INFLUÊNCIA DE DIFERENTES PELAGENS NA DISSIPAÇÃO DE CALOR DE CAVALOS DE VAQUEJADA SUBMETIDOS AO EXERCÍCIO EM CLIMA SEMIÁRIDO

Fernanda Melo Pereira Taran1, Francine barbosa da silva2, DAVID RAMOS DA ROCHA3, HEWERTHON DAVID REIS CARNEIRO RIOS4, BRENO RAMON DE SOUZA BONFIM5
1 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
2 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
3 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
4 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
5 - Universidade Federal do Vale do São Francisco

RESUMO -

O objetivo  foi avaliar a dissipação de calor de cavalos de vaquejada de diferentes pelagens em clima semiárido. Com este intuito, foram utilizados seis equinos da raça Quarto de Milha, sendo três de pelagem escura e três de pelagem clara, submetidos ao exercício entre o período de 12 e 15h, durante nove dias. Foram analisadas características ambientais, tais como: temperatura do ar (TA), umidade relativa do ar (UR) e índice de conforto térmico em equinos (IC) e características fisiológicas do animal: frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), temperatura retal (TR), temperatura de superfície corpórea (TS) e coeficiente de adaptação ao ambiente (CA) antes (-1) e 0, 15, 30 e 60 minutos após o exercício. Não foram observadas diferenças na TA, UR e IC. Não houve diferença entre as pelagens em relação à FC, TR e TS. A FR foi elevada em animais de pelagem escura nos tempos de -1, 15, 30 e 60 minutos. Animais de pelagem clara apresentaram melhores valores de CA. Animais de pelagem clara dissipam melhor o calor pós-exercício no período de maior radiação solar.

Palavras-chave: Equinos, parâmetros fisiológicos, termografia, termorregulação

INFLUENCE OF DIFFERENT COATS IN THE HEAT DISSIPATION OF VAQUEJADA HORSES SUBMITTED TO EXERCISE IN SEMI-ARID CLIMATE

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the heat dissipation in horses of vaquejada with different coat under the semiarid climate conditions. Thus, six Quarter horses were used, three dark coat animals and three clear coat animals, that were submitted to exercise once a day, between the period of 12 to 15h for nine days. There were analyzed enviromental characteristics as: air temperature (AT), relative air humidity (RH) and thermal comfort index in horses (IC) and physiological characteristics: heart rate (FC), respiratory rate (FR), rectal temperature (TR), body surface temperature (TS) and enviromental adaptation coefficient (CA) before (-1) and 0,15,30 and 60 minutes post-exercise. There were no differences in TA, UR and IC. There was no difference between coats in relation to FC, TR and TS. The FR was elevated in dark coat animals at times of -1, 15, 30 and 60 minutes. The clear coat animals showed better CA values. The clear coat animals could have a better heat dissipate post-exercise in the period of higher solar radiation.
Keywords: Equine, physiological parameters, thermography, thermoregulation


Introdução

A vaquejada é um esporte que exige grande esforço físico dos cavalos, considerada uma atividade de alta intensidade, curta duração, com rápida largada, mudanças de direção e paradas abruptas, finalizando com a derrubada do boi em área delimitada. Os cavalos da raça Quarto de Milha são tradicionalmente utilizados em provas de vaquejada por serem compactos, com musculatura forte e apresentarem agilidade em percorrer curtas distâncias em alta intensidade. O exercício físico resulta na produção de energia, que por sua vez induz a elevação da temperatura corpórea e assim o animal ativa os mecanismos de termorregulação para promover a dissipação do calor (CARVALHO & MARA, 2010). Os mecanismos de termorregulação podem sofrer limitação em função das condições do ambiente, uma vez que esse sistema engloba fatores como a radiação solar, temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do vento, que variam no tempo e espaço (SILVA, 2000). O objetivo do presente estudo foi avaliar a dissipação de calor de cavalos atletas da raça Quarto de Milha de diferentes pelagens sob condições climáticas do semiárido. A hipótese foi de que ocorresse diferença na dissipação de calor entre pelagens claras e escuras em altas temperaturas e assim animais de pelagens clara dissipariam melhor o calor em relação à pelagem escura, no período de maior radiação solar.

