Frequência dos Visitantes Florais do Tamarindo (Tamarindus indica L.), e o Potencial Polinizador

Eva Monica Sarmento da Silva1, Yan Souza Lima2, Daiane Dias Ribeiro3, Lauricia dos Santos Nascimento4, Breno Ramon de Souza Bonfim5, Jacqueline dos Santos Oliveira6
1 - UNIVASF
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RESUMO -

O presente trabalho objetivou observar a frequência dos visitantes florais na cultura do tamarindo e o potencial polinizador. O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental da UNIVASF, Petrolina – PE, com observações realizadas na época de floração do tamarindeiro. Os visitantes florais foram observados durante 5 dias consecutivos, das 08h00 às 17h00, coletou-se os dados através de contagem das visitas e registros fotográficos. Observou-se quais os tipos de alimentos coletados, e se havia contaminação das abelhas com o pólen das flores. O delineamento experimental usado foi inteiramente casualizado, ANOVA (p>0,05) e para comparação das médias o teste Scott-Knott. Quando comparadas as visitas, observou-se uma discrepância, onde 89,38% foram Apis mellifera e 10,62% outros insetos. O maior período das visitas foi de 13h00 as 17h00, o recurso floral coletado pelas melíferas foi o néctar. Concluiu-se que as Apis mellifera são potenciais polinizadoras da cultura do tamarindo.

Palavras-chave: Abelhas, Apis, Tamarindo, Polinização, Nordeste

Frequency of Tamarind (Tamarindus indica L.) Flower Visitors, and the Pollinator Potential

ABSTRACT - The present work aimed to observe the frequency of floral visitors in the tamarind culture, and the potential pollinator. The experiment was conducted at the Experimental Farm of UNIVASF, Petrolina - PE, with observations made during the flowering period of the tamarind tree. Floral visitors were observed for 5 consecutive days, from 8:00 am to 5:00 p.m., data were collected by counting visits and photographic records. It was observed the types of food collected, and if there was contamination of the bees with the pollen of the flowers. The experimental design used to completely randomized, ANOVA (p> 0.05) and for means of comparison the Scott-Knott test. When comparing the visits, there was a discrepancy, where 89.38% were Apis mellifera and 10.62% other insects. The largest period of visits was from 1:00 p.m. to 5:00 p.m., the floral resource collected by the mellifera was nectar. It was concluded that the Apis mellifera are potential pollinators of tamarind culture.
Keywords: Bees, Apis, Tamarind, Pollination, Northeast


Introdução

O tamarindeiro é uma espécie de planta nativa da África tropical, sendo encontrada em diversas regiões do Brasil, como Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (SILVA et al., 2000). Trata-se de uma árvore frutífera, pertencente à família Fabaceae, podendo chegar à 30 metros de altura (DONADIO et al., 1988). Por adaptar-se bem ao clima do Nordeste, tornou-se uma planta frutífera típica da região (SAMPAIO, 1986). A exemplo do semiárido nordestino, pois ela é bem resistente a longos períodos de estiagem. As flores do tamarindo são do tipo inflorescência pendente, as pétalas são vestigiais, apresenta três estames com anteras grandes, e pouco pólen, já os nectários acumulam bastante néctar (SANTO et al, 2004). A polinização é do tipo entomófila, já que essas plantas são bastante visitadas por abelhas (RIBEIRO et al, 2015), no entanto, existem poucos trabalhos comprovando o seu polinizador efetivo. Este trabalho objetivou observar a frequência dos visitantes florais nas flores do tamarindo, e o seu potencial polinizador.

