Farelos de biscoito e de castanha de caju como fontes energéticas alternativas em dietas para ovinos: Digestibilidade in vitro verdadeira da matéria seca

Luiz Carlos Oliveira de Sousa1, Luiz Fernando da Silva César2, Luiza de Nazaré Carneiro da Silva3, Paulo de Tasso Vasconcelos Filho4, Renata Teixeira Alencar5, Elane Duarte Soares6, Hélio Henrique Araújo Costa7, Aline Vieira Landim8
1 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
2 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
3 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
4 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
5 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
6 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
7 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
8 - Universidade Estadual Vale do Acaraú

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito do farelo de biscoito (FBIS) e do farelo de castanha de caju (FCC) como fontes energéticas alternativas em dietas com baixa e alta energia, para ovinos sobre a digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca (DVIVMS). Cinco amostras de alimentos distribuídas em arranjo fatorial 5 x 2 (cinco alimentos x duas incubações). Para dietas, em um arranjo fatorial 2 x 2 x 2 (duas fontes energéticas x baixo e alto teor de nutrientes digestíveis totais – NDT x duas incubações). Observou-se efeito das diferentes fontes de alimentos sobre a DVIVMS (P<0,05). A dieta contendo FBISC apresentou maior digestibilidade (72,4%) quando comparado à dieta à base do FCC (70,2%). As dietas com maior teor de NDT apresentaram maior digestibilidade (73,4%). A matriz energética do FBIS apresenta maior potencial para aproveitamento nos processos digestivos. As dietas com alto teor de NDT parecem ter atingido relação proteína:energia mais adequada favorecendo maior digestibilidade.

Palavras-chave: amido, fibra em detergente neutro, inoculo, milho, subproduto

Biscuit bran and cashew nut meals as alternative energy sources in diets for sheep: true dry matter digestibility in vitro

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of biscuit branl (BIS) and cashew nut meal (CNM) as alternative energy sources in low and high energy diets for sheep on true in vitro of dry matter digestibility (IVDMD). Five feeds samples were distributed in a 5 x 2 factorial arrangement (five feeds x two incubations). For diets, in a 2 x 2 x 2 factorial arrangement (two energy sources x low and high total digestible nutrients - TDN x two incubations). The effect of the different food sources on the IVDMD (P <0.05) was observed. The diet with the energy source BIS showed higher digestibility (72.4%) when compared to the CNM, where 70.2% of dry matter digestibility was observed. Diets with higher TDN content had higher digestibility (73.4%). The energy matrix of the BISM presents greater potential for use in the digestive processes. The diets with high TDN content seem to have reached a protein:energy ratio more adequate favoring greater digestibility.
Keywords: by-product, corn, inoculum, neutral detergent fiber, starch


Introdução

A energia é essencial para sustentar todos os processos vitais do corpo, sendo fator limitante à vida e às funções produtivas dos animais. No mundo todo, o milho triturado é a principal fonte energética que compõe os concentrados na alimentação animal. Ressalta-se que, a alimentação constitui o item de maior representatividade nos custos totais dos sistemas de produção animal, implicando na necessidade de maximizar a utilização dos diferentes ingredientes disponíveis em cada região. Logo, a utilização de alimentos alternativos, em substituição aos tradicionais, apresenta-se como estratégia potencial para redução dos custos e, consequentemente, resultando em maior lucratividade. Dentre os alimentos alternativos com potencial de utilização, destacam-se o farelo da castanha de caju (FCC), proveniente de uma parcela do produto não destinado ao consumo humano, e ainda, o farelo de biscoito (FBISC), oriundo das indústrias de panificação, ambos com composição bromatológica de interesse na alimentação de ruminantes. A capacidade de um alimento para manter o desempenho animal depende principalmente da sua digestibilidade. Nossa hipótese, é que a fonte energética, bem como o teor de NDT, possa ter feito no aproveitamento dos nutrientes. Nesse contexto, objetivou-se avaliar o efeito do FBISC e do FCC, como fontes energéticas alternativas em dietas com baixa e alta energia para ovinos sobre a digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca.

