Influência da espécie forrageira na migração vertical de larvas infectantes de Haemonchus sp.

Geovanna Bárbara Ribeiro1, Mylla Christhie Costa Urzedo2, Ligia Pinho Cuccato3, Mayara Cardoso Oliveira4, Lívia Mendonça de Aguiar5, Manoel Eduardo Rozalino Santos6, Fernanda Rosalinski-Moraes7
1 - Graduanda de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: babi.portinari@hotmail.com
2 - Graduanda de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: myllaurzedo@gmail.com
3 - Residente de Medicina Veterinária, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: ligia.cuccato@gmail.com
4 - Graduanda de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: mayarinha_cardoso100@hotmail.com
5 - Técnica do laboratório de doenças parasitarias (LADOP), FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: lmaguiar@ufu.br
6 - Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: manoel.rozalino@ufu.br
7 - Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail. fernanda.rosalinski@ufu.br

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a influência das espécies Stylosanthes spp. (estilosantes Campo Grande©) e Brachiaria brizantha cv. Marandu na migração vertical de larvas infectantes de Haemonchus spp. (L3). Para isso, foram plantadas sementes destas cultivares, em 50 vasos de 5 L. Quando ambas as espécies atingiram a altura de 20 cm, os vasos foram contaminados experimentalmente com coproculturas de fezes ovinas. Foram procedidas amostragens para obter larvas de nematódeos, com remoção completa da matéria vegetal contida nos vasos, nos dias 1, 3, 6, 10 e 14 após a contaminação. Não foi observado efeito da espécie forrageira sobre o número de L3 recuperadas nas fezes (p = 0,779), estrato superior (p = 0,175) ou inferior (p = 0,788) da forragem, porém, houve decréscimo significativo do número de L3 encontradas com o passar dos dias. O estrato superior das plantas manteve-se com menor contaminação de larvas infectantes do que o estrato superior, e a contaminação diminui ao longo dos dias.

Palavras-chave: estrongilídeos, leguminosa, Stylosanthes, Brachiaria, Marandu

Influence of forage species in vertical migration of Haemonchus sp. infective larvae

ABSTRACT - We aimed to evaluate the influence of forage species Stylosanthes spp. (Estilosantes Campo Grande®) and Brachiaria brizantha cv. Marandu on vertical migration of infective larvae of Haemonchus spp. (L3). These cultivars were seeded in 50 five-liter pots. When both species reached a minimum height of 20 cm, the pots were experimentally contaminated with coprocultures of sheep feces. Samples were taken with complete removal of the vegetable matter contained in the pots, in order to obtain nematode larvae, on the days one, three, six, 10 and 14 after contamination. No effect of the forage species on mean L3 recovered from upper (p = 0.779) or lower(p = 0.175) strata or from the feaces(p = 0.788) was shown. However, there was a significant decrease in the number of L3 found throughout the days. The upper stratum of the pasture, the one that is preferably grazed by the animals, was maintained with lower contamination of infective larvae and the number of L3 tended to decrease over the days.
Keywords: Strongylid, legume, Stylosanthes, Brachiaria, Marandu


Introdução

O sistema de produção de ruminantes a pasto é o predominante no Brasil. Entretanto, parte do ciclo de vida de diversos parasitos (externos e internos), que causam grandes prejuízos à produção de ruminantes, ocorre no pasto. As parasitoses gastrintestinais em pequenos ruminantes ainda representam um grande gargalo na produção destes animais. Os prejuízos diretos decorrentes da ação patogênica dos helmintos são anorexia, perdas produtivas e morte de indivíduos (em casos mais severos). O uso de vermífugos, como único método de controle, gerou pressão à seleção dos parasitos resistentes aos princípios ativos disponíveis no mercado. A resistência parasitária é agravada principalmente pelos mecanismos adotados para o controle da ação patogênica dos helmintos, tais como: o tratamento de todos os indivíduos do rebanho simultaneamente; o desconhecimento dos animais que apresentam maiores níveis de carga parasitária; ausência de escrituração zootécnica, que permite conhecer os animais que mais sofreram ação dos parasitos no decorrer do ano; manejo incorreto das pastagens, proporcionando ambiente favorável ao ciclo dos parasitos; falha na nutrição do rebanho; entre outros aspectos (Borges et al., 2005). Os estrongilídeos são o principal grupo de endoparasitos de ruminantes (Ueno e Gonçalves, 1998; Wilmsen et al., 2014) e parte do ciclo de vida desses parasitos se passa no meio externo (pasto). Durante esta fase, o microclima (temperatura, umidade e oxigenação) proporcionado pelo pasto influencia diretamente a sobrevivência e desenvolvimento das larvas. Como a morfologia de cada espécie forrageira pode promover alterações no microclima, é importante conhecer se existam espécies que possam promover condições que dificultem o desenvolvimento parasitário. Algumas plantas produzem, através de tricomas glandulares, substâncias de defesa com potencial antibiose em larvas de Rhipicephalus (Boophilus) microplus (Oliveira, 2009). Ainda segundo o autor, entre estas plantas, encontram-se Brachiaria brizantha cv Marandu e leguminosas do gênero Stylosanthes. Assim, busca-se com o presente estudo, avaliar se a espécie forrageira pode influenciar na migração vertical e viabilidade de larvas infectantes de estrongilídeos parasitos gastrintestinais de pequenos ruminantes, na região de Uberlândia – MG.

