Glicerina bruta em suplementos para bovinos de corte em pastejo: metabolismo de compostos nitrogenados
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RESUMO -
Avaliou-se o efeito da substituição do milho pela glicerina bruta (GB) sobre o metabolismo de compostos nitrogenados e síntese de proteína microbiana de bovinos de corte em pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu no período seco. Foram utilizados cinco bovinos da raça nelore, com peso corporal (PC) inicial de 331,68±29,59 kg distribuídos em delineamento em quadrado latino (5×5). Avaliou-se a suplementação mineral e suplementos concentrados (4,0 kg/animal; 20% PB) com 0, 33; 66 e 100% de GB em substituição ao milho. Com exceção dos valores de pH, NH3 e eficiência de síntese de proteína microbiana, que não sofreram influência dos níveis de GB, verificou-se efeito quadrático sobre os demais parâmetros estudados. A GB pode substituir 66% do milho em suplementos para bovinos de corte sem que ocorra redução no metabolismo de compostos nitrogenados e na síntese de proteína microbiana.
Crude glycerin in supplements for beef grazing: metabolism of nitrogen compounds
ABSTRACT - The effect of corn substitution by crude glycerin (GB) on the metabolism of nitrogen compounds and microbial protein synthesis of beef cattle on Brachiaria brizantha cv. Marandu in the dry period. Five Nellore cattle with an initial body weight of 331.68 ± 29.59 kg were used, distributed in a Latin square design (5x5). Mineral supplementation and concentrated supplements (4.0 kg / animal; 20% CP) were evaluated with 0.33; 66 and 100% GB instead of maize. With the exception of pH, NH3 and efficiency of microbial protein synthesis, which were not influenced by GB levels, there was a quadratic effect on the other parameters studied. GB may replace 66% of maize in supplements for beef cattle without reducing the metabolism of nitrogen compounds and the synthesis of microbial protein.Introdução
Devido a sazonalidade na produção de forragens no Brasil, os bovinos criados a pasto tendem a perder peso corporal no período seco, devido à queda do valor nutricional das plantas. Como alternativa de contornar este problema, o produtor deve fornecer uma suplementação para os animais, garantido assim o mínimo de energia e de PB exigido pelo animal para manter a suas exigências energéticas diárias. Neste sentido, como estratégia de suplementação no período seco, pode-se utilizar como fonte de energia a glicerina bruta, que é um coproduto da indústria de biodiesel. Com a crescente produção de biodiesel no Brasil, aumenta-se também a produção de glicerina bruta (GB). O principal componente da glicerina é o glicerol, altamente energético e, por isso, ela já vem sendo usada como alimento animal em vários países (Oliveira et al. 2013). Os ruminantes têm a capacidade de utilizar o glicerol presente na GB como precursor gliconeogênico (Chung et al., 2007) para a manutenção dos níveis plasmáticos de glicose. Assim, a GB pode ser incluída em dietas de ruminantes como um ingrediente energético como alternativa ao milho. A substituição do milho por níveis crescente de GB na dieta não afeta a concentração de amônia ruminal, o teor de energia metabolizável, as digestibilidades in vitro da matéria orgânica (MO) e da fibra em detergente neutro (FDN), bem como os parâmetros da degradação ruminal (Peripolli et al., 2014). Segundo estes autores esse subproduto da produção do biodiesel deve ser testado in vivo como uma alternativa energética na formulação de dietas para ruminantes. Neste sentido, verifica-se que ainda existem dúvidas quanto ao nível ideal de substituição do milho pela GB em suplementos concentrados para bovinos de corte a pasto. A maioria dos trabalhos disponíveis na literatura foram realizados com bovinos leiteiros ou animais em regime de confinamento, havendo poucos trabalhos em sistemas de pastejo. Em adição, estes estudos (Farias et al., 2012; Strada, 2013) avaliaram níveis de GB em substituição ao milho chegando no máximo à 12% de inclusão na matéria seca (MS) da dieta total. Desta forma, objetivou-se avaliar suplementos concentrados contendo níveis crescentes de GB em substituição ao milho sobre os parâmetros nutricionais avaliando as concentrações de nitrogênio ingerido e excretado e eficiência microbiana na síntese de proteína.Revisão Bibliográfica
.Materiais e Métodos