Revisão Bibliográfica

A utilização de alimentos alternativos regionais na alimentação animal, constituídos de resíduos ou subprodutos agrícolas, bem como oriundos dos processamentos das indústrias alimentícias podem ser vantajosos se apresentarem disponibilidade e constância de oferta, propiciando diminuição de custos, mas que possa ser atrelado a uma melhor eficiência alimentar, se usado estrategicamente em dietas para ruminantes. Por exemplo, o farelo de castanha de caju (FCC), obtido do beneficiamento da castanha, sendo o estado do Ceará o principal produtor da cultura do caju (Anacardium occidentale L.) no Brasil, com uma parcela de 69,4% da produção total com mais de 148 mil toneladas produzida no mês de setembro de 2016 (IBGE, 2016). Apesar de ser considerado um resíduo, o subproduto FCC, apresenta uma composição que confere alta energia e relevante concentração de proteína, podendo ser um substituto parcial para o milho e farelo de soja na dieta de ruminantes. Outros subprodutos utilizados que surgem como alternativa para alimentação de ruminantes, destacam-se os oriundos da indústria da panificação, por exemplo, o farelo de biscoito, onde também por diferentes características relacionadas ao controle de qualidade, como os quebrados, amassados, de formato irregular, queimados ou com características organolépticas anormais, não é destinado ao consumo humano, porém com potencial uso para compor a dieta de ruminantes. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de biscoitos, com 1,7 milhões de toneladas produzidas em 2015 (ABIMAPI 2015). A composição química do farelo de biscoito (FBISC) é de 9,07% de proteína bruta, 11,61% de extrato etéreo, 2,64% de fibra bruta e 3681,83 kcal/kg de energia metabolizável (Corassa, 2014).

Materiais e Métodos

As análises laboratoriais foram conduzidas na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral, CE, conforme CEUA/UVA (n°006.09.015.UVA.504.02). Utilizou-se um delineamento inteiramente casualisado onde o desenho experimental foi dividido em duas partes. Cinco amostras de alimentos distribuídas em arranjo fatorial 5 x 2 (cinco alimentos x duas incubações), com 12 repetições para cada alimento de duas incubações separadas, perfazendo 60 observações. Para dietas, em um arranjo fatorial 2 x 2 x 2 (duas fontes energéticas x baixo e alto teor de nutrientes digestíveis totais – NDT x duas incubações), com 12 repetições para cada dieta de duas incubações separadas, perfazendo 48 observações. As dietas foram constituídas por feno Tifton 85, milho, farelo de soja, calcário, além dos farelos de biscoito e de castanha de caju com baixo (55,1%) e alto (75,5%) teor de NDT em cada fonte. Para composição dos tratamentos, considerou-se as exigências nutricionais para ovinos em sobreano em condição de manutenção mais crescimento. Todas as dietas foram isoproteicas, contudo, para os teores de energia (%NDT), foi imposta uma variação de 20% inferior e superior à exigência recomendada pelo NRC (2007). Para cada um dos alimentos e para cada tratamento foram pesados 0,5g da amostra em sacos filtrantes (F57, tecnologia Ankom). Foi utilizado solução tamponante e inóculo ruminal, previamente coletado de dois ovinos sem padrão racial definido (peso vivo médio 32,0 kg) dotados de cânulas no rúmen. Para análises de digestibilidade, utilizou-se um sistema de digestão in vitro (modelo TE-150-Tecnal®), em duas incubações de 48 horas realizadas em semanas consecutivas. Ao completar o período de incubação, os sacos foram lavados com água fria e analisados para fibra em detergente neutro. A digestibilidade verdadeira in vitro (DVIV) foi calculada como DVIV, % = [(100 - FDN) / peso da amostra] x 100 (Holden, 1999). A comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

