Índices de paridade: uma análise para a pecuária de corte paranaense

Leticia Ferreira de Camargo1, Natália Nami Ogawa2, Gabriela de Oliveira Souza3, Amanda Massaneira de Souza Schuntzemberger4
1 - Graduanda do 2° ano do Curso de Zootecnia – UEL, Londrina, Paraná, Brasil. E-mail: leticiafdecamargo@gmail.com
2 - Graduanda do 2° ano do Curso de Zootecnia – UEL, Londrina, Paraná, Brasil.
3 - Graduanda do 4° ano do Curso de Zootecnia – UEL, Londrina, Paraná, Brasil.
4 - Professora do Departamento de Zootecnia da UEL, Londrina, Paraná, Brasil.

RESUMO -

Este estudo analisou a evolução dos índices de paridade da pecuária de corte paranaense, por meio do cálculo do índice de preços recebidos (IPR) pela venda arroba do boi gordo e pelo índice de preços pagos (IPP) pelos principais insumos pecuários, no período de fevereiro de 2015 a fevereiro de 2016. Dentre os principais resultados, destaca-se que os preços recebidos pela arroba do boi gordo tiveram, em média, uma queda de 10,12% no mercado paranaense, enquanto que os preços pagos pelos principais insumos utilizados na produção pecuária caíram, em média, 4,21%. No que tange ao índice de paridade (IP), ou seja, a relação entre o IPR e o IPP, observa-se, no período analisado, uma descapitalização dos pecuaristas paranaenses na ordem de 6,16%, sugerindo que o preço da arroba bovina caiu mais do que a cotação dos principais insumos utilizados na sua produção.

Palavras-chave: fatores de produção, índices de paridade, pecuária de corte, planejamento pecuário.

Parity Indexes: an analysis for beef cattle in Paraná State

ABSTRACT - This study analyzed the evolution of parity indexes for beef cattle in Paraná State by calculating the Prices Received Index (PRI) for the sales of cattle and the Prices Paid Index (PPI) for the main livestock supplies, from February 2015 to February 2017. The main results showed that the prices received for cattle reduced on average 10,12% in Paraná's market, while the prices paid for the main supplies used in the cattle business decreased 4,21% on average. The Parity Index, obtained by dividing the PRI by the PPI, showed that, during the considered period, there was a decapitalization of 6,16% of Paraná's beef cattle business, suggesting that the price of cattle decreased more than that of the main supplies used on this industry.
Keywords: factors of production, parity indexes, beef cattle, livestock planning.


Introdução

Na pecuária, como em qualquer outra atividade produtiva, a quantidade de insumos que se pode obter em troca de uma unidade do bem produzido é um importante indicador da situação econômica do negócio. Esta "relação de trocas" dá uma ideia sobre a capacidade do empreendimento prover seu próprio sustento, servindo também para mostrar se a atividade está vivendo um processo de capitalização ou empobrecimento (COSTA e PACHECO, 1988). Nesse contexto, uma forma de se obter controle sobre a produção pecuária, é a construção de índices de paridade, que traz informações sobre a relação insumos-produto, por meio de dados sobre os preços pagos pelo produtor na aquisição de recursos utilizados na pecuária e o preço recebido pelo boi gordo, sendo um importante indicador de conjuntura e gestão aos pecuaristas (PADILHA JÚNIOR et al., 2011). O presente estudo teve como objetivo analisar os preços da arroba do boi gordo e dos principais insumos utilizados na pecuária de corte paranaense de acordo com a SEAB/PR, no período de fevereiro de 2015 a fevereiro de 2017. Com base nesses dados, foram gerados alguns índices econômicos, com a finalidade de auxiliar a interpretação de viabilidade dessa atividade ao longo do período analisado.

Revisão Bibliográfica

Conforme dados da Pesquisa Pecuária Municipal divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, o rebanho bovino paranaense era formado por mais de 9,3 milhões de cabeças, dentre as quais, cerca de 6,1 milhões correspondem ao rebanho de corte (IBGE, 2016). Segundo Mezzadri (2016), o estado do Paraná, possui uma vantagem em relação a outros estados brasileiros. Devido à diversidade de climas, relevos e solos é possível a criação e manutenção com sucesso tanto de raças zebuínas quanto europeias, proporcionando diferentes tipos de cruzamentos entre estes indivíduos e aumentando a produtividade dos rebanhos através da heterose. Apesar da relevância da pecuária de corte para a economia paranaense e nacional, ainda é visível a carência administrativa de muitos produtores, com falta de planejamento e gestão profissional para otimizar o processo produtivo. Por conta disso, medidas a fim de melhorar índices gerenciais, zootécnicos e econômicos são de extrema importância para a manutenção e melhoria do empreendimento (EUCLIDES FILHO, 2016). Conforme Padilha Junior et al. (2011), a gestão indireta da produção pecuária via a utilização de índices de paridade e das relações de trocas permite aos pecuaristas verificar como os setores localizados “antes da porteira”, normalmente oligopólios, estão formando e repassando preço sobre os principais fatores de produção, bem como determinar de que forma os setores localizados “depois da porteira”, os oligopsônios, estão influenciando o mercado na aquisição da arroba do boi gordo. Conforme os autores, este clássico efeito econômico conhecido por “dupla pressão” acaba influenciando de forma definitiva os resultados econômicos da pecuária de corte paranaense, que variam sazonalmente, proporcionando à atividade um elevado grau de risco econômico, muitas vezes, até superior aos riscos de produção, que são inerentes ao processo produtivo. De acordo com Mendes (1998), o índice de paridade permite estabelecer um parâmetro sobre ganhos e perdas da pecuária de corte, em certo período. O índice de paridade acima de 100 indica que os preços recebidos pelos pecuaristas cresceram mais do que os preços dos insumos por eles adquiridos. Já o resultado abaixo de 100 aponta uma situação desfavorável para a pecuária. Quando o índice é igual a 100 diz-se que se está na posição de paridade, ou seja, no período analisado, os preços da arroba do boi gordo e dos insumos tiveram aumentos proporcionais.

