Influência do peso corporal de machos e fêmeas ovinas de diferentes raças sobre a micronagem da lã

Arthur Fernandes Bettencourt1, Daniel Gonçalves da Silva2, Bruna Martins de Menezes3, Angélica Pereira dos Santos Pinho4, Eduardo Brum Schwengber5
1 - Universidade Federal do Pampa
2 - Universidade Tecnológica Federal do Paraná
3 - Universidade Federal do Pampa
4 - Universidade Federal do Pampa
5 - Universidade Federal do Pampa

RESUMO -

A ovinocultura é uma atividade tradicional no Rio Grande do Sul e se apresenta como uma alternativa para os produtores, proporcionando variabilidade de produção por meio de animais fornecedores de lã e carne. A lã é considerada uma fibra resistente, porém flexível e elástica. Quanto a sua classificação, o diâmetro (micronagem) da fibra é de grande importância para a indústria têxtil. Sendo assim, objetivou-se verificar a micronagem da lã em diferentes raças e a possível variação entre sexo e peso dos animais. Os dados foram cedidos pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos. Analisaram-se quatro raças de ovinos com aptidão para a produção de lã. Notou-se que há diferença significativa entre a raça dos animais e a micronagem da lã, porém, não foi observada diferença entre machos e fêmeas da mesma raça. Foi encontrada diferença significativa entre a micronagem das raças estudadas, porém o peso corporal e sexo dos indivíduos não influenciam no principal aspecto qualitativo da lã.

Palavras-chave: diâmetro, fibra, ovinocultura

Influence of body weight of ovine males and females of different races on micronage of wool

ABSTRACT - The sheep farming is a traditional activity in Rio Grande do Sul and presents itself as an alternative to the producers, providing variability of production through animal suppliers of wool and meat. Wool is considered a tough but flexible and elastic fiber. As to its classification, the diameter (micronage) of the fiber is of great importance for the textile industry. Thus, the objective was to verify the micronage of wool in different races and the possible variation between sex and weight of the animals. The data were provided by the Brazilian Association of Sheep Breeders. Four races of sheep with wool aptitude were analyzed. It was observed that there is a significant difference between the breed of the animals and the micronage of wool, however, no difference was observed between males and females of the same breed. A significant difference was found between the micronation of the studied races, but the body weight and sex of the individuals did not influence the main qualitative aspect of the wool.
Keywords: diameter, fiber, sheep


Introdução

A ovinocultura é uma atividade tradicional e de grande importância econômica para o estado do Rio Grande do Sul (RS), mesmo com a crise da lã nas décadas de 80 e 90, o rebanho ovino gaúcho continua sendo o maior a nível nacional com 3.957.275 milhões de cabeças (IBGE, 2015; SILVA et al., 2013). Dentre os sistemas de produção animal, a ovinocultura vem se mostrando como uma alternativa para pequenos, médios e grandes produtores, proporcionando incremento e variabilidade de produção dentro da propriedade por meio de animais fornecedores de lã, e de dupla aptidão (carne, lã) (BRAUNER, 2010). Vale destacar que as características intrínsecas da fibra, estão diretamente relacionadas aos padrões raciais, pois alguns animais apresentam aptidões para a produção de carne e lã, bem como outros, apenas para a produção laneira. Dentre as raças que apresentam melhor qualidade do velo (parte comercial da lã) destacam-se, em ordem decrescente de importância: Merino Australiano, Ideal, Corriedale e Romney Marsh (OLIVEIRA, 1980). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a micronagem da lã em diferentes raças e a possível variação entre sexo e peso dos animais.

