Fatores quantitativos da produção forrageira em campo nativo correlacionados ao desempenho zootécnico de ovinos

Arthur Fernandes Bettencourt1, Daniel Gonçalves da Silva2, Bruna Martins de Menezes3, Ana Cecília da Luz Frantz4, Anelise Afonso Martins5, Larissa Picada Brum6, Angélica Pereira dos Santos Pinho7, Marcele Ribeiro Corrêa8
1 - Universidade Federal do Pampa
2 - Universidade Tecnológica Federal do Paraná
3 - Universidade Federal do Pampa
4 - Universidade Federal do Pampa
5 - Universidade Federal do Pampa
6 - Universidade Federal do Pampa
7 - Universidade Federal do Pampa
8 - Universidade Federal do Pampa

RESUMO -

O Rio Grande do Sul tem como uma de suas principais atividades agropecuárias a produção de ovinos, sendo a alimentação destes, baseada quase que exclusivamente ao campo nativo. A manutenção dos campos nativos é de extrema importância para a sobrevivência da produção animal. Sendo assim, objetivou-se verificar a correlação entre alguns parâmetros quantitativos do campo nativo e o desempenho zootécnico de borregas. O estudo foi realizado entre outubro de 2013 e março de 2014 no município de Dom Pedrito, a área experimental correspondia a 9 ha de campo nativo. Foram utilizadas 50 borregas da raça Corriedale. A altura do campo nativo apresentou valor médio de 15,64 cm. A correlação entre a massa e disponibilidade de forragem, apresentaram valores máximos, pois estão diretamente relacionadas ao crescimento da pastagem. Foi possível verificar que os parâmetros quantitativos observados no campo nativo estão diretamente correlacionados à produção de ovinos.

Palavras-chave: borregas, peso corporal, massa de forragem, campo nativo

Quantitative factors of forage production in the native field correlated to the zootechnical performance of sheep

ABSTRACT - Rio Grande do Sul has one of its main agricultural activities the production of sheep, the feeding of these, based almost exclusively on the native field. The maintenance of the native fields is of extreme importance for the survival of the animal production. Thus, the objective was to verify the correlation between some quantitative parameters of the native field and the zootechnical performance of lambs. The study was conducted between October 2013 and March 2014 in the municipality of Dom Pedrito, the experimental area corresponded to 9 ha of native field. Fifty lambs of the Corriedale breed were used. The height of the native field presented an average value of 15.64 cm. The correlation between the mass and forage availability, presented maximum values, since they are directly related to the pasture growth. It was possible to verify that the quantitative parameters observed in the native field are directly correlated to sheep production.
Keywords: lambs, body weight, forage mass, native field


Introdução

O Rio Grande do Sul tem como uma de suas principais atividades agropecuárias a produção de ovinos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2015) o estado possui 3.957.275 milhões de cabeças, representando 21,5% do total nacional. Deste total, aproximadamente 16,57% do rebanho efetivo está distribuído em três municípios da mesorregião sudoeste do estado, sendo eles Santana do Livramento, Dom Pedrito e Bagé. A alimentação dos ovinos no estado é baseada quase que exclusivamente ao campo nativo (CANTO et al., 1999), que além de ter grande destaque cultural, apresenta uma vasta variedade de espécies nativas. No entanto, as pastagens naturais estão perdendo cada vez mais espaço para outros tipos de atividades agrícolas, principalmente para aquelas que possibilitam um retorno financeiro mais rápido. A manutenção dos campos nativos e o uso desses de forma consciente são de extrema importância para a sobrevivência da produção animal em determinadas localidades do Rio Grande do Sul. Para isso é necessário obter o conhecimento do maior número de fatores inter-relacionados, e orientar um manejo adequado a esses campos (CARVALHO; MARASCHIN; NABINGER; 1998). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a correlação entre alguns parâmetros quantitativos do campo nativo e o desempenho zootécnico de borregas.

Revisão Bibliográfica

No Rio Grande do Sul, o campo nativo corresponde a 12 milhões de hectares, sendo, aproximadamente 44% deste, a principal fonte de alimentação à produção animal no estado (FISCHER, 2005). O clima do estado confere as pastagens naturais uma forte estacionalidade de produção nos meses mais frios do ano, ao passo que atinge seu ápice de crescimento, tornando-se mais disponível na primavera e verão (FEPAGRO, 2005). Destaca-se que as pastagens nativas são compostas por um conjunto de famílias botânicas e por uma ampla gama de espécies forrageiras. De acordo com Longhi-Wagner (2003), há no campo nativo gaúcho, em torno de 523 espécies de gramíneas que contribuem com a maior parte da biomassa desses campos. Também são encontradas cerca de 250 espécies de leguminosas forrageiras (MIOTTO & WARCHTER, 2003). As Fabaceae são plantas dicotiledôneas, que embora se apresentem em menores quantidades em relação as gramíneas, dispõem de grande importância devido a seu elevado conteúdo proteico, alta digestibilidade e capacidade de realizar simbiose com rizóbios, garantindo uma fixação de nitrogênio adequada ao solo.             A harmonia entre as espécies naturais assegura a produtividade do ecossistema nativo e, consequentemente, beneficiam a produção de ovinos que, por sua vez, é composta por um rebanho efetivo de, aproximadamente, 4 milhões de animais (IBGE, 2015). A ovinocultura é uma excelente atividade econômica e, atualmente, encontra-se em expansão no estado, sobretudo, considerando o campo nativo como principal recurso forrageiro para o pastejo. Porém, a produtividade forrageira pode ser prejudicada por meio de cargas animais muito elevadas, ocasionando uma elevada taxa de desfolha, retardando o crescimento da forragem e, a médio e longo prazo, interferindo na ingestão do alimento (POLI et al., 2009; SOARES et al., 2005).

