HABITUAÇÃO DE POTROS AO TRONCO DE CONTENÇÃO

Amanda Heloísa Dicilio de Alcântara1, Camila Giunco2, Laura Alves Brandi3, Mayra Oliveira Medeiros4, Tamires Romão Nunes5, Vanessa Dionisio dos Reis6, Cristiane Gonçalves Titto7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
2 - FZEA - USP
3 - FZEA - USP
4 - FZEA - USP
5 - FZEA - USP
6 - FEIS - UNESP
7 - FZEA - USP
8 - FZEA - USP

RESUMO -

O presente trabalho teve como objetivo avaliar o tempo de habituação e a reatividade de potros ao tronco de contenção. Foram utilizados 11 potros, 6 machos e 5 fêmeas. Os animais foram conduzidos individualmente para o tronco de contenção, onde foram observados por dois períodos de 30 segundos cada. Para analise foram considerados o efeito de sexo, tempo e dia. A análise de reatividade foi baseada em escore composto. OS animais se habitaram ao tronco em um período de 3 dias, nos quais apresentam reatividade decrescente(p<0,05). A maior reatividade (p0,05) sobre a reatividade e habituação ao dos potros no tronco. Os potros foram classificados como calmos, segundo análise de score composto. É possível realizar a habituação de potros em tronco de contenção num período de três dias. Potros não sofrem influência do sexo na habituação.

Palavras-chave: cavalos, comportamento, manejo, reatividade.

HABITUATION OF FOALS TO THE HORSE STOCK

ABSTRACT - The present work had as objective to evaluate the habituation time and the reactivity of foals to the horas stock. Eleven foals, 6 males and 5 females were used. The animals were individually taken to the horse stock, where they were observed for two periods of 30 seconds each. For analysis, the effect of sex, time and day were considered. Reactivity analysis was based on composite score. The animals entered the stock for 3 days, in which they presented a decreasing reactivity (p <0.05). The highest reactivity (p <0.05) was observed in the initial 30 seconds. There was no sex effect (p> 0.05) on the reactivity and habituation of foals in the stock. The foals were classified as calm, according to composite score analysis. It is possible to habituate foals in the horse stock within a period of three days. Habituation of foals are not influenced by sex.
Keywords: behavior, handling, horses, reactivity.


Introdução

O cavalo é um animal sociável que vive em bando e por serem predados, mantém o instinto de fuga para se defenderem. Apesar de serem animais curiosos, os cavalos são claustrofóbicos e neofóbicos (LESCHONSKI, 2008). A relação homem e cavalo, muitas vezes, é repleta de desafios para ambos, seja durante a prática de manejos nunca realizados, montas ou treinamentos. Diante disto faz-se necessário que o animal passe por um processo de habituação, deixando-o preparado para situações e locais desconhecidos. É compreendida como habituação a repetição de um estímulo desconhecido, podendo causar uma diminuição de reações excessivas (CALVIELLO, 2013). A fim de instaurar uma relação bem-sucedida entre o tratador e o cavalo, garantindo a segurança durante o manejo, é indispensável habituar o animal ao tronco de contenção para realização de aplicação de medicamentos, tosa, diagnóstico de gestação, procedimentos odontológicos, entre outros (CALVIELLO, 2013). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o tempo de habituação e a reatividade de potros, machos e fêmeas, ao tronco de contenção.

Revisão Bibliográfica

Pesquisas sobre o comportamento de equinos vêm conquistando espaço nos últimos anos devido à busca de soluções para melhorar a criação. Os equinos sofreram mudanças severas, partindo de uma condição de vida livre para sistemas de criação atuais, onde os animais permanecem quase que exclusivamente confinados (GARCIA et al., 2010). Em consequência do constante uso pelo homem, os cavalos estão sempre em convívio com diversas pessoas. O relacionamento entre o homem e o cavalo depende da conduta de ambos e também da experiência do animal adquirida através do contato com o homem. Deste modo, o relacionamento positivo que é firmado entre o homem e o cavalo é fundamental para o uso destes animais em atividades equestres (CALVIELLO, 2013). Equinos muito reativos podem exibir problemas durante os manejos de rotina. Além de que, as reações excessivas podem restringir o uso do cavalo, causando acidentes, redução do desempenho em competição e dos manejos em geral (HAUSBERGER et al., 2008). Ademais, a compreensão da reatividade de um equino pode levar a prever como o animal reagirá frente situações estressantes ou novos estímulos, além de contribuir para análise das razões do desenvolvimento de problemas (SEAMAN et al., 2002). Portanto, é imprescindível que os profissionais conheçam a possibilidade de atuar através do manejo, desenvolvendo o treinamento dos equinos através da habituação (LEINER & FENDT, 2011). A habituação ocorre através da repetição de um estímulo desconhecido, e a capacidade que esta repetição tem em diminuir a resposta do animal. A taxa de habituação e a possibilidade de ela ocorrer dependem da natureza do estímulo, a regularidade e a taxa de apresentação do estímulo (MCGREEVY, 2004). JEZIERSKI (1999) sugere que a habituação ao manejo pode amenizar a reatividade. A reação do animal é uma característica influenciada pela idade do animal, sendo o jovem o mais reativo, bem como pelo processo de habituação a um novo local ou estímulo (CALVIELLO, 2013). O sexo também pode influenciar a reatividade dos equinos, conforme descrito previamente por BUDZŃSKA et al. (2014).

