Exigências para ganho de peso de cordeiros da raça Corriedale confinados: Energia líquida

Stefani Macari1, Andressa Ana Martins2, Cleber Cassol Pires3, William Soares Teixeira4, Juliano Henriques Motta5, Gabriela Carvalho6, Emanuelle Vargas Alves7, Juliene Silva Rosa8
1 - Departamento de Zootecnia/FAEM/UFPEL
2 - Pós-Graduação em Zootecnia/UFSM
3 - Departamento de Zootecnia/UFSM
4 - Pós-Graduação em Zootecnia/UFSM
5 - Pós-Graduação em Zootecnia/UFSM
6 - Curso de Graduação em Zootecnia/UFSM
7 - Pós-Graduação em Zootecnia/ UFSM
8 - Curso de Graduação em Zootecnia/UFSM

RESUMO -

O experimento foi realizado com o objetivo de determinar a exigência líquida de energia para ganho de peso (ELg) de cordeiros da raça Corriedale confinados. Foram utilizados 24 cordeiros, desmamados aos 80 dias de idade com peso vivo (PV) médio de 28,75 kg. Destes, seis cordeiros foram aleatoriamente selecionados e abatidos após 10 dias de adaptação as condições experimentais, os demais, foram alimentados ad libitum e abatidos aos 28, 33 ou 38 kg de PV. A dieta foi composta por silagem de sorgo, grão de milho, farelo de soja e calcário calcítico, e mistura mineral. Cada componente corporal foi pesado individualmente, triturado, amostrado e congelado para posteriores análises químicas. Determinou-se o conteúdo total de energia corporal. As exigências de ELg foram elevadas com o incremento do PV e da taxa de ganho. Os valores de ELg para cordeiros com 28 e 38 kg de PV, e ganho médio diário de 250 gramas, foram 528 e 596 kcal/dia, respectivamente.

Palavras-chave: abate comparativo, crescimento, nutrição, ovinos

Requirements for body weight gain of feedlot lambs breed Corriedale: Net energy

ABSTRACT - The experiment was conducted with the objective of determining the net energy requirements for weight gain (NEg) of Corriedale breed lambs confined. Were used twenty four lambs weaned at 80 days of age with a mean live weight of 28.75 kg. Were six lambs randomly selected and slaughtered after 10 days of adaptation to the experimental conditions. The other lambs were fed ad libitum and slaughtered at 28, 33 or 38 kg of BW. The diet was composed of sorghum silage, corn grain, soybean meal and calcitic limestone, and mineral mix. Each body component was weighed individually, crushed, sampled and frozen for further chemical analysis. The total body energy content was determined. The NEg requirements were elevated with the increase in BW and the rate of gain. The NEg values for lambs with 28 and 38 kg of BW, and average daily gain of 250 grams, were 528 and 596 kcal/day, respectively.
Keywords: comparative slaughter, growth, nutrition, sheep


Introdução

O crescimento adequado de um animal pode ser observado pela elevação do peso e do tamanho corporal, alguns fatores podem influenciar este desenvolvimento, como por exemplo, a raça, a alimentação e o meio em o animal está submetido. O máximo desempenho produtivo, está diretamente relacionado a genética, ambiente e nutrição dos animais, os quais devem estar adequados as necessidades destes para a produção. Os estudos para a determinação das exigências nutricionais de ovinos adaptados as condições brasileiras são recentes, no entanto de grande importância, pois a nutrição é um dos principais pontos que dever considerado no sistema produtivo. Grande parte das formulações de dietas, no Brasil, ainda é elaborada conforme os requisitos nutricionais desenvolvidos em outros países, entretanto, esses possuem ambiente, alimentos e animais diferentes dos encontrados nas condições brasileiras.  Conforme Cabral et. al, (2008), para calcular corretamente uma dieta deve-se conhecer as exigências nutricionais do animal e possuir informações da composição do alimento que será fornecido. Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo estimar a exigência líquida em ganho de peso vivo de cordeiros Corriedale terminados em confinamento.