Revisão Bibliográfica

Um dos principais entraves da produção de pequenos ruminantes, não apenas na região sudeste, mas em todo território nacional, é a presença de fatores favoráveis para o desenvolvimento das verminoses. Um deles é o clima, predominantemente tropical, favorável ao desenvolvimento das larvas no meio (pasto) pelas temperaturas constantes e altas, alta umidade e oxigenação (O’CONNOR et al., 2006). Outro fator é a predominância de terreno plano, que favorece o sistema extensivo de produção animal, contribuindo com uma maior área de pasto para o desenvolvimento de verminoses. Diversos autores (O’CONNOR et al., 2006; SOTOMAIOR et al., 2009; WILMSEN et al., 2014) sugerem que os parasitos predominantes na criação de caprinos e ovinos em regiões de clima tropical são: Haemonchus, Trichostrongylus, Cooperia e Oesophagostomum (todos pertencentes a grande ordem Strongylidea). Dentre estes, o gênero predominante na maior parte do ano é Haemonchus sp.. O ciclo destes parasitos compreende uma fase de vida livre, na qual os ovos são eliminados nas fezes dos hospedeiros, e dependem de condições ambientais favoráveis para desenvolverem-se até a fase infectante (larva de terceiro estádio ou L3) (O’CONNOR et al., 2006). Logo, a pesquisa ações para minimizar a carga de estádios pré-parasitários no ambiente de pastejo é desejada, a fim de minimizar a necessidade de uso de anti-helmínticos (SOTOMAIOR et al., 2009). Estudos realizados desde a década de 70 demonstram a ocorrência, em algumas forrageiras, de uma ação repelente e/ou letal para as larvas de Rhipicephalus Boophilus microplus (carrapato) através de contato direto larva/forrageira ou por agentes voláteis (BARROS e EVANS, 1991). Oliveira et al. (2009) acrescenta que além de Stylosanthes spp., Brachiaria brizantha cv. Marandu também possui um potencial de produção de substância bioativa, através de tricomas glandulares, capaz de influenciar a migração e permanência de larvas infectantes de carrapato bovino. No entanto, poucos trabalhos tem sido realizados no sentido de buscar potencial bioativo de plantas forrageiras sobre larvas de nematódeos gastrintestinais parasitos de ruminantes.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Capim Branco, pertencente à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), localizada no município de Uberlândia – MG, Brasil (18°30’ de latitude sul e 47°50’ de longitude oeste de Greenwich, e sua altitude é de 776 m). O clima dessa região, segundo a classificação de Köppen (1948), é do tipo Cwa, tropical de altitude, com inverno ameno e seco, e com estações seca e chuvosa bem definidas. A temperatura média anual é de 22,3ºC e a precipitação média anual de 1.584 mm. Foi realizado o plantio de Stylosanthes spp. (Estilosantes Campo Grande®) e Brachiaria brizantha cv. Marandu em vasos, que constituíram as unidades experimentais. As plantas levaram cerca de cinco meses para atingir a altura desejada (20 cm) no mês de julho, quando as forrageiras foram contaminadas experimentalmente com coproculturas de fezes de ovelhas naturalmente infectadas com estrongilídeos. Para realização das coproculturas, ovinos com infecção natural por estrongilídeos foram selecionados como doadores de fezes. Apenas animais com média de 1500 ovos de estrongilídeos por grama de fezes (OPG) foram incluídos. As fezes foram colhidas diretamente do reto dos animais e levadas ao laboratório, onde foram pesadas e separadas em copos descartáveis (10g/copo). Essas fezes foram umedecidas, maceradas e misturadas com vermiculita, a fim de facilitar a oxigenação da mistura. Após sete dias, umedecendo diariamente e sob temperatura ambiente, já havia larvas de terceiro estádio (L3) para contaminar as plantas. Após 1, 3, 6, 10 e 14 dias da data de contaminação, foram procedidas amostragens das espécies forrageiras.  No momento da coleta, as plantas estavam com altura média de 20 cm. Toda a forragem presente nos vasos foi podada na altura de 10 cm, para separar o estrato inferior do superior. Cada estrato foi acondicionado em um saco de papel. As fezes da coprocultura remanescente sobre os vasos também foram recolhidas. Todas as amostras foram mantidas sob refrigeração até serem transportadas para o Laboratório de Doenças Parasitárias (LADOP-UFU). No laboratório, as amostras foram pesadas e processadas através do método de Rugai, Mattos e Brisola (1954) adaptado, baseado no termo-hidrotropismo das larvas. Os nematóides encontrados foram contados e identificados em microscópio óptico. Os dados de larvas infectantes foram convertidos por transformação logarítmica (Log L3+1). A análise foi realizada no procedimento ANOVA, do pacote estatístico S.A.S., considerando um delineamento inteiramente casualizado em arranjo fatorial 2X5 (duas espécies forrageiras e cinco dias de coleta). As médias foram comparadas pelo teste DMS (desvio mínimo significativo).

