Inoculação de probiótico in ovo e o efeito sobre a eclosão e a mortalidade embrionária

Heloísa Laís Fialkowski Bordignon1, Anete Rorig2, Jonas Rodrigo Layter3, Fernanda Kaiser de Lima4, Daiane Horn5, Lucas Kind Alvares6, Alexandra Maria da Silva7, Jovanir Ines Muller Fernandes8
1 - UFPR
2 - UFPR
3 - UFPR
4 - UFPR
5 - UFPR
6 - UFPR
7 - UFPR
8 - UFPR

RESUMO -

Foram incubados 320 ovos provenientes de matrizes Cobb 500 num incubatório comercial. No 18° dia de incubação, um lote contendo 160 ovos embrionados foi identificado e cada ovo recebeu 0,5 mL de solução (probiótico + diluente) por meio de uma máquina de vacinação in ovo. O probiótico utilizado continha Bacillus subtilis (109 UFC/g), enquanto que os demais ovos foram apenas inoculados com as vacinas utilizadas em incubatórios comerciais. Após a eclosão foi calculada a eclodibilidade e a mortalidade embrionária. Não foi observada diferença significativa (p>0,05) no porcentual médio de eclodibilidade e mortalidade embrionária pela inoculação de probiótico in ovo. Esses resultados são indicativos de que a inoculação in ovo do probiótico à base de esporos do Bacillus subtilis não prejudica a eclodibilidade ou a mortalidade embionária.

Palavras-chave: antibióticos, eclodibilidade, vacina

In ovo inoculation of probiotic and the effect on hatching and embryonic mortality

ABSTRACT - 320 eggs from Cobb 500 broiler breeders were incubated in a commercial hatchery. On the 18th day of incubation, a batch containing 160 embryonated eggs was identified and each egg received 0.5 ml of solution (probiotic + diluent) through an in ovo vaccine machine. The probiotic used contained Bacillus subtilis (109 CFU/g), whereas the other eggs were only inoculated with the vaccines used in commercial hatcheries. After hatching, hatchability and embryonic mortality were calculated. No significant difference (p >0.05) was observed in the average percentage of hatchability and embryo mortality by in onvo inoculation of probiotic. These results are indicative that in ovo inoculation of the spore-based Bacillus subtilis probiotic does not impair hatchability or embryo mortality.
Keywords: antibiotics, eclodibility, vaccine


Introdução

A colonização inicial de bactérias benéficas em aves ocorre no ninho pelo contato dos pintinhos com a matriz e com os materiais aí existentes (MILLS et al., 1999). Mas, pelo uso da tecnologia da incubação artificial, a moderna avicultura exclui o contato materno com os pintinhos, os quais dependem principalmente de bactérias presentes no ambiente de incubação e alojamento (NISBET et al., 1994). A agroindústria avícola busca formas de reduzir (ou eliminar) o uso de antibióticos em dietas como promotores de crescimento (CASEWELL et al., 2003) e evitar a colonização inicial da microbiota entérica dos pintinhos no pós-eclosão por microrganismos patogênicos (LINZMEIER et al., 2009). Os probióticos podem promover a eliminação de bactérias patogênicas sem eliminar as populações benéficas ou gerar resistência bacteriana no organismo dos frangos de corte (LINZMEIER et al., 2009). A inclusão de probióticos na criação de frango parece ser capaz de promover a manutenção da qualidade do produto final (CORRÊA et al, 2003). A inoculação de produtos in ovo é uma realidade tendo seu uso crescente em diversos países.

Entretanto, apesar da possibilidade de inocular uma flora favorável ainda no período de incubação e por ser uma técnica recente, há poucas informações acerca do efeito sobre a eclodibilidade e mortalidade embrionária. Portanto, o objetivo do trabalho foi avaliar o impacto da inoculação in ovo de probiótico sobre a eclodibilidade e mortalidade embrionária.



Revisão Bibliográfica

Ao longo da história dos estudos sobre os probióticos que, inicialmente, eram definidos como suplemento alimentar composto de microrganismos vivos que beneficiavam a saúde do hospedeiro por gerar equilíbrio da microbiota intestinal (FAO, 2016), pouco a pouco, passaram a ser concebidos como cultura pura ou cultura composta por microrganismos vivos que, fornecidos ao homem ou a outros animais, beneficiavam o hospedeiro pelo estímulo das propriedades existentes na microbiota natural (COPOLLA e GIL-TURNES, 2004).

Atualmente, domina-se probiótico, o aditivo que contém microrganismos vivos que, ingeridos em determinada concentração, afeta beneficamente a saúde do consumidor por melhorar o equilíbrio intestinal (FULLER, 1989). Entretanto, a definição aceita pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera probióticos como sendo “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício para a saúde do hospedeiro” (FAO, 2016).

A maioria dos probióticos é composta por cultura de microrganismos vivos com a capacidade de se instalar e proliferar no TGI do hospedeiro (OTUTUMI et al., 2012), sendo formada por lactobacilus e/ou estreptococos, e bifidobacterium, que exercem ação estritamente benéfica no hospedeiro. Comumente, as formulações dos probióticos contêm bactérias ácido-lácticas, não acido-láticas e leveduras (COPPOLA e GIL-TURNES, 2004).

A via de administração dos probióticos determina melhor ou pior capacidade de colonização intestinal pelas bactérias presentes na formulação do produto usado (NISBET et al., 1994).

