A intensificação do uso do solo pode afetar a biodiversidade de aranhas?
2 - UDESC Oeste, Chapecó, SC, Brasil.
3 - UDESC/CAV, Lages, SC, Brasil.
4 - UDESC/CAV, Lages, SC, Brasil.
5 - UDESC/CAV, Lages, SC, Brasil.
6 - Instituto Butantan, SP, Brasil.
7 - UDESC/Oeste, Chapecó, SC, Brasil.
RESUMO -
A desestruturação dos habitats, aliado às práticas intensivas de manejo em áreas agrícolas podem levar a mudanças consideráveis na estrutura da comunidade de aranhas edáficas. Neste trabalho buscamos elucidar questões sobre a biodiversidade de famílias de aranhas em um gradiente de intensificação do uso do solo na região sul do estado de Santa Catarina utilizando dois métodos de amostragem: TSBF (Tropical Soil Biology and Fertility) e armadilhas de queda (Pitfall). A Análise de Componentes Principais (ACP) demonstrou a separação dos Sistemas de Usos do Solo (SUS) e a relação de algumas famílias de aranhas com manejos específicos nos dois métodos de amostragem. As famílias Lycosidae, Lyniphiidae, Oxyopidae e Tetragnathidae são famílias mais bem adaptadas a ambientes com maior nível de intervenção antrópica e, portanto, são potenciais indicadores de locais impactados, por outro lado as famílias Theridiidae e Oonopidae apresentam maior sensibilidade às modificações causadas pelo manejo.
Soil use intensification may affect the spiders biodiversity?
ABSTRACT - Habitat disruption, coupled with intensive management practices in agricultural areas, can lead to considerable changes in the structure of the soil spider community. In this work we seek to elucidate questions about spider family biodiversity in a land use intensification gradient in south Santa Catarina State using two sampling methods: Tropical Soil Biology and Fertility (TSBF) and pitfall traps (Pitfall). Principal Component Analysis (PCA) demonstrated the separation of Soil Usage Systems (SUS) and the relationship of some spider families with specific management in the two sampling methods. The families Lycosidae, Lyniphiidae, Oxyopidae and Tetragnathidae are families better adapted to environments with a higher level of anthropic intervention and, therefore, are potential indicators of impacted sites. On the other hand, the families Theridiidae and Oonopidae are more sensitive to the changes caused by the management.Introdução
As aranhas são, dentre os artrópodes o grupo com maior sucesso evolutivo, com distribuição cosmopolita, habitam praticamente todos os ambientes. Por serem predadores ativos auxiliam no controle de pragas reduzindo a densidades de outros organismos que possam ser prejudiciais para as culturas em agroecossistemas, como por exemplo, afídeos (Choate and Lundgren., 2015). Neste trabalho buscamos verificar como a biodiversidade de famílias de aranhas edáficas pode ser afetada pela intensificação do uso do solo na região sul catarinense utilizando dois métodos de amostragem.Revisão Bibliográfica
A intensificação da agricultura é marcada pelo aumento crescente no nível de mecanização e utilização de pesticidas, assim como a mudança constante da composição vegetal nas áreas agrícolas e entorno (Carpio et al., 2016). De modo mais abrangente a agricultura modifica as paisagens, simplificando a complexidade dos ecossistemas terrestres e promovendo a diminuição da biodiversidade em diversas escalas (Liu et al., 2015) que é certamente um dos elementos chave para a manutenção dos fluxos de energia nos ecossistemas terrestres (Auclerc et al., 2012; Kormann et al., 2015). A manutenção alimentar das aranhas é baseada em outros artrópodes que habitam os mais diversos espaços, especialmente os que contêm maior diversidade florística por proporcionarem melhores condições microclimáticas, espaços para reprodução, abrigo, bem como maior possibilidade de alimentação (Battirola et al., 2010; Dennis et al., 2015). De outra forma, a fragmentação dos habitas aliado as práticas intensivas de manejo em áreas agrícolas podem levar a mudanças substanciais nos parâmetros físicos e químicos do solo, refletindo na produção primária e a biota indígena da área, (Lecq et al., 2017; Liu et al., 2015; Liu et al., 2017) contudo boa parcela da araeneofauna catarinense ainda permanece desconhecida, devido à falta de estudos em áreas agrícolas e semi naturais como reflorestamentos.Materiais e Métodos