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado entre outubro de 2013 a março de 2014 (150 dias) no município de Dom Pedrito - RS. A área experimental correspondia a 9 ha de campo nativo, diferidos por 25 dias. As espécies forrageiras foram coletadas de acordo com a técnica para elaboração de herbários (PEIXOTO e MAIA, 2013). Identificaram-se 26 espécies forrageiras, sendo as principais pertencentes a família das Poaceae (gramíneas) - Paspalum notatum; Paspalum dilatatum; Paspalum plicatulum; Aristida murina; Brizamino sp.; Axonopus afinis e, também, a família das Fabaceae (leguminosas) - Trifolium polimorphum; Desmodium incanum. Foram utilizadas 50 borregas da raça Corriedale naturalmente coloridas, com aproximadamente 14 meses de idade, peso médio inicial de 28,10kg e estado da condição corporal (ECC) de 2,04 em uma escala de 1 a 5. Os animais foram dispostos no potreiro em pastejo intermitente e com lotação contínua sem suplementação alimentar. O ganho de peso (kg) e o escore da condição corporal (ECC) foram mensurados em intervalos de 21 dias. Para avaliar a massa de forragem (MF) foi utilizado o método descrito por Pedreira et al. (2005). As amostras coletadas foram mantidas em estufa a 65ºC com circulação de ar forçada por 72 horas para obtenção do peso da matéria seca (MS). Também foi utilizada régua graduada (0,50m) para monitorar a altura da pastagem em intervalos de 21 dias. Na entrada dos animais (dia zero) a altura média do campo nativo foi de 4,88 cm; matéria verde, 0,0649 kg; matéria seca, 0,0238 kg; massa de forragem de 955,60 kg/MS/ha. A taxa de acúmulo utilizada para o cálculo da disponibilidade de forragem, foi estimada em 10,30 kg MS/ha/dia de acordo com Soares et al. (2005). As informações foram tabuladas no programa Microsoft Office Excel (2010). O coeficiente de correlação (r) assume valores entre -1 e 1 e é classificado da seguinte maneira: r = 0,10 até 0,30 (fraco); r = 0,40 até 0,6 (moderado); r = 0,70 até 1 (forte).

Resultados e Discussão

Os valores médios das informações observadas em intervalos de 21 dias podem ser visualizados na tabela 1. A altura do campo nativo aumentou gradativamente ao longo do período experimental, apresentando valor médio de 15,64 cm. Segundo Carvalho et al. (2008), pastos manejados em altura adequada desenvolvem maior acúmulo de forragem ao longo de seu ciclo produtivo, suportando maior carga animal. No entanto, Gonçalves et al. (2009) enfatizam que a altura de, aproximadamente, 12 cm é considerada ideal para uma boa taxa de bocado e ingestão de alimento. Verificou-se que o estado da condição corporal (ECC) médio dos animais foi de 2,24 em uma escala entre 1 a 5 e está diretamente relacionado ao peso corporal (PC) dos animais (ROMAN et al., 2007). O peso médio durante o experimento foi de 32,75kg (GMD de 0,046kg), contudo as borregas não obtiveram o peso mínimo para o começo da vida reprodutiva (38 kg) e, consequentemente, não obtiveram o ECC ideal para a estação de acasalamento (3,0), evidenciando a necessidade de suplementação alimentar (RIBEIRO et al., 2011). De Bona et al. (2013) em trabalho conduzido em campo nativo com cordeiros castrados durante os meses de julho a setembro observaram um GMD de 0,060 kg. Os valores de correlação entre as variáveis observadas, podem ser visualizados na Tabela 2. Pode-se verificar que todas as variáveis observadas apresentam uma forte correlação positiva (r > 0,70). Esse fato sugere que quanto maior a altura da pastagem (quantidade de massa de forragem), melhor sua contribuição para produção de ovinos. No entanto, vale salientar que a composição química da pastagem não foi observada, o que poderia ter melhor elucidado o baixo ganho de peso médio diário. Inviabilidades logísticas e laboratoriais não permitiram a análise química. Também, verificou-se que a correlação entre as variáveis: massa de forragem, matéria seca e disponibilidade de forragem, apresentaram valores máximos (1,00), pois estão diretamente relacionadas com o crescimento da pastagem, ou seja, quanto maior a matéria seca, maior a massa de forragem e, consequentemente, disponibilidade da mesma. De acordo com Pedreira et al. (2010), sugerem que com o crescimento da planta há alongamento dos tecidos fibrosos e, consequentemente, aumento da matéria seca. No entanto, tornando-se necessário avaliar a qualidade nutricional e a digestibilidade das plantas pelos animais.

Conclusões

Portanto, a partir do presente estudo foi possível verificar que os parâmetros quantitativos observados no campo nativo estão diretamente correlacionados à produção de ovinos. Também, que as informações avaliadas devem constituir o planejamento forrageiro como ferramenta para monitorar a produção forrageira e animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

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