Resultados e Discussão

O modelo estatístico não demonstrou efeito da espécie forrageira sobre o número de L3 de Haemonchus sp. recuperadas nas fezes (p = 0,7790), estrato superior (p = 0,1755) ou inferior (p = 0,7883) da forragem, porém demonstrou haver efeito do dia pós contaminação. (Figura 1). A redução gradativa do número de larvas ao longo dos dias pode ter ocorrido por dispersão das L3 no meio ou ainda por sua morte. Paniago (2014), ao coletar quinzenalmente amostras de capim marandu contaminado com fezes de ovinos por até 65 dias, observou redução significativa do número de larvas recuperadas ao longo do tempo, que pode ser representada pela equação L3 = 44,104 - 0,698 dias. Vários outros autores observaram a redução do número de larvas infectantes após a contaminação do pasto (Rocha et al., 2007; Oliveira et al., 2009; Santos et al., 2012). Apesar de Oliveira et al. (2009) terem encontrado, no geral, menor quantidade de larvas infectantes em Stylosanthes spp. e Andropogon gayanus, quando comparados à Brachiaria brizantha cv. Marandu e B. brizantha cv. Xaraés, em Botucatu, São Paulo, o mesmo não foi verificado no presente trabalho. Segundo Cruz-Vasquez e Fernández (2000), a idade da planta tem influência direta em seu potencial repelente sobre as larvas do carrapato bovino. As substâncias potencialmente tóxicas produzidas pelo capim-andropógon (Andropogon gayanus) teriam capacidade de reduzir a população de larvas de carrapato na pastagem em 20% e 50% com idade de 6 meses e 1 ano, respectivamente. No presente estudo, as plantas utilizadas tinham idade inferior a seis meses, o que pode implicar em menor produção de substâncias ativas com potencial tóxico ou repelente para larvas de parasitas. É necessário que haja mais estudos na área, que busquem identificar os fatores favoráveis à redução da carga parasitária presentes nas forrageiras, o que implicaria na redução de métodos químicos para o controle das verminoses, reduzindo os custos produtivos e a pressão à seleção de parasitos resistentes.

Conclusões

Não houve efeito das espécies forrageiras Stylosanthes spp. (estilosantes Campo Grande©) e Brachiaria brizantha cv. Marandu sobre o número de larvas infectantes de Haemonchus sp. Mais larvas foram obtidas do estrato inferior das plantas e houve considerável redução do número de L3 recuperadas no decorrer dos dias após a contaminação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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