Formação do Acadêmico do Curso de Agronegócio: da Evasão a Empregabilidade

Bruna de Pádua Marcolini1, Clauber Rosanova2, Daniela Barbosa de Macedo3, Mírian das Mercês Pereira da Silva4
1 - Universidade Federal do Tocantins
2 - Intituto Federal do Tocantins
4 - Faculdade Catolica do Tocantins

RESUMO -

A educação é prioridade mundial e a grandeza de um país vincula-se à educação de seu povo. A LDB da Educação Nacional de 1996 evidencia em suas diretrizes, a identificação de qual profissional formar, para que e como vai se formar. Assim, considerando-se o PPC do CST em Agronegócio-IFTO, o objetivo deste foi correlacionar os índices de evasão com o perfil socioeconômico, empregabilidade e perfil profissional demandado pelo setor. Para o referido estudo, optou-se pela pesquisa documental de coordenações do IFTO, para a elaboração de um perfil do curso, além de utilizarmos a técnica Survey para levantamento de dados primários com aplicação de questionários. Os resultados obtidos permitiram a verificação do rendimento estudantil e, dentre outros, destacaram a viabilidade na manutenção do curso em função da sua procura e desempenho, desautorizando interpretações simplistas de que a evasão e a baixa empregabilidade são devidas ao desinteresse do estudante, do corpo docente.

Palavras-chave: agronegócio, educação, mercado de trabalho, tecnólogo

Agribusiness Training Academic: Evasion of the Employability

ABSTRACT - Education is a global priority and the greatness of a country is linked to the education of its people The LDB of Education 1996 shows in its guidelines, which professional identification form, for what and how will graduate. Thus, considering the PPC CST in Agribusiness-IFTO, the aim of this was to correlate dropout rates to the socioeconomic profile, employability and professional profile demanded by the industry. For this study, we opted for the documentary research coordination of IFTO, seeking to confront them and analyze them for the preparation of a profile of the course, and we use the Survey technique for primary data collection with application questionnaires. The results allowed the verification of student performance and, among others, highlighted the viability in the course of maintenance according to their demand and performance, disallowing simplistic interpretations that evasion and low employability are due to student disinterest.
Keywords: agribusiness, education, labor market, technologist


Introdução

A educação é hoje uma prioridade no mundo e de acordo com suas características históricas, diferentes países promovem reformas em seus sistemas educacionais, com a finalidade de torná-los mais eficientes para enfrentarem a revolução tecnológica que está ocorrendo no processo produtivo e seus desdobramentos políticos, sociais e éticos (LEITE, 2013). A principal legislação da educação superior no Brasil é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, onde se evidencia nas diretrizes que na construção do projeto político pedagógico dos cursos de graduação entre muitas interfaces uma das primeiras fases é identificar que profissional que se quer formar, para que e como vai se formar (SANTOS, 2006). Entretanto em relação ao ensino superior, as informações são escassas e apenas a partir da década de 70, a matéria começou a despertar a preocupação das Universidades Públicas e o interesse do MEC (OLIVEIRA, 2008). Justificando estudos no Curso Superior de Tecnologia (CST) em Agronegócio, considerando-se as normativas legais e o projeto pedagógico vigente do CST em Agronegócios do IFTO e na tentativa de verificarmos o andamento do curso, bem como o dos estudantes que optaram por cursá-lo, foi feito um estudo sobre os cinco primeiros anos de seu funcionamento, abordando aspectos como perfil socioeconômico dos acadêmicos; índices e motivos de evasão; andamento escolar; bem como o perfil do profissional demandado pelo agronegócio tocantinense.  Os resultados obtidos neste estudo nos permitiram a verificação do rendimento destes estudantes no transcorrer de suas atividades como graduandos e, dentre outros aspectos, a viabilidade na manutenção deste curso na instituição em função da procura e do seu desempenho. O presente trabalho buscou correlacionar a evasão do curso com o perfil socioeconômico e empregabilidade do setor, de forma que os resultados encontrados desautorizem interpretações simplistas habituais de que a evasão e a baixa empregabilidade são devidas basicamente ao despreparo e/ ou desinteresse do estudante, do corpo docente e ou da falta de infraestrutura da instituição de ensino.  