A área experimental foi constituída de piquetes formados com capim marandu (Brachiaria brizantha), sendo cinco de 0,5 há cada. Para avaliação dos parâmetros foram utilizados cinco novilhos da raça nelore, não-castrados, com peso corporal (PC) inicial de 331,68±29,59 distribuídos em delineamento em quadrado latino (5x5). O experimento teve duração de 65 dias divididos por cinco períodos experimentais com 13 dias de duração sendo os 7 primeiros dias destinados à adaptação às dietas e às condições experimentais. Avaliaram-se suplementos concentrados isoprotéicos (Tabela 1) contendo diferentes níveis de GB (0, 33, 66 e 100%) em substituição ao milho, além da suplementação mineral (tratamento controle). Os suplementos concentrados foram ofertados diariamente às 10:00h na quantidade de 4,0 kg/animal/dia sendo as sobras pesadas diariamente. Tabela 1. Composição dos suplementos.Ingrediente | Mineral | Níveis de substituição (%) | |||
0 | 33 | 66 | 100 | ||
Mineral 80P1 | 2,50 | 2,50 | 2,50 | 2,50 | 2,50 |
Ureia | 2,50 | 2,50 | 2,50 | 2,50 | 2,50 |
Farelo de Soja | --- | 14,00 | 19,40 | 24,75 | 31,0 |
Milho | --- | 81,00 | 54,00 | 27,00 | 0,00 |
Glicerina bruta | --- | 0,00 | 21,60 | 43,25 | 64,00 |
Resultados e Discussão
O pH ruminal, (tabela 2) parâmetro indicativo da fermentação ruminal, não foi afetado (P>0,10) pela inclusão de GB na dieta apresentando valor médio de 6,99. O pH ruminal pode variar de 5,5 a 7,2, com valores baixos detectados em intervalos de tempos curtos, após alimentação dos animais com dietas ricas em concentrado (Valadares Filho & Pina, 2006), sendo que valores de pH abaixo de 6,0 podem inibir as bactérias fermentadoras de celulose e diminuir a eficiência da síntese de proteína microbiana (Strobel & Russell, 1986). Neste estudo, os valores de pH ruminal estiveram acima do valor que poderia inibir o crescimento das bactérias celulolíticas. A concentração de NH3 ruminal foi superior (P<0,10) para os animais que receberam suplementação concentrada em relação aos que receberam apenas suplemento mineral. Não houve efeito (P>0,10) da substituição do milho pela GB quanto à concentração de NH3. O valor médio nos animais que consumiram suplementação concentrada foi de 15,07 mg/dL de NH3 enquanto que para suplementação mineral o valor foi de 7,77 mg/dL. Peripolli et al. (2014) avaliaram a substituição do milho por níveis crescentes de GB na dieta e também verificaram ausência de efeitos sobre a concentração de NH3 ruminal. Segundo Detmann et al. (2009), são necessários 15,0 mg de NH3/dL de fluido ruminal para maximizar a produção microbiana em bovinos alimentados com forragem de baixa qualidade. Os animais que receberam suplementos contendo 100% de GB em substituição ao milho apresentaram concentração de NH3 ruminal de 15,62 mg/dL (Tabela 2). Considerando a importância da fermentação microbiana na digestão em ruminantes, é importante a avaliação do N disponível para a absorção pelo animal. O balanço de compostos nitrogenados (BN) é um método de avaliação dos alimentos e do estado nutricional do corpo do animal e consiste em determinar a ingestão de nitrogênio e todas as suas perdas pelo corpo, inclusive na pele e nos pelos. Neste contexto, o BN apresentou efeito quadrático (P<0,10) em função do aumento da GB nos suplementos (Tabela 2) e mesmo nos animais que receberam apenas suplemento mineral o BN foi positivo o que indica ausência de mobilização de reservas corporais. A velocidade de crescimento também é consequência da maior quantidade de energia ingerida, assim verifica-se que o comportamento observado para consumo de energia (MO digestível), juntamente com o BN refletiu no desempenho dos animais que apresentou comportamento quadrático (P<0,10) em função do aumento do nível de GB nos suplementos. Segundo Elam et al. (2008) a inclusão de 7,5 e 15,0% de GB na MS para novilhas em confinamento reduz o desempenho animal e esse menor ganho de peso pode ser explicado pela redução na ingestão de MS e pela mudança no comportamento alimentar das novilhas. Tabela 2. Médias de quadrados mínimos para o pH ruminal, concentração de nitrogênio amoniacal ruminal (NH3; mg/dL), de nitrogênio ureico no soro (NUS; mg/dL), consumo de nitrogênio (CN; g/dia), excreção fecal de nitrogênio (EFN; g/dia), excreção urinária de nitrogênio (EUN; g/dia), balanço nitrogenado aparente (BN; g/dia) e eficiência de síntese de proteína microbiana (EFM; g PB microbiana/kg de MOD) de bovinos de corte em função dos suplementosItem | Mineral | Níveis de substituição (%) | CV (%) | Contrastes | |||||||||
0 | 33 | 66 | 100 | CON1 | L2 | Q3 | |||||||
pH | 7,04 | 6,82 | 6,86 | 7,07 | 7,19 | 18,31 | 0,1823 | 0,2122 | 0,3012 | ||||
NH3 | 7,77 | 14,18 | 14,89 | 15,62 | 15,62 | 15,65 | <.0001 | 0,1553 | 0,1710 | ||||
NUS | 13,84 | 22,08 | 20,65 | 20,46 | 17,83 | 17,23 | <.0001 | 0,0441 | 0,0589 | ||||
CN | 35,88 | 157,40 | 159,12 | 159,26 | 111,81 | 16,91 | <.0001 | 0,0434 | 0,0675 | ||||
EFN | 16,39 | 44,69 | 43,84 | 43,88 | 43,43 | 18,18 | <.0001 | 0,1341 | 0,1564 | ||||
EUN | 9,46 | 75,89 | 77,29 | 77,43 | 38,81 | 12,54 | 0,0048 | 0,0253 | 0,0534 | ||||
BN | 10,03 | 36,82 | 37,99 | 37,95 | 29,57 | 18,32 | <.0001 | 0,0498 | 0,0611 | ||||
EFM | 117,51 | 123,88 | 121,63 | 123,76 | 121,38 | 20,11 | 0,1109 | 0,1740 | 0,2017 | ||||