Estudo parasitológico em ovinos Santa Inês criados de forma extensiva em função da categoria animal

Gabriela de Goes Brainer1, Juscelino Alves de Oliveira2, José Ricardo Dias Moraes3, Jordana Belos dos Santos4, Adriano Ruppenthal5, Natalia Holtz Alves Pedroso Mora6, Denise da Costa Barboza Carmo7, Ana Paula Silva Possamai8
1 - Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
2 - Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
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8 - Faculdades Unidas do Vale do Araguaia

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi quantificar o número de ovos por gramas de fezes (OPG) e mensurar as alterações hematológicas, por meio do hematócrito em ovinos criados de forma extensiva. Foram utilizados 11 animais da raça Santa Inês, divididos em três categorias: 04 fêmeas em lactação, 04 fêmeas prenhas e 03 borregas, com idade entre 7 a 24 meses, avaliadas durante três meses consecutivos. Para os valores de OPG, não foram observadas diferenças entre as categorias e períodos de avaliação. Em relação ao hematócrito, notou-se diferença nos resultados entre as categorias, no entanto não observou-se diferença nos valores de hematócrito nos três períodos de análises. Após a avaliação dos dados, pode-se concluir que a avaliação de hematócrito mostrou-se mais acurada na detecção de infestações parasitológicas em ovinos, por mostrar menor coeficiente de variação entre os dados analisados, o que proporciona maior exatidão nas respostas obtidas.

Palavras-chave: Hematócrito, nematódeos, OPG

Parasitological study in Santa Ines sheep raised in an extensive regime according to animal category

ABSTRACT - The goal of this work was to quantify the number of eggs per gram of faeces (EPG) and to measure the hematological changes, by hematocrit in extensively raised sheep. Eleven animals of Santa Inês breed were used, divided into three categories: 04 lactating females, 04 pregnant females and 03 lambs, aged 7 to 24 months, evaluated during three consecutive months. For EPG values, no differences were observed between categories and evaluation periods. Regarding the hematocrit, we noticed a difference in the results between the categories, but no difference was observed in the hematocrit values in the three analysis periods. After the evaluation of the data, it can be concluded that the hematocrit evaluation was more accurate in the detection of parasitological infestations in sheep, because it shows a lower coefficient of variation between the analyzed data, which provides greater accuracy in the responses obtained.
Keywords: EPG, hematocrit, nematode


Introdução

O rebanho ovino no Brasil atualmente é de 17.614.454 milhões de cabeças, cuja a vasta maioria dos animais são deslanados e semilanados, dentre os quais se destacam as raças santa Inês. A região Centro-Oeste comporta em torno de 1.209.581 milhões de animais, sendo que o Mato Grosso, por sua vez, possui um rebanho de 989.434 animais (IBGE, 2011; IBGE, 2016). O desenvolvimento da ovinocultura é considerada uma importante estratégia para o crescimento socioeconômico rural em diversas regiões, além de ser uma ferramenta para geração de renda aos produtores rurais e aos demais participantes da cadeia (GUIMARÃES; SOUZA, 2014). Em contrapartida, os ovinocultores sofrem com um problema sanitário importante, a verminose, a qual acarreta prejuízos econômicos como, perda de peso, retração na produção de lã, diminuição na produção de leite, influência também na fertilidade e na mortalidade do rebanho, além de aumentar os custos no controle parasitário (CHAGAS et al., 2007; ROCHA et al., 2008). Assim, observa-se a importância da utilização de exames laboratoriais, que avaliem a resistência parasitária, advinda do uso indiscriminado de anti-helmínticos. Tendo em vista o exposto, este trabalho tem por objetivo monitorar o número de ovos por gramas de fezes (OPG), bem como mensurar as alterações hematológicas, por meio do hematócrito, em ovinos criados de forma extensiva no município de Barra do Garças – MT.

Revisão Bibliográfica

Para promover melhorias na produção de ovinos são necessários cuidados relacionados aos aspectos sanitários, tais como o controle de verminoses gastrintestinais, uma vez que possuem importância na exploração econômica na da criação de ovinos, sendo um dos principais fatores limitantes na produção, especialmente nas regiões tropicais, onde ocasiona grandes prejuízos (VIEIRA, 2007). Ovinos criados a pasto estão mais propícios a apresentarem problemas com verminose, normalmente, se infectam ao ingerirem as larvas infectantes (terceiro estágio) presentes nas pastagens (AMARANTE, 2001). Os prejuízos causados ao produtor podem resultar em acentuada queda no lucro projetado, é possível os animais de um mesmo rebanho apresentem algum grau de infecção causando prejuízos na redução de ganho de peso e, consequentemente, levando a elevados índices de mortalidade. De forma geral, os animais até a puberdade demonstram grande susceptibilidade a parasitoses, adquirindo resistência com o avançar da idade. Devido as variações climatológicas e as características fisiológicas, os ovinos se encontram passíveis de contaminação com endoparasitos (MILLER; HOROBOV, 2006). Fêmeas que apresentam queda da imunidade no periparto, promovem aumento da quantidade de ovos eliminado nas fezes, provocada por imunossupressão de origem endócrina, decorrente de variações hormonais que ocorrem próximas ao parto e durante a lactação (COSTA; SIMÕES; RIET-CORREA, 2011). Dentre os nematódeos que acometem ovinos e caprinos merecem destaque o Haemonchus controtus, Trichostrongylus colubriformis e Oesophagostomum columbianum, tendo o H. contortus uma elevada prevalência nos rebanhos ovinos brasileiros, devido a sua alta patogenicidade e também à resistência aos antiparasitários. É um parasita hematófago, que desencadeia sinais clínicos, como: anemia, edema submandibular, emagrecimento e até a morte nos casos de infestação maciça (SOTOMAIOR et al., 2009). Em estudo realizado no município de Rondonopolis-MT, verificou-se que os nematódeos dos gêneros Haemonchus, Trichostrongylus, Oesophagostomum e Cooperia são os de maior prevalência nos rebanhos avaliados, sendo que os gêneros Haemonchus e Trichostrongylus obtiveram prevalência em 100% das amostras (SILVA et al., 2010).