Revisão Bibliográfica

O tamarindo (Tamarindus indica L.) é uma fruta com alto potencial a ser ainda explorado pelo mercado, podendo representar fonte de renda para famílias do Nordeste brasileiro, pois mesmo sendo um fruto de uma planta nativa da África, ele foi adaptado ao clima do Nordeste, a ponto de ser considerado como típica da região (SOUZA, 2008). Apresenta uma boa fonte alimentícia, devido à polpa do fruto, que pode ser consumida in natura ou utilizada no preparo de sucos, sorvetes, licores e doces (FERREIRA et al., 2008). Diversos estudos apontam atividades farmacológicas relacionadas à espécie, dentre estas, anti-inflamatória e analgésica (SURALKAR et al., 2012). Pouco se conhece sobre o valor econômico da polinização realizada pelas abelhas no Brasil, isto porque esta não é avaliada como um fator de produção na agricultura, ou para conservação dos ecossistemas silvestres (FREITAS E IMPERATRIZ-FONSECA, 2005). Polinização, propriamente dita, é o processo pelo qual as células reprodutivas masculinas dos vegetais superiores são transferidos das anteras das flores onde são produzidos para o receptor feminino da mesma flor ou de outra flor da mesma planta ou de uma outra planta da mesma espécie (FREITAS, 1995). Segundo FAO (2004) estima-se que aproximadamente 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo sejam polinizadas por alguma espécie de abelha. A agricultura nos Estados Unidos em 1989 foi beneficiada somente pelas abelhas Apis mellifera L. em 9,3 bilhões de dólares e 14,6 bilhões em 2000 (MORSE E CALDERONE, 2000). De acordo com GAGLIANONE (2015) as abelhas colhedoras de óleo, da tribo Centridini são comprovadas polinizadoras do tamarindo. Porém não há estudos suficientes que abordem o uso das abelhas Apis mellifera na polinização das flores.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) localizada na zona rural do município de Petrolina – PE, com coordenadas geográficas de referência 09º 23' de latitude Sul, 40º 30' de longitude Oeste e altitude de 376 metros. O estudo foi realizado em janeiro de 2016, época de floração do tamarindeiro na região. Foram feitas as contagens, observações e registros fotográficos dos visitantes florais do tamarindeiro durante 5 dias consecutivos, no período de 8h00 às 17h00, por 15 minutos de cada hora em duas árvores diferentes. Além da presença das abelhas Apis mellifera, foram também registrados os demais insetos que utilizavam as flores da planta como fonte de alimentação. Durante o experimento, observou-se quais os tipos de alimentos eram coletados pelas abelhas, se eram de origem energética (néctar) ou proteica (pólen), como também se havia contaminação das abelhas com o pólen das flores em seu corpo durante a coleta. O delineamento experimental utilizando o inteiramente casualizado (DIC) contendo 10 tratamentos e 5 repetições, os dados foram analisados através do software SIRVAR 5.6 para análise de variância (p>0,05) e comparação das médias utilizou-se o teste Scott-Knott (1974).

Resultados e Discussão

O recurso floral coletado pela as abelhas Apis mellifera nas flores do tamarindeiro foi o néctar, elas permaneceram em média de 18,16 segundos (n=6 observações), desde do momento que pousaram nas flores, dirigiram-se ao nectário, e sua saída. Observou-se que quando as abelhas coletavam néctar encostavam a parte lateral e superior do abdômen (recoberta de pelos) nas anteras das flores, contaminando-se com o pólen. O fato das abelhas quando coletavam entrarem em contato direto com as anteras do tamarindeiro, mostra que havia transferência de grãos de pólen para os estigmas de outras flores que eram visitadas seguidamente. Através desse comportamento observado, provavelmente, elas são os polinizadores mais efetivos Quando foi compara a frequência dos visitantes florais nas flores, verificou--se uma diferença significativa (P<0,05) entre eles (Figura 01), onde 89,38% dos visitantes totais observados nos 5 dias foram Apis mellifera e 10,62% outros insetos (abelha branca (Frieseomelitta doederleini), arapuás (Trigona spinipes), mamangavas (Xylocopa spp.), Vespas, mariposas e borboletas). Esse número superior de melífera nas flores de tamarindo, quando comparada com demais insetos, parece comum. Já que RIBEIRO, 2015, trabalhando com diversidade e preferência apícola dos visitantes florais do tamarindo (Tamarindus indica L), moringa (Moringa oleifera) e amor agarradinho (Antigonon leptopus) no Campus de Ciências Agrárias, Petrolina-PE, obteve dados semelhantes. Quanto ao comportamento de coleta de alimento dos visitantes florais, verificou-se que no período matutino houve frequentes disputas pelo os botões florais entre as abelhas africanizadas e as Trigona spinipes, quando ambas estavam na mesma flor as Trigonas expulsavam as Apis. Também se evidenciou disputa de Apis com moça branca, pois estavam disputando os recursos florais oferecido pela flor O horário que foi registrado o maior número de Apis visitando as flores foi de 14h00, enquanto o horário em que havia maior incidência dos demais insetos foram as 09h00. Analisando a figura podemos concluir que há um aumento gradativo e significativo no número de visitas das melíferas as flores dotamarindo, ocorrendo um pico de visita das 14h00 às 15h00 (Tabela 01), provavelmente nesse horário, tenha sido liberado a maior quantidade de néctar. As abelhas Apis mellifera, visitam as flores durante todo o dia das 08h00 às 17h00, não ocorrendo diferença significativa (P>0,05) entre o número de abelhas visitando as flores no período da manhã. Portanto, quando foram comparados os dois períodos (manhã e tarde), verificou-se diferenças estatísticas (P<0,05), pois o maior número de visitas foi observado a tarde, não ocorrendo diferenças em si. Salienta-se que no período do ensaio havia outras fontes de néctar e pólen em floração para as abelhas, podendo o tamarindeiro ser uma potencial preferência das abelhas africanizadas.

