Influência da espessura de gordura subcutânea na composição do leite de éguas da raça Crioula

Magda Bertolini Pierezan1, Mateus Ilha2, Natia Rodrigues3, Isadora Fortes4, Jenifer Ribeiro Heydt5, Alexandre Massolino6, Bruna de Britto7, Jaqueline Schneider Lemes8
1 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
2 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
3 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
4 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
5 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
6 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
7 - Universidade de Passo Fundo- UPF
8 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da espessura de gordura subcutânea na composição do leite de éguas da raça Crioula. Foram avaliadas 5 éguas da raça Crioula. Os animais foram mantidos em uma mesma área de pastagem, a qual era composta por aveia (Avena estrigosa) e azevém (Lolium perene). Realizou-se a primeira avaliação do leite 7 dias após o parto e a segunda após 30 dias, onde foram coletadas amostras e, em seguida encaminhadas ao laboratório de análises de leite (SARLE). A espessura de gordura subcutânea das éguas foi mensurada uma semana após o parto, utilizando a ultrassonografia. Foi realizada uma correlação entre os dados na análise estatística. Os valores encontrados indicam que a camada de gordura subcutânea não influenciou a composição do leite de éguas da raça Crioula, no entanto, verificou-se correlação positiva da gordura subcutânea com relação aos sólidos totais na primeira coleta, 7 dias após o parto.

Palavras-chave: escore corporal, peso, gordura, lactose, proteína

Influence of subcutaneous fat thickness on the milk composition of Crioula mares.

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the influence of subcutaneous fat thickness on the milk composition of Crioula mares. Five Criola mares were evaluated. The animals were maintained in the same pasture area, which was composed of oats (Avena estrigosa) and ryegrass (Lolium perene). The first evaluation of the milk was performed 7 days after delivery and the second after 30 days, where samples were collected and then sent to the milk analysis laboratory (SARLE). The subcutaneous fat thickness of the mares was measured one week after delivery using ultrasound. A correlation was performed between the data in the statistical analysis. The values found indicate that the subcutaneous fat layer did not influence the milk composition of Crioula mares; however, there was a positive correlation of the subcutaneous fat with total solids at the first collection, 7 days after calving.
Keywords: body score, weight, fat, lactose, protein


Introdução

Para um melhor entendimento das necessidades nutricionais das éguas e suas crias, é essencial o conhecimento da produção e composição do leite das éguas e também pelo fato do leite ser o único alimento que os potros ingerem na fase inicial da vida, proporcionando a eles energia e crescimento (Malacarne et al., 2002; Oftedal et al., 1983). A composição e a produção do leite variam entre espécies, raças e até mesmo entre indivíduos da mesma raça, estágio de lactação, número de partos, variações estacionais, idade, peso, saúde do animal e principalmente da glândula mamária, fatores alimentares e de manejo (Medhammar et al., 2012; Reis et al., 2007). Assim, a composição e produção de leite de éguas pode ser influenciada pela condição corporal, sendo está determinada pela quantidade de gordura que um animal possui. Para estimá-la pesquisadores desenvolveram diferentes técnicas, buscando sempre maior confiabilidade e precisão (Henneke et al., 1983; Gentry et al., 2004; Carter et al., 2009). Sendo que a determinação da percentagem de gordura corporal através da ultrassonografia é o método mais simples e de fácil aplicação e poderá contribuir para avaliar alguns aspectos do manejo dos cavalos, como o programa de arraçoamento e de treinamento, de forma objetiva e precisa. Por isso, este trabalho teve como objetivo avaliar a influência da espessura de gordura subcutânea na composição do leite de éguas da raça Crioula.

