INDUÇÃO E RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA EM JUVENIS DE PINTADO REAL (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) EXPOSTOS AO EUGENOL
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RESUMO -
O trabalho objetivou avaliar o tempo de indução e recuperação anestésica em pintado real (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) com uso de eugenol. Foram utilizados 56 juvenis de pintado real, os quais foram transferidos para aquários contendo 4 L de água e eugenol em concentrações de 0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 µL L-1. Para cada concentração testada foram utilizados oito juvenis. Nenhuma mortalidade foi observada. Os exemplares expostos ao tratamento controle e a 10 µL L-1 de eugenol não apresentaram efeito anestésico durante os 30 minutos de avaliação. Acima desta concentração, os animais atingiram estágio de anestesia leve e profunda, onde 50 µL L-1 foi a menor concentração a desencadear anestesia profunda e recuperação anestésica com tempos inferiores a 3 e 5 min, respectivamente. Conclui-se que 50 µL L-1 de eugenol é eficiente para a indução anestésica leve e profunda em pintado real.
ANESTHETIC INDUCTION AND RECOVERY IN HYBRID CATFISH (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) JUVENILES EXPOSED TO EUGENOL
ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the time of induction and anesthetic recovery in hybrid catfish (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) using eugenol. Fifty-six hybrid catfish juveniles were used, which were transferred to aquaria containing 4 L of water and eugenol in concentrations of 0, 10, 20, 30, 40, 50 and 60 μL L-1. For each concentration tested, eight juveniles were used. No mortality was observed. The specimens exposed to the control treatment and the 10 μL L-1 of eugenol had no anesthetic effect during the 30-minute evaluation. Above this concentration, the animals reached a stage of light and deep anesthesia, where 50 μL L-1 was the lowest concentration to trigger deep anesthesia and anesthetic recovery with times less than 3 and 5 min, respectively. It was concluded that 50 μL L-1 of eugenol is efficient for light and deep anesthetic induction in hybrid catfish.Introdução
O uso de anestésico nos sistemas de produção piscícolas é uma estratégia que visa minimizar a hipermotilidade dos peixes, o que causa efeito deletério durante a manipulação e transporte. Tais danos causam o aumento da vulnerabilidade a patógenos e doenças infecciosas. Com a redução da motilidade pelos anestésicos, há a consequente diminuição destes efeitos deletérios indesejáveis (INOUE et al., 2003).
Segundo Marking & Meyer (1985), o anestésico para ser considerado ideal deve produzir anestesia em três minutos ou menos, e permitir a recuperação dentro de cinco minutos. Adicionalmente, não deve causar toxidade aos peixes, problemas de segurança nos manipuladores e deve apresentar custo razoável.
O pintado real é um hibrido desenvolvido recentemente no Brasil, resultado do cruzamento entre a fêmea Cachara Pseudoplatystoma reticulatum e o macho jundiá amazônico Leiarius marmoratus. Assim, considerando a potencialidade anestésica do eugenol e a inexistência de estudos relacionados ao uso do eugenol em pintado real (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus), este trabalho objetivou avaliar o tempo de indução e recuperação anestésica em juvenis de pintado real expostos a diferentes concentrações de eugenol.
Revisão Bibliográfica
Nos sistemas de produção aquícolas os peixes estão expostos a diversos agentes estressores, os quais segundo Oba et al., (2009) são provenientes de procedimentos rotineiros, tais como: alimentação, qualidade de água, densidade e manejos dos animais como biometria, despesca e o transporte.
Segundo Ross e Ross (2008), são tidos como estressores quaisquer estímulos que causem alterações comportamentais e fisiológicas, prejudicando a alimentação, crescimento e reprodução animal.
O uso de anestésicos pode minimizar o estresse através da diminuição da atividade do sistema nervoso central, reduzindo a capacidade de deslocamento animal. Assim, segundo o mesmo autor, peixes anestesiados teriam maior facilidade para a execução de atividade rotineiras nas pisciculturas (SILVA-SOUZA et al., 2015).
O eugenol é uma substância derivada do óleo de cravo, o qual é extraído das flores e caule do cravo-da-índia (MAZZAFERA, 2003). Atualmente é o anestésico alternativo mais promissor para peixes. Sendo apontado em estudos como eficiente e seguro na indução e recuperação anestésica de tilápia-do-Nilo (VIDAL et al., 2008), jundiá (DIEMER et al., 2012) e pacu (ROTILI et al., 2012).
Materiais e Métodos
Os procedimentos experimentais foram realizados no Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cruz das Almas - Bahia. Para determinar a influência da concentração na indução e recuperação anestésica foram utilizados 56 exemplares juvenis de pintado real.
Os exemplares utilizados, com peso e comprimento média de 82,32 g e 23,14 cm, respectivamente, foram transferidos para aquários contendo 4 L de água e eugenol em concentrações de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 µL L-1. As concentrações foram primeiramente diluídas em etanol (1:10). No tratamento controle os peixes foram transferidos para aquários que continha apenas água e etanol proporcional a maior diluição utilizada.