Revisão Bibliográfica

Evasão Escolar no Brasil A evasão anual média entre 2000 a 2005, para o conjunto formado por todas as IES do Brasil, foi de 22% (SILVA, 2007). A evasão anual nas IES públicas tem oscilado em torno dos 12%, variando entre 9 e 15% no período, enquanto as IES privadas mostram uma oscilação em torno de 26%, contra uma taxa nacional típica de 22%. Obviamente, como as IES privadas detêm a maioria dos alunos no ensino superior, seu peso é maior e a média nacional está mais próxima de seus índices (ESTUDANTE, 2012). O Brasil tem poucos estudos sistemáticos e dados nacionais sobre evasão. Por esse motivo, o Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia decidiu realizar um trabalho de coleta e organização de dados sobre a evasão brasileira, acrescentando dados internacionais para comparação, no intuito de contribuir com a comunidade acadêmica brasileira para o aprofundamento dos estudos sobre tema tão relevante (SANTOS, 2012) Formação e Qualificação do Gestor de Agronegócios O agronegócio brasileiro tem aparecido na mídia como uma veia forte de geração de riqueza e como excelente fonte de empregos. Mas, como salientam Wedekin e Castro (2002) o Capital Humano representa um dos dez C’s da competitividade do agronegócio. Segundo estes autores, o incremento da força competitiva do agronegócio depende de empresas e cadeias produtivas competitivas e fundamentalmente, pessoas competitivas. Segundo Osterwalder (2013), são as pessoas que fazem as organizações eficientes, reduzem custos, promovem inovações e a diferenciação de produtos. Desenvolver capital humano deveria ser uma das prioridades brasileiras.

Materiais e Métodos

A metodologia foi elaborada fundamentada na técnica de Survey (BABBIE, 2001). Sendo feito levantamento de dados primários com aplicação de questionários as turmas dos 1° Período (Seletivo/2014/1), 2° Período (Seletivo/2013/2), 3º Período (Seletivo/2013/1), 4º Período (Seletivo/2012/2) e 5º Período (Seletivo/2012/1) do CST em Agronegócio do IFTO Campus Palmas. Também foram pesquisados documentos e dados provenientes de vários setores, diretorias e coordenações, na busca de confrontá-los e analisá-los, para a elaboração de um perfil fidedigno do curso. Por tratar-se de pesquisa com seres humanos a metodologia do trabalho, bem como o questionário utilizado foi previamente avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IFTO, bem como todos os entrevistados assinaram o TCLE, conforme descrito na Resolução CNS 196/96. Foi realizada uma análise do perfil do profissional demandado pelo setor de agronegócio, perfil este que foi traçado junto as empresas de agronegócio do estado por meio de aplicação de entrevistas e questionários, onde os empresários do setor construíram o perfil ideal para trabalhar com agronegócio no Tocantins. Para responder a este questionamento foram utilizadas duas metodologias de pesquisa: uma quantitativa e outra qualitativa. A metodologia qualitativa abrangeu o estudo de caso com 06 (seis) empresas selecionadas, com as quais foram realizadas entrevistas. Já a quantitativa consistiu no método de pesquisa de avaliação, cuja coleta de dados foi realizada através de questionários. Os dados foram compilados e analisados utilizando-se o pacote estatístico SPSS, software aplicativo, do tipo científico (MARTINEZ, 2007) e fazendo-se seu tratamento através de uma análise descritiva. A interpretação foi realizada á luz da literatura especializada e da reflexão crítica. O rendimento acadêmico dos estudantes no curso foi determinado considerando-se apenas a aprovação ou a reprovação nas disciplinas da grade curricular.

Resultados e Discussão

Atualmente, existem 189 (cento e oitenta e nove) acadêmicos matriculados regularmente, 09 (nove)  formados e 37 (trinta e sete) evadidos oficialmente, dados estes referentes ao primeiro seletivo 2010/01 ao ultimo seletivo 2014/01. Entretanto, após a realização de uma investigação  nas salas de aula, foi constatado que o número de matriculados não confere com a frequência, segundo professores e alunos. Ao somarmos a frequência dos acadêmicos do 2º período ao 6º período, em média 95 (noventa e cinco) alunos frequentam as aulas e cumprem com suas atividades acadêmicas, demostrando que de acordo com este levantamento 50,21% destes matriculados provavelmente se evadiram uma vez que não frequentam as aulas e nem comunicaram a CORES sua desistência. Estes dados demonstram o inicio da evasão, mesmo ela não sendo comunicada na Cores e nem na Coordenação do Curso. No CST em Agronegócio foi constatado que 84,6% dos alunos de 2º e 3º período não participam de atividades de pesquisa e extensão, enquanto nos 4º, 5º e 6º períodos 58,3% não participam de pesquisa e extensão. Notou-se que a parcela de estudantes que não participam de iniciação científica diminui à medida que avançam no curso, mas apesar do aumento dessa parcela, mais da metade dos acadêmicos não estão inclusos na pesquisa e extensão, outro fator que chama atenção na pesquisa é que os estudantes passam a ter uma maior participação em pesquisa e extensão nos períodos finais do curso. Sobre o interesse em seguir carreira na área de agrárias, 80% dos acadêmicos afirmaram que pretendem trabalhar na área e 20% não tem interesse. Já em relação à carreira acadêmica, 70%  afirmaram que tem vontade de dar continuidade à vida acadêmica e 30% não tem interesse.  Quando questionados sobre o curso CST em Agronegócio ser a segunda opção de curso os acadêmicos responderam da seguinte forma: 86% afirmaram que o curso é sua segunda opção e apenas 14%  tinham o curso como primeira opção. Quando questionados se já pensaram em desistir do curso 70% dos acadêmicos afirmaram que sim. Esta maioria afirmou também que ainda pensa fazer outro curso para alcançar maior satisfação profissional. Ainda sobre o curso, em média 50% dos acadêmicos afirmaram não conhecer o curso quando ingressaram, porém se identificaram com a área e resolveram continuar o curso; 30% dos acadêmicos já conhecia o curso; 10% afirmaram estar fazendo o curso apenas pela baixa concorrência no processo seletivo e 10%  apenas pelo diploma de nível superior. O perfil socioeconômico do acadêmico do CST em Agronegócio foi caracterizado da seguinte forma: 65% dos acadêmicos são do sexo feminino e 35% são do sexo masculino. A faixa etária é: 40% (até 20 anos), 45% (21 a 30 anos), 9% (31 a 40 anos) e 6% (51 a 60 anos). Quanto ao estado civil: 74% (solteiro), 20% (casado) e 6% (divorciado). Sobre a formação no ensino médio 89% dos acadêmicos concluiu em escola pública e 11% em escola privada. Quanto à profissão destes acadêmicos: 48% (estudante), 34% (profissional liberal), 14% (funcionário público), 4% (empresário). Sobre a origem dos estudantes: 50% são de outras cidades do Tocantins, 25% são de Palmas e 25% são de outros estados brasileiros. Quanto ao ingresso destes estudantes no curso 74% deu-se via processo seletivo e 26% via SISU.  Os empresários pesquisados pontuaram os conhecimentos desejados no futuro profissional de acordo com a seguinte ordem de importância: economia e gestão de negócios, comunicação e vendas, métodos quantitativos, tecnologias de produção e experiência profissional, desejando ainda que os mesmos entendam os agropecuaristas como protagonistas do desenvolvimento rural e que possam atuar  nas diversas interconexões entre os segmentos  básicos do agronegócio que formam as cadeias produtivas. Em especial, a pesquisa mostrou  que as habilidades e os conhecimentos considerados como mais importantes pelas empresas enquadram-se nos tópicos de “Qualidades Pessoais” e de “Comunicação e Expressão”.

