Leucograma de ovinos alimentados com farelo de girassol

Sarah Silva Santos1, Marcela Lopes da Silva2, Geziana Moreira Seles3, Izabella Motta Moreira Ribeiro4, Neide Judith Faria de Oliveira5, Luciana Castro Geraseev6, Diego Santana Costa7
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RESUMO -

Avaliou-se o leucograma de ovinos alimentados com proporções crescentes de farelo de girassol. Foram utilizados 24 machos, não castrados, Santa Inês x Dorper, distribuídos em delineamento de blocos casualizados com três tratamentos e duas repetições. Foi utilizada silagem de milho e concentrado com farelo de girassol em proporções de 0, 10, 20 e 30% da matéria seca da dieta oferecida em duas refeições por 15 dias. No 16º dia foi realizada a coleta de sangue por meio de punção da veia jugular, obedecendo ao jejum de 12 horas. Os exames sanguíneos foram realizados em equipamento eletrônico. Os resultados foram submetidos à análise de variância e ao teste de Student-Newman-Keuls a 5% de significância. As variáveis foram estatisticamente similares entre os tratamentos (p>0,05) para os leucócitos, neutrófilos totais, neutrófilos segmentados, eosinófilos, linfócitos e monócitos. O leucograma permaneceu inalterado, sendo indicativo de inocuidade do coproduto.

Palavras-chave: Helianthus annuus, Ovis aries, Cordeiro, Hematolgogia.

Leukogram of sheep fed sunflower meal

ABSTRACT - Were evaluated the leukogram of ovine fed with increasing proportions of sunflower seed meal. Were used 24 male animals, Santa Inês x Dorper, distributed in a completely randomized block design, with three treatments and two replicates. It was used corn silage and concentrate with sunflower meal in proportions of 0, 10, 20 and 30% of dry matter intake offered in two meals for 15 days. On the 16th day the blood was collected by jugular vein puncture, obeying the 12 hours fasting. The blood tests were carried out in electronic equipment. The results were subjected to variance analysis and to the Student-Newman-Keuls test at 5% significance level. The variables were statistically similar among treatments (p>0.05) for the leukocytes, total neutrophils, segmented neutrophils, eosinophils, lymphocytes and monocytes. The leukogram remained unchanged, is indicative of lack of toxicity of sunflower meal.
Keywords: Helianthus annuus, Ovis aries, Lamb, Hematology


Introdução

A alimentação representa a maior despesa para a produção animal. Na tentativa de reduzir os gastos, o uso de coprodutos agroindustriais pode ser alternativa econômica para os produtores (CANDIDO et al., 2008). Dentre esses, tortas e farelos podem apresentar características nutricionais favoráveis ao uso em dietas de ruminantes (ABDALLA et al., 2008). O farelo de girassol pode ser fonte protéica de menor custo na alimentação de ovinos, apesar do baixo valor energético (GARCIA et al., 2006). Segundo Mendes (2005) a eficiência do processamento da semente pode interferir na qualidade da proteína disponível e nos níveis da fração de fibra em detergente neutro desse coproduto. Porém, os coprodutos podem gerar distúrbios nutricionais ou metabólicos e causar pior desempenho animal. Portanto, é importante o acompanhamento hematológico, para prevenir e evitar perdas na produção (ARAÚJO et al., 2012). Assim, objetivou-se avaliar o leucograma de ovinos alimentados com diferentes proporções de inclusão de farelo de girassol.