Revisão Bibliográfica

Presente na história da humanidade como atividade que proporciona a maior fonte de alternativas para a subsistência, sendo uma atividade amplamente difundida em todos os continentes do planeta, devido a sua adaptabilidade em diferentes climas, relevos e vegetações, a ovinocultura propicia o fornecimento de lã e pele para o vestuário, além de carne e leite para a alimentação (CLEEF, 2017; FERNANDES, 1989). O rebanho efetivo do Brasil é de aproximadamente 17,7 milhões de cabeças (FAOSTAT, 2014) e a região sul detém quase 30% do rebanho nacional, tendo como sua principal finalidade a produção de lã. A lã é considerada a rainha das fibras, devido suas propriedades naturais e suas aptidões. Ela é uma fibra natural, renovável e biodegradável, além de apresentar fácil degradabilidade, contribuindo para a sustentabilidade do meio ambiente por ser uma fonte proteica que pode ser incorporada ao ciclo biológico de outros seres vivos (IWTO, 2013). Além disso, é uma fibra resistente, forte, porém flexível e elástica, não amassa e não perde sua forma. Tem propriedades antialérgicas, terapêuticas e confere proteção contra os raios ultravioletas (UV) (BERNHARD, 2013). No entanto, tanto a qualidade quanto a quantidade da lã produzida pode ser afetada por diversos fatores, como o sexo e o peso corporal dos ovinos. De acordo com De Gea (2007), de maneira geral os machos produzem lãs mais grossas, bem como mechas mais compridas e pesadas que as fêmeas, porém a eficiência de produção de lã (quantidade) está intimamente ligada ao peso corporal, independente do sexo. No que tange o sistema de classificação de lã, existem características da fibra que apresentam maior importância para sua utilização na indústria têxtil. Para Vieira (1967), algumas dessas características são: o comprimento da mecha, diâmetro da fibra (micronagem), resistência, suavidade, pureza, limpeza e coloração. Destacando a micronagem como uma importante ferramenta para a seleção animal, além de apresentar maior apreciação por parte do mercado consumidor (indústria têxtil).

Materiais e Métodos

Os dados foram coletados no catálogo de ovinos da Expointer 2016, os quais foram cedidos pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO). Analisaram-se quatro raças de ovinos (machos e fêmeas de diferentes idades) com aptidão para a produção de lã. Os animais eram provenientes de diversas regiões do estado do Rio Grande do Sul (Tabela 1). Os dados foram submetidos à análise de variância e teste F, a um nível de significância de 5%, com auxílio do pacote estatístico RStudio. Também, foi obtido o coeficiente de correlação (r²) que assume valores entre -1 e 1 e é classificado da seguinte maneira: r = 0,00 até 0,19 (muito fraca); r = 0,20 até 0,39 (fraca); r = 0,40 até 0,69 (moderada); r = 0,70 até 0,89 (forte); 0,90 até 1,00 (muito forte).

Resultados e Discussão

As informações obtidas sobre o peso corporal (kg) e a micronagem da lã nas diferentes raças observadas, assim como a possível variação entre os sexos, podem ser visualizadas na Tabela 2. Verificou-se que há diferença significativa (P<0,05) entre a raça dos animais e a micronagem da lã (µm). Destaca-se que a lã de menor diâmetro pertence ao merino australiano, fator que está associado ao desenvolvimento dos folículos primários e secundários (SCOBIE e YOUNG, 2000). De acordo com a ARCO (2015), a finura da lã no merino apresenta uma variação entre 16 a 26 micras, podendo ser influenciada pelo sexo, região do corpo, alimentação e ambiente. Para Silva et al. (2016), ao avaliarem 126 matrizes da raça merino de diferentes idades, verificaram que a micronagem média do rebanho foi de 20,44 µm (mínima de 18,04 e máxima de 22,81 µm). Valores semelhantes aos verificados no presente estudo para machos (20 µm) e fêmeas (19,52 µm) da mesma raça. A lã das raças Ideal e Corriedale também podem ser utilizadas na indústria têxtil. No entanto, como apresentam qualidade inferior ao Merino, também, possuem menor valor de mercado. Enquanto o kg da lã do Merino é comercializado com valor médio de R$ 16,25, o kg da lã das raças Ideal e Corriedale são comercializadas com valores médios de R$ 13,50 e R$ 7,25, respectivamente (Sindicato Rural de Alegrete, 2017). A partir dos dados coletados foi possível verificar que em termos qualitativos, ou seja, finura da fibra (micronagem), entre machos e fêmeas da mesma raça, não apresentaram diferença significativa (P>0,05). No entanto, informação divergente foi salientada por Minola e Elissondo (1990), ao relatarem que os machos produzem lãs mais grossas. Essa comparação pode estar relacionada entre animais de diferentes sexos, porém de idades semelhantes, diferente do observado nos dados coletados deste trabalho, onde não foi considerada a idade dos animais, restringindo-se apenas ao padrão racial, peso corporal, micronagem e sexo. Os ovinos atingem seu ápice de produção de lã entre o segundo e terceiro ano de vida e, a partir do terceiro ano, sua produção diminui de 2 a 4% ao ano (SUL, 1987). Portanto, quando o objetivo da produção é a lã, deve-se evitar a entrada ou permanência de animais velhos no rebanho. Além disso, verificou-se que o coeficiente de correlação (r²) para o peso vivo e micronagem da lã (qualidade) nas raças, Merino Australiano, Ideal, Corriedale e Romney Marsh foram de 0,51, 0,65, 0,30 e 0,38, respectivamente (correlação fraca e ou moderada, r² < 0,69). De acordo com De Gea (2007), a produção de lã (kg) está intimamente relacionada ao peso corporal dos ovinos, porém o autor não apresenta dados numéricos relatando como o peso dos animais poderia interferir na qualidade da lã (micronagem). Contudo, Silva et al. (2016), ao avaliarem ovelhas da raça merino, com diferentes escores de condição corporal (escores entre 1 muito magro e 5 muito gordo), não observaram diferença significativa sobre a micronagem dos indivíduos, relatando ainda que, possivelmente, esses parâmetros estão diretamente relacionados ao padrão racial específico, justificando as correlações obtidas no presente estudo.