Materiais e Métodos

Os cálculos dos índices utilizados no estudo foram feitos com base em séries temporais de preços nominais disponibilizadas pelo site da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB/PR). Para o Índice de Preços Recebidos (IPR), índice capaz de refletir o comportamento médio dos preços recebidos pelos pecuaristas, foi utilizada a média mensal de preço da arroba do boi gordo, enquanto que para o Índice de Preços Pagos (IPP), índice capaz de refletir o comportamento dos preços pagos pelos pecuaristas, utilizou-se série de preços dos principais insumos usados na produção da pecuária de corte, como semente de Brachiaria decumbens (saco de 20 kg), milho híbrido de baixa tecnologia (saco de 20 kg), soja (saco de 50 kg), sal mineral balanceado (saco de 25 kg), vacina para febre aftosa (10 doses), medicamento para controle parasitário (Ivomec bovino – frasco de 50 ml), adubo NPK 05-20-20 (tonelada), óleo diesel (litro), bezerro Nelore cruza industrial de até 1 ano (unidade), mão-de-obra (auxiliar de pecuária – salário mensal) e arrendamento anual de terras para pastagem (hectare). Os valores reais foram obtidos deflacionando-se os valores nominais por meio do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da FGV, considerando como base o mês mais atual da série (fevereiro de 2017). A análise compreende o período de fevereiro de 2015 à fevereiro de 2017. Após cálculos do IPR e IPP, a situação econômica dos pecuaristas foi verificada com base no Índice de Paridade (IP), responsável por refletir a relação de trocas entre a arroba do boi gordo e os principais insumos utilizados na sua produção. Os dados foram tabulados pelo programa computacional Excel e expressos em tabela.  

Resultados e Discussão

Ao analisar o IPR do boi gordo com base 100 em fevereiro de 2015, nota-se que seu valor foi de 89,88 em fevereiro de 2017, indicando que durante o período analisado, os preços recebidos pela arroba do boi gordo foram reduzidos, em média, em 10,12% no mercado paranaense, enquanto a inflação teve aumento de 15,12% nesse mesmo período. Isso indica que o produtor teve seu poder de compra duplamente prejudicado, tendo sido reduzido tanto pela redução do preço recebido como pelo aumento da inflação (Tabela 1). O IPP, que representa a maioria dos fatores de produção empregados na pecuária, por sua vez, apresentou um valor de 95,79 em fevereiro de 2017, o que mostra que os preços dos insumos pecuários, em geral, foram reduzidos, em média, em 4,21%. Ressalta-se o fato de que os fatores de produção utilizados na alimentação animal (semente de Brachiaria decumbens, milho de baixa tecnologia, soja e sal mineral balanceado) apresentaram, em média, no período analisado, aumento nas suas cotações. No caso da braquiária, houve um aumento de 51,57%, enquanto que os preços do milho e da soja cresceram, em média, 37,35 e 23,45%, respectivamente. Para o sal mineral, houve um incremento de 14,01% (Tabela 2). Entretanto, o aumento nesses fatores não foi suficiente para provocar aumento no IPP, visto que, comparado aos outros fatores (adubo, bezerro, mão de obra), eles não têm grande impacto no preço pago pelo produtor. A queda no preço do adubo foi de 16,12%. Já os preços da mão de obra recuaram cerca de 6,64%, enquanto que a redução do preço do bezerro foi de 9,20%. A análise do Índice de Paridade (Tabela 1), obtido através da divisão do IPR pelo IPP, indica um valor de 93,64 no final do período analisado. Visto que o índice é menor que 100, observa-se que o pecuarista de corte paranaense apresentou, no período analisado, uma descapitalização de 6,16%, ou seja, em média, o preço da arroba do boi gordo teve uma queda maior do que a dos insumos considerados na análise.  

Conclusões

Verifica-se que, no período analisado, houve uma redução real na rentabilidade do pecuarista de corte paranaense, devido a uma desvalorização da arroba do boi gordo mais acentuada que a redução dos preços dos fatores de produção considerados na análise

Gráficos e Tabelas




Referências

COSTA, F.P.; PACHECO, J.A.C. Índice de preços pagos pelo pecuarista de corte de Mato Grosso do Sul. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 1988.19p. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 39). EUCLIDES FILHO, K. Cenários para a cadeia produtiva da carne bovina no Brasil. 2016. Disponível em: <http://cloud.cnpgc.embrapa.br/geneplus28/files/2016/07/Cap01_CadeiaProdutiva.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. MENDES, J.T.G. Economia Agrícola: Princípios Básicos e Aplicações. Curitiba: Editora ZNT Ltda., 1998. MEZZADRI, F.P. Análise da Conjuntura Agropecuária: Pecuária de Corte – Dezembro de 2016. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/2017/bovinocultura_de_corte_2017.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2017. PADILHA JUNIOR, J.B. ; ROSSI JUNIOR, P. ; SOUZA, M. ; SCHUNTZEMBERGER, A.M.S. ; MELLA, P.R. ; BALBINOT, C.B. O indicador de preços LAPBOV/UFPR e a evolução dos índices de paridade da pecuária de corte paranaense. In: VIII CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração, 2011. Anais..., 2011. Disponível em: < http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_2702.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. SEAB/PR (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento). Preços. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=195> Acesso em: 15 mar. 2017.