Conclusões

De acordo com os resultados da pesquisa, foi possível verificar que uma das maiores dificuldades encontradas para a criação desses currículos em que há necessidade de se integrar muitas disciplinas científicas, econômicas, sociais e práticas de uma forma sistêmica, está na dificuldade em se conseguir profissionais qualificados para atuarem na área de ensino de agronegócio. A oferta destes profissionais é baixa, justamente em virtude da multidisciplinaridade que é exigida ao se abordar esta área. Dadas as suas próprias características, a gestão no agronegócio demanda indivíduos com formação interdisciplinar, alicerçada numa perspectiva analítica e sistêmica. O profissional da gestão do agronegócio, dada a complexidade do setor, deve reunir conhecimentos técnicos da produção agroindustrial com a capacidade de gerenciar olhando para além dos limites das cadeias produtivas. É necessário que os acadêmicos compreendam o agronegócio não apenas de uma maneira técnica, mas sim, a partir de uma visão sistêmica, em que entendam o funcionamento de todo sistema agroindustrial, e não apenas alguns macro segmentos restritos. Verificou-se que as empresas esperam que os profissionais utilizem-se das ferramentas gerenciais de maneira a compreender a dinâmica de funcionamento das cadeias agroindustriais, de forma a torná-las mais eficientes e eficazes.


Referências

BABBIE, Earl. Metodologia de pesquisa de survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. BATALHA, M.O.. Recursos humanos para o agronegócio brasileiro. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasília, DF (Brasil). 2000. 308 p.. BEGNIS, H. S.; FÁTIMA, B. V.;SILVA, T. N.. Formação e qualificação de capital humano para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil. revista Gepec, v. 85903, p. 000, 2007. ESTUDANTE, Moradia Estudantil E. Formação do A. FACULDADE DE EDUCAÇÃO. 2012. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas. LEITE, I.. Trabalho Docente em Perspectiva Sócio-Histórica: A Posição de Classe do Professor e os Desafios Contemporâneos. Revista HISTEDBR On-Line, v. 13, n. 49, 2013. MARTINEZ, L.; FERREIRA, A.. Análise de Dados com SPSS. Escolar Editora, 2007. OLIVEIRA, M. C.. O ensino para o exercício da cidadania na educação básica brasileira (1960-2000). 123 f. Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008. OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y.. Business Model Generation: Inovação em Modelos de Negócios. Alta Books Editora, 2013. SANTOS, C. E.; LEITE, M. M. J.. O perfil do aluno ingressante em uma universidade particular da cidade de São Paulo. Revista brasileira de enfermagem, v. 59, n. 2, p. 154-156, 2006. SANTOS, K. S.. A política de educação especial, a perspectiva inclusiva e a centralidade das salas de recursos multifuncionais: a tessitura na rede municipal de educação de Vitória da Conquista (BA). 2012. SILVA FILHO, R. L. L.. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, p. 641-659, 2007. WEDEKIN, I.; CASTRO, P. R.. Políticas para expansão do agribusiness no Brasil até 2010. In: Anais do I Congresso Brasileiro de Agribusiness. 2002. p. 87-107.