Influência da época do ano sobre o desempenho e a mortalidade de suínos nas fases de crescimento e terminação

Alexandre Oliveira Teixeira1, Williane Ferreira Menezes2, Carla Regina Guimarães Brighenti3, Leonardo Marmo Moreira4, Alípio dos Reis Teixeira5, Vitor José de Andrade Resende6, Carlos Magno da Rocha Junior7, Bianca Patrocínio Mayer8
1 - Universidade Federal de São João Del Rei
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
3 - Universidade Federal de São João Del Rei
4 - Universidade Federal de São João Del Rei
5 - Universidade Federal de São João Del Rei
6 - Universidade Federal de São João Del Rei
7 - Universidade Federal de Lavras
8 - Universidade Federal de São João Del Rei

RESUMO -

Objetivou-se estimar a influência da época do ano sobre o desempenho e a mortalidade de suínos nas fases de crescimento e terminação. Foram analisados os dados de ganho de peso diário e de mortalidade de 73.111 suínos em função dos meses do ano, durante o período de 2009 a 2013. Foram calculadas equações de regressão para verificar possíveis relações entre os dados bioclimáticos e o desempenho e a mortalidade. Houve ajuste do modelo para mortalidade. Mortalidade=8,32(Constante) -218(TMax.) +0,0304(TMin.) +0,00116(Preciptação) -0,0144(UR) e não houve ajuste para ganho de peso diário GPD=0,848(Constante) -0,0018(TMax) + 0,00306 (TMin)+ 0,000065(Precipitação) +0,000417(UR). O clima pode influenciar no ganho de peso e a mortalidade dos animais. O controle da temperatura e UR interna dos galpões é de suma importância para otimizar o manejo, melhorar o desempenho e prevenir doenças relacionadas à época fria do ano.

Palavras-chave: bioclimatologia, consumo, construção, modelos, predição

Influence of the period of year upon the performance and the mortality of pigs in the growing and finishing phases

ABSTRACT - The objective was to estimate the influence of the period of year upon the daily weight gain (GPD) and mortality of pigs in the growing and finishing phases. It was analyzed the data daily weight gain and mortality of 73,111 pigs as function of the months of the year, during the period 2009 to 2013. It was calculated regression equations to verify possible relations between that climatological data and the GPD and mortality. It was adjustment of the model to mortality. (Mortality=8.32 (Const.) -218 (TMax) + 0.0304 (TMin) + 0.00116 (Precipitation) -0.0144 (UR) and there was no adjustment for GPD (GPD = 0.848 (const.) -0.0018 (TMax) + 0.00306 (TMin) +0.000065 (Precipitation) +0,000417 (UR)).The climatological conditions can to influence in the GPD and mortality of the animals. The control of temperature and the relative humidity of the animal shed is very relevant to optimize the manegement, in order to improve the GPD and to avoid diseases related to the cold period of the year.
Keywords: bioclimatology, intake, construction, models, prediction.


Introdução

Um dos grandes desafios da suinocultura moderna está relacionado à exploração do máximo potencial genético do animal, tanto no aspecto produtivo quanto no reprodutivo. Durante muitos anos a busca da máxima eficiência na produção animal esteve voltada para o atendimento das necessidades de manejo, sanidade, genética e nutrição (Ferreira, 2016). Sabe-se que fatores climáticos como temperatura, umidade do ar, radiação solar, vento, entre outros, podem influenciar diretamente o sistema neuroendócrino, as funções reprodutivas e o bem-estar dos animais. Neste sentido, o descuido destes fatores dentro de um sistema de criação, poderia levar a quedas da eficiência produtiva e perdas econômicas (Alvarenga et al., 2011). Logo, uma análise dos dados climatológicos é de suma importância para mostrar ao suinocultor a influência sobre os dados produtivos da granja. Objetivou-se estimar, através de modelagem estatística, a influência de dados climatológicos sobre o desempenho e a mortalidade de suínos nas fases de crescimento e terminação.