Revisão Bibliográfica

O leite é um dos alimentos mais completos, uma vez que contém todos os nutrientes necessários para sustentar a vida do recém- nascido. (Medhammar et al., 2012; Pietrzak-Fiecko et al., 2009; Pikul & Wójtowski, 2008; Malacarne et al., 2002). O leite de vaca, cabra e ovelha representa grande parte da produção mundial de leite. No entanto, outras espécies são nutricionalmente e economicamente importantes em diversos países (Medhammar et al., 2012). O leite materno é a principal fonte de energia para os potros nos primeiros meses de vida, e a ingestão deste determina seu crescimento (Doreau & Martuzzi, 2006b), uma vez que além do importante papel na imunidade, o leite fornece nutrientes, células, enzimas, minerais, vitaminas, hormônios e fatores tróficos responsáveis pelo rápido crescimento do potro (Nikkhah, 2012; Salimei & Fantuz, 2012). A disponibilidade dos nutrientes do leite varia durante o ciclo de lactação (Mariani et al., 2012). Os potros mamam aproximadamente 70 vezes/dia nos primeiros dias após o nascimento, 30 vezes/dia no primeiro mês de idade e 25 vezes/dia aos 4 meses (Doreau & Martuzzi, 2006b). A correlação entre o consumo de leite e crescimento diminui com a idade do potro e a ingestão de outros alimentos. Durante o período de amamentação, além da quantidade de leite ingerido, fatores como peso da égua, peso do potro ao nascer, atividade do potro e ingestão de outros alimentos além do leite, afetam o crescimento do potro, mais do que a composição do leite da égua (Smolders et al., 1990). Em aproximadamente 60 dias de idade o potro dobra o peso que apresentou ao nascimento. Durante este período o potro depende muito do leite da mãe, pois todos os nutrientes necessários para o seu crescimento estão obviamente no leite da égua (Holmes et al., 1947). O desmame ocorre em torno dos 5 a 8 meses de idade, dependendo do manejo do rebanho (Salimei & Fantuz, 2012; Santos et al., 2005). Doureau et al. (1993), avaliando a composição do leite de éguas em função do estado corporal, observaram que éguas em bom estado corporal produziram uma maior quantidade diária de gordura no leite em comparação com éguas magras, com valores de 252 e 187 g/dia, respectivamente. Estes autores também observaram que o leite das éguas de melhor estado corporal continham maior quantidade de ácidos graxos de cadeia curta e média. Comportamento contrário foi observado para os teores de proteína, que foram mais elevados no leite das éguas mais magras.    

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado na Agropecuária Bier em Passo Fundo - RS. Foram avaliadas 5 éguas da raça Crioula. Os animais foram mantidos em uma mesma área de pastagem, a qual era composta por aveia (Avena estrigosa) e azevém (Lolium perene). Realizou-se a primeira avaliação do leite 7 dias após o parto e a segunda após 30 dias, onde foram coletadas amostras e, em seguida encaminhadas ao laboratório de análises de leite (SARLE). A espessura de gordura subcutânea das éguas foi mensurada uma semana após o parto, utilizando a ultrassonografia, onde o exame foi feito utilizando transdutor retal de 7 MHz e ajuste automático de frequência, com um aparelho de ultrassom dp 20, na região da base da cauda, lateral direita, tendo como ponto base de obtenção de imagem 4 dedos da mesma. Foi realizada uma correlação entre os dados na análise estatística.

Resultados e Discussão

Os valores encontrados no presente trabalho (tabela 1 e 2), indicam que a camada de gordura subcutânea não influenciou a composição do leite de éguas da raça Crioula, no entanto, verificou-se correlação positiva da gordura subcutânea com relação aos sólidos totais na primeira coleta, 7 dias após o parto (tabela 1). Os fatores que influenciam na composição do leite equino são o estágio de lactação, que é o fator mais importante na influência da variação dos componentes do leite. Muitos componentes são conhecidos por serem mais concentrados no início da lactação (Medhammar et al., 2012; Salamon et al., 2009; Pikul & Wojtowski, 2008; Gibbs et al., 1982); A raça, de acordo com Pieszka et al. (2011), e a genética afetam a composição do leite, especialmente a concentração de proteína, gordura e lactose; e além disso a variação individual de cada animal. No presente trabalho foi encontrado efeito significativo da gordura subcutânea com relação aos sólidos totais do leite, essa correlação se deve ao fato de que quanto maior o teor de gordura maior a concentração de sólidos totais. Doreau et al. (1993), avaliando a influência da condição corporal de éguas no período pré-parto sobre a produção de leite nas primeiras duas semanas de lactação, observaram que não houve diferenças significativas do escore corporal. No entanto, no período pós-parto, verificaram-se diferenças ao nível da composição do leite. Além disso, avaliando a composição do leite de éguas em função do estado corporal, observaram que éguas em bom estado corporal produziram uma maior quantidade diária de gordura no leite em comparação com éguas magras, com valores de 252 e 187 g/dia, respectivamente.    