A inoculação de probióticos in ovo, vem sendo estudada com grande potencial de uso, considerando que vacinas já são administradas rotineiramente por essa via, com excelentes resultados. Uma vez que a microbiota da ave pode ser “colonizada” antes do alojamento, a nutrição in ovo pode favorecer o desenvolvimento da mucosa intestinal, o que pode refletir na modulação da resposta imunológica do frango (ANDREATTI FILHO et al., 2006; CAMPOS et al., 2011).

A inoculação de probióticos in ovo é uma alternativa à restrição do uso de antibióticos promotores do crescimento, entretanto, é necessário estudar o efeito sobre a eclodibilidade e a mortalidade embrionária.



Materiais e Métodos

Foram incubados 320 ovos provenientes de matrizes Cobb 500 num incubatório comercial. No 18o dia de incubação, um lote contendo 160 ovos embrionados foi identificado e cada ovo recebeu 0,5mL de solução (probiótico + diluente) por meio de uma máquina de vacinação in ovo. O probiótico utilizado continha Bacillus subtilis (109 UFC/g), enquanto que os demais ovos foram apenas inoculados com as vacinas utilizadas em incubatórios comerciais. Os ovos inoculados/vacinados e vacinados foram transferidos para os nascedouros em bandejas identificadas, onde permaneceram até o 21º dia de incubação.

No 21º dia de incubação após a eclosão, foi realizada a contagem do total de pintos viáveis e do total de ovos não eclodidos por bandeja em cada tratamento. Os ovos não eclodidos foram separados em inférteis e em mortalidade embrionária para ambos tratamentos.

Os resultados foram submetidos à análise estatística, utilizando-se, para tal, a análise de variância (ANOVA) com auxílio do programa estatístico SAS (2002).



Resultados e Discussão

Os índices porcentuais de eclodibilidade dos ovos selecionados que receberam ou não o probiótico antes da eclosão, assim como os percentuais de aves mortas e eliminadas estão demonstrados na Tabela 1.

Na comparação com o controle, não foi observada diferença significativa (p>0,05) no porcentual médio de eclodibilidade e mortalidade embrionária pela inoculação de probiótico in ovo. Esses resultados são indicativos de que a inoculação in ovo do probiótico à base de esporos do Bacillus subtilis não prejudica a eclodibilidade ou a mortalidade embionária.

ANDREATTI FILHO et al. (2006) não evidenciaram efeito da inoculação in ovo de Lactobacillus salivarius sobre a eclodibilidade dos ovos.

DE ARAUJO CAMPOS et al. (2011) inocularam soluções nutritivas à base de glicose, sacarose, vitaminas e sais minerais e perceberam que a inoculação das soluções in ovo diminui a eclodibilidade e aumentou o número de ovos bicados e não-nascidos.

Além dos problemas gerados pelo uso indiscriminado dos antibióticos como promotores de crescimento, a avicultura enfrenta a contaminação dos pintinhos que, em geral, acontece logo depois da eclosão. Essa contaminação é, em parte, devida a uma característica específica das aves que, diferentemente de outros animais, na oclusão não recebem inoculação natural de microrganismos benéficos que se instalam no intestino e possibilitam maior resistência aos potenciais desafios ambientais (FLINT e GARNER, 2009).

Desta forma, a inoculação de probióticos in ovo pode ser uma alternativa viável ao uso de promotores de crescimento na avicultura.



Conclusões

A inoculação in ovo de probiótico contendo Bacillus subtilis não interfere na eclodibilidade e mortalidade embrionária.



Gráficos e Tabelas




Referências

ANDREATTI FILHO, R. L. et al. Efeito da microbiota cecal e do Lactobacillus salivarius inoculados in ovo em aves desafiadas com Salmonella enterica sorovar Enteritidis. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, p. 467-471, 2006.

CASEWELL, M. et al. The European ban on growth-promoting antibiotics and emerging consequences for human and animal health. Journal of antimicrobial chemotherapy, v. 52, n. 2, p. 159-61, 2003.

Cloacae of nestling tree swallows. The Auk, p. 947-56, 1999.

COPPOLA, M. M.; GIL-TURNES, C. Probióticos e resposta imune. Ciência Rural, v. 34, n. 4, p. 1297-1303, 2004.

CORRÊA, G. S. S. et al. Effect of antibiotic and probiotic on the performance and carcass yield of broilers. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 55, n. 4, p. 467-73, 2003.

DE ARAÚJO CAMPOS, Anastácia Maria et al. Efeito da inoculação de soluções nutritivas in ovo sobre a eclodibilidade e o desempenho de frangos de corte. R. Bras. Zootec, v. 40, n. 8, p. 1712-1717, 2011.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Probiotics in animal nutrition: Production, impact and regulation. Animal Production and Health Paper, n. 179. Rome, Italy: Editor Harinder P.S. Makkar, 2016.

FLINT, J. F.; GARNER, M. R. Feeding beneficial bacteria: a natural solution for increasing efficiency and decreasing pathogens in animal agriculture. The Journal of Applied Poultry Research, v. 18, n. 2, p. 367-78, 2009.

FULLER, R. Probiotics in man and animals: a review. J. Appl. Bacteriology, v. 66, p. 365-78, 1997.

LINZMEIER, L. G. et al. Uso de antibióticos em aves de produção. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, a. VII, n. 12, 2009.

NISBET, D. J. et al. Inoculation of broiler chicks with a continuous-flow derived bacterial culture facilitates early cecal bacterial colonization and increases resistance to Salmonella Typhimurium. Journal of Food Protection, v. 57, n. 1, p. 12-5, 1994.

OTUTUMI, Luciana Kazue et al. Variations on the efficacy of probiotics in poultry. INTECH Open Access Publisher, 2012.