Revisão Bibliográfica

No Brasil, as médias de temperaturas máximas e mínimas estão, normalmente, acima do limite de temperatura crítica superior para as categorias de crescimento e terminação, tendo como consequência a diminuição do desempenho dos animais (Ferreira, 2016). Para suínos em fase de terminação (dos 60 aos 100 kg), a zona de termoneutralidade situa-se entre 15 e 21ºC (Sampaio et al., 2004). Considerando-se que as temperaturas predominantes no Brasil são superiores a essa faixa, sendo que as extremas variam de 10 a 45°C, um dos grandes desafios da suinocultura moderna está relacionado à exploração do máximo potencial genético do animal, tanto no aspecto produtivo quanto no reprodutivo, desde que o manejo esteja aliado a questões de ambiência. Durante muitos anos, a busca da máxima eficiência na produção animal esteve voltada para o atendimento das necessidades de manejo, sanidade, genética e nutrição (Ferreira, 2016). É normal que a deposição de gordura aumente com a idade dos animais, e esse fato é benéfico nas condições de frio, pelo maior isolamento térmico dos animais. Ao avaliar os efeitos da temperatura do ar sobre o comportamento, respostas fisiológicas e desempenho de suínos na fase de crescimento, Kiefer et al. (2009) observaram que o estresse por calor provoca distúrbios de comportamento, assim como afeta negativamente o desempenho. Para Nããs et al. (2001), o tipo de telhado é um fator de grande importância para a instalação, por que influencia na carga térmica de radiação incidente. Sevegnani (1994) em um experimento com o intuito de avaliar qual tipo de telha é mais adequada no que se refere ao conforto térmico testou vários materiais, sendo as melhores a telha de barro, alumínio e térmicas e a telha cimento amianto simples ficou na quarta posição. Manno (2005) percebeu que suínos alojados em ambiente de altas temperaturas consomem cerca de 12,3% menos alimento do que aqueles mantidos em ambientes de conforto térmico, e relatou que a redução do consumo é um mecanismo de defesa para redução da quantidade de calor resultante dos processos digestivos e metabólicos, relacionados à ingestão de alimentos. A temperatura e a umidade do ar são variáveis muito relacionadas entre si. Stark (2000) estudou o impacto da temperatura em relação à ocorrência das doenças respiratórias e concluiu que o calor e a umidade alta são mais favoráveis ao suíno.

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido na Fazenda da Gameleira, localizada no Município de Lagoa Dourada, MG, em região montanhosa (70%), com “Latitude: 20º 53’ 27” “Sul e Longitude: 44º 03’ 48” Norte e uma altitude de 1058 metros. Foram analisados os dados de ganho de peso diário de 73.111 suínos nas fases de crescimento e terminação, em função dos meses do ano (1218±397 suínos/mês), durante cinco anos. Os animais foram divididos em lotes e cada lote era composto de 55 animais com 1 animal/m2. Os valores de peso inicial e final de cada lote foram avaliados e registrados em software (AGRINESS S2 versão 5.5.6).  Os animais foram alojados em galpões de alvenaria composto por pilares de concreto, cobertura de telhas de amianto, mureta com 80 cm de alturas e piso de concreto. A disposição dos galpões não respeita a direção leste-oeste como preconizada para criação de suínos, isto devido à topografia acidentada da propriedade. A temperatura interna do galpão foi controlada com o manejo das cortinas. A cidade de Lagoa Dourada não possui estação meteorológica, então foram obtidos dados climáticos pelo site do INMET da média de cinco cidades diferentes próxima à Lagoa Dourada, entre elas: Barbacena, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Lavras e São João del Rei (Tabela 1). As medidas foram realizadas nos últimos 5 anos (2009 a 2013).  Estas variáveis ambientais foram comparadas com as condições de conforto térmico ideais para suínos citadas por Perdomo et al. (1994), ou seja, 18 a 20°C para suínos em crescimento e 12 a 21°C para suínos em terminação. Foi analisado o ganho de peso diário e a mortalidade dos suínos em função do ano, do mês e das estações do ano de 2009 a 2013. Para a análise estatística, utilizou-se o PROC REG do SAS (versão 9.3, 2013), tendo como causa de variação o efeito dos meses do ano. Foram calculadas equações de regressão (PLS) para verificar possíveis relações entre os dados bioclimáticos e o ganho de peso e a taxa de mortalidade dos suínos