Resultados e Discussão

Observou-se efeito das diferentes fontes de alimentos sobre a digestibilidade in vitro da matéria seca (P<0,05; Tabela 2). A dieta com a fonte energética FBISC apresentou maior digestibilidade (72,4%) quando comparado com o FCC, onde foi observado 70,2% de digestibilidade da matéria seca. A menor digestibilidade verificada para dieta com FCC pode estar relacionada ao seu elevado teor de lipídios, uma vez que a maior concentração de lipídeos no rúmen pode desencadear dois processos distintos: Um químico e o outro físico. O efeito químico, está relacionado à toxicidade dos ácidos graxos sobre as bactérias celulolíticas. Por outro lado, o efeito físico, consiste no encapsulamento das partículas de alimento pelos lipídeos, dificultando a adesão das bactérias celulolíticas, e consequente diminuição da degradação (Jenkins, 1993). A maior digestibilidade apresentada para FBISC pode estar condicionado ao fato deste possuir grande quantidade de carboidratos, principalmente o amido que é de fácil digestão (Oliveira e Lançanova, 2001), contribuindo assim para o melhor aproveitamento de nutrientes. Outro fator que pode ter contribuído para esta alta digestibilidade é o possível tratamento térmico ao qual a farinha de trigo passa durante seu processamento para fabricação do biscoito, podendo até mesmo ser comparada com processo de extrusão ao qual aumenta a digestibilidade do alimento, uma vez que o tratamento térmico pode levar ao rompimento da matriz proteica que envolve os grânulos de amido e ao processo de gelatinização dessa matriz, melhorando significativamente a digestibilidade do amido. Haja vista, a DIVIMS do FBISC ter apresentado valores de 95%, além disso, nas dietas com FBISC houve a inclusão de farelo de soja (FS) que apresentou maior digestibilidade entre todos os ingredientes (Figura 1). Considerando-se as dietas, foi observado para dieta com maior teor de NDT maior digestibilidade (P<0,05; Tabela 1), apresentando valores de 73,4% de DVIMS, sendo 5,72% maior que as dietas com baixo NDT (69,2%). Isso denota a importância da relação energia:proteína, onde as dietas com baixo NDT essa relação foi menor. Considerando-se as incubações, foi observado que houve efeito significativo (P<0,05; Tabela 1). Na primeira incubação observou-se para dietas, 68,2% de DVIV da MS e para segunda incubação 74,5% (Tabela 1). Desta forma, para obtenção de avaliações mais consistentes sobre a avaliação da DVIV dos diferentes alimentos e estes combinados em diferentes dietas, é recomendável realizar mais de uma incubação (Holden, 1999).

Conclusões

A matriz energética do farelo de biscoito com base na digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca, apresenta maior potencial para aproveitamento nos processos digestivo. A variação no teor de nutrientes digestíveis totais, por sua vez, também afeta a digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca, onde as dietas com alto teor de NDT parecem ter atingido uma relação proteína:energia mais adequada, favorecendo maior digestibilidade.

Gráficos e Tabelas




Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE BISCOITOS, MASSAS ALIMENTÍCIAS E PÃES& BOLOS INDUSTRIALIZADOS. ABIMAPI. Disponível em:< http://www.abimapi.com.br/estatistica-biscoito.php>. Acesso em: 15 dez. 2016. CORASSA, A. Composição do farelo de biscoito na alimentação de suínos. Comunicata Scientiae, v.5, p.106-109, 2014. HOLDEN, L.A. Comparison of methods of in vitro dry matter digestibility for tem feeds. Journal of Dairy Science,  v.82, p.1791-1794, 1999. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Disponível em <ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Levantamento_Sistematico_da_Producao_Agricola_%5Bmensal%5D/Fasciculo/lspa_201602.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2016. JENKINS, T. C. Lipid metabolism in the rumen. Journal of Dairy Science, v.76, p.3851-3863, 1993. NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrients requirements of small ruminants. Washington: National Academy Press, 2007. 362 p. OLIVEIRA, M. D. S.; LANÇANOVA, J. A. C. Efeito da substituição do milho pelo resíduo de biscoitos na digestibilidade in vitro da matéria seca, da proteína bruta e da energia bruta. ARS Veterinária, v.17, p.249-253, 2001.





©2024 Associação Brasileira de Zootecnistas

Fazer login com suas credenciais

Esqueceu sua senha?