Revisão Bibliográfica

A inclusão de alimentos alternativos pode minimizar os gastos com alimentação e garantir o desenvolvimento produtivo do rebanho (CÂNDIDO et al., 2008). Por resultar em coprodutos passíveis de uso na alimentação animal, a produção de biodiesel se tornou parte importante da pecuária (ABDALLA et al., 2008). O processamento de sementes oleaginosas gera ésteres e glicerina, além de tortas e farelos, sendo caracterizados nutricionalmente como proteicos ou energéticos. A obtenção dos diferentes tipos de coprodutos é decorrente dos processos de extração, mecânica ou química, respectivamente, por meio da prensagem da semente a frio ou do uso de solventes (MENDES, 2005). O farelo de girassol caracteriza-se por ser alimento concentrado com alto valor proteico, 28 % na matéria seca (MS) e baixo valor energético, 2,80% na MS (TAVERINI et al., 2010) e pode apresentar variações no teor de fibra em detergente neutro (GARCIA et al., 2006). Da Silva (2012) avaliando o desempenho de cordeiros alimentados com quantidades crescentes de farelo de girassol em confinamento, indicou a proporção de até 15% do coproduto na dieta. O estudo dos metabólitos do sangue passou a ser empregado na avaliação do status nutricional dos rebanhos, pois as alterações no balanço nutricional em alguns casos podem interferir nas concentrações sanguíneas desses constituintes. Essas mudanças podem estar associadas ao estresse ou ao tipo alimentação, sendo esta capaz ou não de preencher os requerimentos de manutenção e/ou produção (GONZÁLEZ et al., 2000). Entre os componentes sanguíneos, os leucócitos são responsáveis por desenvolver mecanismos de defesa do organismo contra infecções e alergias. Infecções, distúrbios metabólicos nutricionais e estresse podem prejudicar o desempenho dos animais, e assim é importante associar as variáveis do hemograma aos parâmetros zootécnicos (STOLF, 2015).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no setor de ovinocultura do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, em Montes Claros, MG. Os procedimentos adotados foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais. Foram utilizados 24 cordeiros mestiços Santa Inês x Dorper, machos, não castrados, distribuídos em delineamento de três blocos, quatro tratamentos e duas repetições por bloco. Os tratamentos constituíram-se em quatro dietas, formuladas com relação volumoso: concentrado de 60:40 em base de matéria seca (MS). A forragem utilizada foi a silagem de milho e o concentrado foi formulado com proporções crescentes de substituição do farelo de soja por farelo de girassol, correspondentes a 0, 10, 20 e 30% da MS dieta, fornecida em duas refeições diárias às 8h e 16h durante 15 dias. A coleta de sangue foi realizada após o período de 15 dias de adaptação , obedecendo ao jejum alimentar de 12 horas. O sangue foi puncionado da veia jugular com agulha 25 x 8 mm, em tubos providos de vácuo contendo anticoagulante ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) e encaminhado para o laboratório de análises clinicas. Foram analisados leucócitos (LC), neutrófilos totais (NT), neutrófilos segmentados (SEG), eosinófilos (EOS), linfócitos (LIN) e monócitos (MON) em equipamento eletrônico. Os dados foram submetidos à análise de variância utilizando-se o pacote do Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG, 2007), sendo as médias comparadas pelo teste de Student-Newman-Keuls (SNK) a 5% de significância.

Resultados e Discussão

Para as médias do leucograma, não foram encontradas diferenças significativas entre os tratamentos, conforme Tab 1. Os resultados demonstraram a ausência de alterações na série branca de células sanguíneas desses ovinos e confirmaram a inocuidade do farelo de girassol. Ausência de variações nas células brancas do organismo indica que os animais não apresentaram quadros infecciosos ou alérgicos durante o período experimental. Isso demonstra a inocuidade do coproduto nessas condições experimentais, pois segundo Stolf (2015) os leucócitos são responsáveis por desenvolver mecanismos de defesa ao organismo contra infecções e alergias. Os valores de leucócitos totais (Tab. 1) encontram-se dentro da faixa de normalidade para a espécie, conforme Kramer (2000), pois os níveis de farelo de girassol ingerido não interferiram na sanidade e não promoveram de toxicidade nos ovinos. A mesma similaridade estatística nos valores de leucócitos totais foi observada por Rocha (2016), ao avaliar o efeito da substituição de farelo de soja por torta de algodão moída na dieta de ovinos. Contrariamente aos dados de neutrófilos totais e linfócitos obtidos com essa pesquisa, Paula et al. (2015) descreveram valores superiores aos limites de normalidade de neutrófilos totais com a suplementação de 3% de melaço de soja na dieta e linfócitos abaixo dos valores de referência nas inclusões de 3, 6 e 9% do coproduto. Variações individuais e na composição dos coprodutos farelo de girassol e melaço de soja e podem justificar as variações de neutrófilos totais e linfócitos entre os trabalhos. Ausência de variações estatísticas nos leucócitos obtidos após a inclusão dos diferentes níveis de farelo de girassol indicam a saúde dos ovinos e podem estar associadas ao controle experimental antes e durante a coleta de sangue. Lima (2013) observou contagens de leucócitos acima valores de referência em ovinos Santa Inês alimentados com caroço de algodão. Esse autor e Paula et al. (2015) associaram as oscilações nos valores de leucócitos, neutrófilos totais e linfócitos com o estresse e a excitação nervosa durante a coleta, situação controlada durante o presente trabalho.

Conclusões

O leucograma de ovinos alimentados por 15 dias com proporções de 0 a 30% de farelo de girassol foi semelhante e considerado normal, indicando a inocuidade do coproduto.

Gráficos e Tabelas




Referências

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