Conclusões

Conclui-se que a espessura de gordura subcutânea influencia apenas o nível de sólidos totais no leite de éguas aos 7 dias pós-parto.  

Gráficos e Tabelas




Referências

CARTER, R.A.; GEOR, R.J.; STANIAR, W.B.; CUBITT, T.A. and Harris P.A. 2009. Apparent adiposity assessed by standardized scoring systems and morphometric measurement in horses and ponies. Vet J, 179: 204-210. DOREAU M, BOULOT S, CHILLIARD Y (1993). Yield and composition from lactating mares: effect of body condition at foaling. Journal of Dairy Research. 60: 457-466. GENTRY, L.R.; THOMPSON JR., D.L.; GENTRY JR., G.T.; DEL-VECCHIO, R.P.; DAVIS, K.A. AND DEL-VECCHIO, P.M. 2004. The relationship between body condition score and ultrasonic fat measurements in mares of high versus low body condition. J Eq Vet Sci, 24: 198-203. HENNEKE, D.R.; POTTER, G.D.; KREIDER, J.L. AND YEATES, B.F. 1983. Relationship between condition score, physical measurements and body fat percentage in mares. Eq Vet J, 15: 371- 372. HOLMES AD, SPELMAN AF, SMITH TC, KUZMESKI JW (1947). Composition of mares’ milk as compared with that of other species. Journal of Dairy Science. 30(6): 385-395 MALACARNE M, MARTUZZI F, SUMMER A, MARIANI P. Protein and fat composition of mare’s milk: some nutritional remarks with reference to human and cow’s milk. International Dairy Journal. 2002; 12:869 – 877.   MEDHAMMAR, E.; WIJESINHA-BETTONI, R.; STADLMAYR, B.; NILSSON, E.; CHARRONDIERE, UR.; BURLINGAME, B. 2012. Composition of milk from minor dairy animals and buffalo breeds: a biodiversity perspective. Journal of the Science of Food and Agriculture. 92:445 – 474.   OFTEDAL, OT, HINTZ HF, SCHRYVER, HF. Lactation in the horse: Milk Composition and Intake by Foals. Journal of Nutrition. 1983; 13 (10): 2096 – 2106.   PIETRZAK-FIECKO R, TOMCZYNSKI R, BOREJSZO Z, KOKOSZKO E, SMOCZYNSKA K. Effect of mare’s breed on the fatty acid composition of milk fat. Czech J. Anim. Sci. 2009, 54(9): 403-407.   PIKUL J, WÓJTOWSKI J. Fat and cholesterol content and fatty acid composition of mare’s colostrums and milk during five lactation months. Livestock Science. 2008; 113: 285-290.   SALIMEI, S.; FANTUZ, F. 2012. Equid milk for humam consumption. International Dairy Journal. 24: 130-142.   SANTOS EM, ALMEIDA FQ, VIEIRA AA, PINTO LBF, CORASSA A, PIMENTEL RRM, SILVA VP, GALZERANO L. Lactação em éguas da raça Mangalarga Marchador: produção e composição do leite e ganho de peso dos potros lactentes. R. Bras. Zootec. 2005; 34(2): 627-634.   SMOLDERS EAA (1990). Composition of horse milk during suckling period. Livestock Production Science. 25: 163-171.