Revisão Bibliográfica

Hoje no Brasil existem aproximadamente 474.862 cavalos da raça Quarto de Milha registrados, representados por 95.792 proprietários. Destes, 45.447 são criadores e 26.917 são associados cadastrados por todo o Brasil na Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM). Em função de ser compacto e percorrer curtas distâncias com maior intensidade, a raça Quarto de Milha passou a ser utilizada em provas de vaquejada. A vaquejada é um esporte tradicional da região do nordeste que exige grande esforço físico dos cavalos, assim sendo considerada uma atividade de alta intensidade, curta duração, com rápida largada, mudanças de direção e paradas abruptas, finalizando com a derrubada do boi em área delimitada. O mesmo animal pode correr diversas vezes durante o período da competição. Trata-se de um esporte rústico e faz uso das habilidades do cavalo, exigindo o máximo dos animais nos exercícios realizados. O exercício físico resulta em produção de calor (MOURA et al., 2011), grande parte desta energia térmica é proveniente da energia química que ocorre por oxidação dos nutrientes (Carvalho; Mara, 2010) e também pela energia mecânica responsável por proporcionar o movimento. Esta energia térmica acumulada durante a prática de exercícios induz a elevação da temperatura corporal, a qual ativa os mecanismos de termorregulação para promover a dissipação do calor. A eficiência da termorregulação depende de fatores como a umidade do ar, radiação, temperatura ambiente e velocidade do vento (SILVA, 2000), que podem atuar como cofatores para que o animal seja acometido por estresse por calor o que prejudica seu bem-estar (OLIVEIRA et al, 2008).  

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado em criatório particular de equinos da raça Quarto de Milha, Haras Mandacaru, localizado em Petrolina – PE. Os dados foram coletados entre os dias 12 a 23 de junho de 2016, durante o período mais quente do dia (12h às 15h), totalizando nove dias. Foram utilizados seis animais com idade de 6,7±2,6 anos e peso corpóreo de 438,8±20,9 Kg, sendo três de pelagem clara (tordilha ruça, tordilha pedrês e tordilha apatacada) e três de pelagem escura (duas alazãs e uma castanha zaina). Os animais foram submetidos ao exercício em pista de areia, durante 30 minutos, sendo 10 minutos ao passo, 10 minutos ao galope, 2 minutos ao passo e 8 minutos no galope. Os dados de temperatura do ar (TA) e umidade relativa do ar (UR) foram obtidos através de um termo-higrômetro (Incoterm, São Paulo, Brasil). O delineamento foi em blocos casualizados, em arranjo fatorial 2 x 5, com medidas repetidas no tempo. Os tratamentos consistiram na avaliação das duas categorias de pelagem em cinco coletas distintas: T-1 - Antes do exercício, T0 – imediatamente após o exercício, T15 - 15 minutos após exercício, T30 - 30 minutos após exercício e T60 - 60 minutos após exercício, sendo mantidos em repouso à sombra. Foi calculado o Índice de Conforto térmico para equinos (IC), segundo Jones (2009). Foram avaliadas as variáveis de frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR) e temperatura retal (TR)  segundo Moura (2011). O coeficiente de Adaptação (CA) para equinos foi estimado de acordo Muller (1989). As imagens termográficas foram capturadas individualmente da região da virilha, axila, pescoço e tronco através de câmera infravermelha (FLIR® Systems E6, USA).  As imagens foram analisadas via aplicativo software (FLirTools®) e os valores médios de temperatura superficial (TS) dos animas obtidos. Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA)  e as médias ajustadas foram comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de significância.