Materiais e Métodos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo: protocolo número 2673240516. O experimento foi realizado no Setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa em Pirassununga. Foram utilizados 11 potros, sem raça definida, seis machos e cinco fêmeas, com idade variando de 10 a 13 meses. Os animais, pertencentes à mesma tropa, foram conduzidos diariamente à lanchonete. Os animais foram retirados individualmente da lanchonete e conduzidos para o tronco de contenção, construído em ferro por três dias consecutivos. Após a entrada do potro no tronco, as portas dianteira e traseira foram fechadas, iniciando-se a contagem em dois períodos de trinta segundos cada. As observações comportamentais dos animais no tronco foram realizadas pelo método visual contínuo, adaptado de CALVIELLO (2013), com aplicação de escores a oito variáveis comportamentais, além da observação do momento de passagem pela grade do ralo localizado na entrada do tronco, a entrada e a saída do animal do tronco (Tabela 1). Foi atribuída a cada animal uma classe de resposta chamada de reatividade, conforme descrito por CALVIELLO (2013), utilizando os conceitos da escala Likert (1932), seguindo a classificação: calmo (0-20%), pouco reativo (20-40%), reativo (40-60%), muito reativo (60-80%) e agressivo (80-100%). Para a confecção do escore composto, foram utilizadas todos os escores de cada uma das variáveis e determinado o escore máximo que o conjunto poderia ter. Em seguida, utilizando- se pontuação da escala Likert, obteve-se a pontuação da reatividade do animal. A proporção foi gerada através da análise dos pontos de escore obtidos pelo animal em relação a pontuação máxima. Os dados foram analisados por teste de variância com efeito de tempo, sexo e dia, por comparação múltipla por PDIFF a 5%, analisado pelo programa estatístico SAS (2004).

Resultados e Discussão

O tempo de habituação dos potros ao tronco foi de três dias. Os animais foram considerados habituados quando apresentaram baixa reatividade a permanência no tronco. A análise de reatividade foi baseada em escore composto e todos os escores obtidos para as variáveis então na faixa dos animais calmos (Tabela 2), sugerindo que o manejo no tronco não amedrontou o animal.  A permanência dos animais calmos pode estar relacionada com a forma que foram treinados a manejados, sempre utilizando-se os conceitos da doma racional. O manejo de base do cavalo é muito importante para a segurança na Equideocultura, uma vez que o tronco é um local de intervenções veterinárias e manejo dos animais, ao qual é ideal que o cavalo mantenha-se calmo, reiterando a importância da análise de reatividade nesta situação, conforme descrito previamente por CALVIELLO (2013). Houve efeito de tempo (p<0,05) sobre a habituação dos animais ao tronco (Tabela 2), observando-se valores de reatividade decrescentes ao longo dos três dias de habituação. No primeiro dia, a reatividade apresentava 12,24% e no terceiro dia 10,65% (Tabela 2). Atribui-se a rápida habituação do animal ao tronco ser aberto e o animal já conhecer o ambiente em que o tronco de contenção estava alocado. Corroborando com o observado, MCGREEVY,(2004) cita que o processo de habituação se deve a repetição do estímulo, diminuindo a resposta do animal frente situações inexploradas Quando se considerou a permanência no tronco, observou-se diferença (p<0,05) entre os dois períodos analisados (Tabela 2), sendo que nos primeiros 30 segundos o animal permaneceu mais reativo (12 %) do que no segundo período (10,60%), queda de 16%. A queda da reatividade do animal pode estar relacionada com a habituação ao local, conforme descrito previamente por CALVIELLO (2013). Não foi observado efeito de sexo (p>0,05) para a habituação no tronco de contenção (Tabela 2), discordando de Budznska et al (2014).

Conclusões

É possível realizar a habituação de potros em tronco de contenção num período de três dias. Potros não sofrem influência do sexo na habituação. É de suma importância para a segurando do cavalo e os humanos que os animais se mantenham calmos durante o manejo.

Gráficos e Tabelas




Referências

BUDZYŃSKA, M. Stress reactivity and coping in horse adaptation to environment. Journal of Equine Veterinary Science, v. 34, n. 8, p. 935-941, 2014. CALVIELLO, R. F. Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013. GARCIA, H. A. C. et al. Diferença comportamental entre potros, machos e fêmeas, cruzados puro sangue inglês e mangalarga submetidos a início de cabresteamento e estabulagem. Revista da FZVA, v. 17, n. 2, 2010. HAUSBERGER, M. et al. A review of the human–horse relationship. Applied Animal Behaviour Science, v. 109, n. 1, p. 1-24, 2008. JEZIERSKI, T.; JAWORSKI, Z.; GORECKA, A. Effects of handling on behaviour and heart rate in Konik horses: comparison of stable and forest reared youngstock. Applied Animal Behaviour Science, v. 62, n. 1, p. 1-11, 1999. LESCHONSKI, C.; SERRA, C. M.; MENANDRO, C. Programa de vigilância de zoonoses e manejo de eqüídeos do Estado de São Paulo. BEPA. Boletim Epidemiológico Paulista (Online), v. 5, n. 52, p. 07-15, 2008. LEINER, L.; FENDT, M. Behavioural fear and heart rate responses of horses after exposure to novel objects: Effects of habituation. Applied Animal Behaviour Science, v. 131, n. 3, p. 104-109, 2011. LIKERT, R.  «A Technique for the Measurement of Attitudes»Archives of Psychology, 140: pp. 1-55, 1932. MCGREEVY, P. et al. Equine behavior: a guide for veterinarians and equine scientists. Saunders, An Imprint of Elsevier Limited, 2004. STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM – SAS. OnlineDoc. Version 9.1.3. Cary: SAS Institute, 2004. SEAMAN, S.C; DAVIDSON, H.P.B.; WARAN, N.K. How reliable is temperament assessment in the domestic horse (Equus caballus)?. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v.78, p.175-191, 2002.