Conclusões

Foi encontrada diferença significativa entre a micronagem das raças Ideal, Corriedale, Merino Australiano e Romney Marsh. O peso corporal e sexo dos indivíduos não influenciam no principal aspecto qualitativo da lã.

Gráficos e Tabelas




Referências

ARCO. Associação Brasileira de Criadores de Ovinos. Disponível em:< http://www.arcoovinos.com.br/index.php/mn-srgo/mn-padroesraciais/22-merino-australiano>. Acesso em: 17 de abr. 2017. BERNHARD, Eduardo Amato. Produção Sustentável e Alternativas para o Mercado de Lã. In: Congresso Latinoamericano de Especialistas en Pequenos Rumiantes y Comélidos Sudamericanos. 2013. p. 8-16. BRAUNER, R. A. Potencialidades da lã de ovinos nativos pantaneiro. 31 f. 2010. Dissertação (Mestrado em Produção e Gestão Agroindustrial), Campo Grande, Universidade Anhanguera, 2010. CLEEF, F. S. Produção e bem-estar de ovinos em sistema silvipastoril. 56f. 2017. Dissertação (Mestrado em Zootecnia), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, 2017. DE GEA, G. L. El ganado lanar en la Argentina. 2 ed. Río Cuarto, Córdoba. Universidad Nacional de Río Cuarto, p. 280, 2007. FAOSTAT. Production live animals, 2014. Disponível em: <http://faostat3.fao.org/download/Q/QA/E> Acesso em: 20 de março de 2017. FERNANDES, F. N. A ovinocultura no contexto Agropecuário Paulista. In: Simpósio Paulista de Ovinocultura. Botucatu, 1989. IBGE, Estados, 2015. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=rs&tema=pecuaria2015> Acesso em 20 de setembro de 2016. INTERNATIONAL WOOL TEXTILE ORGANIZATION. Iwto 2013. Disponível em: <http://www.uco.es/organiza/servicios/publica/az/php/img/web/15_10_43_11_3502_REVISION_040_2.pdf> Acesso em 10 de setembro de 2016. MINOLA, J.; ELISSONDO, A. Pradares y lanares: tecnologia ovina sudamericana. Buenos Aires: Hemisfério Sur. Buenos Aires, p. 63-64, 1990. OLIVEIRA, N. M. Considerações sobre características da lã desde o ponto de vista de produção e industrialização. In: Circular Técnica, 3. EMBRAPA-UEPAE, Bagé, p. 11, 1980. SCOBIE, D. R.; YOUNG, S. R. A relação entre a densidade do folículo e o diâmetro da fibra de lã é curvilínea. Proc. N. Z. Soc. Anim. Prod. 60, 162–165, 2000. SILVA, A. et al. Ovinocultura do Rio Grande do Sul: descrição do sistema produtivo e dos principais aspectos sanitários e reprodutivos. Pesquisa Veterinária Brasileira, 2013. SILVA, D. G.; MENEZES, B. M.; MACEDO, V. P.; GROELER, J. B.; LIMA, D. F.; MOCELLIN, J. C.; DANNA, M.; THOMPSON, B. B.. Aspectos quantitativos e qualitativos da lã em diferentes escores da condição corporal. In: Congresso Brasileiro de Zootecnia, 2016, Santa Maria - RS. Zootec, 2016. SINDICATO RURAL DE ALEGRETE. Conexão Rural. 2017. Disponível em: <http://www.conexaorural.com.br/conexoes.php> Acesso em 10 de abril de 2017. SUL. Secretariado Uruguayo de la Lana. Apuntes de lanares y lanas. Razas, Mejoramiento Ovino, Sección Extensión, p. 129, 1987. VIEIRA, G. N. Criação de Ovinos. São Paulo: Biblioteca Agronômica Melhoramentos, p. 480, 1967.