Resultados e Discussão

Não foram observadas diferenças (P>0,05) em relação os resultados de temperatura do ar, umidade relativa e índice de conforto entre os horários de avaliação. A TA foi de 35,3±1,4 oC e a UR de 34,4±2,6 %. Verificou-se que as condições climáticas foram acima da zona de conforto dos equinos. De acordo Pereira (2005), quando o animal é submetido à radiação solar direta, ocorre influência no aumento no gasto de energia para metabolizar os nutrientes, principalmente quando a temperatura é elevada (> 35 oC), aumentando a transmissão do calor do ambiente para o animal. Além disso, a alta temperatura associada com a baixa umidade do ar (< 40%) contribui para a condição de desconforto térmico, acelerando a evaporação do suor para dissipar calor e resfriar o corpo, podendo causar desidratação (Martello, 2006). Essas observações são comprovadas através do índice de conforto térmico de 132,2±1,3, acima de 130, demonstrando que os animais tiveram seu mecanismo de termorregulação ativado, caracterizando um ambiente de desconforto térmico (Jones, 2009). Os resultados de frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura retal estão descritos na Tabela 1. Não foram observadas diferenças na FC e TR (P>0,05) entre as pelagens claras e escuras. Contudo, ocorreram diferenças significativas (P<0,05) entre os tempos de avaliação em cada grupo de pelagem. Em ambas as pelagens, os valores mais elevados de FC e TR foram obtidos após o exercício (T0) e os valores mais baixos nos tempos antes do exercício (T-1) e após 60 minutos de exercício (T60). Os valores médios basais de FC e TR dos animais antes e após 60 minutos de exercício foram de 46,7 batimentos/min e 38,5 oC, respectivamente, sendo acima do intervalo considerado normal para equinos (MEDEIROS; VIEIRA, 1997). Houve diferença (P<0,05) na FR entre os grupos de pelagem, sendo que a pelagem escura apresentou os valores mais elevados nos tempos avaliados T-1, T15, T30 e T60, porém no tempo 0 após o exercício essa diferença não foi observada (P>0,05), o que demonstra que os animais estavam igualmente adaptados ao exercício. Após 60 minutos de repouso à sombra em ambos os grupos, os valores observados foram superiores aos valores iniciais (antes do exercício), demonstrando a necessidade de um período maior de tempo para que os animais retornassem aos valores basais de FR. Nesse aspecto, o aumento da FR compensou o aumento da temperatura superficial, frequência cardíaca e temperatura retal e assim a perda de calor evaporativa foi o maior contribuinte para a termorregulação. Os resultados de coeficiente de adaptação (CA) e temperatura superficial (TS) estão descritos na Tabela 2. Não foi observada diferença (P>0,05) na TS entre as pelagens. Ocorreu diferença (P<0,05) no CA entre as pelagens escuras e claras. Os animais de pelagem clara nos tempos T-1, T15, T30 e T60 apresentaram menores valores, sendo melhores adaptados ao clima do semiárido em comparação aos de pelagem escura.

Conclusões

A hipótese foi confirmada e animais de pelagem clara demonstraram melhor adaptação e tolerância ao clima quente e seco em relação aos animais de pelagem escura. Além disso as variáveis fisiológicas alteradas alertam para que seja evitada a prática da vaquejada nos horários de temperaturas mais elevadas na região do semiárido.

Gráficos e Tabelas




Referências

CARVALHO, T.; MARA, L. S. Hidratação e Nutrição no Esporte. Revista Brasileira de Medicina  do Esporte, v.16, n.2, 2010. JONES, S. Horsback Riding in The Dog Days. Animal Science e-News, v. 2, n. 3, p. 3-4, 2009. MOURA, D. J.; MAIA, A. P. A.; VERCELLINO, R. A.;  MEDEIROS, B. B. L.; SARUBBI, J.; GRISKA, P. R. Uso da Termográfica Infravermelha na Análise da Termorregulação de Cavalo em Treinamento. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.31, n.1, p.23-32, 2011. MULLER, P. B. Bioclimatologia Aplicada aos Animais Domésticos. 3ed. rev. e atual. Porto Alegre: Sulina, 1989. OLIVEIRA, L. A.; CAMPEL, J. E. G.; AZEVEDO, D. M. M. R.; COSTA, A. P. R.; TURCO, S. H. N.; MOURA, J. W. S. Estudo de Respostas Fisiológicas de Equinos Sem Raça Definida e da Raça Quarto de Milha às Condições Climáticas de Teresina, Piauí. Ciência Animal Brasileira, v. 9, n. 4, p. 827-838, 2008. SILVA, R. G. Introdução a Bioclimatologia Animal. São Paulo, Nobel, p. 114, 2000.