Materiais e Métodos

O presente trabalho foi realizado no município de Barra do Garças – MT, entre os meses de junho a agosto. Foram utilizadas 11 fêmeas Santa Inês, distribuídas aleatoriamente em delineamento fatorial (3X3), sendo três categorias: 04 fêmeas em lactação, 04 fêmeas prenhas e 03 borregas, com peso médio inicial de 35,51; 36,47 e 18,09 kg respectivamente, e idade de 7 a 24 meses. Avaliadas em 3 períodos (junho, julho e agosto), tendo entre cada período intervalo de 27 dias. Os animais foram vermifugados 48 horas antes do início do período experimental (Doramectina), e mantidos durante todo o período de avaliação em pastos de capim Massai (Panicum maximum Jacq), sob pastejo de lotação contínua. No início do período experimental os animais foram submetidos a coletas de fezes para contagem de OPG e coletas de sangue para avaliação de hematócritos, sendo estas avaliações realizadas a cada 27 dias durante 81 dias. As coletas de fezes foram realizadas no período da manhã, em que foram coletadas aproximadamente cinco gramas de fezes diretamente da ampola retal e as amostras obtidas acondicionadas em sacos plásticos individuais devidamente identificados e posteriormente encaminhadas para o laboratório de Parasitologia das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia - UNIVAR, campus Barra do Garças - MT. A avaliação do OPG, foi realizada de acordo com a técnica de McMaster Modificada, desenvolvida por Gordon e Whitlock, e descrita por Ueno e Gonçalves (1998). A coleta de sangue foi realizada por meio da punção da veia jugular e o sangue coletado foi depositado em tubos de ensaio estéreis, contendo anticoagulante EDTA. A determinação do valor do hematócrito das amostras colhidas foi realizada de acordo com a técnica de micro-hematócrito descrita por Thrall et al (2015). Os dados obtidos foram utilizados para análise estatística, sendo submetidos à análise de variância e teste Tukey (P≤0,05).

Resultados e Discussão

Para os valores de OPG, não foram observadas diferenças para as avaliações realizadas nas diferentes categorias e períodos. De acordo com Ueno e Gonçalvez (1998), nas infecções por helmintos gastrointestinais em ovinos, as contagens de OPG que assumem valores acima de 1000 podem ser descritas como infecções moderadas, já aquelas que passam de 2000 ovos na contagem são consideradas como infecções intensas. Deste modo, os resultados encontrados nas três categorias analisadas, podem ser consideradas como infecções leves. Ao observar-se os dados referentes a avaliação de hematócrito, notou-se diferença nos resultados obtidos entre as categorias (Tabela 1), em que o valor observado para as fêmeas prenhas foi superior aos valores das borregas e fêmeas em lactação, que por sua vez, não diferiram entre si. Radostits et al. (2014), descrevem como valor referência satisfatório para hematócrito em ovinos, valores que fiquem entre 27% e 45%. Assim, observa-se que a categoria de fêmeas prenhas apresentou valor acima dos estabelecidos como satisfatório. Embora não tenha sido encontrada diferença significativa entre as categorias borregas (27,02%) e fêmeas em lactação (25,85%), pode-se observar que estes animais se apresentavam com níveis de hematócrito no limite e abaixo dos estabelecidos por Radostits et al. (2014), respectivamente. Assim, ambas categorias estavam com tendência à anemia, necessitando de maior atenção. Em trabalho realizado por Rahmam e Collins (1992) com avaliação do hematócrito em cordeiros, os autores relacionaram a diminuição do hematócrito com a espoliação sanguínea e a hemorragia provocada pelos helmintos nos pontos de fixação, e também à produção hematopoiética lenta, atribuída ao esgotamento das reservas de ferro e ao fator de crescimento, que juntos podem ser considerados como fator desencadeante da anemia. Segundo Armour (1985), a queda da imunidade em fêmeas em lactação está ligada diretamente com os níveis sanguíneos de prolactina, os quais influenciam de certo modo suprimindo o sistema imunológico do animal, deixando o mesmo exposto à ação dos parasitas. Ao observar-se os valores de hematócrito analisados nos três períodos, os resultados não diferiram entre si, e se mantiveram-se em níveis aceitáveis, porém, bem próximos do limite inferior adequado.

Conclusões

Os dados obtidos por  meio do  hematócrito  demonstraram  maior  precisão  quando comparado com os valores de OPG. Assim o hematócrito, demonstra ser uma ferramenta de grande importância da detecção de quadros anêmicos relacionados com a verminose em ovinos, além de corroborar como um complemento aos valores da contagem de OPG para obtenção de um diagnóstico mais preciso.

Gráficos e Tabelas




Referências

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