Ingestão de matéria seca e dos nutrientes de vacas em lactação alimentadas com níveis de ureia protegida associados a silagem de coproduto de fecularia de mandioca

Kleves Vieira de Almeida1, Maximiliane Alavarse Zambom2, Rodrigo Cesar dos Reis Tinini3, Tiago Venturini4, Josias Luis Fornari5, Maichel Jhonattas Lange6, Jessica Garcias7, Samantha Mariana Monteiro Sunahara8
1 - Universidade Estadual de Maringá
2 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
3 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
4 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
5 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
6 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
7 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
8 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a ingestão de matéria seca e dos nutrientes de vacas em lactação alimentadas com dietas a base de silagem de coproduto de fecularia de mandioca e níveis de ureia protegida. Foram utilizadas cinco vacas (após o pico de lactação) em um delineamento experimental em quadrado latino (5×5), com cinco tratamentos e cinco períodos experimentais de 21 dias. Os tratamentos avaliados foram os níveis 0%, 0,4%, 0,8%, 1,2% e 1,6% de ureia protegida no concentrado. A ingestão de matéria seca e dos nutrientes foi determinada pela diferença entre o fornecido e as sobras. Não houve efeito significativo (P>0,05) para o peso corporal, assim como para a ingestão de matéria seca e dos demais nutrientes da dieta. A ingestão de matéria seca e dos nutrientes de vacas em lactação não foram afetadas pela inclusão de até 1,6% de ureia protegida na matéria seca do concentrado em dietas associadas a silagem de coproduto de fecularia de mandioca.

Palavras-chave: consumo, degradação ruminal, Manihot sculenta Crantz, nitrogênio não proteico

Intake of dry matter and nutrients of lactating cows fed with protected urea levels associated with silage of coproduct of manioc starch

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the intake of dry matter and nutrients of lactating cows fed diets composed of cassava starch silage and protected urea levels. Five cows (after the peak of lactation) were used in a 5x5 Latin square experimental design, with five treatments and five experimental periods of 21 days. The treatments evaluated were 0%, 0.4%, 0.8%, 1.2% and 1.6% protected urea levels in the concentrate. The intake of dry matter and nutrients was determined by the difference between the supply and the leftovers. There was no significant effect (P> 0.05) on body weight, as well as on dry matter intake and other dietary nutrients. Intake of dry matter and nutrients of lactating cows were not affected by the inclusion of up to 1.6% of protected urea in the dry matter of the concentrate in diets associated with cassava starch co-product silage.
Keywords: consumption, Manihot sculenta Crantz, non-protein nitrogen, ruminal degradation


Introdução

Na bovinocultura leiteira, a alimentação ainda é responsável por grande parte dos custos de produção (60 a 70%). Logo, faz-se necessário conhecer as características dos alimentos e seu balanceamento nas rações, as quais devem ser formuladas para suprir as exigências de mantença e produção dos animais, explorando sua máxima capacidade digestiva. Além disso, o fornecimento dos alimentos na forma de dieta total é de extrema importância, principalmente no que diz respeito à relação entre energia e proteína. Pesquisas tem sido voltadas para a validação científica do uso de coprodutos de agroindústrias na dieta dos ruminantes, as quais avaliam parâmetros nutricionais, produtivos e econômicos que justifiquem sua utilização (FERNANDES et al., 2015; GONÇALVES et al., 2015). Além disso, o uso de Nitrogênio não proteico (NNP) pode influenciar a eficiência alimentar de vacas em lactação, gerando índices produtivos semelhantes às dietas convencionais que utilizam proteína verdadeira (SANTOS et al., 2011). No entanto, por ser uma fonte de rápida degradação ruminal, é indispensável a utilização de uma fonte de carboidratos com a mesma característica, garantindo eficiência na síntese proteica e consequentemente aumento dos parâmetros produtivos. Objetivou-se avaliar a ingestão de matéria seca e dos nutrientes de vacas em lactação alimentadas com dietas a base de silagem de coproduto de fecularia de mandioca e níveis de ureia protegida na matéria seca do concentrado.  

Revisão Bibliográfica

A ingestão de matéria seca (IMS) é caracterizado como importante critério na formulação de dietas para vacas de alta produção, a qual é  controlada por fatores fisiológicos de curto e longo prazo, em que o controle é realizado pelo balanço nutricional da dieta, especificamente relacionada à manutenção do equilíbrio energético, por fatores físicos, que estão associados à capacidade de distensão do próprio rúmen, e por fatores psicogênicos, que envolvem a resposta do animal a fatores inibidores ou estimuladores relacionados ao alimento e, ou, ao ambiente (NRC,1989; SNIFFEN et al., 1993; MERTENS, 1994). A capacidade dos animais de consumir alimentos em quantidades suficientes para alcançar suas exigências de mantença e produção é um dos fatores mais importantes em sistemas de alimentação, em grande parte dependentes de volumosos (SNIFFEN et al. 1993). MERTENS (1994) verificou que o consumo de MS e a produção de leite foram máximos para consumo de FDN de 1,25% do peso vivo para vacas em meio e final de lactação. WOODFORD et al. (1986), trabalhando com vacas em meio de lactação, encontraram máxima produção de leite corrigido para 4% de gordura, quando os animais foram alimentados com dietas contendo em torno de 27% de FDN. A ureia a nível ruminal é um intermediário na síntese de proteína microbiana, uma vez que a amônia é produto da hidrólise da ureia de origem alimentar, sanguínea ou salivar podendo também ser gerada dentro da célula microbiana por desaminação de aminoácidos (HUBER & KUNG JUNIOR, 1981). O excesso de nitrogênio, a falta ou a deficiência de uma fonte de energia advinda da dieta aumentam as concentrações de amônia no rúmen, tendo seu pico elevado entre 1 a 2 horas após a alimentação, porém quando se utiliza na dieta dos animais, fontes de proteína verdadeira esse pico acontece em torno de 3 a 5 horas, estando ligada também a degradabilidade ruminal dessas fontes fornecidas (SANTIAGO, 2013). HOLTER et al. (1968) verificaram que a uréia fornecida até o nível de 2,5% em misturas de concentrados não apresentou efeitos prejudiciais significativos no consumo de alimento, em sua digestibilidade ou na produção de leite. Contudo, WILSON et al. (1975) observaram decréscimo no consumo de MS de uma ração completa contendo 2,3% de uréia (425 a 450 g/dia), quando a uréia foi administrada oralmente ou por intermédio da fístula ruminal.  