Revisão Bibliográfica

A genética, saúde e nutrição são pontos importantes do sistema de produção, e estão interligadas, quando estes são atendidos é possível maximizar os resultados. As exigências nutricionais em energia, proteína e minerais são afetadas por diversos fatores, entre eles, a idade animal, o tamanho corporal, a taxa de crescimento, o estado fisiológico e a atividade muscular. E ainda, tem-se o fator meio ambiente, este sofre influência da temperatura, umidade, intensidade solar, entre outros. A exigência nutricional pode ser definida pela quantidade de nutrientes disponíveis na dieta dos animais sadios necessária para suprir as suas necessidades fisiológicas. A adequação de dietas para os animais requer o conhecimento das suas exigências nutricionais e do valor nutritivo dos alimentos, que, por meio de métodos específicos, são combinados em proporções adequadas, de modo a conciliar o atendimento das exigências nutricionais dos animais (CABRAL et al., 2008). As exigências energéticas para o ganho são calculadas a partir da deposição de energia líquida por quilo de ganho corporal, desse modo, para a determinação dessa exigência é necessário considerar a variação na composição corporal em função do aumento de peso dos animais (ARC, 1980). Os conteúdos de proteína e gordura no corpo dos animais aumentam à medida que o peso se eleva. Por outro lado, em termos de concentração, ou seja, g/kg de PV ou Mcal/kg de PV, com a elevação do peso corporal, ocorre decréscimo no conteúdo corporal de proteína e aumento na concentração de gordura com incremento paralelo no conteúdo de energia (GONÇALVES, 1988). De acordo com o ARC (1980) à medida que a idade avança, aumenta o conteúdo de gordura e diminui o de proteína no corpo e no ganho de peso. A composição do corpo vazio é determinante nas exigências nutricionais, sendo que as diferenças observadas na composição do ganho de peso de corpo vazio explicam, por exemplo, a maior exigência de energia para ganho de animais precoces em relação a animais tardios e de fêmeas e machos castrados em relação aos machos inteiros (NRC, 1996).

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no Laboratório de Ovinocultura, da Universidade Federal de Santa Maria de Janeiro a Junho de 2014. Foram utilizados 24 cordeiros, machos castrados, da raça Corriedale, desmamados e confinados em baias individuais (2 m²) com comedouro e bebedouro. Os animais foram alimentados ad libitum por 10 dias, para adaptação, após, seis foram aleatoriamente abatidos. Os demais foram alimentados ad libitum e abatidos aos 28, 33 ou 38 kg de PV. A dieta foi composta por silagem de sorgo, grão de milho, farelo de soja e calcário calcítico, segundo NRC (2007), para ganho de 0,200 kg/dia. Os abates foram realizados após 14 horas de jejum, seguidos de esfola e evisceração, os componentes corporais (sangue, pele, lã, patas, cabeça, vísceras e carcaça) foram pesados, triturados e congelados. As amostras foram secas em estufa, lavadas com éter de petróleo, trituradas, para determinação de nitrogênio total por espectrômetro de massa (IRMS), e a gordura segundo Blig e Dyer (1959). A concentração corporal foi determinada em função da concentração percentual nas amostras, a soma em gramas forneceu o total dos componentes, e assim, o percentual no peso de corpo vazio (PCV).  A concentração corporal de energia foi calculada utilizando-se os equivalentes calóricos da gordura (9,40 kcal/g) e da proteína (5,64 kcal/g).  Para predição da composição corporal dos animais foi adotada a equação de regressão do logaritmo do conteúdo corporal de energia (Y) em função do logaritmo do PCV (X), sendo: Log Y = a + b Log X.  A exigência de energia líquida para ganho de peso de corpo vazio foi estimada derivando-se a equação do conteúdo corporal deste constituinte, em função do logaritmo do PCV, obtendo-se uma equação do tipo: Y = b 10a × X (b–1). Os animais foram submetidos ao delineamento inteiramente casualizado e os dados à análise de regressão.