Para cada concentração testada foram utilizados oitos juvenis, coletados aleatoriamente e submetidos a banhos anestésicos. Para avaliação do tempo necessário para a indução anestésica, em cada aquário foram colocados dois peixes ao mesmo tempo, sendo avaliados separadamente no período máximo de 30 minutos de acordo com Small (2003).
Quando atingiram o estágio de anestesia profunda, os peixes foram retirados do aquário de indução e transferidos ao aquário de recuperação contendo 5 L de água sem eugenol, e o tempo de recuperação anestésica foi aferido. Os peixes foram considerados recuperados quando responderam a estímulos externos e apresentaram equilíbrio normal (ROSS & ROSS, 2008).
Foi avaliada a concentração mínima a qual os peixes atingiram o estágio anestésico entre 1-3 minutos, com recuperação inferior a 5 minutos. No final dos procedimentos experimentais, os peixes foram alojados em tanques, onde foram observados por 24 h para análise de sobrevivência.
A normalidade dos dados obtidos foi verificada por teste de Shapiro-Wilk. Os dados foram submetidos ao teste de Levene para verificar a homocedasticidade das variâncias. Os dados foram submetidos a ANOVA de uma via com 95% de significância (P < 0,05). Foi realizado regressão polinomial entre as dosagens de eugenol.Resultados e Discussão
Nenhuma mortalidade foi observada após 24 horas da realização dos testes, mostrando que não há efeito deletério a sobrevivência quando da utilização de eugenol como anestésico para pintado real. Os exemplares expostos ao tratamento controle e a concentração de 10 µL L-1 de eugenol não apresentaram efeito anestésico durante os 30 minutos de avaliação. Acima destas concentrações, os animais atingiram estágio de anestesia leve e profunda em todas as concentrações testadas (20, 30, 40 e 60 µL L-1).
As curvas de regressão obtidas em relação aos tempos de indução anestésica leve e profunda (Figuras 1 e 2) foram linear decrescente, mostrando que a medida que foi aumentando as concentrações de eugenol, o tempo requerido para indução anestésica leve e profunda foi diminuindo gradualmente, com tendência de estabilização nas últimas concentrações. A qual seguiu o mesmo modelo encontrado por Vidal et al. (2008) para tilápia-do-nilo. Esse efeito também foi observado quando o eugenol foi utilizado em outras espécies de peixes, como jundiá Rhamdia voulezi (DIEMER, et al., 2012) e oscar Astronotus ocellatus (SILVA-SOUZA, et al., 2015).
Os tempos de recuperação anestésica variaram 228 a 297 segundos. Para recuperação anestésica não houve diferença significativa entre as concentrações testadas, assim, não houve correlação do tempo de recuperação anestésica em relação as concentrações testadas.
Conclusões
Conclui-se que 50 µL L-1 de eugenol é eficiente e adequado para a rápida indução anestésica leve e profunda em pintado real.
Gráficos e Tabelas
Referências
DIEMER, O. et al. Eugenol as anesthetic for silver catfish (Rhamdia voulezi) with different weight. Ciências Agrárias, Londrina, v. 33, n. 4, p. 1495-1500, 2012.
INOUE, L. A. K.; NETO, C. S. N.; MORAES, G. Clove oil as anesthetic for juveniles of matrinxã Brycon cephalus (Gunther, 1869). Ciência Rural, Santa Maria, v. 33, n. 5, p. 943-947, 2003.
MAZZAFERA, P. Efeito alelopático do extrato alcoólico do cravo-da-índia e eugenol. Revista Brasileira de Botânica, v.26, p.231-238, 2003.
MARKING, L. L.; MEYER, F. P. Are better anesthetics needed in fisheries? Fisheries, v.10, p.2-5, 1985.
OBA, T. E.; MARIANO, S. W.; SANTOS, L. R. B. 2009. Estresse em peixes cultivados: agravantes e atenuantes para o manejo rentável. Macapá: Embrapa.
ROSS, L. G.; ROSS, B. 2008. Anaesthetic and sedative techniques for aquatic animals / Lindsay G. Ross, Barbara Ross. – 3rd ed.
ROTILI, D. A. et al. Eugenol as anesthetic for Piaractus mesopotamicus. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.42, n.3, 2012.
SILVA-SOUZA, J. G. et al. Eugenol como anestésico para oscar, Astronotus ocellatus. Archivos de Zootecnia, v. 64, n. 247, p. 205-210, 2015.
SMALL, B. C. Anesthetic efficacy of metomidate and comparison of plasma cortisol responses to tricaine methanesulfonate, quinaldine and clove oil anesthetized channel catfish Ictalurus punctatus. Aquaculture, v.218, p. 177-185, 2003.
VIDAL, L. V. O. et al. Eugenol como anestésico para a tilápia-do-nilo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, n.8, p.1069-1074, 2008.