O estudo foi realizado na região sul de Santa Catarina, abrangendo sistemas de uso do solo (SUS) com crescente intensidade de intervenção antrópica, a saber: floresta nativa (FN), reflorestamento de eucalipto (RE), pastagem perene (PA), integração lavoura-pecuária (ILP) e sistema plantio direto (PD). Os locais foram selecionados de acordo com características geográficas, relevo, altitude e solo representativos, em três municípios (M): Siderópolis, Orleans e Lauro Muller em um Argissolo Vermelho Amarelo (EMBRAPA, 1997). A amostragem das aranhas foi realizada em grade amostral (P) de 3 x 3, com espaçamento entre cada ponto de 30 m, respeitando 20 m de bordadura. O total de pontos amostrados foi 270 pontos para cada um dos métodos (inverno + verão) em área total de 1 ha para cada um dos SUS. As armadilhas de queda foram instaladas a aproximadamente 30 cm dos pontos de coleta do método TSBF e deixadas a campo por três dias. Decorrido o tempo, foram recolhidas, levadas ao laboratório onde os organismos coletados foram separados com auxilio de peneiras de 0,125 mm. Todos os organismos encontrados foram fixados em álcool 80% e identificados em nível de família, gênero ou espécie quando possível, no Instituto Butantã. Todo o material está depositado na coleção de Aracnídeos do Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantã (A.D. BRESCOVIT, curador). O índice de Shannon Wiener (H’) foi calculado a fim de verificar como as pressões ambientais (intensificação de uso do solo) poderiam interferir na distribuição das famílias de aranhas, sendo calculados conforme proposto por Odum (1988). Os valores de H’ foram comparados ponto a ponto ([N/ 5 = 27]) pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade através do programa estatístico R (R Development Core Team, 2011).Resultados e Discussão
Foram identificados ao todo 410 indivíduos, sendo 79 pelo método TSBF e 331 pelo método das armadilhas de queda independente da época de amostragem. Considerando a sazonalidade nos métodos, para TSBF o número de aranhas capturadas foi menor (47 no inverno e 32 no verão), em comparação com as armadilhas (132 no inverno e 196 no verão). Pelo método de armadilhas na época de inverno, FN condicionou a presença de Araneidade, Oonopidae, Theridiidae, em RE relacionaram-se as famílias Ctenidae e Gnaphosidae, em PD e ILP Lycosidae, Tetragnathidae e Linyphiidae, em PA as familias Miturgidae, Nesticidae e Theraphosidae estiveram mais associadas. Nas armadilhas, durante o verão na FN as familias que apresentaram forte associação foram Corinnidae, Theraphosidae, Amaurobiidae, Theridiidae, Ochyroceratidae, Anapidae, Nemesidae e Miturgidae, no RE Anyphaenidae, Zodaridae, Ctenidae, Salticidae e Gnaphosidae foram mais abundantes, enquanto nos SUS PA, PD e ILP Tetragnathidae, Linyphiidae, Mysmenidae, Lycosidae e Oxiopidae estiveram mais associadas. A diversidade maior nas áreas de floresta nativa (FN) está associada basicamente pela estruturação do solo, especialmente macroporosidade (Macro) e complexidade florística. No entanto essa característica confere maior estabilidade tornando um ambiente diverso em vários sentidos, quer seja do ponto de vista vegetal, como para a fauna do solo, portanto maiores possibilidades de exploração dos nichos tróficos pelas comunidades de aranhas. Os altos teores de Matéria Orgânica do Solo (M.O) refletem que a complexidade vegetal, intrínseca deste local, favorece uma infinidade de relações ecológicas, especialmente relacionado aos fluxos de energia dentro dos ecossistemas (Odum, 1988). A presença de algumas famílias em épocas distintas foi evidenciado no presente estudo e reforçado pelos achados de (Prezzi Indicatti et al., 2008) que reportaram a alta presença de Microstigmatidae e Nemesidae durante o verão, período este, utilizado pelos representantes desta família para reprodução. Figura 1 – Relação entre a Componente Principal 1 (CP 1) e 2 (CP 2) da Análise de componentes principais (ACP) no inverno (a) e verão (b) de 2011 para as famílias de aranhas (em itálico) encontradas e as variáveis ambientais utilizadas como explicativas, na região Sul do Estado de Santa Catarina. (n = 135) através do método de armadilhas (Pitfall traps). Abreviações: floresta nativa: FN; reflorestamento de eucalipto: RE; pastagem perene: PA; integração lavoura-pecuária: ILP; sistema plantio direto: PD; cálcio: Ca; densidade do solo: Ds; matéria orgânica do solo: MO; macroporosidade: Macro.Conclusões
Os sistemas de uso e manejo do solo condicionam a estrutura da comunidade de famílias de aranhas sendo os ambientes mais preservados responsáveis pela maior diversidade. Tendo evidenciado que as famílias Theridiidae e Oonopidae apresentam maior sensibilidade às modificações causadas pelo manejo, subentende-se então que estas tem potencial para serem indicadores de ambientes preservados uma vez que estiveram mais associadas à floresta nativa. As famílias Lycosidae, Lyniphiidae, Oxyopidae e Tetragnathidae são famílias com melhor adaptação à ambientes com elevado nível de intervenção antrópica e, portanto, são potenciais indicadores de locais impactados em alguma escala, como áreas agrícolas por exemplo.Gráficos e Tabelas