Resultados e Discussão

Foi observado que nos anos de 2010 e 2013 o ganho de peso diário (GPD) foi menor nos meses que corresponde ao inverno na região, interferindo na média histórica dos dados, e nos anos de 2011 e 2012 o GPD  foi maior no inverno (Tabela 2). Também, foi observado que os animais, em todos os anos, obtiveram ganhos de peso elevado nos meses de janeiro e dezembro, que tradicionalmente são os meses mais quentes do ano. Diferentemente ao encontrado na literatura, a estação de verão, temperaturas mais altas, proporcionou melhores resultado de GPD. A média de ganho de peso diário dos suínos estudados foi de 0,83kg. Segundo Rostagno et.al. (2011) a média de desempenho esperado para animais de alto potencial genético com desempenho regular é de 0,915kg/dia durante as fases de crescimento e terminação. Logo, o GPD da granja, analisada no presente estudo, está aquém do esperado. Isso pode ser explicado levando em conta que algum distúrbio esteja ocorrendo, seja de manejo, sanidade ou até mesmo da dieta. Observou-se também que nos anos de 2011 e 2012 a mortalidade foi menor nos meses que correspondem ao inverno na região, e no ano de 2010 a mortalidade foi maior no inverno. O ano de 2013 houve alta taxa de mortalidade, muito superior comparada com os outros anos. Nos três primeiros meses do ano, a taxa de mortalidade variou pouco estando entre 1,5-2,5 com exceção do ano de 2013.  Stark (2000) sugere que o efeito da temperatura e da UR seja indireto, por influenciar outras variáveis como sobrevivência de microrganismos e concentração de gases e partículas em aerossóis, que são influenciadas por sedimentação diferenciada em relação a níveis de umidade variados. No nosso meio, existe a percepção de que as pneumonias são mais frequentes e severas nos meses frios do ano, provavelmente porque as instalações são mantidas mais fechadas, ocorrendo piora das condições do ambiente, por presença de excesso de gases, pó, bactérias em suspensão e endotoxinas. Existe também o efeito das flutuações de temperatura, comuns nas fases frias e de transição estacional durante o ano, que acabam por estressar o animal, agravando o problema. Umidades altas demais prejudicam o trânsito de muco (por torná-lo excessivamente fluido) e umidades muito baixas prejudicam por torná-lo excessivamente viscoso. Para permitir um deslocamento adequado do tapete mucoso sobre os cílios do trato respiratório, uma umidade relativa do ar na faixa de 60-80% é considerada adequada (Barcellos et al., 2008). Houve ajuste (P=0,003) do modelo para mortalidade Mortalidade=8,32(Constante)-0,218(TMax.)+0,0304(TMin.)+0,00116(Precipitação) -0,0144(UR)  e não houve ajuste (P>0,05) para ganho de peso diário GPD=0,848(Constante)-0,0018(TMax) + 0,00306 (TMin) +0,000065(Precipitação)+0,000417(UR)). Observou-se que os valores do coeficiente de regressão foi baixo e que as causas podem estar associado ao fato dos valores de temperatura variarem muito nas estações meteorológicas que circundam Lagoa Dourada.

Conclusões

O clima pode influenciar no ganho de peso e na mortalidade dos animais. O controle da temperatura e umidade relativa interna dos galpões é de suma importância para aperfeiçoar o manejo, melhorar o desempenho e prevenir doenças relacionadas à época fria do ano. Não foram encontradas equações de regressão que explicassem os fatos dentro do período estudado.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALVARENGA, A. L. N.; ZANGERONIMO, M. G.; OBERLENDER, G.; MURGAS, L. D. S. Aspectos reprodutivos e estresse na espécie suína. Boletim Técnico - n.º 86 - p. 1- 40 ano 2011. Lavras, MG. BARCELLOS, D.E.S.N.; BOROWSKI S.M.; GHELLER N.B.; SANTI M.; MORES T.J. 2008. Relação entre ambiente, manejo e doenças respiratórias em suínos. Acta Scientiae Veterinariae. 36 (Supl 1): s87-s93. FERREIRA, R. A. Maior produção com melhor ambiente: para aves, suínos e bovinos. ed. 3, Aprenda fácil, p. 344, 2016. KIEFER, C. MOURA, M. SILVA, E. SANTOS, A. SILVA, C. LUZ, M. NANTES, C. Respostas de suínos em terminação mantidos em diferentes ambientes térmicos. Rev. Bras. Saúde Prod. An., v.11, n.2, p. 496-504 abr/jun, 2010 MANNO, M.C.; OLIVEIRA, R.F.M.; DONZELE, J.L.; OLIVEIRA, W.P.; VAZ, R.G.M.V.; SILVA, B.A.N.; SARAIVA, E.P.; LIMA,  K.R.S. Efeitos da temperatura ambiente sobre o desempenho de suínos dos 30 aos 60kg.  Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, p.471-477, 2006. NÃÃS, I. A.; SEVEGNANI, K. B.; MARCHETO, F. G. Avaliação térmica de telhas de composição de celulose e betumem, pintadas de branco, em modelos de aviários com escala reduzida. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.21, n.2, p.121-126, 2001. PERDOMO, C.C. Conforto ambiental e produtividade de suínos. In: Simposio Latino- Americano de Nutrição de Suínos, 1994, São Paulo. Anais. São Paulo: CBNA, 1994. p.19-26. Rostagno, H.S., Albino, L.F.T., Donzele, J.L. et al. 2011.Tabelas brasileiras para aves e suínos. Ed. Rostagno, H.S. Viçosa: UFV, 252p. SAMPAIO, C.A.P. Caracterização dos sistemas térmicos e acústicos em sistemas de produção de suínos nas fases de creche e terminação. Campinas, 2004. 121p. Tese (doutorado) – Faculdade de Engenharia Agrícola UNICAMP. STARK K. 2000. Epidemiological investigation of the influence of environmental risk factors on respiratory diseases in swine a literature review. The Veterinary Journal . 159: 37-56.





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