borracha e adicionava-se gradualmente a água do viveiro até ocorrer a troca total de água da sacola e posterior soltura das pós-larvas. O manejo alimentar das pós-larvas, foi iniciado com ração em pó, teor de 55% de proteína bruta, que era umedecida para evitar desperdício e fornecida em oito tratos diários, de segunda à domingo. A quantidade de ração era aumentada a cada semana, sendo na primeira semana fornecido 0,5 kg/trato, na segunda semana 0,6 kg/trato, na terceira semana 0,8 kg/trato e na quarta semana 1,0 kg/trato. Os parâmetros de qualidade de água eram aferidos diariamente no período matutino e vespertino e registrados em planilha específica. Na alevinagem, os parâmetros aferidos diariamente eram oxigênio dissolvido e temperatura através de sonda multiparâmetro e semanalmente pH, amônia, alcalinidade, dureza e transparência através de Kits colorimétricos e disco de Secchi, o qual é utilizado para aferir a transparência da água. A biometria foi realizada através de uma rede de malha fina passada próxima ao monge e retirou-se uma amostra aleatória de 15 alevinos que foi levada ao laboratório de alevinagem para pesagem em balança de precisão. O último manejo durante o trabalho foi o de repicagem dos alevinos utilizando-se de rede de arrasto (malha de 1 cm) e transferência dos mesmos para o viveiro 25. Utilizou-se peneira de inox para estimativa da contagem dos alevinos aferindo-se a média de três peneiras (166 alevinos/peneira).Resultados e Discussão
As análises de água foram feitas conforme procedimento padrão da unidade e armazenadas em planilha (Tabela 2). Para o mês de dezembro de 2016 a média para o oxigênio dissolvido no período matutino foi de 6,38, com níveis críticos abaixo de 2 mg/l, em dois dias consecutivos, de modo que aumentou-se a entrada de água em um dia e colocou-se aerador de emergência no dia seguinte por 2 horas. O oxigênio no período vespertino apresentou média de 8,83 mg/l. A média de temperatura foi de 26,84ºC no período matutino e 28,85ºC no período vespertino. A média do pH foi de 7,43 e da amônia total de 0,0048 ppm. Já a média para transparência foi de 61,5 cm; a alcalinidade foi de 39 mg/l e a dureza foi de 45,33 mg/l. Recomenda-se para as pós-larvas que o oxigênio dissolvido tenha concentração maior que 3 mg/l, principalmente nos primeiros dias de larvicultura, sendo que valores abaixo deste podem acarretar altas taxas de mortalidade. A temperatura de conforto térmico para peixes nativos é de 25 a 32ºC e variação de temperatura acima de 2ºC pode resultar em mortalidade. O pH ideal fica entre 6,5 e 8,5, e é recomendável estar abaixo de 8,5 principalmente nas semanas iniciais. A alcalinidade e dureza devem estar com concentração acima de 30 mg de CaCO3/l. A transparência deve estar em torno de 30-40 cm (KUBTIZA, 2003). A maioria dos parâmetros estava de acordo com as recomendações, exceto a média da transparência que estava acima do recomendado. Para correção da transparência foi feita uma adubação de manutenção com uréia granulada dissolvida na água na dosagem de 3 g/m², 14 dias após a chegada das pós-larvas. Durante o período do trabalho observou-se incidência de ninfas de Libélula (Odonata) principalmente durante o manejo de repicagem dos alevinos. As ninfas da Libélula (Odonata) se alimentam das pós-larvas de peixes e representam um ponto crítico para a produção de pós-larvas. A densidade de estocagem foi de 400 pós-larvas/m² que está acima do recomendado para a espécie tambaqui que é em torno de 200-300/m² (KUBTIZA, 2008). Na biometria realizada 30 dias após a chegada das pós-larvas a média de tamanho dos alevinos foi de 3 cm e peso de 0,000683 kg, sendo que o lote apresentou bom desenvolvimento e uniformidade. No manejo de repicagem, a contagem total final foi de aproximadamente 6.640 alevinos. Considerando ter seguido a risca o protocolo de manejo de pós-larvas de tambaqui, a taxa de sobrevivência das pós-larvas de tambaqui foi baixa e pode estar relacionado à alta incidência de ninfas de odonata. Nesse contexto evidencia-se a importância de realizar um controle mais minucioso de odonata nos primeiros 15 dias de estocagem de pós-larvas para que se alcance uma maior produção nessa fase. De acordo com Silva & Figueiredo (1991), a primeira alevinagem dura 30 a 40 dias, sendo a taxa de sobrevivência de pós-larvas/alevinos entre 30 a 50%, a uma densidade de estocagem que varia de 75 a 200 pós-larvas/m3 em diversas pisciculturas do Nordeste. Este resultado encontra-se de acordo com os obtidos em estudo realizado por Santos et. al (2007), para a espécie tambaqui (Colossoma macropomum), cuja unidade experimental foi tanque de alvenaria em estação de piscicultura na Bahia. Neste estudo, avaliou-se a sobrevivência e crescimento de pós-larvas de tambaqui sob diferentes densidades, sendo de 50 pós-larvas/m² (tratamento 1) e 100 pós-larvas/m² (tratamento 2) e a porcentagem de sobrevivência e crescimento foram de 46,86 % ; 37,06%, e 5,2cm; 3,6cm, respectivamente para as densidades e itens avaliados. A taxa de sobrevivência das pós-larvas do presente estudo em viveiro escavado, com densidade de 400 pós-larvas/m² foi bem abaixo dos resultados esperados.Conclusões
A taxa de sobrevivência de pós-larvas de tambaqui (Colossoma macropomum) em piscicultura comercial foi baixa. Portanto, mais estudos precisam ser feitos em relação ao manejo de pós-larvas em viveiro escavado, principalmente no que se refere ao controle de odonata.Gráficos e Tabelas