Conclusões

As abelhas Apis mellifera possuem uma preferência em determinado período do dia pelas flores do tamarindeiro. Quando coletavam néctar das flores do tamarindeiro acabavam transportando pólen para os estigmas, sendo consideradas potenciais polinizadoras da cultura.

Gráficos e Tabelas




Referências

DONADIO, L. C.; NACHTIGAL, J. C.; SACRAMENTO, C. K. Frutas exóticas. Jaboticabal: FUNEP, 1988. 279p. FAO. Conservation and management of pollinators for sustainable agriculture - the international response. In: Freitas, B.M.; Pereira, J.O.P. (eds.) Solitary bees: conservation, rearing and management for pollination. Imprensa Universitária. Fortaleza, Brasil. p. 19-2. 2004. FERREIRA, E.A. et al. Adubação fosfatada e potássica na formação de mudas de tamarindeiro. Scientia Agraria, v.9, n.4, p.475-480, 2008. Acesso em: setembro de 2016. FREITAS, B.M. The pollination efficiency of foraging bees on apple (Malus domestica Borkh) and cashew (Anacardium occidentale). 1995. Thesis, University of Wales, Cardiff, UK. 197p. 1995. FREITAS, B. M. & V. L. Imperatriz-Fonseca. 2005. A importância econômica da polinização. Revista Mensagem Doce No. 80: 44-46. Disponível em: http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/80/msg80.htm. Acesso em: setembro de 2016. GAGLIANONE, M. C., Polinizadores na agricultura: ênfase em abelhas. Marcelita França Marques [et al.], coordenação – Rio de Janeiro: Funbio, 2015. MORSE, Roger A.; CALDERONE, Nicholas W. The value of honey bees as pollinators of U.S. crops in 2000. Bee Culture, v.132, n.3, p.1-15, 2000. RIBEIRO, D. D., NASCIMENTO, L. S., ALENCAR, A. C. R., SILVA, E. M. S. Diversidade e preferência apícola dos visitantes florais do tamarindo (Tamarindus indica L), moringa (Moringa oleifera) e amor agarradinho (Antigonon leptopus) no Campus de Ciências Agrárias, Petrolina-PE. XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA. 2015. SAMPAIO, V.R. Propagação por enxertia da goiabeira (Psidium guajava L.), do Tamarindeiro (Tamarindus indica L.) e da Jaqueira (Artocarpus heterophyllus LMB.)Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v. 8, n. 1, p. 45 – 48, 1986. SANTOS, João Batista Jr.; WESTERKAMP, Christian. ESTILETES EXCÊNTRICOS DEMAIS EM Tamarindus?. 26º Encontro Regional de Botânicos de MG, BA e ES. Viçosa - MG. 2004. SILVA, G. G; PRAÇA, E.F.; JUNIOR, J.G.; ROCHA, R.H.C.; COSTA, M.L.; Caracterização física e química de tamarindo (Tamarindus indica l) em diferentes estádios de maturação. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 22, n.2, p. 291-293, 2000. SOUZA, D. M. M.. Estudos morfo-fisiológicos da conservação de frutos e sementes de Tamarindus indica L.. Dissertação (mestrado em Agronomia) pela UFPB. Areia, 2008. SURALKAR, A.A. et al. Evaluation of anti-inflammatory and analgesic activities of Tamarindus indica seeds. Intern. Journal of Pharmaceutical Sciences and Drug Research, v.4, n.3, p.213- 217, 2012. Disponível em: <http://pharmacologia.co.uk/abstract.php?doi=pharmacologia.2013.117.125>. Acesso em: setembro de 2016.