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no setor de Bovinocultura de Leite da Estação Experimental “Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos Pessoa” e no Laboratório de Alimentação e Nutrição Animal, ambos pertencentes à Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon – PR, no período de março de 2016 a janeiro de 2017. Foram utilizadas cinco vacas da raça Holandês entre 1º e 4º lactação, após o pico de produção (aproximadamente aos 100 dias de lactação), com peso corporal médio de 650 ± 32,7 kg e produção média inicial de 26,7 ± 3,06 kg de leite por dia. Os animais foram distribuídos no delineamento experimental em quadrado latino (5x5), com cinco tratamentos e cinco períodos experimentais de 21 dias, sendo os 14 primeiros destinados à adaptação dos animais às dietas e os demais para a coleta de dados. Os tratamentos avaliados foram os níveis: 0%, 0,4%, 0,8%, 1,2% e 1,6% de ureia protegida na matéria seca do concentrado. As dietas (Tabela 1) foram formuladas conforme as recomendações do NRC (2001), as quais foram compostas por 55% de silagem de milho, como fonte de volumoso, e 45% de ração concentrada. Os animais foram alojados em estábulo coberto, em bais individuais, providas de cocho e bebedouro, o peso corporal dos animais foi registrado ao início e final de cada período experimental, por meio do uso da fita métrica antes da alimentação da manhã. A alimentação foi fornecida na forma de ração total, misturando o volumoso com o concentrado. As sobras dos alimentos oferecidos foram pesadas diariamente e ajustadas a fim de proporcionar sobras entre 5% e 10%, para garantir o consumo voluntário e evitar desperdícios. A ingestão da matéria seca e dos nutrientes foi determinada pela diferença entre o fornecido e as sobras. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão a 5% de probabilidade

Resultados e Discussão

Observa-se (Tabela 2) que o peso corporal (PC), a ingestão média diária de matéria seca (IMS), ingestão de matéria orgânica (IMO), ingestão de extrato etéreo (IEE), ingestão de proteína bruta (IPB), ingestão de fibra em detergente neutro (IFDN), ingestão de carboidratos totais (ICT), ingestão de carboidratos não fibrosos (ICNF) e nutrientes digestíveis totais (NDT) não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de ureia no concentrado. O efeito observado para IMS e demais nutrientes demonstra que não houve fatores limitantes à ingestão da dieta, tanto de ordem física quanto energética. Estes dados contrariam os observados por Silva et al. (2001) que ao utilizarem dietas constituídas de volumoso e concentrado na proporção de 60:40 com os níveis de 0%; 0,7%; 1,4%; e 2,1% de ureia na matéria seca total, observaram  que o consumo de MS diminuiu linearmente (P<0,05) e ressaltaram que isso foi causado provavelmente pelos efeitos metabólicos da ureia e, ou, à pouca palatabilidade ao alimento, à medida que se elevou o teor de ureia na ração, conforme Huber & Cook (1972), que atribuíram a redução no consumo em dietas com alto nível de ureia no concentrado (1 a 3%) à pouca palatabilidade desta, e não a efeitos ruminais ou pós-ruminais. Em um trabalho realizado por Santos et al. (2011), foi observado que consumo de matéria seca diminuiu nos tratamentos com NNP (ureia e ureia protegida), quando comparados ao controle (farelo de soja), porém sem efeito sobre a produção diária de leite ou sólidos, resultando em tendência de ganho na relação entre o leite produzido e o consumo. Além disso, Aguiar et al. (2013), que ao avaliarem ureia na alimentação de vacas leiteiras com o nível máximo de 1,75% na MS da dieta total, não observaram efeito para consumo de matéria seca. Caldas Neto et al. (2008) também não observaram variação no consumo de matéria seca, em função dos níveis de inclusão de ureia (0%; 0,1%; 0,3%  e 0,9% da MS total da dieta) utilizando farinha de varredura de mandioca como fonte de energia e ressaltaram que este fato pode ocorrer pela maior disponibilidade de nitrogênio no rúmen, que quando associado à energia de rápida liberação proveniente da farinha de varredura, favorece o desenvolvimento microbiano e a eficiência de utilização do nitrogênio disponível.  

Conclusões

Dietas com até 1,6% de ureia protegida na matéria seca do concentrado quando associadas a silagem de coproduto de fecularia de mandioca não alteraram a ingestão de matéria seca e dos nutrientes de vacas em lactação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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