Resultados e Discussão

Observa-se que houve incremento nas exigências líquidas de energia para ganho de peso (ELg) dos cordeiros Corriedale com a elevação do PV e também com o incremento da taxa de ganho dos cordeiros, conforme a Tabela 1. Pode-se observar que as ELg para os cordeiros dos 28 a 38 kg variaram de 211 a 238 kcal/dia para ganho médio diário de 100 g/dia, de 317 a 358 kcal/dia para ganho de 150 g/dia, de 423 a 477 kcal/dia para ganho de 200 g/dia e de 528 a 596 kcal/dia para ganho de 250 g/dia. As exigências líquidas de energia para ganho (ELg) para ganho médio diário de 250 g de PV são inferiores aos reportados pelo NRC (1985), que estimou ELg de 884 kcal para ganho de 250 g. Para o ARC (1980), as exigências variaram entre 483,99 e 973,94 kcal para 250 g de ganho. Os valores atribuídos pelo AFRC (1993) são de 253,94 a 776,77 kcal/dia para ganho de 250 g para cordeiros com 5 a 30 kg de PV. Para os autores Galvani et al., (2008), em estudo com animais Texel x Ile de France com pesos de 15 a 35 kg de PV e 250 g de ganho, as exigências ELg variaram entre 424 a 553 kcal/dia. Estes autores obtiveram valores semelhantes aos encontrados no presente estudo, no entanto, parte das variações nos resultados está atribuída as diferentes composições corporais dos animais destes estudos. Animais com aptidão para carne possuem menor proporção de gordura na carcaça, com isso, as exigências de energia são reduzidas. As variações entre os resultados dos trabalhos também podem ser atribuídas às diferenças metodológicas, utilizadas nos experimentos de exigências nutricionais, além destas, as diferenças ambientais e alimentares também podem ser adicionadas a essas discrepâncias de resultados.

Conclusões

Os valores de energia líquida para ganho de peso (ELg) para cordeiros Corriedale com 28 e 38 kg de peso vivo, e ganho médio diário de 250 gramas, foram 528 e 596 kcal/dia, respectivamente. As exigências de ELg elevaram com o incremento do PV e da taxa de ganho, os resultados do presente estudo foram diferentes dos reportados pelos sistemas internacionais ARC (1980), NRC (1985) e AFRC (1993). Deste modo, sugere-se que estudos adicionais para a estimar as exigências nutricionais de animais adaptados as condições brasileiras sejam realizados.

Gráficos e Tabelas




Referências

AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL - ARC. The nutrient requirements of ruminant livestock. London: Commonwealth Agricultural Bureaux, 1980. 351p.   AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL - AFRC. Necesidades energéticas e proteicas de los rumiantes. Zaragoza: Acribia, 1993. 175p.   BLIGH, E. G.; DYER, W. J. A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadium Journal of Biochemistry and Physiology, v. 37, 1959.   CABRAL, L. S. et al. Estimativas dos requisitos nutricionais de ovinos em condições brasileiras. Revista Brasileira de Saúde Produção Animal, v. 9, n. 3, p. 529-542, 2008.   GALVANI, D. B., et al. Energy requirement of Texel crossbred lambs. Journal of Animal Science, v. 86, p. 3480-3490, 2008.   GONÇALVES, L. C. Digestibilidade, composição corporal, exigências nutricionais e características das carcaças de zebuínos, taurinos e bubalinos. 1988. 238 f. Tese (Doutorado em Zootecnia)-Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1988.   NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of sheep. 6ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 1985a. 112p.   NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of beef cattle. 7ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 1996. 242p.   NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small ruminants: Sheep, goats, cervids, and new world camelids. Washington, D.C.: National Academy Press, 2007. 384p.